A balada pulsa antes mesmo de entrarmos.
Graves atravessam o peito, luzes recortam corpos em cores artificiais, tudo parece existir num ritmo próprio — mais rápido, mais quente. Eu sinto a noite me vestir melhor do que qualquer roupa. O ar cheira a perfume doce, álcool e eletricidade.
Carlos está lá.
À primeira vista, ele é formal demais para aquele lugar. Camiseta escura, limpa, colada ao torso largo; jeans simples marcando pernas fortes; postura ereta, quase contida. O contraste com o ambiente chama atenção. O tipo de homem que não precisa exagerar para ser notado.
Quando Cíntia corre até ele, sorrindo, ele a recebe com um beijo que parece ensaiado. Correto. A mão na cintura dela é firme, possessiva, mas sem pressa. Tudo nele parece sob controle.
Eu observo de longe, copo na mão, como quem analisa uma cena conhecida demais para ser confortável.
Cíntia ri, joga a cabeça para trás, encosta o corpo no dele. Carlos a puxa mais para perto, beija o pescoço dela, segura com força — dedos marcados, decisão. O gesto deveria ser íntimo. Deveria ser suficiente.
Mas não é.
Porque, entre um beijo e outro, ele olha para mim.
Não é um olhar perdido. Não é acaso. É direto, rápido, calculado. Como quem confere algo. Como quem testa uma ideia.
Sinto o impacto no estômago antes de conseguir fingir indiferença.
Ele beija Cíntia outra vez, mais fundo, mãos descendo pelas costas dela, apertando. O corpo dele reage, visível até de longe. E ainda assim — ainda assim — seus olhos me procuram de novo, como se quisessem confirmar uma presença que não está ali, mas está.
Como se fosse o meu corpo que ele estivesse imaginando sob aquelas mãos.
Minha pele esquenta. Não por excitação apenas, mas por algo mais incômodo: reconhecimento. Eu conheço esse olhar. Já vi antes. É o olhar de quem deseja enquanto performa outra coisa.
Cíntia se vira para mim, sorridente, feliz, completamente entregue àquele momento. Levanta o copo em minha direção, comemorando a noite, a escolha, a vida.
Sorrio de volta. Porque ainda sou a amiga.
Mas por dentro, algo se reorganiza.
Carlos finalmente se afasta dela por um segundo. Endireita a postura. Quando nossos olhares se encontram dessa vez, ele não desvia. Sustenta. Um canto da boca se ergue, quase imperceptível.
Não é convite.
É constatação.
E eu percebo, com uma clareza desconfortável, que aquela formalidade inicial não é respeito — é contenção. E que, sob a superfície controlada, existe uma atenção inteira voltada para mim.
Cíntia bebe como se a noite fosse um prêmio.
Um shot vira dois, dois viram muitos, e logo ela está mais solta, mais alta, rindo com o corpo inteiro. A música parece atravessá-la. Carlos acompanha o ritmo dela, agora menos formal, mãos mais firmes, boca mais insistente. A pegação cresce em intensidade, menos coreografada, mais urgente.
Eu observo à distância, tentando não observar demais.
Eles se beijam como quem quer apagar o resto do mundo. Carlos a prensa contra a parede próxima à pista, a mão por baixo do vestido dela, sem pudor. Cíntia geme baixinho, rindo logo depois, completamente entregue ao excesso da noite.
— Vamos pra um motel — ela diz, sem nenhuma sutileza, puxando-o pela camiseta.
O corpo dele responde imediatamente. Dá pra ver. Dá pra sentir até de onde estou.
Mas então ele olha para mim.
É rápido, quase automático. Como se, antes de decidir qualquer coisa, precisasse me localizar no espaço. O olhar não é de pedido. É de cálculo.
— A Joana não pode ir sozinha — ele diz, como se fosse lógico demais para ser questionado. — A gente deixa ela em casa primeiro.
— Amor, ela se vira — Cíntia ri, já meio desequilibrada.
— Não — ele insiste, firme demais. — Eu levo vocês duas.
