Achou um canto nos fundos de uma casa velha, alugado por uma mulher que nem se deu ao trabalho de perguntar seu nome. Contou as notas, entregou a chave e sumiu. Era o bastante. Um teto. Um colchão. Uma porta que trancasse o mundo lá fora.
Nos dias que seguiram, o mapa da vizinhança foi sendo marcado pela sola do tênis e pelo cheiro do chão quente: o mercadinho, a padaria com hálito de cigarro, o bar onde o baque das bolas de sinuca abafava a novela, o açougue, o ponto de ônibus, o posto... Mas o que ele buscava, e isso já vinha resolvido de antes, era o templo do ferro.
Quando parou diante da fachada, entendeu na hora: era ali. Nada de espelho fumê, nem recepcionista de sorriso falso. A parede cuspida de sol e picho. A porta de ferro engasgando-se no próprio eixo. E o cheiro... ah, o cheiro vinha antes do trinco: suor velho cravado no piso esfolado, roupa azeda de mochila esquecida, desinfetante barato espalhando mais sujeira do que limpando.
Lá dentro, o ar pesava mais do que os pesos. Denso. Grudento. Cada equipamento parecia ter tragado uma história fodida e nenhuma delas com final feliz. O som esfarelado cuspido pelas caixas estouradas batia no osso, fazia o peito vibrar. Corrente estalava, máquina gemia, ferro encontrava chão.
E foi ali, naquele inferno de macho, que ele o viu.
Luciano. Cinquenta e poucos. Dono do lugar. Mas mais do que isso, dono do respeito. Era impossível passar por ele sem notar. Ombros largos, peito inflado, braço grosso, antebraço rasgado de veia, tatuagem velha marcando o bíceps, coxa abrindo caminho onde andava. E uma barriga presente, pesada, honesta de quem já viveu, já bebeu, já comeu, já fodeu e não precisa esconder porra nenhuma para manter a autoridade.
O rosto era concreto. Barba cheia, cinza nos cantos. Maxilar trincado. Sobrancelhas grossas, robustas e separadas, com pelos densos que davam um ar rústico e imponente. Olhar de macho que sustenta o próprio espaço, não abaixa a cabeça, não precisa levantar a voz para calar uma sala. Não sorria. Não fingia simpatia. Passava entre os aparelhos como patrão de fábrica antiga: sem pressa, sem medo, sem dúvida. Aquela academia era o reino dele. E ele sabia disso. Todo mundo ali sabia.
Marcos o viu e o respeitou. Mas não abaixou a cabeça.
O treino virou rotina em três dias. Marcos chegava todo fim de tarde, direto do trabalho, fedendo a carga, com o corpo suado de dia inteiro de peso, barba por fazer, olho fundo de quem não dormia direito e não conversa com ninguém. Entrava, tirava a roupa suada no vestiário abafado, vestia a bermuda larga e a regata preta que colava no trapézio, e ia para o ferro. Sempre os mesmos aparelhos. Sempre os mesmos movimentos. Sempre no mesmo ritmo. Nada de selfie. Nada de conversa. Nada de gracinha com ninguém.
A academia não era mais a mesma desde que ele passou a ocupar o chão.
Os moleques de regatinha colada, que viviam desfilando entre espelhos, agora ajustavam o volume da música quando ele entrava. Os coroas que se conheciam há anos, que brincavam alto no supino ou contavam história de consultório no leg press, baixavam o tom de voz quando ele passava. Luciano continuava firme, andando entre os aparelhos com a mesma autoridade de sempre, mas os olhos, mesmo duros, não podiam negar: o território agora tinha outro peso circulando.
Marcos não encarava. Não testava ninguém. Mas impunha. Pelo silêncio, pelo cheiro, pelo corpo. E o que mais incomodava, o que mais instigava, era que ele não pedia. Ele não sorria. Não cumprimentava. Não se importava. Só existia. E a existência dele, naquele lugar, era suficiente para reorganizar o espaço.
Treinava pesado. Técnica limpa. Sem ego. Mas o volume que ele carregava, o barulho da corrente batendo, o rangido do banco sob o peso dele, tudo gritava. Cada repetição parecia uma sentença. Cada série, uma ameaça. As veias do antebraço saltavam como se fossem estourar, a camiseta encharcada colava no abdômen, a cueca preta molhada por baixo da bermuda desenhava o volume prensado de um pau suado, latejante, esmagado de horas e ele não parecia se incomodar em mostrar.
Luciano observava. Mas não traía a postura. Corrigia ficha. Dava bronca nos moleques. Subia no escritório. Descia. Mas agora a presença dele já não era a única. Tinha outro corpo ali dentro que fazia o ambiente girar. E mesmo sem dizer nada, Marcos já tinha reorganizado o cheiro do ar, o eixo da atenção, o peso do silêncio.
Foi numa quarta à noite, semanas depois, que a academia pesou de um jeito diferente, o calor empapando as paredes, o chão de borracha absorvendo o som das anilhas e devolvendo em bafo quente, e a luz azulada dos postes da rua entrando pela janela quebrada perto do leg press, jogando sombra torta no chão sujo do salão enquanto Marcos treinava pesado, fazendo terra com barra olímpica, a carga monstruosa montada rangendo nos ganchos do suporte. Corpo dobrado, braço tenso, a veia do pescoço explodindo, o trapézio pulando na pele suada como se quisesse sair e, entre uma série e outra, ele soltava o ferro no chão com controle, respirava fundo, andava de um lado para o outro, o corpo ainda vibrando do esforço como se a própria musculatura tivesse memória do peso.
E foi exatamente nesse intervalo, enquanto ele recuperava o fôlego, que o moleque apareceu, magro, seco, peito inflado de whey e arrogância, sem noção alguma de lugar ou hierarquia, passou direto, viu a barra montada com os discos de trinta e cinco, pegou um par de anilhas menor e, sem olhar, sem pedir, sem perguntar, simplesmente foi lá, se abaixou na frente de Marcos e desmontou a barra como se fosse dele, como se aquele equipamento estivesse esquecido, como se ali não fosse o território de ninguém, como se o ferro estivesse esperando a mão errada sem o peso do corpo certo.
O som do metal raspando no chão cortou o ar como estalo de tapa mal dado, seco, ríspido, mas o que realmente pesou foi o silêncio que se formou depois. Um silêncio mastigado, denso, carregado de tensão suada, que se espalhou pelo salão como fumaça de borracha queimada, enquanto Marcos, ainda ofegante da última repetição, girava o corpo devagar, sem pressa, como quem não se apressa pra dar resposta, mas calcula o ângulo da presença, da hierarquia, do aviso, e quando virou de vez, não foi o olhar que veio primeiro. Foi a massa do corpo, foi o calor do tórax ainda latejando, foi o peso da respiração vazando pelos dentes semicerrados, e só então, depois de tudo isso, veio o olho, direto, firme, afundando na cara do moleque com a mesma pressão de uma barra apoiada no esterno, um olhar sem urgência, sem questionamento, sem permissão, um olhar que perguntava com o silêncio o que porra aquele frango achava que estava fazendo desmontando o ferro de outro homem.
