Era meu fetiche. Ver minha mulher com outro homem. Não por falta de amor, não por carência. Mas por essa obsessão de vê-la livre, despida até da ideia de ser apenas minha. E eu falei. Falei porque era mais forte que o silêncio. Ela chorou. Me olhou como se eu tivesse acabado de trair tudo que construímos.
— Você não me ama o bastante? — disse, com os olhos marejados, no meio da nossa cama desfeita, uma taça de vinho esquecida no criado-mudo.
Apertei seu rosto entre minhas mãos, como quem segura o próprio medo, e respondi:
— Justamente porque te amo. Porque quero te ver plena. Livre. Feliz, mesmo que não só comigo.
Ela se calou, mas aquilo ficou nela. Eu vi. Como sementes que o tempo rega mesmo sem permissão.
Meses se passaram. E eu percebia. Nos olhares que ela trocava na rua, na pausa longa quando mencionava aquele colega de trabalho que a fazia rir. E, nas noites em que fazíamos amor, havia algo diferente. Uma entrega vacilante. Um brilho no olhar que não era só desejo — era curiosidade.
Até que numa dessas noites, com os corpos entrelaçados e a pele quente, ela disse:
— E se... e se fosse com alguém que eu escolhesse? Alguém que me desse vontade?
Minha vontade era explodir em alívio, mas só assenti. Devagar. Com calma. Como quem esperou tempo demais por aquele momento.
O nome veio algumas semanas depois. Daniel. Eu não conhecia. Mas bastou ver uma foto pra entender. Moreno, olhar faminto, um jeito insolente de sorrir. Perigo. Liberdade. Tudo que eu nunca fui — e que ela, talvez, sempre precisasse sentir uma vez na vida.
Escolhemos um hotel discreto. Eu fui antes. Cheguei e esperei. Sentei na poltrona ao canto do quarto, como combinamos. As mãos suavam, mas os olhos… os olhos estavam prontos.
Ana entrou primeiro. Estava linda, nervosa. Os olhos fugiam dos meus, mas o corpo… o corpo falava outra língua.
Quando Daniel chegou, cumprimentou-a com um beijo voraz, e meu coração quase parou. Era real. A fantasia agora tinha cheiro, toque, som. E ali estava eu, sentado, assistindo ao que antes só existia em meus pensamentos mais íntimos.
Vi quando ela hesitou. Quando a mão trêmula tocou o peito dele. Mas também vi quando cedeu. Quando se deixou levar. Suas roupas foram caindo, uma a uma, como se se despisse de tudo que a impedia de ser inteira.
E eu? Eu a via como nunca. Os gemidos, os suspiros, os olhos fechados em prazer — não eram apenas dela, eram meus também. Porque eu a amava tanto, que desejava vê-la inteira, mesmo que fosse através de outros braços.
Quando tudo acabou, e o silêncio voltou ao quarto como uma brisa quente, Marina me olhou. O corpo ainda nu, o rosto banhado em suor e algo mais profundo: libertação.
Me aproximei. Beijei-a com a ternura de quem entende. E sussurrei:
— Agora você entende?
Ela sorriu. Encostou a testa na minha.
— Agora eu sinto.
E naquele instante, percebi: o amor não se mede pelo que se retém, mas pelo que se permite viver.
Delícia de conto, que mulher incrível !
Incrível ... Mas que Delicia de conto.. Que Realização mais Gostosa, prazerosa. Que Mulher Gostosa ... Pqp. Meus Parabéns...