Meus dias não foram fáceis, eu estava vivendo um dia após o outro, não tinha vontade nem tesão para nada. Eu havia perdido o brilho no olhar e o sorriso. O Carlos a cada dia que passava era uma memória distante, um abismo que crescia sem parar. Não tive mais notícias dele. Tentei procurar, mas foi tudo em vão! Três meses se passaram e durante esse tempo minha rotina era da escola pra casa, de casa pros cursinhos. Eu me sentia vazio por dentro, como uma casca oca que apenas simulava estar viva. O silêncio do meu quarto havia se tornado meu único confidente, as paredes testemunhas do meu desmoronamento interior. Durante esse tempo o Luke me procurou e foi até a minha casa. A gente transou. Na real, ele transou comigo, eu apenas permiti que ele ficasse comigo. Eu não tinha tesão, não tinha vontade. Para mim era indiferente, como respirar automaticamente enquanto se está em coma. Era o mesmo que não ter e não sentir nada! Uma vez ele brigou comigo porque eu não tinha reação alguma e ele queria que eu voltasse a amá-lo. Estávamos no meu quarto, a tarde caía pela janela, lançando sombras que pareciam refletir o vazio da minha alma. — Por que você está assim, Lucas? Quero você de volta, você me amando — disse Luke, com os olhos marejados, sentado na beirada da minha cama. — Esse sou eu agora. Minha nova vida — respondi, sem olhar para ele, fixando o olhar no teto como se ali existisse alguma resposta que nem eu mesmo sabia qual era. — Mas você nem parece vivo! É como se eu estivesse com um fantasma — Luke elevou a voz, frustração transbordando. — Você costumava sorrir tanto. Costumava me olhar com desejo. — Desculpa decepcionar — murmurei, sentindo absolutamente nada enquanto as palavras saíam dos meus lábios. — Volte a me amar, não quero estar com você assim — ele implorou, segurando meu rosto entre suas mãos, forçando-me a olhar nos seus olhos. Afastei suas mãos sem emoção alguma. — Luke, você queria me foder, me fodeu. Pode ir embora. Ele se levantou abruptamente, como se tivesse levado um tapa. — Isso é injusto! Eu estou tentando te ajudar, Lucas! Estou tentando te alcançar nesse buraco onde você se jogou! — Ninguém pode me alcançar — respondi, virando de lado na cama. — Nem eu mesmo sei onde estou. — Eu quero você de volta — a voz dele falhou, trêmula. — O Lucas que eu conheci, que ria das minhas piadas, que me abraçava como se o mundo fosse acabar. Para onde ele foi? — Ele morreu quando o Carlos foi embora. E então me virei e afundei minha cara na cama. Não chorei, mas essa era a verdade. Eu não tinha mais aquela emoção ou qualquer tipo de vontade. Eu apenas vivia um dia após o outro, com a saudade do Carlos sempre apertando como um torniquete em volta do meu coração, sufocando qualquer possibilidade de sentir algo diferente da dor entorpecida que havia se tornado minha companheira constante. Minha mãe, meus amigos (Yan e Chanel) tentavam conversar comigo, mas era em vão. A preocupação nos olhos deles só aumentava minha culpa por não conseguir ser quem eu era antes. Eu ainda fiquei relativamente "bem" porque ia à terapia e conversava com o psicólogo, mas evitava falar tudo. De certa forma, isso me ajudou a me manter "vivo". Minha vida tinha se tornado um vazio, sem propósito. Eu apenas acordava, ia pra escola, estudava, ia pra outras aulas e depois queria ficar sozinho no meu mundo. Não chegava a chorar ou pensar besteira, mas eu partilhava minha solidão comigo mesmo como se fosse a única coisa verdadeiramente minha naquele momento. Até mesmo as piadas mais engraçadas da Chanel não me faziam rir, fosse na escola ou em qualquer outro canto. Eu estava num verdadeiro vazio! Essa é a realidade. E assim foi minha rotina nesses três meses que se passaram. Sem um sorriso, sem um verdadeiro motivo para viver. Até que... nunca irei me esquecer desse dia. Era uma manhã de sábado. À noite teríamos o São João da nossa turma na casa do Luke. Eu não iria, pelo menos aquele era o meu plano: ficar o sábado deitado olhando pro teto do meu quarto, contando as rachaduras como se fossem os dias que passaram desde que Carlos saiu da minha vida. Até que logo pela manhã a Chanel chega na minha casa. Ela nem se deu ao trabalho de bater na porta do meu quarto. Entrou como um furacão de salto alto e perfume adocicado, abrindo as