O fim do ano letivo sempre trazia uma mistura de alívio e melancolia para os alunos do colégio estadual Ricardo Antunes. Eliza e Victor, ambos com 18 anos recém-completados, estavam concluindo o ensino médio e eram daqueles amigos que se conectavam na sala de aula através de piadas internas sobre a monotonia das aulas de matemática e olhares de cumplicidade.
Ele, um garoto esbelto, olhos claros, estatura média, tinha cabelos loiros desgrenhados e um sorriso tímido que raramente se abria por completo; ela, um pouco mais baixa, pele morena clara, com cabelos negros e lisos, olhos expressivos e um jeito quieto que escondia uma inteligência afiada.
Por sugestão deles dois, a turma havia combinado um encontro no cinema para celebrar o término das aulas, mas, como era comum em planos de adolescentes, a maioria furou. A maioria, com exceção dos proponentes.
* * *
Ainda era verão naquele sábado, mas uma chuva inesperada começou a cair sobre a avenida. As luzes dos carros refletiam no asfalto e criavam um mosaico de cores e brilhos que se misturavam ao vai-e-vem das pessoas que atravessavam a rua. Eliza ajeitou o capuz da jaqueta e olhou para o celular pela quinta vez em dez minutos. Ainda estava sem sinal. Ela soltou um suspiro, encostando-se sob a marquise do cinema.
— Eles não vêm, não é? — disse uma voz surgindo por trás dela.
Eliza virou-se. Era Victor. Vestia uma camiseta simples e calça jeans. Tinha o mesmo sorriso sem graça que usava nas apresentações da escola.
— Pelo visto, não. — Ela respondeu, tentando esconder o embaraço.
Por um breve momento, ele reparou em como Eliza estava ainda mais bonita longe daqueles uniformes escolares. Por baixo da jaqueta, ela usava uma blusa justa e uma saia leve de verão, floral e solta, que realçava suas curvas sutis sem exageros. Seus olhos se encontraram, e um constrangimento inicial pairou no ar, misturado ao cheiro distante de pipoca amanteigada que impregnava a entrada do local.
— Eu demorei a vir, achei que já estariam todos aqui, — ele coçou a nuca, ajeitando a mochila no ombro — mas parece que sobrou só a gente.
— Os dois guerreiros da turma — Eliza sorriu de leve.
— Ou os dois enganados — completou ele, arrancando dela uma risada mais solta.
Aquilo quebrou o gelo por um momento. O som das gotas batendo na lona da entrada parecia marcar o ritmo incerto da conversa. Ambos sabiam que, na escola, eram bons colegas, tinham uma afinidade invejável em quase todos os assuntos, conversavam, trocavam trabalhos, faziam piadas internas, mas nunca tinham ficado a sós fora do ambiente escolar.
O plano era, junto da turma, assistir a um filme qualquer, mas agora aquilo parecia um… encontro. Era uma situação embaraçosa para os dois.
— Já que viemos até aqui… — Victor olhou para o letreiro luminoso. — Topa ver algum filme mesmo assim? — ele tentava soar casual.
Eliza pensou por um instante. O cabelo, que não tinha uma curva sequer, escorria-lhe sobre o rosto de forma quase poética.
— Por que não? A chuva já me molhou, não quero voltar para casa por nada agora — eles riram da situação e seguiram para a bilheteria.
Debateram por alguns minutos sobre as opções que estavam em cartaz, parecia uma lista de genéricos de cada gênero que havia exposto. Por fim, escolheram um filme de terror qualquer, daqueles com jumpscares previsíveis e monstros malfeitos. “Sombras Eternas", o título prometia arrepios, mas eles acharam graça só de ler a sinopse.
O horário que a turma havia marcado era tarde, para dar tempo a todo mundo. Eliza e Victor haviam chegado no limite do combinado e ainda faltavam mais de duas horas para a sessão começar.
— E agora? — perguntou Eliza, olhando ao redor, sentindo o coração bater um pouco mais rápido com a proximidade dele — A sessão ainda vai demorar e eu nem almocei direito quando saí de casa.
— Podemos lanchar, o que acha? Tem um lugar logo ali — propôs Victor, apontando para uma lanchonete entre o cinema e um prédio comercial.
Eliza consentiu fazendo um movimento discreto com a cabeça e os dois seguiram para a lanchonete, tão próxima dali que, em poucos passos, já podiam sentir o cheiro de fritura e café fresco. Combinaram em comprar os ingressos na volta.