A academia fervia em silêncio abafado. A respiração de Marcos já tinha voltado ao ritmo de ferro, pesada, calculada, e ele observava o moleque com aquela calma que só quem não precisa provar nada carrega no corpo. A frase saiu firme, seca, mas sem pressa, como se o tempo fosse dele.
— Tava usando.
O moleque virou com aquele sorriso cretino de quem ainda não entendeu o chão que pisa.
— E aí, vai querer brigar por causa de barra agora?
A voz saiu mais alta do que devia. Os amigos ouviram. Dois deles se aproximaram. Não vieram na porrada, vieram no deboche. Aquele tipo de presença moleque que acha que número impõe medo. Marcos só olhou. Nem moveu o corpo. Nem mudou a respiração. Só existiu e isso foi o bastante para cortar o riso do grupo.
Mas o moleque quis ir além. Chegou mais perto. Encostou o ombro. Riu com escárnio.
— Grandão assim e se incomoda com porra de ferro no chão? Vai treinar no parquinho então, campeão.
Foi rápido. Impulsivo. Instintivo. Um dos amigos já tinha fechado o punho. O outro avançava pela lateral, achando que ia cercar, intimidar, se fazer presente.
Marcos não recuou. Nem piscou.
E foi nesse instante, exatamente quando o calor do confronto começava a ferver na carne, que a voz de Luciano atravessou o salão como sirene grave de comando:
— Já deu.
A ordem não subiu o tom. Mas estourou como tapa seco na cara de cada um ali. Luciano surgiu no meio dos aparelhos. Não perguntou. Não negociou. Só apontou com o dedo:
— Os três. Fora. Agora.
Ninguém respondeu. Ninguém peitou. Ninguém teve coragem de manter o olhar. Os moleques saíram murmurando, com os ombros murchos, o rastro do vexame prensado nas costas. O último ainda tentou virar para trás, mas bastou o olhar de Luciano e o silêncio de Marcos — um de frente, outro imóvel — para que ele entendesse: não tinha espaço ali para mais ninguém.
Quando o silêncio se reestabeleceu, só o som das máquinas vibrava no fundo. Luciano caminhou até Marcos, parou ao lado da barra, olhou a anilha caída no chão, depois o equipamento, depois o corpo suado do homem que não precisou levantar um dedo para dominar tudo.
Falou sem rodeio, sem ironia, sem fraqueza:
— Pode continuar seu treino. Eu vou fechar lá na frente.
Virou e foi.
Marcos observou duas, três pessoas deixando a academia em silêncio. A porta da frente foi puxada de cima para baixo com um estrondo seco, o ferro rangendo como grade de cela, e logo depois as luzes da recepção se apagaram, uma por uma, deixando o salão ainda aceso, iluminado pelas fluorescentes velhas que vibravam no teto, fracas, mas suficientes, jogando aquele tom esverdeado de cansaço industrial sobre os aparelhos, o piso suado e o corpo dele, que não parou.
Ele se abaixou. Organizou os pesos. Prendeu firme os discos na barra. E voltou ao treino. O corpo já recuperado. O sangue circulando grosso nas veias. A concentração cravada no ferro.
Foi no meio da segunda repetição que ele viu, pelo espelho lateral, Luciano passando no fundo da academia, indo em direção ao vestiário, sem camisa, com a toalha no ombro. Sem palavra. Sem olhar para trás.
Terminou a última repetição como quem encerra um pacto; o ferro tombando no chão como sentença, o peito subindo devagar, como se o pulmão precisasse de permissão para respirar de novo, e os olhos fixos no ponto exato onde a barra ainda vibrava do impacto, como se aquela vibração tivesse entrado também pela pele, pelos ossos, pelos nervos latejando embaixo da camiseta encharcada. Respirou fundo. Duas vezes. Depois se abaixou, prendeu as anilhas com firmeza, passou o braço pelo rosto e puxou o suor com a palma da mão, sem frescura, sem toalhinha de academia gourmet. O líquido escorria grosso, pegajoso, misturado ao cheiro ácido do ambiente, do corpo, do dia inteiro prensado em carga.
Guardou os pesos no canto. Não tinha mais ninguém por ali. Nenhuma voz. Nenhuma risada. Nenhum aparelho rangendo. Nenhum supino tombando de leve. O salão parecia suspenso, flutuando num silêncio que não era calmo. Era denso, abafado, estranho. A porra do som ambiente tinha sumido, o grave cortado no meio de alguma batida, e até as luzes tremiam diferente, como se estivessem avisando que ali dentro o tempo tinha mudado de ritmo.
Marcos olhou em direção à recepção. Viu a porta de ferro já fechada, os cadeados pendendo nas tramelas, a luz do letreiro apagada. Só a claridade verde-ácida das fluorescentes de teto continuava vibrando no salão. E era o suficiente para não parecer escuro, mas escuro o bastante para que as sombras ficassem longas demais, tortas demais, perigosas demais.
Caminhou até o fundo da academia ainda ofegante, os passos pesados ecoando entre os aparelhos já imóveis, o ar denso agarrado nas costas como se o treino ainda não tivesse terminado. Parou diante da porta entreaberta do vestiário. Ia apenas avisar que estava saindo. Só isso. Nenhuma intenção além da cortesia mecânica de quem respeita o dono do espaço. Mas bastou o primeiro passo para perceber que o silêncio lá dentro não era de vazio. Era de presença abafada.
A luz principal apagada, só o reflexo azul das luzes dos postes de rua atravessando a janela quebrada e cortando o ambiente em faixas de sombra e brilho frio. O som do chuveiro pingando no fundo. E ali, sentado no banco de madeira, de costas, com as pernas afastadas e o tronco jogado para trás, Luciano.
Sem camisa. A toalha agora largada de lado. O short meio solto, baixo demais para ser descuido. Uma das mãos apoiada na coxa. A outra... ali. No meio das pernas. Imóvel. Mas pesada.
Marcos não tinha certeza do que viu. Nem queria ter. O impulso de virar as costas veio forte, quase venceu. Mas alguma coisa nele, talvez o instinto, talvez o incômodo, o empurrou para a frente.
Entrou. Rápido. De propósito.
A porta bateu atrás dele e o som ecoou como se selasse o que não devia ter sido aberto.
— Tô indo.
A voz saiu firme, direta, sem desvio.
Luciano não respondeu. Nem se moveu. Só abriu os olhos devagar, encarou. Como se tivesse sido arrancado de um transe. Ou talvez já estivesse esperando por aquilo.
Se levantou sem dizer nada. Não se cobriu. Não escondeu. Apenas ergueu o tronco com aquela calma de quem sabe o corpo que tem e o espaço que ocupa e foi nesse gesto simples, brutal, que Marcos viu. De relance, mas viu.
A bunda. Porra, que bunda! Era uma coisa absurda. Dura, alta, larga, a pele branca firme sobre os glúteos densos, sem dobra, sem fraqueza, como se tivesse sido esculpida com barra, agachamento e décadas de série pesada. Cada fibra ali parecia tensionar contra a meia-luz azulada que entrava pela janela, deixando o rastro do suor brilhar devagar sobre a curva das nádegas como verniz sobre pedra bruta. A bunda de um macho que nunca deixou de treinar perna. Que encara espelho sem precisar ajustar ângulo. Que tem orgulho da porra toda e não se acanha nem com o olhar do inferno.
