O rapazote agachou depressa na vegetação da margem do rio antes que fosse visto, o coração pulando debaixo da camisa, um suor gelado minando na testa e escorrendo pelo rosto pálido. Era a primeira vez que ele, Emmett Dalton, filho do xerife de Winslow, via um homem daquele jeito.
Ficou prendendo a respiração por quase um minuto. Só quando tudo pareceu bem foi que esticou o pescoço um pouco, caçando aquele moço que viu na água, peladinho da Silva. Ele continuava o seu ritual de banho sem aparentemente notar a presença intrusa de Emmett.
Levou um tempo para que o nosso rapaz de bochechas vermelhas ficasse seguro da sua situação. Quando entendeu que os ruídos da sua aproximação não chegavam aos ouvidos ocupados daquele cara, agachou sobre as pernas e o espiou por minutos a fio, o olho furtivo preso nos seus detalhes que eram tantos como são os detalhes da paisagem sob o escrutínio do pintor.
O homem era ruivo. Tinha cabelo ruivo, barba ruiva, pelos, pentelhos ruivos, na virilha, nos sovacos, no peito e em volta dos mamilos. Emmett ficou pensando que aquele era o primeiro cara ruivo que via na vida toda. E ficou assim, meio que passeando nele com os olhos por um tempo. O peito cabeludo era que nem um incêndio na neve. Era um homem de músculos, tinha uma cicatriz no antebraço esquerdo, mas Emmett não sabia o que era. Então, subiu vasculhando agora o seu rosto. Parecia ameaçador. A barba lhe dava essa moldura forte, cruel até.
O homem fez um movimento, levou as mãos à cabeça, fez espuma nos cabelos. Os dois braços flexionando os bíceps, as axilas escuras dos pelos. A água escorria, os deixava lisos na pele fria. Emmett olhava. Foi descendo pelas costelas, as linhas do abdômen conduzindo o par de olhos turistas para a virilha. O caralho não circuncidado pendia balançando; o pentelho, antes ruivo, agora ficara branco da espuma do sabão.
Emmett permaneceu naquela hipnose gostosa, que deixava o corpo meio mole, meio teso. Ele também tinha pentelho, mas o seu era ralo, liso e marrom. Não se parecia nada com o daquele cara, denso e afogueado.
Ficou pensando que o dele deveria ser assim pelo moço já ser um homem feito, e o seu por ainda ser só um rapazote franzino. Que quando ficasse homem e tivesse músculos, ia ter pentelho de homem. E braços musculosos e peito cabeludo também.
Emmett esperou o banho do estranho terminar, coisa que durou no máximo uns cinco minutos. Depois, voltou para casa com ele na ideia.
Não era comum ver gente naquele tempo tomando banho, ainda mais num rio, a céu aberto. Devia ser forasteiro. E conforme Emmett caminhava pensando nessas hipóteses, o cacete não circuncidado dele balançava com espuma de sabão na sua mente.
À noite, na presença dos pais à mesa, não conseguiu jantar direito. Sentia a ereção empurrando a roupa toda vez que lembrava dele…
No quarto, deitado de barriga para cima, ficava desenhando a silhueta de um pau com pentelhada ruiva no teto. E ele, o cara do rio, o forasteiro concentrado no seu banho. O pau de Emmett também inchava embaixo do lençol. Ele o agarrava e o apertava com força na intenção de fazer parar, mas não tinha efeito.
O nosso rapazote ficou uns dias andando pelas ruas de Winslow olhando em torno, atento, espiando dentro das lojas pelas vidraças. Ajudava o pai quase todo dia na delegacia e, sempre que dava, pesquisava junto aos assistentes se sabiam quem era o forasteiro ruivo que tinha chegado na cidade. Ninguém parecia ter conhecimento dele.
Algumas vezes, também retornou ao rio, no mesmo lugar onde ficou agachado, admirando aquele cara. A verdade é que Emmett passou as duas semanas seguintes caçando-o na multidão.
Sua mãe mesmo comentou que estava saindo de casa mais que o normal, se algo o incomodava. Emmett não respondeu. Ela ficou pensando que, talvez, o filho daquela idade estivesse escondendo algo dela, como uma namoradinha...
Numa tarde de sol infernal, voltando ao rio depois de muitas vezes já ter ido lá, o corpo do nosso rapazote congelou quando deparou com a nudez quente daquele cara. Só que, dessa vez, quando os olhos de Emmett subiram daquele cacete, os olhos do dono dele estavam nos seus.