Sentaram-se um diante do outro, em uma daquelas mesas pequenas demais para duas pessoas e grandes demais para um silêncio prolongado. Pediram hambúrgueres e refrigerantes. O silêncio inicial era inevitável, quebrado apenas pelo som de talheres retinindo e conversas murmuradas ao redor. Victor mordia seu sanduíche devagar, olhando para o prato, tentando esconder seu acanhamento. Eliza mexia no canudo do refrigerante, girando-o no copo, o gelo tilintando contra o vidro, o gosto efervescente do refrigerante borbulhava em sua língua enquanto ela tentava pensar em algo para cortar o silêncio.
Apesar da amizade, eles tinham detalhes que passavam despercebidos dentro do ambiente escolar. Victor reparou nas unhas de Eliza, pintadas de vermelho escuro, observou como os lábios dela se curvavam levemente quando sorria e o modo como seus cabelos se moviam com o vento, exalando um leve aroma cítrico. Já Eliza observou as mãos dele, longas e nervosas, com veias salientes, e o jeito como ele piscava os olhos rapidamente quando estava ansioso, olhos amarelados refletindo a luz fluorescente da lanchonete.
A cada vez que seus olhares se cruzavam, vinham risadinhas nervosas, como se cada um tivesse sido pego em flagrante espionando o outro. Um flerte discreto surgiu quando Victor derrubou uma batata frita, crocante e quente, e Eliza riu, estendendo a mão para pegar outra do prato dele, seus dedos roçando os dele por um instante.
— Ei, ladrazinha — brincou ele, rompendo o silêncio com um tom leve, sentindo o calor da mão dela ainda em sua memória tátil.
— Só pegando o que é meu por direito. Você come devagar demais — rebateu ela, os olhos brilhando com um misto de timidez e ousadia.
Eles gargalharam e seus joelhos se tocaram por acidente debaixo da mesa, ela sentiu a calça jeans dele contra a pele nua da sua perna, e nenhum dos dois se afastou. O embaraço inicial dava lugar a uma atração latente, parecia haver uma conspiração sobrenatural para isolá-los, com o zumbido distante das máquinas de refrigerante, hambúrgueres fritando em chapas e conversações ao redor como trilha sonora. Agora os dois se olhavam e conversavam naturalmente.
— Estranho te ver assim — disse ele, apoiando o queixo na mão.
— Assim como? — Eliza estava muito interessada em ouvir aquilo.
— Sem aqueles uniformes, sem aquele cabelo preso… — ele hesitou. — Você parece mais… real.
— “Real”? — Ela arqueou uma sobrancelha.
— É. Na sala a gente parece personagem de um livro didático. Aqui, sei lá… — ele deu de ombros. — É diferente.
— Você fala cada coisa… — Eliza riu, balançando a cabeça.
Mas havia sinceridade no olhar dele. Um tipo de curiosidade doce e contida. E havia algo nela também… uma vontade de prolongar aquele instante. O nervosismo se transformou em cumplicidade.
* * *
Voltaram para o cinema, agora mais a vontade, seus braços se roçavam a cada passo que davam, empurrando-se levemente como se buscassem aquele contato propositalmente. A confiança crescia, e com ela, uma interação mais fluida. Passaram a compartilhar assuntos mais íntimos. Ele, por exemplo, sobre a primeira desilusão amorosa e como lidou com a separação dos pais; ela também comentou sobre um ex amor e sobre relação com a irmã mais velha, que era sua melhor amiga.
Na bilheteria, Victor insistiu em pagar os ingressos e Eliza em dividir. Ficaram no impasse até que o caixa interveio:
— Gente, ou vocês decidem ou vai começar outro filme.
Então, para encurtar aquilo, ela deixou que ele pagasse.
— Considera como um presente de Natal antecipado — disse ele.
— Então paga a pipoca também — Eliza o provocou, sorrindo.
— Aí já é abuso — ele brincou de volta.
No corredor, compraram pipoca, doces e água. Na fila, enquanto esperavam para entrar na sala, trocaram olhares conspiradores, como quem partilha uma travessura.
Quando finalmente entraram, a sala estava quase vazia, o que deu a eles a liberdade de escolher as cadeiras nas últimas fileiras. O ar condicionado gelado contrastando com o calor de seus corpos.
Enfim, as luzes se apagaram e o som do filme preencheu o ar.