Marcos não desviou. Mas também não fixou. Registrou como se registra qualquer coisa que invade a visão sem pedir. E quando os olhos desceram, viu o resto.
Luciano virou. Por completo. Pelado. A toalha ainda jogada no banco. O pau era médio, grosso na base, levemente curvado para cima. Apontava ereto, úmido, com aquele brilho viscoso na glande que não deixava dúvida do que ele fazia segundos antes. O saco solto, pesado, cheio. A barriga ainda presente, firme, moldada de esforço, mas real. Os pelos brancos nos mamilos, no umbigo, descendo até a virilha. O corpo de um coroa que viveu, que trepou, que nunca deixou de ser homem, que nunca quis ser menino.
E mesmo com o pau ereto, exposto, ele não teve pressa. Pegou a toalha, abriu com uma mão só e começou a se enrolar com a mesma naturalidade com que alguém seca o rosto. Sem frescura, sem urgência, sem culpa. E foi nesse gesto que ergueu os olhos.
Os olhos de Luciano não pediam desculpa. Nem buscavam aprovação. Olhavam direto e sorriam. Um sorriso pequeno, no canto, malicioso, como quem sabia exatamente o que Marcos tinha visto e ainda assim fazia questão de manter o jogo limpo.
Terminou de se enrolar com a toalha e só então passou por Marcos, roçando de leve o ombro, firme, quente, suado.
— Vou abrir para você. — disse, a voz grave, baixa, jogada no ar.
E saiu andando, nu sob a toalha frouxa, a bunda ainda marcada, os ombros ainda pesando no ar abafado da academia. A sandália arrastando no piso como se nada tivesse acontecido, mas o cheiro, a imagem, o gesto, tudo já tinha sido cravado no fundo da cena.
Marcos ficou parado por um segundo antes de segui-lo. Nem olhou. Nem respondeu. Só respirou. Fundo. Seco. Como quem tenta limpar o ar dos olhos. Como quem precisa apagar o que viu sem parecer que viu.
Luciano já puxava o portão de ferro com uma mão só, o rangido rasgando o silêncio da noite. As luzes da rua invadiam o chão da recepção. O ar de fora vinha quente, mas menos denso. Menos saturado de corpo. E por um instante, ali, parado atrás do coroa que ainda segurava o ferro com o braço trincado e a toalha caindo até a metade da coxa, Marcos teve a impressão de que nada daquilo tinha sido por acaso.
Mas seguiu. Passou. Cruzou a porta. E desapareceu na calçada quente da noite, sem olhar para trás, sem dizer mais nada, carregando no corpo o peso do treino e na cabeça, o brilho sujo que fingiu não ter visto.
A rua estava quase deserta, o calor da noite ainda colado no asfalto, o breu cortado só pelos postes azulados que piscavam sem força, jogando luz torta nas fachadas das casas, e Marcos andava devagar, o corpo ainda pesado do treino, a camiseta ensopada agora na mão, o cheiro do próprio corpo tomando conta, mas o que voltava, o que insistia em se repetir na cabeça, mais do que ele gostaria de admitir, era a imagem do coroa.
Não da bunda. Nem da rola. Mas do jeito.
Da calma.
Da porra do sorriso.
Aquela confiança crua, descarada, sem pedir licença, que fazia o vestiário inteiro se calar sem som. Aquilo mexia mais do que devia, mais do que podia, mais do que ele deixava entrar. Mas entrava mesmo assim. E agora, ali, andando com o tênis riscando o chão suado da calçada, ele sentia a presença de Luciano no corpo, como se o olhar dele ainda estivesse preso nas costas dele, como se o cheiro da toalha usada ainda estivesse subindo pelas narinas, mesmo com o vento quente tentando varrer a lembrança.
Respirou fundo. Cuspiu para o lado. Ajustou a alça da mochila no ombro.
E foi aí que viu.
Dois vultos vindo na direção contrária, caminhando rápido, ombro a ombro, a silhueta recortada na luz fraca da esquina, mas o andar... o andar dizia tudo. Não era passeio. Não era volta para casa. Era missão. Era acerto. Era sobra de ego do que rolou na academia.
Marcos não parou. Não acelerou. Mas o corpo entrou em estado de prontidão, como se os músculos tivessem memória, como se cada passo calculasse distância, tempo e impacto. O coração não disparou. Mas os olhos fixaram.
Um deles era o que desmontou a barra.
O outro, o que chegou na lateral.
Estavam mais magros do que pareciam minutos atrás, menores na rua do que entre os espelhos da academia, mas vinham com algo no corpo, talvez coragem de grupo, talvez faca no bolso, talvez só burrice de moleque que nunca apanhou de verdade. A rua era estreita. O portão mais próximo estava trancado. E não havia viva alma nas janelas. Nem cachorro. Nem porra nenhuma.
E ali, no instante em que os pés deles bateram no mesmo trecho de sombra, Marcos soube: não era só encontro. Era emboscada.
Não desviou o caminho. Continuou vindo, peito aberto, ombro firme, mandíbula travada, cada músculo do corpo dele parecia entender o que ia acontecer antes mesmo da cena desenhar. O som do tênis contra o chão agora era outro — seco, firme, cravado — como se o mundo inteiro tivesse encolhido naquela calçada de bairro, e só existisse ali, entre o poste que piscava e a sombra onde os moleques avançavam, um campo de guerra pequeno demais para a diplomacia.
Quando ficaram frente a frente, não teve fala. O primeiro — o da barra — tentou vir no grito, o punho já alto, a boca escancarando alguma bravata que nunca terminou, porque Marcos não esperou. O corpo foi puro reflexo: um passo para o lado, o tronco torcendo com violência e o antebraço entrando como barra reta no meio do peito do moleque, que voou de costas com o som do ar sendo arrancado dos pulmões. O outro avançou por instinto, mas Marcos já tinha girado o quadril, o joelho subindo como pistão de locomotiva e acertou o estômago com um impacto seco, que dobrou o idiota ao meio.
Mas não foi o fim. Tinha mais.
Um terceiro vulto surgiu da lateral, pequeno, rápido, faca na mão, brilho de metal sujo piscando na luz fraca. Marcos recuou um meio passo, o olhar fixo no pulso do inimigo, e quando a lâmina veio, foi o braço que respondeu trancando o golpe com o antebraço, sentindo o metal rasgar pele de leve, mas sem recuar. Segurou o pulso do moleque com a mão firme, trincada de carga, e torceu. Com força. Com raiva. Com precisão. O estalo foi feio. O grito, mais ainda.
O moleque caiu. A faca ficou no chão.
Os outros dois ainda gemiam, engasgando-se no chão quente da calçada. E só então o som do mundo voltou, o chiado dos postes, o zumbido distante de uma moto passando, o latido de um cachorro preso em quintal alheio. Marcos respirou. Uma vez só. Longo. Profundo. O sangue escorria do corte raso no braço, mas ele nem sentia. Pegou a mochila do chão, ainda aberta, e jogou de volta no ombro.
Não disse nada. Não olhou para os moleques.
