GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [41] ~ SEGUNDO SEMESTRE



O segundo semestre, bom, foi uma verdadeira montanha russa de emoções. O ano de 2016 ficaria marcado para sempre em minha memória, mas não vou adiantar ainda essa parte. Quando retomamos as aulas, tudo foi tranquilo. Eu estava finalmente bem e até mantinha um certo contato com o Luke, afinal tínhamos o mesmo grupo de amigos em comum, mas a gente não chegou a ficar, o que foi um avanço. Eu não sabia se ele estava com o Theo, eu também não procurava saber, afinal eu não me importava.
Mantinha um certo contato com o Jeferson, o funcionário da fazenda dos meus avós, e vez ou outra eu ficava com algum carinha, mas nada muito sério. De agosto até novembro, minha vida se definiu com uma palavra: paz! Mas foi em novembro que tudo realmente mudou.
Primeiro, Paul me mandou mensagem dizendo que vinha para o Brasil para nossa formatura, que seria no final de dezembro, e devo admitir que fiquei um pouco ansioso para reencontrar o Paul. A gente trocava mensagens vez ou outra, mas ele tinha uma rotina puxada em Nova York.
Era final de outubro e estávamos na minha casa, eu, Chanel, Taty e Yan, e falávamos sobre a nossa festa de formatura do ensino médio.
– Você já sabe qual look vai usar, Chanel? – perguntei enquanto mexia no celular.
Chanel revirou os olhos e largou o corpo no sofá com um suspiro dramático.
– Ai amigo, nem tô animada para esse baile de formatura. Meus pais estarão lá, então vou ter que ir de "homem" – ela fez aspas com os dedos – Não posso usar vestido nem fechar. Eles não sabem que eu sou gay.
– Vai ser hilário ver você na pose de machão – disse Yan, rindo.
Chanel jogou uma almofada nele.
– Hilário para você, né? Quero ver se fosse você tendo que engrossar a voz e fingir que não sabe o nome de nenhuma música da Beyoncé! – ela ajeitou o cabelo com um movimento teatral – Olha para essa cara, para esse corpo... como esconder toda essa diva? Sinceramente, zero vontade dessa formatura.
Foi a primeira vez que vi Chanel verdadeiramente abatida, sem motivação. Normalmente ela estaria muito mais empolgada se fosse um evento só da turma, porque poderia "fechar" mais, mas como seus pais iriam, ela se sentia reclusa.
– Mas amigo, e seu aniversário que tá chegando? O que você pretende fazer? – perguntou Chanel para mim, mudando de assunto enquanto aplicava um gloss nos lábios.
– Amigo, nada de mais. Acho que a gente pode se reunir aqui em casa e comer alguma coisa. Não estou muito animado – respondi sinceramente.
Chanel se levantou dramaticamente, batendo as mãos nas coxas.
– Você vai fazer 18 anos! Já pode ser preso, meu bem! Temos que comemorar com chave de ouro! – ela disse, arregalando os olhos e fazendo gestos exagerados.
– Exatamente! Não venha com coisa simples, quero badalação – disse Taty, concordando.
– Podemos sair e encher a cara. Já teremos passado o ENEM e estaremos de férias – acrescentou Yan – Isso se não ficarmos em recuperação.
Chanel se aproximou de mim, segurando meu rosto entre as mãos, olhando nos meus olhos com uma intensidade incomum.
– Sim, eu quero que seja inesquecível – disse ela, com uma seriedade que não combinava com seu jeito habitual.
Hoje, escrevendo essa conversa, sinto-me arrepiado lembrando de cada palavra, de cada gesto. Repeti essa conversa mil vezes no meu pensamento por vários e vários meses, tentando encontrar algum sinal, mas infelizmente o sinal só apareceu anos depois. Como eu disse no início do capítulo, não vamos adiantar as coisas. Tudo no seu tempo.