Emmett paralisou.
Vinha pelo caminho cantarolando distraído, esperando mais uma vez encontrar só o rio sem o moço pelado nele, e não percebeu que, dessa vez, sua presença foi notada.
O ruivo franziu as sobrancelhas e riu, ou fez que ia dizer algo, mas Emmett estava tão vermelho e sem graça, que não diferenciou. Parecia que o haviam pego em flagrante cometendo um crime terrível.
— Você está legal, garoto?
Se alguém perguntasse em seguida, Emmett não se lembraria se respondeu ou não. Ele teve apenas uma reação: virou as costas e zarpou numa carreira desesperada de volta para a cidade.
Quando afinal se achava já longe, num beco entre duas residências, arfando muito da carreira, se achou também um idiota. Poderia ter dito qualquer coisa. Um me desculpe — qualquer coisa, menos ter saído correndo daquele jeito.
Os próximos dias, Emmett os passou remoendo essa vergonha particular. Onde quer que fosse, lá estavam os olhos do ruivo sobre os seus, interrogativos, risonhos, debochados, perguntando se Emmett estava legal. Ele queria não pensar, mas ficava imaginando o ruivo rindo ao vê-lo sair correndo daquele jeito, como um bobão.
Essa imagem — o ruivo rindo pelas suas costas — era o seu assombro permanente.
Isso murchou aquela repentina alegria do nosso rapazote, e se antes ele cantarolava e saltitava por aí, agora vivia cabisbaixo, profundamente envergonhado e cuidadoso. Onde quer que pisasse os pés fora de casa, o fazia olhando em volta, caçando o ruivo na multidão, nas ruas. Pensava que, se o visse, dessa vez teria tempo de se esconder pelo menos…
Não tinham passado muitos dias desde o flagra do rio, o seu corpo congelou outra vez quando, numa tarde, viu o tal ruivo apertado em jeans aprtados e camisa xadrez saindo do saloon da rua principal. Emmett quase gemeu quando o viu. Ele, também vendo o nosso garotão, piscou e jogou para Emmett um beijo sarcástico no ar. A cara de Emmett ardeu, e ele só quis desaparecer.
Não se sabe ao certo que atalhos foram tomados por ambas as partes para a seguinte conversão, mas quando Emmett sumiu num beco e dobrou numa passagem lateral para escapar daquela situação, o ruivo já o esperava.
— Fugindo de mim, mocinho?
Emmett parou, os olhos fincados no chão, o coração disparado embaixo da camisa.
O nosso forasteiro achou essa reação muito curiosa, o que se percebia no seu meio sorriso e nas sobrancelhas erguidas. Ficou se perguntando se todos os caipiras da América eram que nem esse rapazote…
— Não aprendeu a falar?
Emmett foi erguendo os olhos com cautela, mas não se atreveu a responder. A imponência do ruivo bem ali, diante dele, o questionando o intimidava, o fazia minúsculo.
— Vamos, diga algo! Quem são seus pais, garoto?
— Martha e Lewis.
O homem fez uma cara ótima, sorrindo, como se tivesse acabado de descobrir um trunfo.
— O xerife Lewis é o seu pai?
Emmett confirmou com a cabeça. O ruivo então levou a mão no saco espremido na braguilha, coçando-o, enquanto o nosso garoto seguia esse seu movimento com olhos discretos. Era automático para ele. Só baixou o olhar, se reprovando, quando ouviu a risada do ruivo o flagrando.
— Certo, rapaz — ele disse, afinal. — Te vejo de novo no rio qualquer dia desses? — E esticou outro daqueles sorrisos zombeteiros antes de jogar um beijo para Emmett, que ficou ardendo de vergonha.
O nosso rapazote voltou para casa apertando uma ereção no meio das pernas. Naquela noite, não dormiu. Enquanto desenhava um caralho ruivo com os olhos inquietos no teto, Emmett agarrou seu pau duro, babando, carente, e o masturbou. Era a primeira vez que fazia aquilo.
Secretamente, sabia que era pecado. Que a igreja e todo civil cristão de Winslow reprovava. Sabia que seria castigado por todos, começando pela sua família. Mas era tão bom... A pele inteira arrepiada convulsionando sob o pijama ao seu simples toque. Era um pecado delicioso! Tão bom que só queria fechar os olhos e reimaginar a cena tão bonita do rio.