Só seguiu.
Passou por cima de um deles sem desviar o passo. A sandália do garoto escorregou no pé e o som que fez contra o cimento foi quase ridículo. Marcos seguiu andando. A respiração pesada. Os olhos fixos no fim da rua. E dentro da cabeça, o silêncio.
— Espera aí.
A voz veio de trás. Grave. Cheia. Sem pressa. Mas com o peso de quem manda parar.
Marcos virou devagar. Luciano vinha na sombra, andando como quem não tinha dúvida de onde deveria estar. Sem correr, sem gritar. Só vindo.
— Vai sair assim, porra? Braço aberto desse jeito?
O olhar de Marcos desceu. O sangue já escorria pela mão.
— É corte leve — respondeu, a voz baixa, rouca, como se ainda estivesse mastigando o silêncio.
— Leve o caralho. Vem comigo. — E virou sem esperar resposta.
Marcos ficou. Por um segundo. Pensou em dizer não. Mas o corpo não discutiu. O corpo seguiu.
A caminhada de volta foi muda. Só o som dos passos, da noite, da respiração deles. Os moleques ficaram para trás, largados como lixo depois da coleta. E a academia surgiu de novo no campo de visão, o portão ainda entreaberto, o corredor escuro como um túnel que engole e não devolve.
Luciano entrou primeiro. Acendeu uma luz qualquer. Fraca. Fria. Levou direto para o vestiário.
— Senta aí. — apontou pro banco.
Marcos obedeceu. Pela primeira vez.
Luciano sumiu por segundos e voltou com uma caixa de primeiros socorros surrada. Se ajoelhou. Não falou. Só limpou o sangue com gaze. Álcool. Pressão firme, mas sem agressividade.
Marcos sentiu o ardor. Mas não recuou.
O toque era técnico. Mas o olhar não era.
Luciano não sorria mais. Mas também não era o mesmo do salão, do comando, da patrulha. Ali, ajoelhado, o cheiro de suor e borracha velha do vestiário se misturava com o hálito quente que saía dele. Havia algo no silêncio do gesto, na precisão com que limpava o ferimento, no peso do olho que não desviava e fixava o de Marcos como uma presa, que dizia mais do que qualquer fala. Era essa precisão, essa segurança quase cirúrgica, que fez Marcos soltar, entre a garganta seca e o impulso de quem não quer perguntar, mas precisa:
— Você já fez isso antes?
Luciano não respondeu de imediato. O polegar do coroa roçava de leve na pele do antebraço de Marcos enquanto a gaze limpa, o toque firme e sem pressa, quase uma carícia disfarçada na urgência do curativo. Terminou com a calma de quem já fez aquilo centenas de vezes, cada movimento meticuloso, limpo, funcional. Quando falou, a voz saiu baixa, sem floreio, mas com a gravidade de quem revela uma parte da vida que não oferece a qualquer um:
— Fui enfermeiro. Antes de largar tudo.
Marcos franziu o cenho, surpreso, o músculo do ombro tensionando de leve. Não comentou. Só deixou o braço relaxar um pouco mais, sentindo o calor da mão de Luciano se espalhar, mais do que o ardor do álcool, um rastro que prendia. Luciano se levantou, jogou os restos do curativo num saco plástico e lavou as mãos no lavatório de parede, o som da água quebrando o silêncio, como se ainda estivesse num plantão. Voltou a encará-lo, o corpo nu sob a toalha, mas ainda presente na memória recente de Marcos.
— Vai querer chamar a polícia?
A pergunta bateu seca no ar. Sem julgamento. Só informação, mas com a pressão implícita de quem já sabe a resposta.
Marcos demorou a responder. Passou a mão na nuca, sentindo o suor pegajoso, olhou para o chão, depois para o ferimento limpo, onde o toque do coroa ainda parecia vibrar.
— Não. Moleque com faca não nasceu com ela. Alguém colocou lá.
Luciano assentiu. Só isso. Mas havia algo naquele assentir que dizia mais. Uma aceitação silenciosa, um respeito surdo, quase uma cumplicidade velada, como se eles tivessem falado a mesma língua de rua, de códigos não ditos.
— Por que veio pra cá?
Marcos hesitou. Pela primeira vez naquela noite, hesitou de verdade. Sentiu o peso do olhar de Luciano penetrar mais fundo do que qualquer lâmina. Mas respondeu, a voz mais rouca que o habitual, como se a palavra tivesse que ser arrancada da garganta:
— Tava ficando difícil demais onde eu tava. Precisava sumir um pouco. Aqui ninguém me conhece. Ninguém cobra nada.
— Até que te conheçam.
Os olhos se cruzaram e o silêncio cresceu entre os dois. Marcos não sabia onde enfiar o olhar. E Luciano não se mexia. Encostado na parede, o peito largo subindo devagar, só esperando. Os olhos dele não piscavam. Observavam. E no fundo daquele escuro, alguma coisa queimava. Uma espécie de convite bruto, sem poesia, que atravessava a distância com cheiro, com suor, com presença.
Marcos virou o rosto e se levantou devagar. Respirou. A boca seca. O sangue indo todo pro centro da coxa. O pau começava a pesar. Ele odiava aquilo. Odiava a sensação de não ter mais controle. Mas não conseguia sair dali. O braço ainda ardia, o curativo apertava, o cheiro do coroa impregnado na memória. A barba por fazer coçando. A pele pinicando.
E foi Luciano quem se descolou da parede.
Dois passos só.
— Não vai fugir de novo. — falou baixo. Quase num sopro. Mas cada palavra entrou como ordem.
Marcos não recuou. Mas ficou ali, travado. O peito estufado, o maxilar preso, como se o corpo gritasse pra avançar e a cabeça puxasse pra trás. Um caos mudo.
Luciano chegou perto. Muito perto. A ponto de o calor bater. A ponto de o hálito se misturar. O coroa cravado ali, olhando dentro dele como se escancarasse cada dobra, cada fraqueza, cada vontade enterrada no cu de macho que finge não querer ser dominado.
A mão veio devagar. Firme. Pousou na nuca, pesada. Os dedos grossos puxaram o cabelo com uma brutalidade calma. E Marcos gemeu baixo. Nem era dor. Era choque. Era susto. Era entrega começando a abrir caminho pela espinha.
— Vai continuar fingindo? — murmurou Luciano, os olhos colados nos dele.
Marcos tentou fechar a cara. Mas não deu tempo.
O beijo veio como soco.
Nada de selinho. Nada de teste. Foi língua, barba raspando, boca contra boca, carne contra carne. E Marcos, por um segundo, resistiu. Tentou manter a boca dura, o corpo preso. Mas a mão na nuca apertou mais. O tórax do outro encostou no dele. E o cheiro... porra, o cheiro de Luciano, o gosto amargo da língua, o calor da pele... tudo empurrou o corpo dele pro inevitável.
Cedeu. Abriu a boca.
Engoliu aquele beijo como quem engole tapa. Como quem apanha calado, mas não recua. As mãos dele estavam presas nas laterais do corpo. Os punhos fechados. O pau duro. Luciano sugava como quem marca. Como quem crava. Como quem toma posse. E Marcos, fodido, arfava por dentro. O corpo inteiro em guerra. Mas a língua dele já rebatia. Já buscava. Já respondia.