Finalmente chegamos na semana do ENEM. Foram dois dias de provas exaustivas, e infelizmente eu não fiz uma boa redação. O tema era intolerância religiosa. Eu ainda lembrei que fizemos uma redação sobre isso no cursinho que eu fazia, mas tentei dar o meu melhor.
No domingo à noite, estávamos todos na casa do Luke. Já tínhamos feito todas as nossas provas e só restava a recuperação para alguns. Finalmente teríamos as férias e fomos comemorar. Lá na casa do Luke, eu estava na piscina com a Chanel enquanto bebíamos quando ela me disse:
– Amigo, falei com o Carlos esses dias – disse a Chanel, mexendo no gelo do seu drink com o dedo mindinho erguido.
– Sério? Falou o quê? Faz tempo que não vejo nada dele – respondi, tentando parecer casual.
– Ele tá estudando na escola que eu estudava, então a gente trocou algumas figurinhas... – ela fez uma pausa dramática, mordendo o lábio inferior – Eu acabei ficando com o Carlos há algumas semanas. Isso é problema pra você? – perguntou ela com um certo medo, me estudando com os olhos.
– Claro que não... eu e Carlos terminamos faz tempo, e desde o São João que a gente não se fala.
Chanel relaxou visivelmente, ajeitando a parte de cima do biquíni.
– Ele perguntou por você, na verdade. A gente começou a conversar depois do São João. Ele queria saber se tinha um dedo meu na sua mudança de visual – ela fez um gesto circular apontando para mim – E eu disse que óóóbvio que sim! Quem mais poderia te transformar nessa gata que você é hoje? – ela riu, jogando o cabelo para o lado – Então a gente meio que sempre conversou, mas só rolou mesmo há algumas semanas, e bom... – ela se inclinou como quem conta um segredo – você conhece o Carlos, e você já me viu com o Carlos, então sabe que ele é bem quente.
– Vocês vão namorar? – perguntei engolindo seco.
Chanel soltou uma gargalhada tão alta que algumas pessoas olharam na nossa direção.
– Não! Claro que não! Isso não passa pela minha cabeça, foi só diversão – ela agitou as mãos dramaticamente – Você sabe que eu não tenho pretensão de namorar ninguém, não quero ninguém. Gosto de ser livre, leve e solta. Relacionamento sério é igual a botox mal aplicado, querido: deixa a gente com a cara fechada e sem expressão.
Sorri com a comparação típica dela, mas depois fiquei sério.
– Eu te admiro, sabia? Acho que nunca te disse isso, mas eu admiro você. Não te enxergo só como um personagem Chanel, uma pessoa que faz as outras rirem – fiz uma pausa, organizando meus pensamentos – Eu vejo você como uma pessoa forte, que não tem medo de absolutamente nada. A gente se conheceu esse ano, mas a sensação que eu tenho é que te conheço há anos, e é tão bom estar com você. Não só pela diversão e por você fazer a gente rir, mas é gostoso estar perto de você. E saiba que independente de Carlos ou não, você sempre terá um lugar no meu coração. Te amo, Chanel.
Quando falei essas coisas, os olhos da Chanel estavam marejando. Ela não disse nada, ficou em silêncio e me deu um abraço. Um abraço que, para quem estivesse vendo de fora, poderia pensar que estava rolando algo entre a gente, mas era apenas a nossa conexão, a nossa amizade. A Chanel tinha entrado na minha vida não fazia nem um ano, e eu gostava dela. Eu a amava do jeito que ela era. Quando ela citou o Carlos, fiquei um pouco com ciúmes, não vou mentir, mas logo passou.
Naquela noite tudo estava tranquilo até que tivemos uma postagem da Gossip atacando a Chanel:

???? ALERTA DE CONTAMINAÇÃO?
HELLOOO alunos do LEI ??, todo mundo comentando sobre as provas do ENEM… mas o que bombou MESMO essa semana não foi nota de redação não, e sim o flagra que rolou na unidade de saúde do centro! ??
Fontes muito próximas da minha DM — e com câmera de celular em mãos, claro — juram de pé junto que viram ninguém mais, ninguém menos que Chanel, nossa debutante extravagante, retirando um certo remedinho que… digamos… não é exatamente pra dor de cabeça, né? ????
E como boato aqui vira fato em segundos, já estão dizendo pelos corredores que a nova estrela do LEI é soropositiva. ??
Pois é, Chanel, parece que não foi só o glitter que ficou depois do carnaval… Tem gente falando que você é praticamente um catálogo de DST ambulante, mas calma, miga, ser a mais comentada da escola também é um talento. ????
Um questionamento… Será que todos que andam com ele sabem disso? Os meninos com quem ele 'fica' estão cientes? Os pais dele sabem que além de querer ser mulher também está carregando o vírus? ?? Pense duas vezes antes de compartilhar sua bebida ou qualquer outra coisa com essa ameaça ambulante! Cuidado, queridos alunos!
Será que a garota que queria brilhar como o sol agora vai encarar a sombra dos olhares tortos? Ou ela vai dar close certo e transformar o shade em luz própria? ???
Enquanto isso, eu sigo de olho... e de lupa.
XOXO,
gossiplei84