cortinas e deixando a luz invadir meu santuário de escuridão. — Bom dia, bom dia, bee! Acorda dessa hibernação depressiva que não combina nem um pouco com você! Vamos cuidar em providenciar um look arrasador pra esse São João, cuida, cuida! — disse a Chanel, puxando meu edredom sem dó nem piedade. — Amigo, não vou. Não tô animado — murmurei, cobrindo os olhos com o antebraço para me proteger da claridade ofensiva. — Lucas, parou tudo agora mesmo! — ela bateu os pés no chão fazendo o salto estalar. — Você não pode viver assim, se arrastando pelos cantos feito uma lesma sem sal. O Carlos tá seguindo em frente, o Luke também, e você aqui definhando dentro de um quarto que já tá fedendo a tristeza e desodorante vencido. — Não tô a fim de festa, Chanel — virei para o lado, dando as costas para ela. — Ai meu São João Batista da purpurina! — ela jogou as mãos para o alto em desespero teatral. — Escuta aqui, alma penada, eu não atravessei a cidade toda de salto alto e nesse calor infernal pra ouvir suas lamúrias. Vamos levantar essa bunda gostosa, que nem ta mais gostasa assim, cruzes, você precisa voltar a malhar urgente, vamos vamos, se levanta dessa cama agora. Ela me puxou pelo braço com uma força impressionante para alguém que vivia reclamando das unhas quebradas. — Chanel, você não entende... — Não entendo? — ela levantou uma sobrancelha perfeitamente delineada. — Lucas, meu amor, eu já chorei tanto por macho que poderia encher o Rio Amazonas nas épocas de seca. Sei exatamente o que é sentir que arrancaram seu coração e fizeram churrasco dele na sua frente. Ela sentou na beirada da cama, seu tom suavizando surpreendentemente. — Olha pra mim, bee. Eu te amo demais pra ver você se afogando nesse mar de autopiedade. O Carlos foi embora, e sim, dói como o inferno. Mas você continua aqui, respirando, existindo. Você acha que ele está em casa chorando por você? A verdade daquelas palavras me atingiu como um tapa. — Provavelmente não — admiti. — Então por que você está desperdiçando sua juventude, sua beleza, seu tempo por alguém que seguiu em frente? Meu bem, a melhor vingança é ser feliz e estar DIVO! — ela estalou os dedos em sequência, como se pontuasse cada sílaba. Não pude evitar um leve sorriso com seu dramalhão. — Isso! É esse sorriso que eu quero ver! — Chanel apontou para mim como se tivesse descoberto ouro. — Aposto que seus músculos faciais estão doendo de tanto tempo sem uso. — Talvez você tenha razão — admiti, sentando-me na cama. — EU? Tendo razão? Anota esse dia no calendário, bee! — ela fingiu um desmaio, caindo na minha cama. — Mas é sério, Lucas. Você não pode deixar que uma pessoa determine se você vai viver ou apenas existir. O Carlos foi importante, sim, mas você é o protagonista da SUA vida, não um coadjuvante na história dele. Aquilo fez sentido de uma forma que nada havia feito nos últimos meses. — Tá... talvez eu vá nesse São João — concedi, ainda hesitante. — ALELUIA! — Chanel levantou os braços como se estivesse numa igreja evangélica. — Os céus se abriram e um raio de luz divina penetrou esse quarto de energias pesadonas! AMÉM! Ri de verdade dessa vez. — Mas não sei nem o que vestir... — Ah, deixa comigo, bee! — ela já estava vasculhando meu guarda-roupa como se fosse dona do lugar. — Primeiro precisamos fazer uma transformação completa. Olha pra esse cabelo! — ela fez uma careta, pegando uma mecha do meu cabelo que chegava aos ombros. — O que tem meu cabelo? A Dona Zefa corta desde que eu era pequeno — defendi, passando a mão pelos fios. — Dona Zefa?! — Chanel colocou a mão no peito como se estivesse tendo um ataque cardíaco. — Lucas, pelo amor de todos os santos gays do céu! Você é homossexual, precisa de um HAIRSTYLIST, não de uma senhora que provavelmente usa o mesmo modelo de corte desde os anos 80! — Mas... — Sem "mas" nem meio "mas"! — ela já estava com o celular na mão. — Vou ligar agora mesmo pro Fabrizio, meu hair designer particular. Ele vai te transformar na maior montação que esse arraial já viu! — Chanel, não sei se é uma boa ideia... — Confia em mim, Lucas. Hoje vou produzir você e deixar o homem mais lindo desse mundo! Quando terminarmos, o Carlos vai se arrepender amargamente de ter te deixado e o Luke vai babar tanto que vamos precisar de um balde no São João! Não