Um beijo de dois machos que não beijam, mas se pegam como se quisessem quebrar o outro por dentro.
Quando o beijo finalmente cessou, foi por falta de ar, não por vontade. Marcos deu um passo pra trás, ofegante, a boca entreaberta, a respiração falhada como se tivesse saído debaixo d'água. Mas o olhar dele já não era o mesmo. Tinha raiva. Tinha fome. Tinha aquele brilho de quem foi empurrado pro abismo e agora quer ver onde essa queda vai dar.
Luciano não sorriu. Mas a mandíbula trincada e o volume latejando por baixo da toalha frouxa diziam tudo. Deu mais um passo, invadindo de novo o espaço entre os dois, e dessa vez, foi Marcos quem agarrou.
A mão cravou na cintura, puxou com força, colando os dois corpos com brutalidade. O peito de um esmagando o do outro, os mamilos raspando, o calor virando umidade na pele. A barba deles se encontrou de novo agora no pescoço, no maxilar, no canto da boca. Não era beijo. Era atrito. Era uma luta muda com cheiro de testosterona e gozo represado.
Luciano passou o braço pelas costas de Marcos, apertou com força, e os quadris se chocaram. O pau de um roçando no pau do outro. Através da bermuda, da toalha, da pressão. O atrito arrancou um gemido preso de Marcos. Abafado, contido, mais raiva que prazer. Mas era gozo mesmo assim.
Luciano empurrou com o quadril. O volume prensou ainda mais. Os corpos rangiam de calor. E nesse instante, Marcos perdeu o chão. O sangue desceu. O instinto tomou. E a próxima reação dele não foi defesa. Foi resposta.
Segurou Luciano pela nuca, puxou com brutalidade e mordeu o ombro dele com força, os dentes cravando na pele grossa, os dois arfando como animais presos num cio sem nome. Enquanto isso, Luciano soltou a toalha sem cerimônia. Deixou cair como quem larga o peso de uma decisão já tomada. E o que se revelou não foi só um corpo de coroa vivido, mas uma rola que impunha silêncio.
Grossa desde a base, a pele branca levemente avermelhada pelo sangue acumulado, as veias saltando em relevo até a glande carnuda, rosada, brilhante de um pré-gozo que já empapava a ponta. O pau apontava pra cima, firme, curvado como arco pronto pra disparar, balançando pesado com cada passo. Não era rola de moleque. Era vara de homem vivido, rija como se sustentasse o próprio ego naquele mastro de carne quente, pulsando como se a cena toda tivesse sido armada só pra ela tomar espaço.
Marcos olhou. E não recuou.
Luciano avançou. Não com violência, mas com certeza. As mãos foram direto na barra da regata suada de Marcos, puxou pra cima de uma vez, arrancando a peça como quem descasca um bicho pronto pra ser devorado. A camiseta encharcada grudou nas costas, no trapézio, resistiu como se quisesse manter o cheiro preso. Mas saiu. E o cheiro veio junto. Suor grosso, denso, de treino recente, de hormônio vivo.
Luciano afundou o rosto ali, no pescoço, no ombro, no vinco da clavícula. Cheirou como animal farejando a fêmea. Não, a fêmea não, o oponente que agora se entregava.
Roçou a barba no peito suado, lambuzou a língua entre os mamilos duros de Marcos e desceu, a boca escorregando pela barriga rígida, úmida, pelos pelos que colavam na pele como se tivessem sido lambidos pela própria academia.
Puxou a bermuda com a mesma brutalidade com que encara o ferro: dedos firmes cravados nas laterais da peça, puxando pra baixo num gesto rápido, sem hesitação, rasgando o silêncio com o som abafado do tecido grudado de suor se soltando da coxa. A cueca preta veio junto, encharcada, grudada no corpo como segunda pele, mas quando a costura cedeu e passou pela rola aprisionada, ela saltou.
Saltou com tudo.
A vara negra, dura, estava guardada pro lado esquerdo, escapou como um chicote, pesada, pulsante, latejante, viva, e no mesmo instante que ganhou o ar, bateu com força contra a cara de Luciano, fazendo um estalo úmido, grosso, de carne contra osso.
Luciano fechou os olhos no impacto. Sentiu.
Sentiu o cheiro, o calor, o peso da rola marcada de veia roçando a barba por fazer. Ficou ali por um segundo, respirando fundo, cheirando o pau como se fosse incenso de guerra, sem recuar, sem fingir que não foi atingido.
A rola agora estava solta, exposta, um tronco negro de carne tensa. Luciano não tirou os olhos dela. A vara negra, grossa, marcada por veias que pareciam pulsar com o próprio ritmo da respiração, descansava entre as coxas como um animal solto, um bicho de carga esperando ordem. O brilho do pré-gozo já cintilava na ponta, espalhado de leve pelo atrito da cueca, um fio viscoso ligando a glande ao topo da barriga, grosso, pegajoso, sujo.
Ajustou os joelhos sem fazer alarde. Sem pressa. Os joelhos estalaram contra o piso como se estivessem no lugar certo. E quando chegou perto, não foi a mão que veio primeiro, foi o rosto. A barba espessa, cheia, encostou na lateral da cabeça do pau, arranhando devagar, desenhando o contorno daquela carne latejante com o queixo firme e o nariz sugando o cheiro cru que subia daquela virilha prensada pelo dia inteiro de carga e silêncio.
— Que porra de rola é essa... — sussurrou, mais pra ele do que pra qualquer outro, a voz presa na garganta, rouca de vontade e medo.
A respiração de Marcos travou. O corpo não se moveu, mas o pênis, sim. Deu um pulo pequeno, nervoso, como se tivesse sentido o bafo quente da boca se aproximando.
Luciano passou a barba devagar pelo sulco inferior da glande, como se estivesse polindo, como se cada pelo do rosto quisesse guardar o sabor daquela pele escura, densa, quente. Não chupou. Mas lambeu o ar. A língua não saiu, só o hálito, que bateu direto na ponta, fazendo o líquido escorrer mais, grudar na barba, espalhar no queixo.
O coroa passou a lateral do rosto pela extensão da rola como se fosse um altar, esfregando com devoção, com uma calma de quem tinha todo o tempo do mundo pra adorar aquele pau que parecia pesar mais do que o próprio nome de Marcos. As mãos, firmes, agarravam a coxa dele com domínio. Mas o gesto era outro, era de oferenda. Era de prazer bruto, sem plateia, sem pressa. Era nariz na rola. Boca no saco. Respiração quente cruzando as bolas e voltando, como se tentasse decorar aquele cheiro, aquele gosto que ainda não se permitia lamber.
Marcos fechou os olhos por um segundo. O punho cerrado. O peito subindo com dificuldade. E a rola, aquela pica preta monstruosa, vibrava com o toque de pele e não de língua, como se cada fio de barba acendesse um nervo novo. Luciano não mamou. Mas deixou claro que ia. Quando quisesse. Quando fosse a hora. Quando Marcos deixasse de se controlar e empurrasse. E o negão, quieto, parado, com o braço ainda sujo de sangue seco, sabia que aquele momento tava perto. Muito perto.