Chanel ficou atônita quando leu a fofoca. Seu rosto, normalmente cheio de vida e expressões, perdeu toda a cor. As mãos que seguravam o celular começaram a tremer. Todos nos olhamos entre si, em choque. O mundo ao nosso redor continuava – música, pessoas na piscina rindo, alguém gritando por mais cerveja – mas para nós cinco, o tempo havia parado.
– Calma, amiga, não dá bola pra esse Gossip – disse eu, quebrando o silêncio, embora minha voz tenha saído mais fraca do que eu gostaria.
Os olhos da Chanel, sempre tão vivos e brilhantes, estavam transbordando de lágrimas que ela lutava para conter. Seu corpo inteiro tremia.
– Eu quero ir embora — disse ela finalmente, uma lágrima escapando e descendo pelo rosto maquiado.
– Calma, eu tô com você – disse, abraçando-a enquanto ela finalmente desabava em um choro silencioso contra meu ombro.
Yan, Luke e Taty nos olhavam, paralisados. A festa continuava ao redor, mas era como se estivéssemos em uma bolha.
– Então... é verdade? – perguntou Yan com a voz hesitante, depois de alguns momentos.
Chanel se afastou do meu abraço, secando as lágrimas que haviam borrado sua maquiagem. Ela olhou para cada um de nós, e por um momento, vi algo que nunca tinha visto antes nos olhos dela: medo.
– Vocês são meus amigos, e sim... é verdade, tenho HIV – ela respirou fundo, a voz trêmula – Não sei como essa Gossip descobriu. Eu tô com muita vergonha. Só minha médica sabia.
E então ela começou a chorar de novo, um choro diferente do que estávamos acostumados a ver na sempre extrovertida e destemida Chanel. Era um choro de vulnerabilidade pura, de alguém que finalmente deixava cair uma máscara que carregava há muito tempo.
– Calma, a gente não vai te abandonar. Isso não é nada, não é mais como antigamente – disse Luke, se aproximando e abraçando Chanel por trás, enquanto eu ainda a segurava pela frente.
Taty se juntou ao abraço coletivo, e depois de um momento de hesitação, Yan também.
– Vamos sair daqui – sussurrei – Vamos para um lugar mais tranquilo para conversar.
Fomos para o quarto de Luke, e lá, sentados em círculo no chão, Chanel começou a falar, ainda com os olhos vermelhos, mas com a respiração mais controlada.
– Eu descobri há dois anos – ela começou – Foi na minha primeira vez. Eu estava apaixonado, ou achava que estava. Ele era mais velho, tinha 23, e eu me sentia tão especial por ter chamado a atenção dele.
Os olhos dela se perderam em algum ponto distante enquanto falava.
– A gente não usou camisinha. Ele disse que era a primeira vez dele também, que não precisava. Eu era ingênuo, acreditei. Três meses depois descobri que ele tinha mentido sobre muita coisa, inclusive sobre estar saudável.
Um silêncio pesado caiu sobre o quarto. Chanel respirou fundo e continuou.
– Quando descobri, pensei que ia morrer. Achei que tinha recebido uma sentença de morte. Meus pais nem sabem que sou gay, como eu ia contar pra eles que além de gay, estava com HIV? – ela riu, mas era um riso sem humor – Então enfrentei tudo sozinha. Pesquisei, achei uma ONG que me ajudou, consegui tratamento pelo SUS sem que meus pais soubessem.
