A DAMA E O TATUADOR (previa)

Eu me chamo Sônia, e aos 47 anos, eu achava que minha vida tinha se acomodado em uma rotina confortável, mas vazia. Meu casamento havia terminado há anos, e a casa grande que eu herdara dos meus pais parecia um eco constante da solidão. Foi por isso que decidi transformar o andar de baixo em uma sala comercial. Precisava de renda extra, sim, mas mais do que isso, precisava de movimento, de vida pulsando ao meu redor. Anunciei o espaço online, e entre os interessados, apareceu Caio.
Ele tinha 30 anos, tatuador profissional, com uma mochila surrada nas costas e um sorriso que iluminava o ambiente. Seus olhos eram observadores, como se capturassem detalhes que ninguém mais via. Ele morava em estúdios improvisados, disse, e precisava de um lugar fixo para trabalhar. Aluguei para ele sem hesitar. O cheiro de tinta e o zumbido da máquina de tatuagem começaram a invadir a casa, misturando-se ao aroma de café que eu preparava todas as manhãs.
No início, nosso convívio era tímido. Eu descia para pagar as contas ou pegar correspondência, e ele me cumprimentava com uma voz mansa, quase sussurrada. "Bom dia, Sônia. Tudo bem?" Eu respondia com um aceno, sentindo um formigamento estranho na pele. Ele era jovem, tatuado dos braços até o pescoço, com cabelos escuros bagunçados e um corpo atlético que se movia com graça felina. Eu, por outro lado, era uma mulher madura, com curvas suaves marcadas pelo tempo, cabelos castanhos presos em um coque prático e uma vida que girava em torno de livros e jardinagem.