Luciano levou a mão até a base da pica, pegou com força, dedos brancos se fechando em torno da carne preta e quente, sentindo o peso. Levantou com firmeza, puxando a rola pra cima como se estivesse erguendo o próprio mastro de guerra. A cabeça balançou, pesada, escorrendo brilho da glande como se já estivesse gozando só de ser tocada.
E foi ali, com a rola suspensa e o saco livre, pendendo com volume e respeito entre as coxas suadas de Marcos, que Luciano se inclinou e meteu o rosto entre o interior da perna e o volume abaulado das bolas, enfiando a língua direto naquela dobra encharcada de sal, músculo e dia vivido. A lambida foi longa, firme, lenta. Uma lapada quente que riscou a virilha inteira de Marcos com o traço grosso da saliva, arrancando dele o primeiro gemido alto da noite, rouco, abafado, quase raivoso, como se aquele prazer estivesse sendo arrancado à força.
— Assim que eu gosto — murmurou Luciano, com a boca colada na raiz do saco, lambendo de novo, agora mais fundo, mais fundo ainda, puxando o ar como quem fareja caça.
Marcos gemeu mais alto, o corpo tenso, o quadril já respondendo por impulso. A respiração virou galope. As pernas, que antes sustentavam o mundo, agora tremiam.
Luciano chupou uma das bolas com gosto, abrindo a boca pra pegar bem, a barba raspando o períneo, o som da sucção molhada misturado com aquele palavreado que escorria entre um beijo e outro.
A língua envolvia, subia, contornava. O saco todo entrava na boca como fruta madura, pesada, suculenta. Marcos já não disfarçava mais nada. As mãos abertas, as coxas trêmulas, o gemido de macho cruzando a sala abafada, tudo nele dizia que aquela rola, aquela pica preta de negão, ia ser devorada e ele sabia disso. E queria. Mesmo que o orgulho não deixasse dizer.
A boca ainda trabalhava o saco com fome, língua escorrendo até a base da rola, quando Marcos finalmente olhou pra baixo. O olhar turvo de tesão, confuso, mas firme, como se só agora percebesse de verdade o que estava acontecendo. Luciano sentiu o peso daquele olhar e parou. Devagar. A língua ainda roçando o couro, a respiração quente vazando pelos cantos da boca. Mas os olhos subiram, firmes, cravando os de Marcos com aquele mesmo sorriso pequeno, safado, que ele conhecia desde o vestiário. Só que agora, sem a toalha, sem a fachada, sem escudo.
Levantou uma das mãos. Pegou o punho de Marcos. Depois a outra. Trouxe ambas pra frente do rosto. As mãos do negão estavam quentes, suadas, grandes. Mãos de quem carrega carga. De quem quebra concreto. Mãos que ainda tremiam de leve, mas que foram cedendo conforme Luciano as puxava com calma, até encostar uma de cada lado da cabeça.
E ali, de joelhos, ainda com o saco de Marcos pendendo úmido no queixo, Luciano segurou firme os pulsos do garotão e não disse uma palavra.
Só empurrou.
Empurrou a própria cabeça contra a rola.
Empurrou como quem oferece.
Como quem mostra.
Como quem ensina sem pedir.
A glande roçou nos lábios dele, pesada, quente, ainda marcada de veia pulsando. Luciano soltou um leve suspiro pela boca entreaberta e os olhos não desviaram. Mantinha o olhar em cima, desafiando. Um coroa pelado, de barba grisalha e pau duro, ajoelhado com gosto, oferecendo a garganta. Mas ainda macho. Ainda no controle. Ainda ensinando como ele queria ser usado.
Marcos entendeu.
Ou o corpo entendeu antes dele.
A pegada nas têmporas apertou. Os dedos foram pra nuca. A pica escorregou pra frente, lenta, e Luciano abriu a boca, como se já conhecesse aquele sabor.
A boca dele envolveu a cabeça da pica como se fosse relíquia sagrada. Primeiro com calma, reverência, o calor dos lábios sugando só a glande, língua lambendo em volta com precisão de quem já conhecia os caminhos do prazer masculino, mas fazia questão de redescobri-los em cada curva daquela rola preta, latejante, brilhando de suor e testosterona.
Marcos respirava pesado. O peito subia devagar. Não fazia nada além de deixar, mas aquilo, por si só, já era demais. A sensação da boca do coroa sugando, lambendo, massageando a ponta do pau era brutal. E quando Luciano desceu um pouco mais, engolindo parte do tronco, os dedos dele cravados nas coxas, os olhos fechando de leve enquanto sentia o volume invadindo a garganta, o primeiro gemido escapou, grave, contido, mas sujo.
A rola escorregava, escorria, molhava. E de repente, sem aviso, Luciano forçou a entrada. A cabeça mergulhou fundo. E a rola entrou até a metade da garganta.
A primeira engasgada veio densa. O corpo dele travou. As veias do pescoço saltaram. O rosto ruborizou. A respiração falhou. E os olhos lacrimejaram. Mas ele não parou. Estava ali por inteiro, boca aberta, garganta rasgando em silêncio, como se precisasse ser invadido para existir.
Marcos segurou firme a cabeça dele. Viu o suor escorrer pela têmpora, viu o brilho nos olhos, viu o desespero da carne tentando acomodar o que era grande demais e mesmo assim, viu também o prazer. Viu o coroa se empurrando contra a vara como se implorasse por mais.
Mas não deu. Ele recuou. Puxou o ar com violência. Tossiu. Cuspiu. A baba escorrendo pelo queixo. A rola escapando da boca com um som molhado, sujo, e reluzente de saliva espessa. Mas ainda assim, o sorriso. Ainda assim, a cara de safado. Como quem sabia que não tinha acabado.
Foi quando ele levantou devagar, os olhos ainda borrados, a barba molhada, e virou Marcos com firmeza. O negão travou o corpo no mesmo instante. As costas suadas reluziram na meia luz do vestiário. O trapézio contraído. As mãos preparadas pra afastar. O instinto gritando que aquilo podia ser invasão.
Mas Luciano não forçou.
Só olhou. Passou a mão pelas costas largas. E desceu, com reverência. Um toque que não era de dominação. Era de adoração.
Segurou as nádegas com as duas mãos, dedos cravando na carne rija, firme, dura como mármore negro moldado a ferro e disciplina. Alisou. Espalmou. Puxou devagar, sentindo o calor que subia do racho. Não tentou penetrar. Não abriu caminho à força. Só acariciou.
E ali, naquela posição em que um macho se sente vulnerável, Marcos sentiu algo que nunca tinha sentido. O controle ainda era dele.
Luciano lambia por baixo. Beijava o vão. Acariciava como se oferecesse a própria submissão àquele rabo musculoso, aquela carne viva que exalava poder. E mesmo ajoelhado, mesmo explorando, o coroa estava dizendo com o corpo: isso aqui é teu, você manda, você decide.
Marcos não cedeu. Mas também não recuou.