consegui conter uma risada genuína, a primeira em meses. Era como se um peso tivesse sido momentaneamente retirado dos meus ombros. — Tá bom, você venceu. — EU SEMPRE VENÇO, BEE! — ela gritou, já discando o número. — Alô? Fabrizio? Emergência fashion no código vermelho! Preciso de um horário AGORA para o meu amigo... sim, é questão de vida ou morte estética! Enquanto Chanel gesticulava dramaticamente ao telefone, senti algo que não sentia há muito tempo: esperança. Talvez, só talvez, eu pudesse começar a sair desse buraco escuro. Não por causa do Carlos, não pelo Luke, mas por mim mesmo. E foi assim que, contra todas as probabilidades, eu sorri. Um sorriso pequeno, ainda frágil, mas verdadeiro. Um primeiro passo para fora das sombras da minha depressão. Menos de uma hora depois, estávamos entrando no salão de Fabrizio. Era um lugar moderno, com paredes pretas, espelhos enormes e luzes que pareciam de cinema. O aroma de produtos capilares caros impregnava o ar, misturando-se com o perfume excessivo que Chanel sempre usava. — Fabriiiiiizioooo, meu amor! — Chanel gritou assim que cruzamos a porta, abrindo os braços como se estivesse reencontrando um parente após décadas. Um homem alto, de cabelos platinados e óculos de armação vermelha veio até nós, andando como se estivesse em uma passarela. — Chaneeeel, divaaaa! — eles trocaram beijos no ar, sem realmente se tocarem. — Então esse é o paciente terminal de estilo que você mencionou? Fabrizio me analisou de cima a baixo como se eu fosse uma obra de arte inacabada. Seus olhos críticos se detiveram especialmente no meu cabelo. — Então, queremos uma transformação completa! — declarou Chanel, empurrando-me para a cadeira diante do espelho. — Um corte curto com degradê, estilo militar. Precisamos de um visual que grite "EU SUPEREI MEU EX E ESTOU MARAVILHOSO"! — O quê? Não! — protestei, agarrando instintivamente meu cabelo comprido. — Eu só queria aparar as pontas e tirar o volume. Sempre tive o cabelo grande, Chanel! Fabrizio e Chanel trocaram olhares conspiratórios que me fizeram engolir em seco. — Lucas, amor da minha vida — Chanel apoiou as mãos nos meus ombros e me encarou pelo espelho. — Você não tem escolha. Seu cabelo está gritando "DEPRESSÃO" em letras garrafais, e nós vamos silenciar esse grito hoje mesmo. — Mas... — Sem "mas"! — ela ergueu o dedo indicador com uma unha perfeitamente decorada. — Você está em plena transformação catártica, e transformações catárticas exigem mudanças drásticas. Não é mesmo, Fabrizio? — Absolutamente! — concordou ele, passando os dedos pelos meus fios. — Você tem um rosto muito bonito, sabe? Esses seus traços ficarão muito mais evidentes com um corte curto. Vai ser uma mudança drástica, sim, mas você vai ficar ainda mais encantador, confie em mim. — Viu? Até o especialista concorda comigo! — Chanel bateu palmas. — E se você não gostar, o que é impossível, o cabelo cresce de novo. Não é como se estivéssemos pedindo pra você tatuar "Solteiro e Gostoso" na testa! Fabrizio riu enquanto colocava uma capa em mim. — Olha — insisti uma última vez —, eu realmente não sei se... — Lucas, meu bem — Chanel se inclinou, falando mais baixo agora. — Às vezes precisamos mudar por fora para começar a mudar por dentro. Você está preso não só na tristeza, mas na imagem de quem você era quando estava com o Carlos. Um novo visual pode ser o primeiro passo para um novo você. Olhei para o meu reflexo no espelho. O rosto pálido, os olhos sem brilho, o cabelo sem vida. Talvez ela estivesse certa. — Vamos lá — Fabrizio sorriu, pegando sua tesoura. — Vou fazer você tão bonito que até eu ficaria tentado a te chamar para sair. – Ele então piscou o olho pra mim. Suspirei, derrotado. — Tá bom. Façam o que quiserem. — ISSO! — Chanel deu pulinhos de alegria. — Agora sim! Fabrizio, querido, pode começar a mágica! Fechei os olhos quando ouvi o primeiro corte da tesoura. Mechas do meu cabelo começaram a cair no chão, anos de crescimento transformados em lixo em questão de minutos. De vez em quando, eu abria um olho, apenas para ver Chanel sorrindo satisfeita e Fabrizio trabalhando concentrado. — Não espia ainda! — advertiu Chanel toda vez que eu tentava me olhar no espelho. — Quero ver sua reação quando estiver pronto! À medida que meu cabelo ia sendo cortado, eu