Ela olhou para cada um de nós antes de continuar.
– Vocês sabem que hoje em dia HIV não é mais uma sentença de morte, né? Tomo um comprimido por dia, e minha carga viral é indetectável há mais de um ano.
– O que significa indetectável? – perguntou Taty, quebrando o silêncio.
Chanel se ajeitou, e por um momento, vi um vislumbre da Chanel professora que conhecíamos das aulas de biologia, quando ela explicava tudo para a gente.
– Significa que o vírus está tão suprimido no meu corpo que os exames não conseguem detectar. E o melhor: indetectável significa intransmissível. Ou seja, não posso passar o vírus para ninguém, mesmo em relações sexuais.
– Sério? – perguntou Yan, genuinamente surpreso – Eu não sabia disso.
– A maioria das pessoas não sabe – Chanel deu de ombros – A informação não circula como deveria. As pessoas ainda pensam que HIV é igual à AIDS, que é uma sentença de morte, que pega por beijo, por abraço, por compartilhar talheres. Mas não é.
– Mas como você consegue lidar com tudo isso sozinha? – perguntei, impressionado com a força dela.
Chanel respirou fundo antes de responder.
– Não é fácil. Tomo meu remédio escondido, faço meus exames a cada três meses sem que ninguém saiba. Tenho que lidar com os efeitos colaterais às vezes - dores de cabeça, náusea... fingindo que é só uma indisposição comum – ela fez uma pausa – Mas o pior não são os sintomas físicos. É o medo. O medo de alguém descobrir, o medo da rejeição, o medo de nunca poder viver um amor de verdade porque ninguém vai me aceitar assim.
– Isso é uma grande bobagem – disse Luke, surpreendendo a todos com a firmeza na voz – Qualquer pessoa seria sortuda de ter você, Chanel.
– É muito mais comum do que as pessoas pensam – continuou Chanel, agora em modo completo de palestra – Cerca de 40 mil novos casos são diagnosticados por ano no Brasil. E muita gente vive com HIV há décadas, tendo uma vida completamente normal. Os medicamentos evoluíram muito. O coquetel antigo tinha mais de 20 comprimidos por dia e causava efeitos colaterais horríveis. Hoje, a maioria das pessoas toma um único comprimido.
– E não tem cura ainda? – perguntou Taty.
– Não, mas existem tratamentos tão eficazes que é quase como uma condição crônica controlada, tipo diabetes. A expectativa de vida é praticamente a mesma de qualquer pessoa – Chanel explicou – O problema é o estigma, a discriminação, o preconceito. É por isso que nunca contei pra vocês. Tinha medo de perder meus únicos amigos.
– Você nunca vai nos perder – disse, pegando a mão dela – Nunca.
– É por isso que você sempre insiste tanto na camisinha quando a gente fala de sexo? – perguntou Yan.
– Claro – Chanel acenou – Mesmo sendo indetectável, nunca deixo de usar. É proteção dupla: protege a mim de outras ISTs que poderiam complicar minha saúde, e protege meu parceiro, por mais que o risco seja virtualmente zero. Além disso – ela deu um sorriso triste – sempre quis passar essa mensagem para vocês sem revelar meu status. Camisinha sempre, em todas as relações, com qualquer pessoa.
