A prefeitura era meu alvo distante. Consegui alguns contratos temporários, migalhas de esperança que sempre escorriam por entre meus dedos quando a efetivação parecia próxima. Com apenas a quinta série como bagagem, muitas vezes acreditei que minhas chances de algo maior haviam se esgotado. Até que, em 2022, o inesperado: a aprovação em um concurso para serviços gerais. Foi um raio de luz em uma estrada cinzenta.
Em 2023, a convocação chegou. O coração palpitou de ansiedade, apenas para ser esmagado pela ironia do destino. Em vez do calor das panelas e do cheiro de comida da cozinha escolar, fui alocada na pasta de assistência social, em uma unidade do CREAS. A decepção era um gosto amargo e constante. No entanto, o ambiente que encontrei era um paradoxo vibrante. Uma equipe diversa e acolhedora, com duas recepcionistas gays de riso fácil e uma equipe técnica composta por assistentes sociais e psicólogos. Havia uma energia no ar, uma sensação de que aquele lugar guardava um segredo.
O segredo tinha um nome: Maicon.
CAPÍTULO 2: O FANTASMA SEDUTOR
Antes mesmo de vê-lo, ele já era uma lenda. Seu nome era um sussurro constante nos corredores, uma melodia obsessiva que alimentava uma curiosidade perigosa dentro de mim.
"Maicon é simplesmente incrível."
"Você vai adorar conhecer o Maicon."
"Saudades do almoço com o Maicon."
Ele era o psicólogo de vinte e sete anos que estava de férias. Minhas duas novas amigas, uma psicóloga e uma assistente social, suspiravam por ele em confissões íntimas e sussurradas. Falavam de sua beleza estonteante, de um carisma magnético, de uma simpatia que desarmava. Aquele ambiente, aquelas conversas, foram alimentando em meu peito uma ansiedade doentia. Eu, uma mulher casada, mãe de família, havia criado um amor platônico por um fantasma, por uma ideia.
Considero-me uma mulher atraente; ainda arranco olhares de homens cujas intenções são transparentes e vulgares. Mas o Maicon, segundo todas as lendas, estava em outro patamar. Minhas colegas, mais jovens e desembaraçadas, já haviam sido gentilmente rejeitadas. O que me esperava, eu sabia, era apenas mais uma paixão silenciosa e unilateral, um fogo que queimaria em segredo até se apagar.
Até o dia em que o fantasma se materializou.
CAPÍTULO 3: A MATERIALIZAÇÃO
Estávamos na cozinha, o aroma do café enchendo o ar, quando ele entrou. O ambiente pareceu contrair-se, o oxigênio rareou. Ele cumprimentou minhas colegas com beijos casuais no rosto, e então seus olhos escuros, intensos e inteligentes, pousaram em mim. Quando me apresentaram, ele cruzou a sala com uma confiança felina que roubou o ar de meus pulmões.
Sua mão tocou meu braço suavemente enquanto seu rosto se aproximava. Senti a textura áspera de sua barba roçando minha pele, um contato que foi como um choque elétrico. Então, sua voz, grave e como veludo, ecoou em meu ouvido, cada sílaba uma carícia proibida.
"Bom dia, Adriane. É um prazer te conhecer."
Uma onda de calor intenso e proibido percorreu meu corpo, concentrando-se em um ponto úmido e latejante entre minhas pernas. Um orgasmo quase me atingiu ali mesmo, naquela cozinha trivial, diante de todos. Tremendo por dentro, lutei para manter a compostura, murmurando um "Obrigada pela gentileza, moço" que soou ridiculamente formal para o turbilhão que ele havia desencadeado.
Era inegável: Maicon era diferenciado. Extremamente bonito, sim, mas era sua energia, seu carisma magnético que realmente cativava. Agora eu entendia.
CAPÍTULO 4: A COREOGRAFIA PERIGOSA
Naquelas semanas seguintes, uma coreografia silenciosa e perigosa começou. Eu chegava mais cedo; ele, inexplicavelmente, começou a fazer o mesmo. Nossas manhãs eram roubadas em conversas íntimas, sussurradas antes do início do caos diário. Seus elogios não eram vulgares; eram observações profundas que me viam de uma forma que ninguém mais via.
"Você é diferente, Adri," ele dizia, seu olhar penetrante fixo no meu, desnudando minha alma. "Há uma força em você que é... intrigante."
Ele me trouxe doces, pequenos agrados que eram farpas de sedução disfarçadas de gentileza. A química entre nós era uma entidade viva, palpável. Manifestava-se em sorrisos trocados através da sala, em olhares que se entrelaçavam por um segundo a mais do que deveriam, no apelido carinhoso "Adri" que só ele usava. A dúvida era uma tortura deliciosa: era amizade, ou era o prelúdio de algo que eu não ousava nomear?
O ponto de ruptura veio com um simples carregador de celular.
Ele o pediu emprestado. No fim do dia, uma mensagem no WhatsApp cortou minha respiração:
Maicon: Ei, neguinha. Seu carregador está na minha mesa. Pega lá. Tem uma surpresa para você.
Com o coração batendo forte, esperei a sala esvaziar. Na mesa dele, o carregador repousava sobre um bilhete. Ao lado, um Kit Kat. Minhas mãos tremiam ao pegar o papel. A caligrafia era firme, decidida:
"Seu jeito me intriga, seu sorriso me desarma, e o resto... eu quero descobrir."