quase não acreditava. Desde pequeno que eu não cortava meu cabelo assim. E então Fabrizio me virou de costas para o espelho e começou a cortar e passar a máquina, e eu não conseguia ver o resultado. O barulho da máquina me causava um frio na barriga, como se eu estivesse em queda livre. Quando ele terminou, Chanel ficou de boca aberta. — Meu Deus do céu! — ela exclamou, com as mãos no rosto. — Está... está... — Péssimo? — perguntei, sentindo o coração acelerar. — DIVINO! — ela completou. — Fabrizio, você não é cabeleireiro, é um ARTISTA! Devia expor suas obras no MASP! Fabrizio sorriu, orgulhoso. — Agora você pode olhar — ele disse, virando lentamente a cadeira. E então ele virou a cadeira e eu me olhei no espelho. Realmente, eu estava outra pessoa. O corte curto nas laterais com um degradê perfeito e um pouco mais de comprimento em cima realçava os ângulos do meu rosto que eu nem sabia que existiam. Meus olhos pareciam maiores, meu maxilar mais definido. Eu estava... mais bonito e era completamente diferente, devo dizer. Sorri e agradeci à Chanel com um abraço espontâneo, o primeiro gesto de afeto verdadeiro que eu oferecia a alguém em meses. — Obrigado mesmo — sussurrei no ouvido dela. — De nada, bee — ela respondeu, emocionada. — Você merece brilhar. Fabrizio me deu uns toques sobre como poderia estilizar o cabelo. — Pode usar com topete, deixar mais bagunçado... tem várias possibilidades — explicou ele, mostrando algumas opções com as mãos. — Com esse corte, você consegue mudar o visual só mudando a forma como penteia. — Pode deixar eu que mesmo vou ajeitar ele pra mais tarde — disse Chanel, já pegando sua bolsa. — Agora, vamos ao shopping procurar uma camisa xadrez, que eu quero você divino! Depois de pagar e agradecer novamente a Fabrizio, saímos em direção ao shopping. No caminho, eu não conseguia parar de me olhar em cada vitrine que passávamos, ainda me acostumando com aquela nova versão de mim mesmo. No shopping, a Chanel se transformou numa força da natureza imparável. Entramos em pelo menos dez lojas, e ela rejeitou dezenas de opções antes de encontrar o que procurava. — PERFEITO! — gritou ela na última loja, erguendo uma camisa xadrez laranja como se fosse um troféu. — Experimente isso aqui com essa calça preta. A calça preta tinha alguns detalhes rasgados que eu normalmente acharia exagerados, mas decidi confiar no julgamento dela. Entrei no provador e vesti as peças. Quando me olhei no espelho, quase não reconheci a pessoa que me encarava de volta. — E então? — gritou Chanel do outro lado da cortina. — Tá pronto ou vai criar raízes aí dentro? Saí do provador lentamente. Chanel levou as mãos à boca, em um gesto teatral de surpresa. — Lucas... você está... você está... SENSACIONAL! — ela girou em torno de mim, ajustando detalhes da roupa. — Se você não pegar ninguém hoje nesse São João, eu juro que desisto da minha carreira de consultora de imagem. Sorri, meio sem graça, mas secretamente satisfeito com o resultado. Fomos para casa e, quando entrei, minha mãe quase caiu para trás. — O QUÊ? COMO ASSIM? — ela exclamou, levando as mãos ao rosto. — Cadê meu filho? — Tia, tia — Chanel interviu rapidamente —, ele ficou um deus grego, né? Um outro homem! Hoje vamos arrasar no São João e ele vai chegar irreconhecível. Ainda bem que ele tinha uma amiga como eu, né? Minha mãe se aproximou, tocando meu cabelo curto com uma mistura de surpresa e admiração. — Você está lindo, filho — ela disse com um sorriso genuíno. — Diferente, mas lindo. Enquanto Chanel e minha mãe ficavam conversando e rindo na sala, fui até o meu quarto e me olhei no espelho de corpo inteiro. Gostei do que vi. A Chanel, sem dúvidas, era minha amiga de verdade. Eu sentia que ela gostava de mim de verdade, de uma forma leve e verdadeira, sem esperar nada em troca além da minha felicidade. A gente almoçou, e a Chanel foi em casa pegar as suas coisas, prometendo voltar mais tarde para se arrumar na minha casa. À noite, estávamos todos prontos. Eu me olhei no espelho uma última vez e, nossa, sabe quando a gente se olha e tem autoestima? Nem parecia o Lucas de algumas semanas atrás, que estava afundado em tristeza. Por um lado, tudo o que Chanel disse tinha razão: eu não precisava me permitir ficar triste para sempre, precisava tentar