Nos primeiros minutos, ficaram imóveis, como se a proximidade exigisse adaptação. Victor sentia o perfume de Eliza — floral e doce. Ela, por sua vez, percebia cada movimento dele: o braço apoiado no encosto ao lado e a respiração contida quando ela se mexia.
Uma nova tensão se criava, como se estivessem prestes a ultrapassar mais uma barreira da amizade, mas eles disfarçavam sob risadas e comentários a respeito do filme, sobre suas cenas sombrias forçadas, trilha sonora tensa e diálogos clichês.
— Esse ator é péssimo. — cochichou ela.
— Tão expressivo quanto um manequim de loja — respondeu ele.
— Mas e essa trilha sonora, heim?!
— Causa mais medo do que o monstro.
Victor e Eliza transformaram aquilo em uma comédia particular. Um senhor, algumas fileiras à frente, virou-se e fez um “shhh!” irritado. Os dois se entreolharam, contendo o riso com as mãos sobre os rostos envergonhados.
Os cochichos ao pé do ouvido viraram desculpas para sentir o calor da pele e o cheiro um do outro. Quando uma cena de susto preencheu a tela, pegando Eliza de surpresa, ela instintivamente segurou o braço de Victor… e não soltou. Um toque simples que abriu uma fenda no ar. A respiração mudou de ritmo. O silêncio entre eles, antes constrangedor, agora era cheio de expectativa.
Em um momento de calmaria no filme, Eliza inclinou-se ligeiramente, encostando a cabeça no ombro de Victor, que não se mexeu — ao contrário do seu coração, que acelerou, batia como um tambor. Durante longos minutos, ficaram assim, imóveis, compartilhando o mesmo espaço de ar, o mesmo calor.
Confiante, Victor passou o braço ao redor dela, envolvendo-a em um abraço caloroso, sentindo a maciez de sua pele contra a dela. Não trocaram palavras, o silêncio entre eles agora era um aliado. Ele pousou sua mão sobre a de Eliza, seu polegar roçando no dorso da mão dela. Eliza respondeu deslizando a mão pela coxa dele, sentindo os músculos tensos sob o jeans áspero. Agora trocavam toques que fingiam ser casuais, mas que faziam o corpo inteiro mudar de temperatura.
* * *
A tela piscava luzes azuis e vermelhas, gritos falsos ecoavam na sala escura, mas para eles o filme havia deixado de existir. As carícias escalaram, um toque levou ao outro. Em certo momento, Victor inclinou-se e beijou o pescoço dela, um beijo suave que evoluiu para uma mordida leve e molhada na orelha dela. Eliza arfou baixinho, o som rouco escapando de sua garganta, virou o rosto e seus olhares se encontraram. O desejo, contido pela timidez, começava a se revelar em pequenas centelhas.
A distância entre suas bocas foi se tornando menor, até desaparecer. Eliza deu o primeiro beijo, que veio suave, tímido. Mas logo se aprofundou, com as línguas se entrelaçando freneticamente. Bocas quentes e úmidas se devorando. Era o tipo de beijo que carregava o peso de todos os que não aconteceram antes.
Suas mãos vagavam, o som sutil de tecidos roçando preenchendo o espaço entre eles. A de Victor subiu por dentro da blusa dela, tocando a pele nua da barriga, quente e trêmula, e foi subindo até encontrar o sutiã de renda, sentindo os mamilos endurecidos sob o tecido. Eliza, ousando mais, deslizou pela coxa dele e o apertou próximo à virilha, sentindo a rigidez crescente e o calor pulsante irradiando através do jeans. O ar entre eles foi carregado de um aroma musgado de excitação, o suor pelando em suas testas, olhos cheios de desejo reprimido se encontrando na penumbra.
Alguém tossiu a poucas fileiras de distância, e eles congelaram, o som seco cortando a tensão. Os dois sentiam um misto de tesão e medo de serem pegos, mas o risco agora era combustível para os dois, fazendo o sangue pulsar em suas veias. Era esse medo que agora tornava tudo mais vivo, mais ardente.
Victor deslizou a mão para baixo, levantando a bainha da saia dela com cuidado, o tecido frio contrastando com a pele aquecida. Seus dedos encontraram a umidade quente entre as pernas de Eliza. Ele começou a massagear devagar por cima do fino tecido encharcado da calcinha, círculos suaves que a faziam arquear as costas e morder os lábios para segurar os gemidos. Ela retribuiu, enfiando a mão na calça dele, masturbando-o com movimentos cuidadosos, sentindo a pele quente do membro rígido, o pré-gozo escorregadio lubrificando seus dedos. Os cochichos viraram sussurros eróticos: “Isso... assim", murmuravam com a voz entrecortada.