Cada vez que a sua mão descia e o seu corpo esquentava, o esfíncter apertado nas nádegas contraindo e relaxando num espasmo inédito, a respiração acelerando, Emmett se imaginava quebrando a barreira do medo e do pudor, se aproximando cada vez mais do ruivo pelado do rio até poder encostar nele. Apesar dos 18 anos completos, era virgem e ingênuo como ditava a criação daquele tempo, mas também agora cheio de coragem de experimentar as proibições do mundo.
Interrompeu a punheta quando a mãe entrou no seu quarto sem avisar.
— Emmetty, você está bem?
— Estou, mamãe.
— Ouvi você gemendo… Está passando mal?
— Apenas tive um sonho ruim. Estou bem agora.
Virou para o lado, embaraçado. Agora, o remorso o consumia. A vergonha, o medo — tudo retornava com força. Sua mãe o tinha ouvido pecando. Pecando contra o seu próprio corpo. Apertou os olhos, com raiva de si mesmo. Por que aquele maldito ruivo não saía da sua mente?
No dia seguinte, Emmett foi ao rio, mas não encontrou o seu forasteiro nele. Então, voltou no outro dia e no outro. No quarto dia, lá estava Emmett na mesma situação do começo na nossa história: agachado no matagal da margem, o coração pulando que nem um jovem corcel, e aquele forasteiro pelado no rio se banhando.
— Já vi você aí, filho do xerife… — O ruivo gritou.
Emmett estava pálido.
Ele apertou o coração saltitante sob o peito na tentativa inconsciente de acalmá-lo; só então levantou. Mesmo assim, ficou um silêncio entre os dois. O homem encarando Emmett e Emmett o encarando de volta, corando, suando e quase tendo uma ereção no meio dessa fervura de sensações.
— É o seguinte — o ruivo foi dizendo sem cerimônia —, você quer banhar comigo? Eu tenho sabonetes na sela! — Espichou o queixo indicando o objeto na margem do rio.
Emmett engoliu em seco. Era exatamente o que queria fazer, exatamente o que não tinha coragem de fazer. Ficou hesitante, esperando que o forasteiro dissesse qual deveria ser o próximo passo daquela dança onde apenas um sabia dançar.
— Vamos — ele mexeu no saco de novo e deu uns passos para Emmett, agora sorrindo —, a água está boa pra peste!
Emmett também sorriu.
Era estranho, mas o seu corpo parecia seguir sozinho uma série de instintos que Emmett, até então, não sabia que tinha. Apesar do nervosismo que o fazia querer fugir e se esconder, o seu rosto esticava um leve sorriso, o seu pau inchava nas calças, e as suas pernas o induziam a dar passos na direção do forasteiro desejado. Era a razão medrosa batalhando contra a emoção apaixonada.
— Eu sou Durango — o ruivo estendeu a mão ensaboada, chamando-o. — E você? Tem nome, fedelho?
— Emmett Dalton.
— Dalton, hein?... — Os olhos do moço percorreram Emmett de cima a baixo numa inspeção silenciosa. — E você está legal, Emmett Dalton?
Emmett fez que sim com a cabeça, o sorriso agora mais aberto no rosto, o pau fazendo a sua calça apontar para frente, uma formigação tomando conta dos braços, do peito e da bunda.
— Certo, Dalton. Se quiser dividir o sabonete comigo, não vai fazer isso vestido, né?
O sol esturricava, fazia o nosso rapazola suar às bicas. O rio, borborejando na sua frente, por si só já parecia um convite. Se livrar das roupas era uma boa ideia, mas Emmett ficou esperando uma segunda ordem.
— Você não está com vergonha de mim, né, Dalton?
Emmett mentiu, fazendo que não.
— Escuta, quantos anos você tem?
— 18.
— Então, já está acostumado a meter nas menininhas, não é, Dalton, seu garanhão? — Durango ria para Emmett, que agora ria de volta. — Está acostumado, não está? A enterrar isso aqui na fenda das garotas, hein? — Ele balançava o cacete para Emmett, provocando-o. — Na sua idade, eu também já enrabava a professora e a filha do pastor da igreja lá de Amarillo.
Esses comentários geraram uma autoconfiança imediata no nosso tímido Emmett.
Parte da sua vida, ele a tinha passado com medo de não fazer jus ao que se esperava do filho de um xerife como o seu pai: um rapaz valoroso, corajoso e, eventualmente, mulherengo. Emmett passava longe de todas essas expectativas, ao passo que se obrigava o tempo todo a querer atingi-las.
Ouvir aquele ruivo dizer que o achava o estereótipo que ele vinha buscando ser por todo esse tempo foi um êxtase particular para o nosso menino.