seguir a minha vida. A Chanel estava deslumbrante, com umas botas até acima do joelho, um vestido xadrez bem curto, e uma maquiagem junina que só ela conseguiria fazer parecer elegante. Quando saímos na sala, minha mãe elogiou tanto o meu look quanto o da Chanel. — Vamos tirar uma foto de vocês — sugeriu minha mãe, pegando o celular. Posamos para algumas fotos, e quando minha mãe mostrou o resultado para Chanel, ela gritou: — AI, TIA, EU AMEEEEIII! Já me manda? Minha mãe prometeu enviar as fotos, e nós três rimos juntos. Eu não sabia, mas aquela foto seria a mais importante de toda a minha vida. E então minha mãe foi deixar a gente no São João. No começo, hesitei um pouco ao ver o local iluminado e cheio de pessoas, mas não tinha como não ir. Quando chegamos, além da entrada triunfal da Chanel, que já era esperada, todos olharam para mim. Era como se eu fosse outra pessoa, e todos os amigos e conhecidos vieram falar comigo, dizendo que eu estava muito bonito e diferente. Eu já estava com vergonha de tantos elogios, mas tive que admitir que o toque da Chanel fez toda a diferença. O Luke estava junto com o Theo, mas aquilo não me feria mais. Então eu estava de boa, finalmente sentindo que podia respirar sem aquele peso esmagador no peito. Fiquei conversando com Yan e Taty enquanto bebíamos e ríamos de algumas coisas. A noite estava agradável, as bandeirinhas coloridas balançavam com a brisa suave, e o cheiro de comidas típicas preenchia o ar. De repente, começou a tocar Joelma do Calypso, e a Chanel deu um verdadeiro show. Fez toda a coreografia e recebeu vários aplausos e gritos de todos. Observando ela dançar com tanta alegria e liberdade, percebi que talvez fosse possível ser feliz novamente. Não hoje, não amanhã, mas um dia. E pela primeira vez em três meses, esse pensamento não me pareceu absurdo ou impossível. Enquanto observava a Chanel dançando, senti um aperto no peito. Não que eu estivesse esperando, mas de alguma forma era como se eu sentisse que havia uma possibilidade do Carlos aparecer no São João. Meu coração acelerava com essa possibilidade, oscilando entre esperança e medo, e então aconteceu. O momento congelou quando Carlos chegou junto com dois amigos. Estava usando uma camisa xadrez azul escura e calça jeans. Parecia mais bonito do que eu lembrava, ou talvez fosse apenas o efeito de não vê-lo há tanto tempo. Ele me olhou rapidamente, depois desviou o olhar, para em seguida olhar de novo, como se não tivesse me reconhecido de primeira. Senti meu estômago dar um nó. Sorri para ele, tentando parecer casual, mas ele não sorriu de volta. Apenas franziu levemente a testa, como quem tenta reconhecer um rosto vagamente familiar. Ele falou com algumas pessoas e manteve uma certa distância de mim, propositalmente, eu tinha certeza. Vez ou outra a gente se olhava, e cada olhar era como um pequeno choque elétrico percorrendo meu corpo. A Chanel, que parecia ter um radar para situações emocionalmente tensas, aproximou-se de mim. — O ex-furacão emocional acabou de chegar — ela sussurrou. — Você está bem? — Estou — menti, pegando um copo de cerveja para disfarçar meu nervosismo. — Só um pouco surpreso. — Quer que eu vá lá e derrame "acidentalmente" alguma bebida nele? — ela ofereceu, com um brilho malicioso nos olhos. — Não! — respondi, rindo nervosamente. — Vou falar com ele. — Tem certeza? — Chanel me olhou preocupada. — Não quero ter que reconstruir sua autoestima do zero de novo. — Tenho — respondi, embora não tivesse certeza alguma. Respirei fundo, tomei um grande gole da bebida para criar coragem e caminhei em direção a ele. Cada passo parecia mais pesado que o anterior. Carlos estava conversando com um rapaz que eu não conhecia, mas parou de falar quando me viu se aproximar. — Oi, Carlos, tudo bem? — consegui dizer, tentando soar o mais natural possível. — Oi, Lucas — ele falou seco e frio, olhando para um ponto qualquer acima do meu ombro. O silêncio que se seguiu foi tão denso que quase podia ser tocado. O rapaz ao lado de Carlos olhou de um para o outro e murmurou algo sobre precisar pegar uma bebida, afastando-se rapidamente. — Bom te ver por aqui — continuei, determinado a não deixar aquilo terminar assim. — Como estão as coisas? — Estou bem, graças a Deus — respondeu ele, olhando para