A escalada era inevitável, o ar entre eles agora estava impregnado pelo cheiro de seus corpos suados. Eliza, tomada pelo desejo, ajustou-se no assento, virando-se ligeiramente para ele. Victor inclinou-se para baixo, descendo para os seios expostos parcialmente sob a blusa. Ele chupou um mamilo, mordiscando, sugando, a língua rodopiando no bico endurecido, saboreando o salgado da pele, enquanto os dedos penetravam a boceta dela, sentindo toda sua quentura e umidade interna. Mas ela queria ainda mais.
— Quero sentir sua boca! — Com um olhar malicioso, ela sussurrou, a voz rouca e baixa, vibrando contra a orelha dele.
Victor se abaixou o máximo que pôde no assento escuro. Eliza ergueu ligeiramente o quadril, permitindo que ele puxasse sua calcinha mais para o lado, a renda grudada em sua fenda com o peso da lubricidade. A língua dele encontrou o clitóris inchado e sensível, começou lambendo devagar, saboreando o gosto daquela umidade, depois de alguns minutos, com mais intensidade, sugando e circulando, sentindo os tremores em suas coxas. Eliza se agarrou nos braços do assento, as unhas cravadas no estofado, o corpo tremendo em ondas intensas de prazer, o som de sua respiração ofegante misturando-se aos gritos da obra.
O filme trovejava na tela, mas qualquer movimento errado poderia chamar atenção, com o cheiro de sexo pairando ao redor. A adrenalina de serem pegos levava Eliza ao limite. Ela gozou em ondas silenciosas, o corpo convulsionando, mordendo a manga da sua jaqueta para abafar o gemido gutural que subia de sua garganta. Os fluidos dela escorriam pela boca de Victor, era um sabor inebriante, metálico e doce, e ele continuou até que ela o puxasse para cima, beijando-o com fome, inevitavelmente provando a si mesma em seus lábios.
Agora, era a vez dela. Eliza, ainda ofegante, o peito subindo e descendo rapidamente, ajustou-se discretamente. Com um movimento sutil, ela se levantou ligeiramente e sentou no colo dele, de frente para a tela, fingindo apenas se aconchegar, sentindo a pulsação do pênis dele irradiando através das roupas.
Eliza, encarando Victor por cima dos ombros, ergueu cuidadosamente a parte de trás da saia, oferecendo-se para ele.
— Pode entrar — ela sussurrou.
Com os olhos fixos nela, ele abriu a calça deixando escapar seu pênis, pulsando no auge da rigidez, que se libertou com um ímpeto quase selvagem, cortando o ar gélido com violência antes de colidir contra a carne macia da bunda arredondada de Eliza — ela deixou escapar um gemido baixinho. O impacto produziu um estalo úmido e abafado, não alto o suficiente para romper o véu de intimidade, mas intenso o bastante para reverberar através de seus corpos.
Movendo seu quadril sutilmente, Eliza ajustou sua posição. Victor, segurando o corpo do seu membro, guiou-o para dentro dela em uma penetração lenta e profunda, sentindo as paredes quentes e apertadas da boceta dela o envolverem, fazendo leves contrações. Ela rebolava devagar, os movimentos cadenciados e bem disfarçados, cada investida enviando choques de prazer por seus nervos, o som sutil das peles se esfregando era abafado pelo barulho do filme.
Victor agarrou os quadris dela por baixo da saia, as mãos suadas apertando a carne macia de suas nádegas, impulsionando os movimentos, sentindo os músculos dela pulsando ao redor dele. Eliza mordia o lábio, seus mamilos endurecidos, livres do sutiã e levemente para fora da blusa, pairavam firmes no ar, gotículas de suor saltavam deles. O clímax se aproximava, ele sentia as contrações dela, os fluidos escorrendo discretamente pelas coxas. Quando ela gozou novamente, sussurrou roucamente um “Agora!", o corpo convulsionou em espasmos contidos, ondas de prazer irradiaram como fogo e Victor não pôde mais aguentar.
Quando Victor a tirou repentinamente do seu colo, evitando não ejacular dentro dela, Eliza entendeu do que se tratava. Prontamente ela agachou entre as pernas dele e o envolveu com a boca. Pouco a pouco, ela engoliu cada centímetro do membro dele, em uma felação ardente. Não demorou, até que o sêmen quente jorrou em pulsos dentro da boca dela e, com o corpo fragilizado, Victor segurou um gemido com esforço hercúleo. O aroma de suor e sexo se intensificou ao redor deles.