O ar saiu de meus pulmões. Era real. O desejo era mútuo.
CAPÍTULO 5: O CONVITE IRRECUSÁVEL
A partir daquele momento, não havia mais dúvidas. Nosso envolvimento se intensificou numa dança digital de mensagens de bom dia, de "boa noite, neguinha", de "hoje você está linda" acompanhadas por emojis de beijos. Era um fogo lento e constante, alimentando uma chama que eu sabia ser perigosa.
Então, num sábado, veio a mensagem que mudaria tudo.
Maicon: Hey. O que vai fazer amanhã? Tá a fim de ganhar uma grana extra? Preciso fazer uma faxina aqui em casa.
Eu não era uma ingênua. Conhecia as intenções não ditas por trás daquelas palavras. Conhecia o risco, o abismo que se abria à minha frente. E, ainda assim, a atração era uma força maior do que minha razão, maior do que meu medo. Cancelei um almoço de família, menti para meu marido, e aceitei.
A noite foi longa, um festival de ansiedade e culpa. Na manhã de domingo, movi-me como uma autômata, preparando o café, beijando meus filhos, evitando os olhos de Elcio, que ainda dormia. Peguei um Uber, meu corpo um fio de nervos esticado ao limite.
O chalé era pequeno, isolado. Um Airbnb discreto, o cenário perfeito para um pecado. Desci do carro vestindo roupas velhas, um disfarce frágil para minhas intenções reais.
CAPÍTULO 6: A TRANSGRESSÃO
O ar no chalé estava carregado com o aroma de café e uma tensão quase insuportável. Mal havíamos terminado o café da manhã quando me levantei para levar as xícaras à pia. Foi então que o senti atrás de mim.
Seu corpo quente pressionou o meu contra a bancada. Suas mãos firmes encontraram minha cintura, e então seus lábios… seus lábios encontraram a pele sensível do meu pescoço em um beijo lento e deliberado que fez meus joelhos tremerem.
"Você não faz ideia de como imaginei esse momento com você, garota," sussurrou ele, sua voz um rosnado grave contra minha pele.
"Menino… isso é loucura. Não podemos fazer isso," protestei, mas minha voz já estava rouca, ofegante, traindo completamente minhas palavras.
Sua mão deslizou para dentro da minha calça. Um gemido escapou de meus lábios.
"Maicon… isso é errado demais," consegui dizer, enquanto meu corpo arqueava contra seu toque. "Mas não consigo te tirar da minha cabeça."
Ele girou meu corpo para enfrentá-lo, seus olhos queimando com uma intensidade que me deixou tonta.
"Adri," ele disse, seu rosto a centímetros do meu. "Você é a mulher mais incrível que conheci. Passei noites em claro, em um calor que só você causa, pensando em você. Imaginando seu cheiro, seu gosto."
Ele não aceitou um não como resposta. Com palavras sussurradas e beijos que sabiam a pecado, convenceu-me a abandonar a razão. De mãos dadas, levou-me escada acima, até seu quarto. O ambiente era incrível, envolto em uma aura de mistério e desejo. Grandes janelas de vidro revelavam uma paisagem deslumbrante, como se a natureza testemunhasse nosso delírio.
Com movimentos lentos e deliberados, suas mãos me despiram. Deitou-se e puxou-me para cima dele, seu corpo quente e firme sob o meu. Posicionei-me sobre ele, guiando-o para dentro de mim, e iniciamos uma cavalgada lenta e profunda que nos levou a um êxtase crescente. O som de nossa respiração ofegante preenchia o quarto, até que, incapaz de conter o desejo, supliquei em voz baixa e rouca.
Ele atendeu meu pedido. Suas investidas eram precisas e profundas, cada uma levando-me a um estado de puro êxtase. Já estava à beira do meu segundo orgasmo quando ele, percebendo meu clímax iminente, mudou nossa posição. Nessa nova angulação, cada movimento suas atingia pontos ainda mais sensíveis, levando-me a um delírio indescritível. Um super orgasmo varreu-me como uma onda, deixando-me tremendo e completamente entregue.
Exausta, caí na cama, meu corpo molhado de suro e prazer. Mal conseguia respirar quando ele, com um olhar intenso e dominador, posicionou-se sobre meu rosto.
"Abre essa boca, Adri," ordenou, sua voz grave carregada de desejo.
Sem forças para resistir, abri meus lábios, recebendo-o enquanto ele encontrava seu próprio clímax. Eu estava perdida, entregue à sensação, balbuciando palavras sem sentido entre gemidos ofegantes. O sabor salgado de nosso prazer misturava-se enquanto eu bebia cada gota de sua essência, completando o ritual proibido que havíamos iniciado.
O silêncio que se seguiu foi quebrado apenas pela nossa respiração aos poucos se acalmando. Seus dedos percorreram meu rosto suavemente, e ele sussurrou: "Nunca senti nada assim".
Naquele momento, deitada na cama dele, com o gosto dele ainda na minha boca e a paisagem deslumbrante testemunhando nossa culpa, eu sabia. Havia cruzado um ponto sem volta, e minha vida, outrora simples e previsível, nunca mais seria a mesma. O sonho da merendeira havia se dissipado, substituído por um pesadelo delicioso e proibido do qual eu não tinha mais vontade de acordar.
Nossa, que delícia