– Como você acha que a Gossip descobriu? – perguntou Luke.
Chanel balançou a cabeça.
– Não sei. Talvez alguém tenha me visto no Centro de Testagem e Aconselhamento quando fui buscar meus remédios. Talvez algum funcionário de lá tenha espalhado, o que é ilegal, por sinal. Ou talvez... – ela hesitou – Talvez o Carlos tenha descoberto e contado para alguém.
– Carlos sabe? – perguntei, surpreso.
– Não sei. Contei para ele antes da gente ficar, mas não sei se ele guardou segredo.
Passamos horas ali, conversando. Chanel respondeu todas as nossas perguntas, até as mais básicas: não, você não pega HIV por beijo; não, não pega por compartilhar talheres; sim, é importante fazer o teste regularmente; não, o tratamento não é caro para o paciente porque é fornecido pelo SUS; sim, a PrEP existe e é uma forma de prevenção para pessoas soronegativas; não, ela nunca teve sintomas graves porque começou o tratamento logo cedo.
Foi uma aula completa, e eu me vi admirando minha amiga ainda mais. Ali estava ela, exposta da forma mais cruel possível, e ainda assim encontrando forças para nos educar, para transformar aquele momento horrível em algo positivo.
E entre todas as informações, uma ficou clara: Chanel não era apenas forte por causa da sua personalidade expansiva e desinibida. Ela era forte porque, aos 18 anos, já tinha enfrentado mais do que muitos adultos jamais enfrentariam.
(...)
No outro dia na escola, Chanel foi com a cabeça erguida, sem medo. As pessoas cochichavam e apontavam, mas ela não estava nem aí. Era uma pessoa forte. Mais forte do que qualquer um ali.
Ainda assim, nos dias que se seguiram, percebi que ela havia perdido um pouco do seu brilho. Apesar de já estarmos praticamente de férias, a bomba sobre sua soropositividade caiu sobre tudo. Agora eu entendia por que Chanel sempre quis usar capa transando comigo, sempre foi tão enfática nesse ponto. Agora eu entendia tudo. Mas ela era minha amiga e jamais iria abandoná-la por algo assim.
A gente se aproximou bastante naqueles dias. Eu acompanhei Chanel em uma consulta médica, conheci sua infectologista, aprendi mais sobre o tratamento. Vi os remédios que ela tomava escondida no fundo da mochila, entendi sua rotina de cuidados. E quanto mais eu conhecia dessa batalha diária que ela travava, mais eu a admirava.
Meu aniversário iria cair na quarta-feira, dia 16, mas eu só iria comemorar no sábado. Planejamos ir para um barzinho, todos juntos. A Chanel me deu o presente no dia do meu aniversário mesmo. A gente estava estudando para a última prova na minha casa, os livros espalhados pela mesa da sala, cadernos abertos, canetas coloridas da Chanel organizadas por tom — ela sempre estudava assim, dizia que era para "estimular os dois lados do cérebro, amiga".
Quando terminamos, ela tirou um pacote da mochila. Estava embrulhado com um papel de presente azul claro e tinha um laço branco, feito à mão, daqueles que só a Chanel sabia fazer com perfeição.
– Feliz aniversário, amigo – ela disse, estendendo o pacote para mim com um sorriso suave, diferente daquele sorriso exagerado que ela normalmente dava.