Por um momento, eles permaneceram ali, imóveis, ofegantes, peles coladas pelo suor, até que Eliza voltasse para o assento ao lado, ajustando as roupas com mãos trêmulas e o tecido úmido grudando desconfortavelmente.
* * *
O filme terminou sem que eles notassem. Quando as luzes da sala se acenderam, Eliza ajeitou o cabelo, tentando disfarçar o rubor nas bochechas. Victor esticou-se na poltrona, com um sorriso de quem acabara de sair de um sonho. Trocaram um olhar conspirador. Saíram da sala lado a lado, evitando olhares alheios, mas com um sorriso no canto dos lábios.
Lá fora, a chuva tinha parado. O chão ainda brilhava, refletindo nas poças de águas as luzes da cidade.
— Foi… — começou ela.
— Inesquecível! — completou ele, sem hesitar.
— O filme? — Eliza riu, baixando o olhar.
— Tudo, menos o filme. — respondeu ele, simplesmente.
Partiram juntos para o ponto de ônibus, agora não pareciam mais dois colegas de escola, mas um casal de amantes. Não sabiam em que se transformaria a relação deles depois daquele dia, mas queriam sentir aquilo até o último segundo. Quando o ônibus de Eliza chegou, eles se despediram com um beijo caloroso e um forte abraço carinhoso. Por fim, aquele sábado ficou eternizado em suas memórias.
* * *
Na manhã seguinte, o colégio estava em clima de despedida. Papéis voavam, professores davam abraços, e os grupos faziam fotos de última hora. Victor chegou com o mesmo ar tranquilo de sempre, mas bastou cruzar o olhar com Eliza para que o coração acelerasse de novo.
— Dormiu bem? — ela perguntou, num sussurro.
— Tentei — ele respondeu, com um meio sorriso
A turma se reuniu no pátio para as despedidas. Pouco depois, os amigos que haviam furado o encontro apareceram, cheios de energia e expressões culpadas.
— E aí, furões? Vocês não têm palavra, heim? — brincou Victor, apontando para o grupo.
— Pois é, deixaram a gente na mão. Que amigos são esses? — Eliza riu, cruzando os braços.
Um dos colegas, o palhaço da turma chamado Vinícius, rebateu: — Ei, ei, não foi por mal. Mas como foi o filme? Aposto que vocês nem assistiram, sozinhos lá...
Eliza e Victor se entreolharam, uma tensão maliciosa no ar, misturada a um brilho nos olhos que só eles entendiam, memórias sensoriais ainda frescas em suas mentes. Victor deu um meio sorriso antes de responder.
— Foi… aterrorizante — respondeu ele, com um tom irônico, direcionando uma piscadela para Eliza.
— É, deu até suadeira — completou ela, segurando o riso.
Taís, outra da turma que furou o encontro, também cutucou: — Ah, vai, fala sério. Devem te namorarado muito por lá mesmo, sozinhos no escurinho do cinema…heim?!
— Ah, sim... namoramos horrores lá — Eliza foi a primeira a responder, com um sarcasmo afiado.
— Beijos molhados, mãos bobas… o pacote completo — Victor complementou, rindo.
Todos caíram na gargalhada, sem esperar que fossem responder de forma tão absurda. Mas foi justamente por responderem aquelas verdades tão irresponsáveis, que Eliza e Victor afastaram de si qualquer pequena suspeita sobre o que fizeram. Era só mais uma piada entre colegas.
Enquanto todos riam e brincavam de encenar como teria sido o romance dos dois, Victor e Eliza trocaram um olhar rápido, denso, cheio de lembranças. Não precisavam dizer nada. O segredo estava guardado somente entre eles.
Naquela última noite, para eles, o verdadeiro terror foi enfrentar o próprio desejo… e o verdadeiro prazer, deixarem-se levar por ele. Foi assim que, enquanto todos assistiam à sétima arte, eles faziam a oitava — uma arte feita de toques inconsequentes, silêncios conspiradores e olhares que se entendiam mesmo no escuro.
Desde então, para Eliza e Victor, o desejo — quando vivido no limite da emoção e do risco — sempre seria como um filme secreto, rodado em uma única tomada, e jamais exibido ao público.
*** FIM! ***




Que delícia essa Eliza! Quero levar uma dessas pro cinema também!!