Entrelinhas




Priscila sempre foi metódica. Metódica nos horários, na forma como dobrava as roupas, como arrumava os cabelos. Professora de matemática há mais de quinze anos, tinha o tipo de disciplina que molda os dias em retas bem traçadas. Mas havia algo diferente nela, ultimamente. Algo fora dos eixos.

Eu percebi primeiro nos olhares. Ou na ausência deles. Sentava-se ao meu lado no sofá, como sempre, mas parecia em outro lugar. Talvez fosse o cansaço. O nosso casamento não era mais o mesmo havia tempos. A rotina, aquela velha inimiga silenciosa, nos tinha domado com sua lentidão confortável.

Eu, contador, passava a maior parte dos dias em frente ao computador, revisando planilhas, tragando um cigarro atrás do outro na varanda do escritório. Amava minha esposa, mas carregava uma culpa surda por não conseguir mais tocá-la como antes. Não por falta de vontade, mas por uma exaustão estranha, existencial.

Foi num fim de tarde qualquer que ela comentou:
— Temos um professor novo na escola. Fábio. Educação física. O nome não me soou importante naquele momento.
— Novo? — perguntei, distraído.
— Trinta anos. Atlético. Carismático. As alunas andam suspirando pelos corredores — ela disse, quase com sarcasmo. Mas havia algo mais ali. Um brilho que não via há tempos.
— E você?
— Eu? ela riu.
— Eu tô velha demais pra essas besteiras.

A verdade era que Priscila estava no auge. Quarenta anos, sim. Mas com o tipo de beleza discreta e profunda que o tempo só aprimora. E havia uma inquietação recente em seus gestos. Um perfume novo. Roupas mais ajustadas. Um leve descuido no batom, como se tivesse se maquiado às pressas no espelho do carro.

Comecei a reparar mais. O celular com senha, as risadas abafadas quando eu entrava na sala, as idas ao mercado que demoravam demais. Não cheguei a confrontá-la. Talvez por covardia. Talvez porque, no fundo, eu não queria ouvir a resposta.

Uma noite, por curiosidade ou desespero, resolvi segui-la discretamente depois que disse que ia se encontrar com uma colega para “corrigir provas”. Acompanhei de longe, coração acelerado, esperando me sentir traído, mas o que senti foi algo mais confuso.

Ela entrou no carro de alguém. Fábio. Reconheci pela foto que ela mostrou uma vez. O carro foi parar num estacionamento discreto atrás de um ginásio esportivo. Fiquei parado na sombra, o motor desligado, os faróis apagados, como um voyeur cúmplice do próprio pesadelo.

A janela do carro dele embaçou. Levemente. Silhuetas se mexendo. Um movimento de corpos. Beijos. O leve balanço do carro de forma ritimada, como se algo estivesse sendo martelado ali dentro.A dança do desejo. Minha garganta secou. Era ela. Era ele. Era real.

Senti raiva. Sim. Mas também algo que me corroía de outro jeito. Uma excitação. Uma vertigem. Meu pau endureceu contra minha vontade, contra minha moral. E aquilo me destruiu um pouco, mas também me acendeu por dentro. Havia algo de profundamente erótico em vê-la se entregar. Não a mim, mas a outro. Como se ela fosse mais viva assim.

Não me denunciei. Não buzinei. Não fui embora. Fiquei. Assisti. Sozinho. Até o fim.

Depois disso, nada mudou. Na superfície, tudo seguia como antes. Eu a olhava pela manhã, se vestindo para o trabalho, e imaginava as mãos dele em sua pele. Os lábios no seu pescoço. Suas línguas se entrelaçando, gemidos abafados enquanto a buceta dela era fustigada pelo pau daquele homem atlético. E ela? Ela sorria mais. Tinha o olhar mais vívido. Me beijava com mais calma. Mais ternura. Às vezes, depois de sair, voltava ofegante, o corpo ainda quente, e me tomava como quem deseja esquecer algo, ou lembrar.

Uma noite, Fábio apareceu aqui em casa. A desculpa foi um projeto esportivo da escola. Fiquei observando como ele se comportava. Educado. Polido. Cordial. Mas havia algo no jeito que olhava para Priscila. Algo contido, mas cínico. Como quem diz “eu já comi a sua mulher, e você nem desconfia”.

Ela se manteve firme, mas havia tensão no ar. Uma eletricidade abafada.

Naquela mesma noite, depois que ele foi embora, Priscila veio até mim no quarto, enlaçou minha cintura por trás e sussurrou: — Senti sua falta hoje.
— Mesmo? perguntei.
— Sempre. ela respondeu.
Mas seus olhos estavam distantes. Como se vivessem duas vidas em uma só.