Ficou ali. De pé. O corpo inteiro tremendo. A rola latejando de novo. E o olhar cravado no nada sem saber se ainda era o mesmo homem de antes. Luciano mergulhou com mais fome agora. A barba raspando na pele sensível das nádegas, a língua cavando cada centímetro do racho como se procurasse um segredo enterrado ali, o nariz encostando na dobra quente enquanto a boca trabalhava em silêncio, sugando, lambendo, beijando aquele cu musculoso com devoção de macho que não quer domar, mas servir, como se o próprio prazer nascesse do gosto, do cheiro, da entrega de Marcos.
E ele aguentava.
Em pé. As pernas afastadas. O tronco inclinado pra frente. A cabeça baixa. A respiração acelerada. Mas o corpo firme, tensionado, rijo como estátua viva de carne e suor, enquanto sentia o vão da bunda sendo lambido com precisão quase cirúrgica, como se o coroa quisesse desenhar com a boca cada nervo escondido ali.
Luciano chupava o rego como se fosse boca. Lambia de baixo pra cima, enfiava a ponta da língua e fazia círculos lentos, depois sugava de leve e soltava com estalos molhados, cheios de intenção.
Mas ainda assim, o coroa estava ajoelhado.
E era ali, ajoelhado, com a cara enterrada no cu de outro homem, que ele encontrava força.
Marcos, por dentro, era só pulso. A rola dura, pesando no vazio, vibrando sem ninguém encostar. O saco cheio, descendo mais, inchado de tensão e o cu sendo devorado. Até que Luciano, num gesto rápido, lambeu mais uma vez o rego inteiro, do fundo até a base da coluna, e se levantou.
Virou Marcos de frente.
Com firmeza. Com cuidado. Com poder.
O negão ainda ofegava. A respiração solta. O olhar perdido. E quando se deu conta, já estava de frente pro coroa de novo, com o rego ainda molhado da saliva quente escorrendo, escorrendo devagar pela dobra interna das coxas, marcando o rastro do que tinha acabado de acontecer.
Luciano não falou.
Só abaixou de novo. Encaixou a boca na vara. E abocanhou inteira de uma vez.
O baque da glande contra a garganta veio com estalo. A cabeça do coroa afundando, os olhos fechando. E uma das mãos segurou a base da pica, enquanto a outra subiu e agarrou o saco cheio, pesando nas pontas dos dedos. Marcos gemeu alto dessa vez. Veio de dentro. Veio bruto. Veio sem controle.
E Luciano chupava, sugava, lambia e massageava com a mão aquele volume grosso que pulsava na boca dele como se fosse artéria.
A cada vez que descia, descia mais. A cada vez que sugava, puxava mais forte. E os olhos subiam, checando as reações de Marcos como se mapeassem o prazer do outro. A respiração, o tremor da coxa, o jeito que os dedos dele apertavam o banco atrás, o jeito que o maxilar travava tentando não gritar.
Ali não tinha mais dúvida.
Luciano queria o gozo. Mas queria que viesse da vontade de Marcos, não da fraqueza. Queria ver o negão perder o controle, mas com dignidade, com poder, com tudo o que ele era.
Luciano largou a rola com um estalo molhado, a boca vermelha, a barba ensopada de saliva e gosto de macho. O olhar subiu sem pressa. Não era súplica, era comando. E sem dizer uma única palavra, virou de costas e foi andando até o banco de madeira no canto do vestiário. Se ajoelhou. Depois se inclinou. Deixou o rabo nu de novo, só que agora de quatro, empinado, oferecido, não como um pedido, mas como uma convocação.
As costas largas tremiam levemente, não de medo, mas de antecipação. As mãos dele firmes no banco, abertas, os ombros afundando e os joelhos separados. A bunda branca se abria levemente com o peso do próprio corpo, revelando o rego denso, cheio, cravejado de anos de treino.
Marcos ficou parado.
A respiração dele era só barulho. Os olhos, travados no cenário. Aquilo era novo. Aquilo era foda. Aquilo era o tipo de imagem que não se apaga.
A pica ainda latejava no ar, dura, exposta, pingando na ponta.
E o bicho hesitou. Por orgulho, por medo, por achar que perderia alguma coisa se cedesse à vontade de enfiar a cara ali. Mas o corpo era mais honesto do que qualquer julgamento. E o cheiro... aquele cheiro... porra, aquele cheiro não mentia.
Deu um passo.
Outro.
Parou atrás do coroa.
Aproximou o rosto.
E ali, bem no meio daquele racho suado, entre a base da coluna e o início do saco, afundou o nariz.
Luciano arfou. Alto. Rouco. A voz dele ecoou no vestiário abafado, uma mistura de gemido com riso preso, como quem nunca esperou, mas precisava daquilo mais do que admitia. E o negão lambeu. Lento. Com força. Da base até o topo, varrendo o rastro do rego com a língua quente, espalhando saliva no vão do cu como quem marca território. A barba raspava. A língua cavava. E os gemidos do coroa foram ficando mais altos, mais fundos, mais desesperados.
— Isso... porra... assim, caralho... — Luciano urrava, sem vergonha, sem medo de mostrar o quanto estava sendo fodido pela língua de outro macho.
Marcos segurava as bandas com as duas mãos abertas, afastando com firmeza, com sede, com gana de deixar aquele cu esculachado de tanto ser comido na língua. Cada lambida era um tapa molhado. Cada sugada era um grito preso que o vestiário segurava entre as paredes suadas.
E Luciano se entregava.
O corpo tremia. As pernas ameaçavam ceder. O cu abria e fechava, vivo, reagindo ao toque, querendo mais. E o som das lambidas misturado aos gemidos virava música suja no ar abafado, enquanto Marcos aprendia ali, de joelhos entre as coxas de um coroa de respeito, o que era fazer outro macho gemer por uma boca.
— Me fode, porra... — a voz de Luciano veio grave, falhada, entre um gemido e uma ordem, como quem já não aguentava mais esperar, como quem precisava sentir aquela rola enterrada dentro dele, agora, do jeito que fosse, do tamanho que fosse.
Marcos congelou por um segundo. A mente lutava. Mas o corpo já estava decidido.
A rola pingava no ar, grossa, pulsante, quase roxa de tanto sangue represado, aquela cabeça escura e brilhante, latejando como se tivesse vontade própria, pedindo caminho, pedindo entrada. As mãos seguraram o quadril do coroa com firmeza, os dedos afundando na carne densa e rija, e a ponta da pica encostou no cu de Luciano, quente, úmido, preparado na língua, mas ainda fechado.
— Relaxa... — murmurou, mais para si mesmo do que para o outro, e empurrou.
Luciano sentiu a cabeça abrir caminho.
O anel se rendendo centímetro por centímetro, o rastro de saliva ajudando, mas não escondendo a dor, nem a urgência, nem o prazer bruto de ser rasgado por uma rola daquele tamanho. A boca abriu num urro surdo, o rosto colado na madeira do banco, as mãos travadas nos cantos, os olhos esbugalhados. O cu se esticava mais do que devia, ardia, gritava, mas abria. E o que entrava não era só carne. Era peso. Era domínio. Era um macho jovem e faminto dizendo com o corpo que ele, o fodão da academia, agora era buceta pra ele.
— Vai... até o fim... — Luciano sussurrou entre dentes, o rosto suado colado na tábua, o rego aberto, o buraco tragando a rola negra com fome.