— Vamos, tire logo essa merda de roupa! Mostre o seu grande salame, garoto!
E ele a tirou. Devagar, peça por peça, mas sem mais aquele medo de antes, porque agora o peito inflava, o pau inchava e o desejo percorria a pele arrepiando cada pelo do corpo. Emmett foi chegando mais perto do ruivo, atravessando a barreira do pudor e, afinal, fazendo o que realmente queria.
Os dois se molharam e a água estava mesmo boa para peste! Os sabonetes ficaram deslizando na pele de um e outro numa troca animada, quase uma brincadeira. Até que o ruivo botou Emmett para esfregar as suas costas.
— Escuta, Dalton — ele disse, passado um tempo. — Você é novo nisso, não é?
Emmett não soube o que responder, e do jeito que estava, ficou.
— Vá se foder, venha cá!
Quando Durango o agarrou pela cintura e se posicionou às suas costas, Emmett não reagiu. Quando ele o dobrou no meio, de maneira que as suas mãos foram parar nas pedras no fundo do rio e a sua bunda ficou empinada, aberta pelas mãos grandes do ruivo, Emmett continuou esperando. Aquele formigamento gostoso que o deixava arrepiado foi o calmante para o seu medo. Então, sentiu o moço meter uma coisa melada na entrada do seu rego.
— Assim…
E empurrou.
Emmett gritou alto, a tarde caía devagar no horizonte. O moço empurrou de novo, Emmett gritou de novo. Permanecia na mesma posição submissa, abaixado, o rabo virgem empinado que nem oferenda, aberto, vazia do caralho ruivo que entrava pela terceira vez seguido de um terceiro grito. Na quarta estocada, Emmett só gemeu.
Os gritos viraram gemidos que, por sua vez, foram virando resmungos doloridos. Mas o moço riu. Ficou pensando que nunca tinha ganho uma trepada tão fácil que nem aquela. Apertou as ancas ossudas de Emmett e empurrou com força só para ver o rapaz se esgoelar de novo. Era bom ouvir os gritos dele, a sua voz afeminada de rapazinho de boa família religiosa. Era bom saber que causava dor a alguém e esse alguém, consciente disso, não renunciava a essa dor. Ao contrário, queria senti-la. A bunda hesitava, mas permanecia ali, empinada e vazia, implorando ser violada. Durango ficava satisfeito da dor que causava.
Ejaculou no fundo da barriga de Emmett, que ficou esperando, gemendo, choramingando, o rabo entalado de pau e de sêmen.
Então, Durango desgrudou dele, o pau sujo de bosta. Emmett desabou. Tinha perdido as forças. A bunda era agora um buraco em carne viva escorrendo fezes e sêmen. O ruivo riu de novo, se lavando. Achou irônico que o filho do xerife tinha se cagado todo por ele. Deve ter doído para burro. Ficou rindo e pensando se aquilo não era uma espécie de prova de amor. Burra, afinal, mas prova. Emmett, ouvindo a risada dele, ficou pensando que era a segunda vez que ele ria pelas suas costas…
Emmett passou os próximos dias quieto e silencioso.
A sua mãe vinha vê-lo no quarto toda hora, preocupada, querendo saber o que tinha acontecido, se o filho tinha brigado com a namoradinha que ela supunha que ele tinha. Ele dizia qualquer coisa, qualquer amenidade só para despistar o interesse dela. Quando ela saía, ele virava para o lado e segurava o choro.
É que, no mesmo dia do rio, tinha ocorrido um grande roubo ao banco de Winslow, com quatro bandidos levando consigo a bagatela de cem mil dólares. Um desses quatro era Durango — que, só depois do roubo, Emmett descobriu que se chamava Durango Kid, um bandoleiro já bastante conhecido no leste. Por ser nome fresco no Arizona, não havia ainda cartazes de recompensa divulgando o seu rosto. O pai de Emmett, junto de alguns voluntários, saiu no encalço dos ladrões em seguida e ainda não tinha retornado para casa.
Tudo isso agora martelava com peso de culpa na cabeça do nosso Emmett.
Seu pai poderia nunca mais voltar e a responsabilidade da casa, da família e da cidade recairia sobre o filho do xerife Lewis Dalton. O mesmo filho que, uns dias atrás, foi enrabado por um assaltante de banco — e tinha gostado disso. E que mesmo agora, deixado machucado e cheio de remorso, não tirava o algoz do pensamento.
Emmett só limpou a cara e levantou quando uma agitação tomou conta da cidade.