Era um porta-retrato com a foto que a gente tinha tirado no São João. Me entregou timidamente, os olhos marejados de novo, mas de um jeito diferente dessa vez.
– Amigo, seu presente. Espero que goste – ela disse, segurando o porta-retrato em direção a mim – Você nunca deve trocar essa foto. Quero que você nunca esqueça do dia que eu tirei você da depressão.
Ela fez uma pausa, engolindo em seco antes de continuar.
– E quero que você se lembre que você é forte. Obrigada por ser um amigo tão incrível. Obrigada por não me abandonar quando você descobriu... – sua voz falhou – Eu te amo muito.
E então ela me abraçou e chorou, e eu chorei junto com o gesto de carinho dela. Naquele momento, entendi que nossa amizade não era apenas sobre risadas e momentos divertidos. Era sobre vulnerabilidade, sobre estar presente nos momentos difíceis, sobre aceitar a pessoa inteira, com tudo que ela carrega.
Aquele porta-retrato se tornou meu objeto mais precioso, não apenas pela foto, mas pelo que ele representava: a força que encontramos um no outro quando mais precisávamos.
Quando terminamos de estudar, já passava das sete da noite. Chanel começou a guardar suas coisas na mochila, organizando seus cadernos coloridos e canetas com cuidado meticuloso, como sempre fazia.
– Tá na hora, vou pra casa – ela disse, suspirando aliviada após fechar o zíper da mochila.
– Obrigado pelo presente mais uma vez – falei, colocando o porta-retrato no meu criado-mudo, ao lado da cama – Essa foto não sai daqui do meu criado-mudo.
Ela me olhou com aqueles olhos expressivos, que sempre diziam mais do que suas palavras. Havia uma profundidade neles naquela noite, algo que eu não conseguia decifrar completamente.
– Você é tão incrível, Lucas – ela disse, a voz suave – Eu te amo, amigo! Você é um irmão que eu nunca tive.
– Digo o mesmo – respondi, sentindo que minhas palavras eram insuficientes para expressar o quanto ela significava para mim.
Então a gente se despediu. Fui deixar ela na porta do apartamento, e ficamos esperando o elevador chegar. O indicador luminoso mostrava que ele ainda estava no décimo andar, descendo lentamente.
Sabe aqueles momentos que algo forte, como se fosse o nosso anjo da guarda, falasse para a gente, ou a gente toma uma atitude do nada? Eu senti um aperto, um frio na barriga. Uma urgência inexplicável que me consumiu por dentro. Então eu disse:
– Ei, espera.
– O quê? – ela se virou, os olhos interrogativos.
Então fui até onde Chanel estava. O elevador iria demorar mais alguns segundos. Tomado por aquele impulso inexplicável, dei um selinho e um abraço, e olhei no fundo dos seus olhos. Eram olhos que tinham visto tanto, que escondiam tanta dor por trás de toda aquela alegria forçada que ela exibia para o mundo.
– Eu te amo – disse, com uma intensidade que nem eu mesmo entendi naquele momento.
– Eu também te amo muito, Lucas – disse a Chanel com os olhos marejados.
O elevador chegou, e ela entrou. A porta começou a se fechar, e nossos olhares permaneceram conectados até o último segundo. E então a porta do elevador se fechou.
Ali seria a minha última imagem que eu teria da Chanel. A última imagem que teria dela em vida. O nosso último momento juntos, que foi justamente no dia do meu aniversário.
Aquele impulso, aquela vontade que me deu do nada, é algo que me consome até os dias de hoje. É algo que eu nunca vou esquecer, e algo que me faz chorar sempre que me lembro. Quando me lembro de tudo o que passamos, a Chanel ficaria marcada para sempre na minha vida, não só na minha mas como de todos os amigos que compartilharam seus momentos de diversão.
Eu sempre vou amar aquele amigo que eu conhecia há menos de um ano, mas que tinha a sensação de que a gente se conhecia de outras vidas.
No outro dia fiz a minha última prova, e notei que a Chanel não tinha ido para escola. Aquilo me deixou com uma certa aflição, e um aperto no peito. O mesmo aperto que tinha sentido na noite anterior, só que agora mais intenso, mais persistente. Tentei ligar e mandar mensagem, mas nada. O telefone estava desligado e o "visto por último" dela estava marcando 01:32.
Será que a Chanel não tinha acordado? Tinha ido pra farra?, eu pensei. Mas não, ela não iria perder a última prova por nada deste mundo. Por mais que ela fizesse piada sobre notas e estudos, ela era extremamente dedicada. Nunca tinha faltado em uma prova antes.
Fui pra casa com esse pensamento me consumindo. A cada minuto que passava, aquela sensação de que algo estava errado crescia. Tentei mandar mensagem para os pais dela, mas não tinha o contato. Liguei para Taty, para Yan, para Luke. Ninguém tinha notícias dela.
E quando deu as 15:30, chegou uma mensagem no grupo que nunca vou esquecer. O Yan escreveu simplesmente:
"Gente, a Chanel se suicidou =("