os lados como se procurasse uma rota de fuga. — Dá licença que estão me chamando. Ninguém estava chamando. Nós dois sabíamos disso. Mas ele se afastou mesmo assim, deixando-me ali parado, como uma árvore solitária em meio a uma tempestade. Infelizmente era isso. O Carlos me odiava, e ele tinha todos os motivos. Eu poderia ter voltado para minha vida depressiva, para meus pensamentos sombrios, mas algo tinha mudado em mim. Talvez fosse o corte de cabelo, talvez fossem as palavras da Chanel, ou talvez fosse apenas o tempo fazendo seu trabalho silencioso de cura. Optei por seguir em frente. Tínhamos dito tudo o que precisava ser dito, e seria definitivamente cada um para o seu lado. A dor ainda estava lá, mas não me consumia mais como antes. Era como uma cicatriz que ainda dói quando tocada, mas que não sangra mais. Fiquei mais alguns minutos na festa, conversando com outros amigos, tentando me distrair. Mas meu coração não estava mais ali. Depois de um tempo, decidi que era hora de ir embora. A Chanel, percebendo meu desânimo, ofereceu-se para me acompanhar. — Vamos, bee? — ela perguntou, passando o braço pelo meu. Assenti, e caminhamos em silêncio para fora da festa. A música e as risadas foram ficando para trás, substituídas pelo som suave dos nossos passos na calçada. — Como você está? — ela perguntou finalmente, quando já estávamos longe o suficiente. — Foi tudo bem? — Estou tranquilo — respondi, surpreendendo a mim mesmo com a sinceridade daquela afirmação. — De verdade. Ela me olhou desconfiada. — Certeza? Porque eu posso voltar lá e arrancar aquele cabelo dele fio por fio. Tenho unhas novas, afiadas e resistentes. Ri, sentindo um alívio genuíno. — Certeza absoluta. Às vezes as coisas simplesmente acabam, e tudo bem. Ela sorriu e apertou meu braço carinhosamente. — Estou orgulhosa de você, sabia? Você está crescendo, meu pequeno gafanhoto gay. Rimos juntos sob o céu estrelado, e pela primeira vez em muito tempo, senti que realmente estava seguindo em frente. (...) As férias de julho chegaram, e eu era uma nova pessoa. Tinha voltado à minha rotina e voltado a sorrir. Devia isso à Chanel; se não fosse por ela, talvez eu ainda estivesse afundando na minha própria tristeza. E isso, de certa forma, foi bom para mim. Passei as férias de julho — quinze dias — no interior, na fazenda dos meus avós. O ar puro, o céu aberto e o ritmo mais lento da vida rural eram exatamente o que eu precisava para continuar meu processo de cura. Lá tinha um novo funcionário chamado Jefferson, que tinha 20 anos e era o mais próximo da minha idade. Alto, moreno, de ombros largos e um sorriso fácil que iluminava seus olhos cor de mel. Ele trabalhava nos estábulos e conhecia cada canto da propriedade como a palma da mão. Nos primeiros dias, apenas conversávamos ocasionalmente, quando nos cruzávamos pela fazenda. Ele me contava histórias sobre os animais, sobre as mudanças das estações e como elas afetavam o trabalho ali. Eu o ouvia fascinado, não apenas pelo que dizia, mas por sua presença tranquila e confiante. No quinto dia, Jefferson me convidou para cavalgar até uma cachoeira que ficava nos limites da propriedade. Aceitei sem hesitar. A manhã estava fresca quando partimos, o orvalho ainda brilhando nas folhas. Cavalgamos lado a lado, ora em silêncio, ora conversando sobre coisas simples. A cachoeira era um espetáculo à parte. A água cristalina caía entre rochas musgosas, formando uma pequena piscina natural. — Quer nadar? — Jefferson perguntou, já tirando a camisa e revelando um torso definido pelo trabalho físico diário. Hesitei por um momento, mas logo me vi tirando minhas roupas também, ficando apenas de cueca. A água estava gelada, mas revigorante. Nadamos, brincamos como crianças, esquecendo por completo do resto do mundo. Quando saímos da água, sentamos em uma pedra grande para nos secar ao sol. Foi quando nossos olhares se encontraram de um jeito diferente. Jefferson sorriu, um sorriso que falava mais que palavras, e lentamente se inclinou na minha direção. O beijo começou suave, quase tímido, mas logo se aprofundou. Suas mãos úmidas e quentes percorriam minhas costas, enquanto eu enterrava meus dedos em seus cabelos escuros. Não havia pressa, não havia passado, não havia futuro — apenas aquele momento suspenso no