— O xerife Dalton! O xerife voltou! — ouviu uma voz muito distante aos berros.
Pulou da cama e saiu correndo para a rua para ver com os próprios olhos: lá estava seu pai e os voluntários retornando a cavalo com um dos bandidos morto, atravessado num animal, e um segundo, amarrado e amordaçado noutra montaria. Esse último estava vivo, e era Durango.
Naquele dia, não se falou noutra coisa em toda Winslow. Os voluntários da posse¹ que seguiram Lewis na caçada contavam a sua grande aventura para todo mundo, e mesmo que o nosso Emmett não tivesse pisado os pés no saloon ou andado muito pela cidade, ele conseguia ouvir as pessoas comentando entre si toda vez que passavam por ele. Ele já estava feliz só pelo seu pai voltar vivo. Em segredo, por Durango também.
No dia seguinte ao do retorno do xerife, Emmett decidiu que se juntaria aos ajudantes do seu pai para guardar o ruivo que, agora, ficaria esperando o dia do julgamento. Lewis ficou bastante orgulhoso da atitude do filho, e não poupou esforços para privilegiá-lo com algumas responsabilidades — como, por exemplo, botá-lo para fazer rondas a cavalo e turnos à noite, usando a estrela de auxiliar no bolso da camisa.
A verdade era que o xerife pretendia continuar buscando pelos outros dois bandidos que conseguiram escapar, o que o faria se ausentar com frequência, e para não deixar a cidade sem um representante da lei, achou bom iniciar o filho para que pudesse substituí-lo um dia. O pedido de Emmett em integrar a equipe da lei foi a prova de interesse que Lewis buscava no menino.
Por duas vezes ao longo daquela semana o xerife se ausentou e, ao retornar, achou a cidade em ordem tal qual havia deixado. Mesmo com a responsabilidade de um bandido perigoso na chave, Lewis não teve problemas com a equipe que deixou na guarda. A conclusão a que chegou é que os bandidos que haviam fugido não retornariam para tentar libertar Durango.
Oito dias já haviam passado desde o assalto, e o julgamento do bandido capturado estava marcado para o nono. Havia uma tensão no ar de Winslow. A população se recolhia, evitava botar o focinho fora de casa, e a cidade, antes modesta na sua vivacidade, agora parecia uma ghost town: abandonada e silenciosa.
De certa forma, Emmett também sentia aquele calafrio, aquele pavor da iminência de um novo ataque. Passava horas olhando para as colinas lá além, prevendo na sua fantasia juvenil a chegada do bando que vinha resgatar Durango.
Mas ao passo que nutria esse medo prudente, também sentia-se atraído direto para ele. Emmett fantasiava uma ideia de aventura em torno de Durango e seu bando, idealizava uma certa liberdade na figura de cowboys bandoleiros, que era como um ímã para a sua atenção.
Foi a vida inteira criado para ser um rapaz comum de modéstia religiosa e interiorana, o que o fazia se sentir mais presidiário que o próprio Durango. Enquanto o bandido não tinha fronteiras morais, Emmett não conhecia o mundo — nunca sequer tinha saído de Winslow. E quanto mais pensava, mais tinha pressa de ser livre. Para ele, Durango era a liberdade.
Naquela noite, ele se voluntariou para ficar de guarda na delegacia. O pai, inflado de orgulho, entregou uma arma ao filho e lhe deu algumas instruções. Aquela, seria a última noite do bandido. Na manhã seguinte, ele seria enforcado.
Foi pela madrugada que as preocupações da mãe fizeram Lewis pular da cama ir atrás de Emmett. Na delegacia, o xerife parou um instante e ficou espreitando o silêncio. Achou ter ouvido grunhidos. Se encaminhou para as celas, girou a maçaneta e abriu a porta devagar. Era Emmett. Estava dentro da cela de Durango, nu da cintura para baixo, segurando as grades com as mãos trêmulas enquanto o bandido arrebentava o rabo dele.
— Emmett! — gritou.
— P-papai! P-papai! — O nosso rapaz gemia, contorcendo a cara numa careta manhosa e terrível.
FIM
Jesús Blasco, agosto de 2025.
[Glossário]
Posse¹: nos tempos do faroeste, era um grupo de pessoas organizado às pressas para fazer uma busca ou varredura. Como no conto, quando ocorriam grandes roubos a trens e a bancos, o xerife da jurisdição organizava um grupo de civis voluntários para segui-lo nas caçadas a bandidos, por exemplo.