Faca o seu login para poder votar neste conto.


Faca o seu login para poder recomendar esse conto para seus amigos.


Faca o seu login para adicionar esse conto como seu favorito.


Twitter Facebook

Comentários


foto perfil usuario machocalcinha7205

machocalcinha7205 Comentou em 13/05/2025

Achei que a história ja estava em dezembro, rs escorpião também é altamente sexual kkkkkkk o Carlos tem jeito medmo de leonino, que acha que o mundo gira em torno do umbigo dele kkkkkk aff preguiça dele… estou acompanhando as duas narrativas… a primeira que escreveu, e a de agora… todas muito boas, da pra ver seu amadurecimento como pessoa e como escritor!! Sou seu fã

foto perfil usuario contosdelukas

contosdelukas Comentou em 13/05/2025

Macho… o Lucas eh escorpião rs 16 de novembro o niver dele! E Luke eh aquário início de fevereiro! Carlos eh leonino rs! Sobre a Chanel no próximo cap teremos mais detalhes sobre isso! Queria abordar esse tema! Sei que mtos ama a Chanel mas infelizmente isso já estava nos planos desde o início

foto perfil usuario machocalcinha7205

machocalcinha7205 Comentou em 13/05/2025

Meu Deus, que capitulo lindo!Desde da confirmação de que sim, o Lucas é sagitariano, só podia pela intensidade que vive suas vontades(recalcados dirão inconsequencia kkkk) quanto pela revelação e despedida da Chanel) como profissional de saude, fiz muito acolhimento a paciente soropositivo, e o estigma da doença é muito pior do que a doença em si; hoje ser soropositivo nao muda nada, muito mais facil de cuidar do que diabetes, mas o hiv acaba com autoestima do paciente,contodelukas você é genial




Atenção! Faca o seu login para poder comentar este conto.


Ultimos 30 Contos enviados pelo mesmo autor


235295 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [40] ~ A DEPRESSÃO - Categoria: Gays - Votos: 5
235247 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [39] ~ PONTO FINAL - Categoria: Gays - Votos: 3
235179 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [38] ~ É SÓ ESTALAR OS DEDOS - Categoria: Gays - Votos: 3
235121 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [37] ~ SEX TAPE VAZADA - Categoria: Gays - Votos: 6
235055 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [36] ~ Sexo com Paul - Categoria: Gays - Votos: 2
234997 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [35] ~ ENTRE AMIGOS - Categoria: Gays - Votos: 6
234951 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [34] ~ A VOLTA DO LUKE - Categoria: Gays - Votos: 5
234827 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [33] ~ BRIGA COM O CARLOS - Categoria: Gays - Votos: 5
234593 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [32] ~ O TRANSTORNO DO LUKE - Categoria: Gays - Votos: 5
234532 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [31] ~ SEXO SELVAGEM COM CARLOS - Categoria: Gays - Votos: 6
234461 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [30] ~ PEDIDO DE NAMORO - Categoria: Gays - Votos: 6
234221 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [29] ~ ÚLTIMO DIA DE CARNAVAL - Categoria: Gays - Votos: 5
234151 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [28] ~ SEXO A3 - Categoria: Gays - Votos: 8
234035 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [27] ~ SEXO COM O CARLOS - Categoria: Gays - Votos: 4
233962 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [26] ~ Aniversario do Luke - Categoria: Gays - Votos: 3
233870 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [25] ~ VOLTA AS AULAS - Categoria: Gays - Votos: 2
233809 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [24] ~ Confissão e Consequência - Categoria: Gays - Votos: 4
233749 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [23] ~ ADRENALINA PROIBIDA - Categoria: Gays - Votos: 5
233333 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [22] ~ A CONVERSA! - Categoria: Gays - Votos: 5
233306 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [21] ~ A VOLTA DO LUKE - Categoria: Gays - Votos: 4
233269 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [20] ~ LEITE NO SEU FILHO - Categoria: Gays - Votos: 4
233165 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [19] ~ FESTA QUENTE - Categoria: Gays - Votos: 3
233144 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [18] ~ FÉRIAS - Categoria: Gays - Votos: 3
233109 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ [17] ~ Partida Iminente - Categoria: Gays - Votos: 2
233108 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [16] ~ TEMPESTADE - Categoria: Gays - Votos: 3
233039 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [15] ~ A DECEPÇÃO - Categoria: Gays - Votos: 3
233015 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [14] ~ VIAGEM COM O CARLOS PARTE 2 - Categoria: Gays - Votos: 4
232944 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [13] ~VIAJEM COM CARLOS PARTE 1 - Categoria: Gays - Votos: 4
232820 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [12] ~ VERDADE OU CONSEQUENCIA - Categoria: Gays - Votos: 3
232765 - GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [11] ~ REENCONTRO! - Categoria: Gays - Votos: 3

Ficha do conto

Foto Perfil contosdelukas
contosdelukas

Nome do conto:
GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [41] ~ SEGUNDO SEMESTRE

Codigo do conto:
235462

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
13/05/2025

Quant.de Votos:
2

Quant.de Fotos:
0