Fiquei cerca de dois anos nessa missão de agradar ao máximo, na vã esperança de que ela um dia me enxergasse como algo além de amigo. Fazia de tudo: levava pra jantar, cinema, teatro… e quase sempre pagava tudo. Mas, como você já deve imaginar, não adiantou. Quem já passou por isso sabe o quanto é uma situação deprimente.
Depois de tanto tempo agindo assim, finalmente decidi me libertar. Passamos a conversar só pelo WhatsApp, sem encontros frequentes. Um tempo depois, fiquei sabendo que ela tinha arrumado um namorado. Nossos contatos ficaram ainda mais esporádicos — só trocávamos mensagens de vez em quando. Até que, mais de um ano depois, uma notificação no celular: ela. A mensagem era breve, meio trêmula: “Terminei o namoro. Tô mal. Queria te ver.”
Confesso: fiz muita força mental pra dizer “não”. Mas acabei aceitando (pois é, galera... podem me julgar kkkk).
Desmarquei com ela umas três vezes por conta de imprevistos de trabalho, mas finalmente conseguimos combinar uma data. Fui buscá-la no meu carro. Fomos a um café e o encontro foi bem agradável. Só que eu já tinha decidido que não a veria mais — aquilo não me fazia bem. Eu não queria ser apenas amigo, e sempre ficava mal depois de vê-la.
Pagamos a conta (e dessa vez ela pagou a parte dela — ponto pra mim!!) e fui deixá-la em casa. Estacionei em frente ao prédio. Conversamos um pouco. No momento da despedida, ela, num gesto impulsivo e brincalhão, me deu um tapa no rosto — reclamando das vezes em que eu desmarquei o encontro. Era pra ser leve. Não foi. O barulho ecoou como um estouro de pipoca fora de hora. Ela pediu desculpas, envergonhada. E eu… ainda estava absorvendo o ocorrido.
Voltei pra casa confuso. E, ao contrário do que seria normal... eu gostei. Gostei do tapa. Nunca tinha tido pensamentos sadomasoquistas, mas aquele tapa plantou uma “semente” dentro de mim. Comecei a fantasiar o próximo encontro — e, com ele, mais tapas.
Consegui marcar outra saída. Fomos a outro café (minha cidade tem vários e ela ama esse tipo de programa). Mais um encontro agradável — mas, confesso, eu só pensava no final. Ficava imaginando: “Será que ela vai achar estranho eu pedir um tapa na cara? Será que vai topar?” Dessa vez, fui além: paguei a conta inteira com prazer, como um ritual de preparação. Quando estávamos a uns cinco minutos do prédio dela, peguei o celular, coloquei pra gravar e apoiei discretamente na parte de baixo do painel, num ângulo que captasse nossos rostos — sem que ela percebesse. Queria muito registrar, caso desse certo.
Chegou o momento! Estacionei, conversamos um pouco e, no abraço de despedida, pedi:
— Tô com um pico de ansiedade… Pode parecer estranho, mas uns tapinhas na cara me ajudam a relaxar. Você faria isso por mim?
Silêncio. Dois segundos. Uma eternidade. E aí vieram os tapas. Cinco. Não muito fortes, mas reais. Reais e incríveis. Eu agradeci como quem recebe bênção. Ela saiu e eu imediatamente fui conferir a gravação. E não é que ficou excelente?! Ângulo perfeito, do jeitinho que eu queria. Fiquei muito feliz e, no caminho pra casa, assistia ao vídeo sempre que parava num semáforo.
A partir daí, comecei a criar oportunidades pra vê-la semanalmente. Pra minha sorte, ela estava fazendo sessões de fisioterapia uma vez por semana. E como não dirige, virei o seu “Uber” oficial, me oferecendo generosamente pra buscá-la. Em troca? Tapas na cara — TODOS GRAVADOS!
Até o momento, tenho 9 gravações. Nem todas ficaram boas: alguns tapas foram mais fortes, outros bem fraquinhas. Às vezes ela está meio impaciente e não quer bater, mas eu imploro e ela acaba cedendo. Trato cada um como uma pequena relíquia, um troféu de um prazer que não sei nomear.
Minha meta inicial era fazer 10 vídeos. Hoje, já não sei. Ela já percebeu que sou viciado nisso, mas vou deixar em aberto... quero conseguir o máximo de tapas possível. Compilei os melhores momentos e, até agora, tenho 1 minuto de vídeo. O mais engraçado é que, na última gravação, ela comenta que acha estranho eu querer especificamente tapa na cara — e ainda me chama de sadomasoquista kkkk (amei essa parte). O importante é que agora, todo dia, assisto ao meu “compilado” como quem revê memórias preciosas e fico ansioso pra adicionar novos vídeos. Trato mesmo como uma coleção!!
E é isso, pessoal! Espero que tenham curtido meu primeiro conto. Comentem aí se quiserem atualizações. Já adianto que meu próximo objetivo é conseguir que ela me dê tapas mais fortes — mas vou indo com calma.
Abraços e fiquem bem!