tempo. — Faz tempo que eu queria fazer isso — ele confessou, quando nos separamos para respirar. — Por que não fez antes? — perguntei, sentindo meu coração acelerado. — Respeito — ele respondeu simplesmente. — Você parecia... distante nos primeiros dias. Sorri, tocado por sua percepção. — Não estou mais distante — sussurrei, puxando-o para outro beijo. Voltamos para a fazenda ao entardecer, trocando olhares cúmplices que não passaram despercebidos pela minha avó, que apenas sorriu discretamente enquanto servia o jantar. Naquela noite, depois que todos foram dormir, ouvi batidas suaves na porta do meu quarto. Era Jefferson, descalço e vestindo apenas uma calça de moletom. — Posso entrar? — perguntou, com um sussurro rouco que enviou arrepios pela minha espinha. Fiz que sim com a cabeça, incapaz de formar palavras. Ele entrou, fechando a porta silenciosamente atrás de si. A luz do luar que entrava pela janela era suficiente para que eu pudesse ver o desejo em seus olhos. Jefferson se aproximou lentamente da cama, como um predador confiante que sabe que sua presa não vai fugir. Sentou-se na beirada e passou os dedos pelo meu rosto, como se estivesse memorizando cada detalhe. — Você é tão bonito — murmurou, inclinando-se para me beijar. O beijo foi diferente dos outros que havíamos trocado na cachoeira. Este tinha urgência, tinha fome. Suas mãos exploravam meu corpo por cima da camiseta fina que eu usava para dormir, e logo a peça de roupa foi descartada no chão do quarto. Senti suas mãos calejadas pelo trabalho duro percorrendo meu peito, meu abdômen, descendo cada vez mais. Cada toque despertava sensações que eu havia esquecido que podia sentir. Era como redescobrir meu próprio corpo através das mãos de outra pessoa. Quando ele deslizou os dedos por dentro da minha cueca e apertando meu pau que já estava duro, não pude conter um gemido baixo. Jefferson sorriu contra meus lábios. — Shh — ele advertiu, divertido. — Vão nos ouvir. Ele se levantou apenas o suficiente para tirar a calça de moletom, revelando que não usava nada por baixo. Seu corpo era uma obra de arte esculpida pelo trabalho físico diário, músculos definidos, pele bronzeada pelo sol, marcada aqui e ali por pequenas cicatrizes que contavam histórias de uma vida intensa. Puxei-o de volta para cima de mim, sentindo o peso de seu corpo sobre o meu, a pressão de sua excitação contra a minha. Nossos corpos se encaixavam como se tivessem sido feitos um para o outro. — Tem certeza? — ele perguntou, os olhos fixos nos meus. Nunca tive tanta certeza de algo na minha vida. Assenti, puxando-o para mais um beijo enquanto minhas mãos exploravam seu corpo, descobrindo o que o fazia suspirar, o que o fazia estremecer. Comecei a chupar seu pau, fazia muito tempo que eu não sabia o que era colocar um pau na boca, e aquilo fez reacender todo o meu fogo, logo o Jefferson tinha uma urgência em meter em mim, ele me virou de costas, cuspiu no seu pau e começou a meter, pouco a pouco seu pau foi entrando, e logo ele mantinha um ritmo metendo com urgência, o tempo pareceu se dissolver enquanto nossos corpos dançavam juntos numa coreografia instintiva e antiga. Jefferson sabia exatamente o ritmo de meter, de uma forma que era confortável, eu não sentia dor, só prazer, às vezes ele acelerava, e às vezes desacelerava. Era como se ele pudesse ler meu corpo como um mapa, cada movimento nos levava mais perto do êxtase, cada suspiro era uma nota em uma sinfonia que só nós dois podíamos ouvir, o clímax nos atingiu quase simultaneamente, intenso e avassalador. Jefferson abafou meu grito com um beijo profundo, enquanto nossos corpos tremiam em uníssono e então sentindo seu pau pulsar dentro de mim e sentindo todo seu leite entrando em mim eu gozei, como a tempos não gozava. Depois, deitados lado a lado, ofegantes e suados, ele traçou padrões invisíveis na minha pele com a ponta dos dedos. — Você está bem? — perguntou, preocupação genuína em sua voz. — Melhor do que estive em muito tempo — respondi com sinceridade. Ele sorriu, beijando meu ombro delicadamente. — Bom. Porque temos mais dez dias pela frente, e eu tenho muitas ideias para eles. E ele cumpriu a promessa. Os dias seguintes foram preenchidos com descobertas e redescobertas. Durante o dia, fingíamos ser apenas amigos diante