Houve outras vezes. Sempre secretas. Sempre escondidas. Até que um dia, o descuido.

Ela achou que eu estava em uma viagem curta a trabalho. Eu adiantei a volta. Não avisei. Por curiosidade, por um instinto estranho, talvez masoquista.

A casa estava em silêncio. Mas o quarto... o quarto não.

Ouvi os sons antes de ver. Os gemidos. Os estalos de pele contra pele. Entrei devagar. A porta entreaberta. E lá estavam eles. Ela montada nele, selvagem, como há anos não era comigo. Os cabelos soltos, o corpo entregue. Gemia de uma forma que eu nunca tinha presenciado.

Parei. Olhei. Fiquei. Não por coragem. Mas por uma espécie de fascínio doentio.

Ela não me viu. Estava perdida. Ele me viu, de relance, por cima do ombro dela. E sorriu. Com malícia. Cínico. Puxou o edredom que cobria a bunda dela, revelando o pau dele enterrado profundamente na buceta dela, era grande e grosso, não absurdamente grande, mas estava acima da média, não usava preservativo.

--- No pelo? Pensei.

Priscila só rebolava em cima daquele pau pulsante. Entre os gemidos, um sussurro:

--- Tô gozanzando! E solta o seu gemido característico de gozo, o qual a muito tempo não presenciava.

Priscila desfalece no colo dele, mas ele continua metendo, agora ele tem o controle, e faz com força e vigor. Em um ato de puro deboche, com o dedo, faz carícias no cuzinho, até outrora intocado por mim, da minha esposa. Ele introduz o dedo, Priscila para minha surpresa geme mais alto. Não entendo, ela nunca me deixava nem passar a mão perto mas agora estava totalmente entregue a esse homem que acabara de conhecer.

Não consegui ficar até o fim. Na saída ainda escuto o urro de prazer que Fábio da de maneira escandalosa só pra se certificar de que eu saberia o momento em que ele gozasse dentro da minha esposa.
Saí. Andei pelo bairro. Fumei dois cigarros. Quando voltei, ela já estava sozinha, na cozinha, de camisola, preparando um chá.

— Você voltou? — perguntou, como se nada tivesse acontecido.

— Voltei.

Nos olhamos por longos segundos. Ela me estudou. Talvez soubesse que eu sabia. E nesse jogo silencioso, cada um fingiu ser o que era. Um pouco traído. Um pouco cúmplice. Um pouco viciado demais pra parar.

Nunca falamos sobre aquilo.

Mas, desde então, o sexo entre nós mudou. Ela mais ousada. Eu mais atento. Às vezes, antes de me beijar, ela dizia:
— Você gosta quando eu sou má?
E eu respondia com o corpo, não com palavras.

Nunca mais vi Fábio. Ou talvez tenha visto, uma vez, no mercado, e ele me cumprimentou com um aceno, não tive reação.

O amor continuou. Distorcido, talvez. Mas real. Como se, ao abrir aquela ferida, tivéssemos descoberto uma nova forma de sentir. Mais crua. Mais humana.

E quanto à traição?

Nunca discutimos isso. Mas às vezes, no escuro, quando ela geme no meu ouvido com um fervor que nunca entendi de onde vem, eu sinto que já não importa mais.

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Comentários


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carlos38bh Comentou em 06/05/2025

Tem homens com esse fetiche há anos, que a esposa faz exatamente assim... transa escondida. A mulher de um amigo meu, cujo sou padrinho de casamento, vive secando meu pau. Toda vez que ela está por perto ela olha primeiro para meu pau, depois pra mim, parece querer a todo custo, acho que deve gozar pensando imaginando tamanho, a grossura, o cheiro da minha pica. Eu pelo contrário respeito ele demais e finjo que não vejo as secadas que ela me dá, A gente nunca sabe a reação do outro.

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lipeabc Comentou em 06/05/2025

Priscila precisou de uma ajuda. Se precisar de uma segunda ajuda, seria um prazer

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lozo Comentou em 06/05/2025

Nossa, que conto, que depoimento, que estória deliciosa de ler, muitíssimo bem escrita e contada, muito gostoso saber que quando o corpo pede e não é devidamente atendido, pode ocorrer falhas em ambas as partes. votado e aprovado




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Ficha do conto

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Nome do conto:
Entrelinhas

Codigo do conto:
234985

Categoria:
Traição/Corno

Data da Publicação:
06/05/2025

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8

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