Meu estômago aperta.
— Carlos, não precisa — digo, sincera. — Eu chamo um carro.
Ele me encara por um segundo longo demais.
— Eu faço questão.
A palavra fica pesada no ar.
No carro, o silêncio é estranho. Cíntia desaba no banco de trás poucos minutos depois, cabeça tombando para o lado, respiração profunda, vencida pelo álcool e pela noite. O vidro fechado transforma tudo em um espaço íntimo demais.
Carlos dirige com uma mão só no volante. A outra repousa na perna, tensa.
— Ela bebeu demais — ele diz, como se fosse uma constatação neutra.
— Acontece — respondo, olhando pela janela.
O carro segue. O mundo passa em luzes borradas.
— Joana — ele chama, baixo.
Viro o rosto. O olhar dele não está mais contido. Está quente. Direto. Sem testemunhas.
— Eu tento não olhar — ele diz. — Mas você percebe quando alguém ocupa um lugar na sua cabeça, né?
Meu coração acelera.
— Carlos… — começo, firme. — Não cruza isso.
Ele toca em mim. A mão sobre a minha coxa, deslizando lentamente pra baixo do vestido.
— Eu sei exatamente o que estou fazendo — ele responde. — E sei exatamente o que isso diz sobre mim.
Eu o encaro, fria apesar do arrepio que me percorre.
— Então escuta bem — digo. — Eu não sou fantasia de ninguém. Nem distração.
O silêncio que se segue é pesado, carregado de coisas não ditas. Ele tira a mão de mim, volta os olhos para a estrada.
Cíntia dorme. O carro segue.
E eu percebo, com uma clareza desconfortável, que aquela investida não foi um erro de impulso.
Foi um ensaio.
Carlos escolhe o caminho mais longo.
Eu percebo quando o carro vira à esquerda em vez da direita, quando as ruas conhecidas se esticam demais, quando a cidade parece adormecer antes da hora. Ele não explica. Não precisa. O silêncio entre nós já decidiu por ele.
Cíntia acorda apenas o suficiente para tropeçar para fora do carro. Ele a ajuda, cuidadoso, quase terno. Beija a testa dela, segura seus ombros até ter certeza de que ela está em pé. A cena é correta. Bonita até.
Mas quando ele fecha a porta e volta ao banco do motorista, o ar muda.
Estamos sozinhos.
Ele não liga o carro de imediato. Me olha como se estivesse confirmando algo que já sabe.
— Eu não devia — ele diz.
— Não — respondo, sem dureza.
O que me surpreende é o quanto meu corpo não acompanha essa negativa. Há calor acumulado demais, uma atenção constante que agora não tem mais para onde fugir.
— Você sabe onde isso acaba — ele murmura ao se aproximar
Sei.
E, pela primeira vez, não nego.
Quando ele se inclina, é sem pressa. O beijo começa hesitante, quase respeitoso, como se pedisse permissão atrasada. Minha mão sobe sozinha, dedos fechando no tecido da camiseta dele, sentindo o corpo tenso por baixo. É errado. É quente. É exatamente o que eu vinha evitando.
Agora sua língua já percorre todo o interior da minha boca, o carro parece pequeno demais. O vidro embaça levemente, respiração misturada, um instante em que o mundo se reduz àquele espaço apertado e ao desejo finalmente assumido.
Ele abre o zíper e o membro dele salto pra fora, não estava preparada pra isso, meu coração acelera, por instante me afasto, penso em sair, mas sinto a mão de Carlos na minha nuca, empurrando minha cabeça para baixo. Eu me inclino, sem resistência.
- Eu quero! - É a única frase que me vem a cabeça. E antes que eu possa tentar racionalizar ainda mais ele já está totalmente em minha boca. Já fazia muito tempo que eu não ficava com ninguém, mas eu não tinha esquecido de como satisfazer um homem. Eu subia e descia com maestria, meus lábios e língua percorrida toda a cabeça do pau de Carlos, a cada engolida era um gemido, me perdi totalmente naquele membro delicioso. Foi quando veio o primeiro jato no fundo da garganta, aquilo me despertou pra realidade, não era certo, me levantei subitamente, como se fosse reflexo, o segundo jato ainda pegou parcialmente no meu rosto e cabelo e o terceiro no meu vestido. Fiz o namorado da minha amiga gozar enquanto ela dormia no sofá da casa dela. O absurdo dessa situação me deixou em pânico.