dos meus avós, mas à noite, explorávamos um ao outro de todas as formas possíveis. Jefferson me levou a lugares escondidos da fazenda: um celeiro abandonado onde fizemos amor sobre fardos de feno; uma clareira na floresta onde nos amamos sob as estrelas; até mesmo no estábulo, com o cheiro de cavalos e couro no ar, aumentando a sensação de algo primitivo e incontrolável. Foi com ele que me reconectei com meu lado mais puta, mais livre de inibições. Recuperei minha confiança, minha capacidade de sentir prazer, de dar prazer. Era como se cada encontro com Jefferson fosse apagando um pouco mais das cicatrizes que Carlos e o Luke havia deixado em mim. Na nossa última noite juntos, deitados na minha cama estreita, nossos corpos exaustos após mais uma sessão de amor intenso, Jefferson me olhou de um jeito diferente. — Vou sentir sua falta — disse ele, acariciando meu rosto. — Eu também — respondi, surpreso com a sinceridade das minhas palavras. — Isso não precisa acabar aqui — ele sugeriu. — Você pode voltar nas próximas férias. Ou eu posso ir te visitar na cidade. Sorri, tocado por sua sugestão, mas sabendo que aquilo era um capítulo temporário nas nossas vidas. — Vamos aproveitar o agora — respondi, beijando-o suavemente. — O futuro a gente resolve quando ele chegar. Jefferson entendeu. Não era uma promessa, nem uma negação. Era apenas a aceitação de que, às vezes, algumas pessoas entram na nossa vida por uma razão específica, por um tempo específico. E aqueles quinze dias na fazenda, aqueles dez dias de paixão intensa com Jefferson, tinham sido exatamente o que eu precisava para curar as últimas feridas do meu coração. Quando voltei para a cidade, me senti renovado, não apenas fisicamente satisfeito depois de tirar todo o meu "atraso sexual", como diria a Chanel, mas emocionalmente fortalecido. Jefferson havia me ajudado a redescobrir partes de mim que eu pensava ter perdido para sempre. E o mais importante: pela primeira vez em muito tempo, eu estava genuinamente animado com o que o futuro poderia trazer.
Faca o seu login para poder votar neste conto.
Faca o seu login para poder recomendar esse conto para seus amigos.
Faca o seu login para adicionar esse conto como seu favorito.
Denunciar esse conto
Utilize o formulario abaixo para DENUNCIAR ao administrador do contoseroticos.com se esse conto contem conteúdo ilegal.
Importante:Seus dados não serão fornecidos para o autor do conto denunciado.
Justamente por ser amigo do Lucas, por ter manipulado a fraqueza dele, acabou ferido, pela mesma arma que usou… Contosdelukas amando ver essa história, e como diz que é amadurecimento, quero ver o Lucas maduro suficiente pra nao cair nas artimanhas desses dois manipuladores… por mim seria otimo o Carlos ficar com o Luke, arrotando falso moralismo, e morrendo de recalque da liberdade do Lucas… que deve ser sagitariano kkkk
Diferente da maioria, eu amo o Lucas, que tem coragem de viver o que tem vontade, e não fica preso nas convenções tradicionais de fidelidade, e felicidade… gostei de ver ele recuperando seu amor próprio, saindo das mãos desses dois manipuladores (o tal do Carlos e Luke)… colhemos o que plantamos, o Carlos entrou no meio da relação do Luke/Lucas e fez a mesma coisa, Agora fica dando de coitadinho… bateu, levou é assim que a vida funciona, se não pode com a brincadeira, não desce pro play…
Mas ele volta em breve! E um momento forte do conto! Talvez no próximo capítulo eu tente trazer um pouco sobre o carlos a Chanel contando como ele está reagiu! Mas só sei qdo sentar e escrever! No mais eh isso! O Lucas vai te fazer bastante raiva ainda saiba disso!
Oi Sigilo! Então kkk eh complicado vc ter ranço do Lucas pq o conto eh ele narrando! Mas eu super entendo sua aversão! Na primeira versão mtas pessoas tinha ranço do Lucas tmb kkkkk e mtas abandonaram! Mas como eu disse já várias vezes eh uma história de amadurecimento! Nos últimos capítulos os laços com carlos foram bons! É isso tá até me fazendo querendo mudar um pouco o rumo da trama! Mas tem mta coisa pra acontecer ainda! Nesse momento do conto o carlos ficará um pouco em standby
Queria saber mais sobre essa nova vida e fase do Carlos. O que aconteceu nesses meses? O que ele ainda sente pelo Lucas? O que ele sentiu quando viu o "novo" Lucas. rrsrsrs