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Foi depois daquele dia que conversamos a sério. E, ao contrário do que o mundo esperaria de dois irmãos apaixonados pelo mesmo homem, não houve disputa. Houve acordo. João sabia. João aceitou. E aos poucos, viramos três.
Nossa família, curiosamente, não foi o obstáculo que temíamos. Crescemos em um lar liberal, onde descobrimos anos depois que até nossos pais tinham seus próprios acordos conjugais (apesar de terem um relacionamento fechado), velados à infância, mas revelados com o tempo. Quando contamos sobre nosso trisal, houve espanto — sim. Mas também houve respeito.
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Certa noite, nossos pais estavam em viajem, e convidamos João para dormir conosco. A casa estava em silêncio, e o frio pedia cobertores e filme. Ele chegou com sua mochila desajeitada e sorriso torto, jogou os tênis no canto e veio até a sala.
— Que tipo de filme vocês querem? — perguntei.
— Romance — disse João, sem hesitar.
— Terror — retrucou Carlos, com um meio sorriso.
No fim, escolhemos o romance — por João. Sempre por João.
O filme rodava lentamente, quase em silêncio, enquanto a luz da TV tingia a sala com tons azulados. As vozes dos personagens murmuravam uma paixão nascida de acasos, como se refletissem, de algum modo, a nossa própria história.
João estava entre nós dois, deitado no meio do sofá, com as pernas encolhidas e uma manta fina sobre os joelhos. Senti sua respiração desacelerada, o corpo mais relaxado. Talvez pela intimidade, talvez pelo enredo romântico que dançava na tela.
Em uma cena, o casal do filme se entregava a um beijo longo, cheio de intenção. João desviou o olhar da TV, como se quisesse escapar daquele momento — ou mergulhar nele.
Inclinei-me devagar até seu ouvido.
— Você está uma delícia — sussurrei, deixando minha mão repousar sobre sua perna, leve como uma promessa.
Continua.....
Historia fictícia