Abro a porta.
O ar frio da rua me invade como um choque necessário. Meu coração dispara. Minhas pernas tremem quando piso no asfalto.
— Joana — ele chama, confuso, ainda ofegante.
— Não — digo, já do lado de fora.
Caminho rola rua sem olhar para trás. Não explico. Chamo um Uber e volto pra casa.
Dentro do apartamento, encosto a testa na porta fechada. Meu corpo ainda queima. Minha voca ainda lembra. O gosto de porra na boca, o cheiro no cabelo e vestido.
Mas eu respiro.
E aquela noite, eu sei, não terminou —
apenas foi interrompida.
No dia seguinte vou até a casa de Cintia, em um ato de auto piedade estava disposta a confessar tudo, chegando lá congelei. E só ela falou.
Cíntia fala sem perceber o efeito que causa.
Sentadas na mesa da cozinha dela, café esfriando entre nós, luz da tarde entrando preguiçosa pela janela. Ela gesticula, ri, revive a noite como quem saboreia algo bom demais para guardar só para si.
— Ele é intenso, Jo — diz, baixando a voz por puro teatro. — Não tem pressa, mas quando decide… nossa.
Engulo seco.
Ela descreve o jeito como ele toca, como conduz, como olha. Não entra em detalhes gráficos — não precisa. O brilho nos olhos dela completa as frases. Meu corpo entende tudo sem que a mente peça.
Sinto desejo. Um calor baixo, incômodo, que se espalha devagar.
Sinto ciúme. Não dela exatamente, mas do lugar que ela ocupa — aquele que eu recusei no último segundo.
E sinto culpa. Densa, silenciosa. Porque sei que, enquanto ela fala, eu não estou apenas ouvindo. Estou imaginando. Estou comparando. Estou lembrando do beijo, do gosto e do cheiro da porra dele na minha boca, do peso contido, da contenção que parecia mais frágil do que real.
— Mas sabe o que eu mais gosto? — ela continua. — Ele me olha como se estivesse completamente ali. Presente
A palavra me atinge como um desmentido.
Sorrio. Digo algo neutro. Faço o papel que sei fazer.
Mais tarde, no trabalho, tento me concentrar. Tela ligada, notificações ignoradas. Mas meu corpo ainda carrega o eco daquela conversa.
É quando ele aparece.
Carlos surge na recepção como se fosse coincidência. Roupa casual, postura relaxada demais para quem só veio “dar uma passada”. Quando nossos olhos se encontram, o mundo parece dar um pequeno desvio.
— Oi — ele diz, simples.
— O que você tá fazendo aqui? — pergunto, baixa, consciente demais dos colegas ao redor.
— Tô de carro — responde. — Posso te dar uma carona.
Não é um convite inocente. Nunca foi.
Hesito. Tudo em mim sabe que aceitar é reabrir algo que mal cicatrizou. Tudo em mim também lembra do desejo que não foi embora.
— Eu… — começo.
Ele não se aproxima. Não toca. Apenas espera. Seguro de que a presença dele já é suficiente.
E é.
Eu respiro fundo.
Porque, naquele instante, entendo que a parte mais difícil não é resistir a ele —
é decidir quem eu sou quando ninguém está olhando.
Eu sei exatamente o que vai parecer.
Os olhares atravessando o vidro, os cochichos que vão nascer antes mesmo do carro virar a esquina. No trabalho, tudo vira narrativa rápido demais. A mulher trans que entra no carro de um homem que aparece do nada pra buscar ela. O roteiro se escreve sozinho.
Mesmo assim, pego minha bolsa.
— Vamos — digo.
