A "disputa" dos amigos de longa data - Parte I

Mais um dia quente e seco. Aquele ar de que faltou algo no trabalho e, ao mesmo tempo, de que tudo correu conforme o esperado. Nada marcado para mais tarde e nenhuma expectativa em torno de a noite ser melhor do que foi o dia. Sempre esqueço o quanto demora para chegar em casa depois do expediente. Exausta e sem perspectiva.

Subi as escadas e ao abrir a porta do meu apartamento, não podia adentrá-lo sem antes dar um tchauzinho para a vizinha do final do corredor. Ela sempre está lá, não importa a hora que eu chegue, parece até uma vigia. Jogo minhas coisas no sofá e percorro poucos metros até meu banheiro, só queria um banho e mais nada.

À medida que a escuridão invade o espaço anunciando a noite, ela parece trazer um frio. Me sinto no deserto, especialmente pelo fato do clima sempre parecer estar mais congelante quando o ar está seco. Já conto os dias e as horas para gripar ou ter algum outro problema respiratório por conta disto. É sempre assim, infelizmente.

Saio do banheiro após os poucos minutos terem parecido horas com a absurda mudança de cenários entre a claridade e o escuro que havia se formado naquele final de tarde e início da noite. Corro mais alguns poucos metros até meu quarto em busca de meu pijama. Uma roupa fajuta, larga e nada erótica composta por uma camiseta de uns 3 ou 4 números maiores que o que uso e uma calça moletom, além da calcinha do tipo shortinho. Afinal, o que seria de mim sem o toque daquele gostoso tecido em minhas partes.

Retiro as coisas de trabalho do sofá, coloco de forma mais organizada do lado e me derramo para ver um pouco de televisão. Bisbilhoto um, dois, três canais e, claramente, o dia estava querendo ser encerrado como um dos mais melodramáticos que eu tivesse recordação. Mentira, semana passada e a outra também, sempre tinha um desses dias para mostrar que algo está errado. Mas tudo bem. Estava morando sozinha fazia uns dois anos, tinha meu emprego, estava me especializando, o que mais poderia querer?

De repente, alguém bate em minha porta. A preguiça pareceu me dominar, uma forma daquelas que parecia nem existir antes do primeiro toque. Em poucos segundos, ouço mais batidas. Eu tinha que ir até a porta. Então perguntei quem era e ouvi um "sou eu", do outro lado que não me fez saber quem poderia ser. A única certeza é que era um homem. Não me preocupei com nada e simplesmente abri a porta. Assim que o vi, meu coração ficou paralisado, era o "Jota", um rapaz que trabalhava do lado da empresa que trabalho e que tinha me convidado para sair pela terceira vez. Tinha me esquecido completamente.

- Oi Laura, tudo bem? Não imaginei que eu tivesse vindo tão cedo desta vez - falou ele, completamente sem graça.

Jota era muito divertido. A gente se conheceu ao acaso, meio que sem querer. É uma daquelas situações que simplesmente surgem. Após um primeiro encontro divertido, a gente acabou saindo uma segunda vez e acabamos transando dentro do meu apartamento. Eu não gostava disso, porque acabava com o sigilo em torno de minha moradia. Eu odiava visitas.

E nada contra o Jota, mas após aquela transa, algo parecia ter acabado da mesma forma que tinha começado. Eu não via nenhum futuro na gente e só queria transar com alguém legal. E ele claramente queria meter e gozar. Pareceu-me um ótimo acordo até que ele me procurou para sair de novo. Aceitei para não parecer ofensiva, mas o ânimo não era lá tão grande.

Agora, com ele na porta percebendo que não tinha me recordado do encontro, eu me senti bem miúda. Como poderia ter esquecido.

- Oi Jota, a verdade é que acabei esquecendo. Cheguei com a cabeça cheia e não me recordei. Mas espera aqui um segundinho que me preparo e a gente sai, pode ser? - falei num tom amistoso, mas não tão animada.

- Tá bom - ele respondeu.

Antes que ele entrasse para me esperar, fechei a porta do apartamento e o fiz esperar do lado de fora. Só depois de fazer isso que notei como tinha sido meio que sem querer. Mas não voltei atrás, simplesmente acelerei minha arrumação. Em uns 5 ou 6 minutos estava pronta numa calça jeans, blusinha, casaco e um perfume bem cheiroso. Assim que abri a porta vi ele um tanto chateado, provavelmente por ter tomado a fechada de porta na cara, mas isso logo mudou com meu humor um pouco melhorado.

- Uau, você está linda. - disse ele vindo para me roubar um selinho, decidi retribuir como desculpas pela porta fechada.

Descemos e fomos até seu carro. Ele parecia estar bem satisfeito em dar umas voltas comigo no banco do lado. Muito mais que eu, mas não externei isso. Então chegamos a um bar, não tinha muita gente e fomos até uma mesa, no cantinho. Jota resolveu conversar sobre algo que pudesse me animar, como sempre fazia, mas não estava encontrando o caminho que tinha achado facilmente. O encontro seria muito ruim, coitado.

Instantes depois, um outro homem se aproximou vindo por trás dele, se esforçando para lembrar de onde o conhecia e então lhe cutucou para depois berrar:

- JUAREZ! É VOCÊ!