Carlos não sorri. Apenas assente, como se já soubesse. Abre a porta para mim com um cuidado silencioso, quase respeitoso demais para o que está por vir. Quando entro, sinto o peso da decisão se acomodar no banco ao meu lado.
O carro arranca.
Nenhum de nós menciona para onde vamos. Não é necessário. O silêncio é denso, carregado de algo que já deixou de ser dúvida. A mão dele segura o volante com força controlada. A minha repousa no colo, inquieta.
Não protesto quando ele vira na avenida errada.
Dessa vez, não.
Sinto culpa — pela Cíntia, pela lealdade rachada, pela linha que cruzei sem tropeçar. Mas junto dela vem algo que me assusta mais: satisfação. Um prazer baixo, quase vergonhoso, por saber que, entre tantas possibilidades, ele escolheu a mim. Não como substituta. Como desejo.
Penso nisso e odeio perceber o quanto meu corpo responde.
O motel surge à frente com luzes discretas demais para parecer inocente. Carlos estaciona. O motor é desligado. O silêncio se instala pesado, definitivo.
Ele se vira para mim, devagar. O olhar agora não esconde nada — nem o desejo, nem o conflito, nem a decisão.
Eu o encaro de volta.
Não sorrio. Não peço. Não recuo.
Saio do carro primeiro.
Cada passo até a porta é um acordo silencioso comigo mesma. Estou cheia de desejo, sim. Cheia de culpa também. Mas, acima de tudo, estou consciente.
E quando entro sem convidá-lo, sem olhar para trás, sei que aquela noite já não pertence mais à fantasia.
Pertence às consequências.
Não há mais negociação quando a porta se fecha atrás de nós.
O quarto é banhado por uma luz baixa, amarelada, que suaviza contornos e transforma tudo em promessa. O ar é pesado, carregado de expectativa e de algo que já passou do ponto de retorno.
Vou tomar um banho primeiro, quando saio, Carlos já me espera sem roupa.
Eu me aproximo.
Não porque ele exige, mas porque eu quero. Porque o desejo que me acompanhou a noite inteira agora encontra espaço para existir sem vigilância. Minhas mãos percorrem o corpo dele com confiança recém-descoberta, sentindo a resposta imediata, o arrepio contido que finalmente se solta.
Ele debruça carinhosamente sobre a cama.
–Empina a bundinha — Ele ordena.
E eu obedeço, me entrego totalmente enquanto ele me lubrifica. Tento medir visualmente o tamanho do membro dele agora que estamos em um lugar iluminado, mas já pela memória dele preenchendo toda a minha boca já imagino alguma coisa acima da media. Mordo os lábios imaginado.
Ele então finalmente me penetra, de forma suave mas ao mesmo tempo firme. Tento conter os gemidos com o rosto no travesseiro enquanto ele puxa meus braços para trás, a cada estocada é um misto de tesão e culpa. A noite se alonga em respirações e gemidos, eu gozo primeiro e ele logo em seguida.
Quando finalmente deito, exausta, o teto parece distante. Meu corpo ainda vibra com o calor da porra escorrendo. – Que tesão de homem – penso.
E enquanto fecho os olhos, imagino o que vai ser daqui pra frente.
No dia seguinte no trabalho, Carlos apareceu novamente, mas agora no horário de almoço. – Precisava ter ver novamente –Ele justificou. Olhares e cochichos novamente, mas não estamos preocupados com isso. E lá estava eu novamente em um quarto de Motel, agora com os calcanhares apoiados nos ombros de Carlos enquanto ele me tomava.
De repente o celular vibra, o número de Cíntia aparece. Um frio percorre minha espinha, misturando culpa e excitação.
Carlos percebe minha hesitação. Sorri, um sorriso lento, quase predador, observando meu olhar confuso entre o prazer e a necessidade.
— Quem é? — pergunta, voz rouca, sem tirar os olhos de mim.
— Cíntia… — consigo dizer, quase um sussurro entre os gemidos, tentando manter a calma.
Ele inclina a cabeça, atento, quase fascinado pelo contraste entre o que sinto e o que digo. Algo em minha expressão — o esforço de manter a mentira enquanto me deixo levar — parece excitá-lo ainda mais. Um brilho nos olhos dele denuncia isso. Então ele faz inimaginável, atende o telefone e coloca no viva voz.
–Oi miga, que houve ontem que vc não passou aqui depois do trabalho?
–Cansada... Tava indisposta – Respondo quase sem fôlego.
–Queria falar com vc, tô achando o Carlos estranho, ele não tem falado muito comigo nesses dias.–Nesse instante sinto Carlos ejaculando dentro de mim, meus olhos reviram de prazer mas tento manter a fachada.
–Miga, tô voltando agora do almoço... Vou entrar em reunião, te ligo mais tarde, bjos. –E desligo o telefone enquanto solto um gemido contido.
Mentir no auge do desejo, sentir cada músculo ceder, e ainda assim ser capaz de manter uma linha tênue de engano, me faz sentir viva e perigosa.
— Você é uma putinha mentirosa, sabia?— ele murmura, quase entre sussurros e risadas baixas, aproveitando cada nuance do meu rosto, cada hesitação disfarçada.
O telefone continua ali, silencioso agora, uma lembrança de fora que não pode nos alcançar. E enquanto nos entregamos totalmente mais uma vez, eu entendo: Carlos não quer apenas o corpo. Ele quer cada fragmento da minha reação, cada instante de controle e rendição misturados, e eu, ao mesmo tempo culpada e excitada, deixo que ele tenha tudo.
Então o inevitável acontece, uma colega de trabalho que conhecia Cintia conta que Carlos e eu éramos vistos saído juntos quase todos os dias, não precisa ser muita esperto pra concluir o óbvio.
Não tive nem tempo de responder a sua última mensagem antes de ser bloqueada.
"Nunca mais me apareça por aqui sua puta desgraçada"
Carlos também não respondia mais minhas mensagens.
Meu mundo desabou naquela semana.
Vergonha, culpa, arrependimento — e, misturado a tudo isso, uma dor profunda, a consciência de que machuquei alguém.
Alguns meses se passaram, no Instagram de uma amiga em comum começo a ver fotos de Cíntia e Carlos juntos. Riem, compartilham fotos, histórias, intimidades. Fiquei com o rastro da culpa, com o peso de ter sido a “a vagabunda” em uma história que nunca quis começar.
No trabalho, tudo mudou. Olhares atravessam a mesa, cochichos acompanham meus passos. Colegas que antes eram indiferentes agora se aproximam com intenções claras; o chefe lança comentários carregados de duplo sentido. Cada gesto, cada palavra, me lembra do julgamento silencioso — ou explícito — que acompanha meu corpo e meu passado recente.
A princípio, sinto raiva. Raiva de mim, deles, do mundo que parece pronto para rotular qualquer desejo legítimo como pecado ou provocação. Mas a raiva se mistura com algo inesperado: poder. Um poder estranho, derivado da atenção que sempre temi, mas que agora posso controlar.
Sento-me em frente ao espelho do banheiro do trabalho, observando meu reflexo. A mulher que vejo não é mais apenas a amiga leal, a e-girl que brinca com telas e maquiagem. É Joana, inteira, consciente da força que desperta — e do caos que é capaz de gerar.
E assim decido abraçar o personagem que os outros já escreveram para mim. Não como submissão, não como rendição, mas como afirmação.
Se querem me ver como "vagabunda", "puta", que assim seja. Se querem medir meu valor pelo desejo que inspiro, aprenderão que há muito mais por trás do corpo e do olhar.
Sorrio diante do reflexo. O mundo vai ter que me lidar desse jeito — intensa, provocante, perigosa e consciente.
E, no fundo, sei que esta história termina aqui apenas para abrir espaço para a próxima. Para novos encontros, novas tensões, novas escolhas. Escrevo isso enquanto olho pro estagiário gostoso que acabou de entrar na firma mas já ouviu histórias da funcionária "que dá pra todo mundo"... E talvez eu comece a dar mesmo.