Ele olhou para trás e estava claro que era o melhor amigo dele. Um homem alto, forte, com um sorriso encantador. Encantador até demais. Ele estava com outros dois homens que ficaram próximos do balcão. Conversaram um pouco, Jota me apresentou e ele apertou minha mão para depois beijá-la. O problema nisso tudo é que se antes ele parecia não ter me notado, seu olhar simplesmente não saiu de mim após esse ato e isso ia ser um problema. Se chamava Guilherme.

Após mais uma pouco de conversa, ele retornou aos amigos iniciais e Jota resolveu contar o quanto Guilherme era um cara especial. Contou de suas aventuras na escola, falou sobre sua competência e chegou ao ponto de dizer que sempre era difícil sair com ele porque as garotas sempre acabavam sendo fisgadas por Gui. Eu ri e falei que isso era bobagem e ele ainda comentou dizendo que antes de sair com alguma mulher, os dois tentavam conquistá-la, mas ele sempre perdia. Claramente sentia-se menor que o amigo, porque simplesmente passou a elogiá-lo, sem eu nem perguntar a respeito. Não era o Jota que conhecia.

Observei Guilherme da mesa, curiosa e assim que ele notou isso, percebi automaticamente porque Jota ficava assim perto do amigo. Ele tinha atitude e parecia não se importar em conquistar o que queria, e o Jota era mais lento. O complicado nisso é que pareceu que o meu simples olhar foi o suficiente para atraí-lo para a velha batalha dos amigos. Mas poxa, eu já tinha saído com Jota e, embora não tivesse nada com ele, eu tecnicamente era a mulher dele naquele instante. Resolvi não dar mais asas ao amigo. Eu não queria sair com o amigo dele. Tarde demais.

Guilherme voltou e ofereceu algo pra gente beber. Pediu para ficar com a gente e, Jota, por não ter notado o que eu já tinha visto faz tempo, simplesmente deixou o amigo se aproximar. Gui puxou assunto sobre a gente, de onde nos conhecíamos e estava claro que ele queria saber se eu era uma namorada ou esposa do amigo, algo que talvez evitasse a disputa.

- A gente está se conhecendo. Acho ele muito bom pra mim - respondi passando a mão na cabeça de Jota e encarando-o, tentando afastar o amigo.

- É, a gente tá saindo faz pouco tempo. Ela trabalha numa loja perto da minha. Tudo bem que ela esqueceu do encontro de hoje, mas tá aqui comigo e com certeza vamos aproveitar a noite. - respondeu Jota, comigo querendo lhe dar uns tapas pela péssima fala.

Guilherme mudou o assunto. Sabia os assuntos de interesse de Jota e rapidamente fez ele esquecer de minha presença. Se antes estava em cima de Jota, para tentar afastar o amigo, o próprio Jota ficou empolgado com Gui e fui ficando à margem. Num dado momento cheguei a dizer que iria ao banheiro, sai, aproveitei para ver mais detalhes do bar. Demorei um pouco nisso, ao ver uma adega bacana do outro lado. Voltei e notei que ele não tinha notado nada. Era melhor ficar deitada em casa.

Resolvi pedir algo para comer, tentei perguntar o que Jota queria e simplesmente fui ignorada. Guilherme, notando isso, aproveitou para falar para pedir um petisco especial da casa e ainda me aconselhou a evitar meu pedido para experimentar esse, pois não iria me arrepender.

- Como sabe que vou gostar disso? - perguntei.

- Percebi que deu uma volta perto da adega, se gosta de vinho, vai gostar desse prato. - respondeu Guilherme.

- Tá vendo Laura, ele é um cara muito legal. - comentou Jota.

Ele estava conversando com o amigo e sondando onde eu poderia estar ao mesmo tempo, de forma sorrateira. Pedi o que ele aconselhou mais pelo desafio. Queria falar que ele estava errado. Mas, céus, que prato divino. Tratava-se de frutos do mar com um tempero da casa. E, para variar, junto a um vinho, também indicado por ele, tornava tudo maravilhoso. Agora sim o encontro estava ficando bom, mas não era com Jota.

Passei a comer e reparar na atitude de Guilherme. Ele realmente sabia enganar o amigo demonstrando interesse no que ele falava e, ao mesmo tempo, me sondava, fazia minha leitura e, sem medo, arriscava em indicar algo, comentar algo a meu respeito. Coisas que não ficavam tão na cara para o amigo, mas que eu já tinha notado faz tempo. Aquele homem faria o que quisesse e ainda seria saudado por todos. Devia ter transado com centenas de mulheres. Ele era persistente e também muito convencido, mas não do tipo que se torna chato, era algo natural, daquele tipo que se é ignorado, ele vai mostrar seu valor de uma forma inteligente.

Absolutamente todos os assuntos que passaram na mesa, ele sabia. Mas não se colocava como o entendedor de tudo, pelo contrário, me convencia que eu era sempre certa, ou o amigo. Rapidamente senti umas linhas de ventríloco criando um enredo perfeito para levar o roteiro para onde ele queria. E isso poderia não ser o modo que eu ou o amigo dele esperava.

E, claro, vou contar a esse respeito depois.

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É um prazer retornar ao site depois de um tempo. Caso ainda não me conheçam, sigiro que leia meu primeiro conto. Caso queira me enviar um convite de amizade ou enviar mensagens, também leia esse primeiro conto.

Um beijão da CONFUSA! E até a próxima!


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Ficha do conto

Foto Perfil lauraconfusa
lauraconfusa

Nome do conto:
A "disputa" dos amigos de longa data - Parte I

Codigo do conto:
213226

Categoria:
Heterosexual

Data da Publicação:
03/05/2024

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