Marcos sentiu o cu do coroa engolir sua rola como uma boca quente e apertada.
Sentiu cada dobra, cada contração, o caminho apertado se moldando ao volume, tentando expulsar e sugar ao mesmo tempo. A mão dele segurava firme o quadril branco, o contraste de pele queimando na vista. Era mais que penetração, era posse. Era o ato de enfiar sua carne no interior de outro homem e se ver refletido no gemido dele, na respiração falhada, no tremor das pernas. Sentiu o cu abrir, dar passagem, tremer ao redor da base, até que a pica inteira estivesse enterrada ali dentro, suando, rija, fundida no outro.
Luciano gemeu. Um gemido grosso, doído, delicioso. A boca babando no banco. A alma saindo pelos olhos. E ali, naquele silêncio espesso, os dois sabiam: dali em diante, não havia mais volta.
O coroa moveu os quadris para frente, fazendo com que a rola saísse de dentro dele. Marcos olhou pra baixo. A vara negra latejava no ar, pulsando em cada veia saltada, babando de vontade, mas ainda carregando o peso do que significava atravessar a linha. O peito subia e descia. O ar entrava quente, denso, carregado de tudo que já tinham vivido naquela noite: tensão, briga, suor, silêncio, sangue, olhar.
Então, sem tirar os olhos do corpo do coroa, cuspiu na própria rola.
A saliva desceu grossa, quente, escorrendo pela glande até o eixo, cobrindo o tronco daquela pica com brilho viscoso. A mão esquerda segurou firme a base, espalhou a gosma com calma, como se estivesse lustrando uma arma prestes a explodir. E a imagem daquilo, do negão segurando a própria pica ensopada de cuspe, parado atrás de um macho mais velho, pelado, de quatro, com a bunda empinada e trêmula, era brutal demais pra ser esquecida.
Luciano cuspiu em uma das mãos e, sem dizer nada, levou-a até o cu. Enfiou dois dedos com a urgência de quem já conhecia o caminho, lambuzando o rego com força, abrindo espaço, gemendo baixo com o toque. Depois, com a mesma mão úmida, segurou a rola de Marcos pela base, firme, decidido, e encaixou a cabeça no cu aberto, apontando o canhão como se dissesse: agora.
— Vem... — A voz saiu baixa, falhada, quase um pedido, mas com um fundo de ordem. De necessidade.
Marcos não respondeu. Só sentiu.
A cabeça entrou com resistência e o grunhido que saiu da garganta do coroa foi de guerra. Um misto de dor e alívio, de raiva e prazer. O buraco cedeu centímetro por centímetro, o anel queimando em volta da glande, tentando se fechar em vão, sendo lentamente vencido por uma rola que não pedia licença, só ocupava.
A pica escorregou, lambuzada de cuspe e calor, e Luciano abriu mais, gemeu mais, empinou com mais força, as mãos firmes no banco, o corpo suando de novo, o cu se contraindo e se rendendo, até sentir a virilha de Marcos colar nas nádegas e a pica toda estar fincada dentro dele novamente. Grossa, viva, quente, negra e latejando.
— Porra... — Marcos sussurrou, o som saindo rouco, quase involuntário, a cabeça pendendo pra frente enquanto sentia aquele cu chupando a base da rola.
Luciano estava tremendo.
A boca entreaberta, o corpo arqueado, os olhos fechados com força como se estivesse tentando guardar aquilo na alma. A rola dele balançava embaixo, dura, babando leite pelas pontas. Ele gemeu mais uma vez, dessa vez com fundo de desespero:
— Me fode...
E foi ali, com as mãos firmes no quadril do coroa, com o pau enterrado até o talo, que Marcos entendeu o que era posse. O que era domínio. O que era a porra de um homem ser tragado por outro e, ainda assim, saber que não tinha perdido nada. Só se tornado mais.
As estocadas vieram primeiro lentas, como se o corpo ainda duvidasse do que estava acontecendo, mas logo o instinto tomou o comando. Marcos metia com o corpo inteiro, quadril batendo nas nádegas fartas do coroa com som molhado, grave, cheio de carne. Cada enfiada fazia Luciano grunhir como um animal ferido de prazer. A voz grave raspando no ladrilho do vestiário, os dedos cravados na madeira do banco, as pernas abrindo mais, como se o corpo inteiro estivesse implorando para ser rasgado de novo, de novo, de novo.
Marcos acelerava, a testa suando, os olhos vidrados nas costas largas de Luciano, a rola enterrada até o fim num cu que parecia ter sido feito pra ele. O buraco apertava, sugava, tremia em volta da carne, e cada vez que ele saía, o anel ficava vermelho, inchado, cuspindo a baba que escorria da fenda.
O negão fincou as mãos nas laterais da cintura de Luciano, os dedos espremendo a carne suada como quem segura gado bravo prestes a ser montado. E foi ali, de novo, que ele afundou, sem hesitação, sem carinho, sem nada que não fosse o puro impulso da racha latejando e a necessidade de se enterrar até o fim. A rola grossa deslizou uma vez, depois bateu fundo, com força, com raiva, com tesão, e o som do corpo contra corpo encheu o vestiário como tapa de guerra.
— Vai, caralho... me arrebenta! — Luciano urrava como um possuído, os braços tremendo, os ombros duros segurando o próprio peso, a boca aberta no azulejo, a voz grave subindo de tom, desgovernada, suja, sem vergonha, sem freio
Marcos respondeu sem palavra. Só carne. Só estocada. As coxas batendo, a base do pau esmagando o cu já escancarado do coroa que parecia sugar, morder, contrair como se a próstata tivesse vida própria, apertando o mastro preto do homem com tanta força que fez Marcos soltar o primeiro urro rouco, fundo, animalesco, como se estivesse sendo fodido também, por dentro, pelo calor apertado daquele buraco.
Luciano tremia. O corpo todo em espasmo. Segurava o banco com os dois braços esticados, os dedos brancos de força, o suor escorrendo em rios pela lombar. E aí veio. Do nada. Sem aviso. Sem mão no pau. Sem estímulo nenhum além da rola enterrada no rabo: a porra saiu.
— Tô gozando, porra... — gritou. — Tô gozando com teu pau no meu cu!
E jorrou. O leite espirrou forte, sujando o banco, pingando no chão, enquanto o cu dele pulsava, esmagava a rola de Marcos com força espasmódica, como se tentasse sugar até o último nervo da pica. A glande do negão inchou mais ainda, o escroto se apertou e, num urro que saiu do pulmão rasgado de prazer, Marcos gozou também.
Mas não parou.
Enterrou com mais força, socando o quadril contra a bunda do coroa, como se cada jato precisasse ser empurrado com mais violência, como se fosse obrigação meter até a alma junto com a porra.
— Toma, caralho... toma essa porra... toma tudo! — urrava, a testa colada nas costas largas de Luciano, os olhos fechados, o corpo inteiro trincado de prazer.
Luciano gemeu alto, quase chorando, o cu ainda contraindo, a porra de Marcos saindo quente, grossa, escorrendo pelo reto fodido, e aí o coroa desabou. Se jogou pra frente, o peito batendo no banco, as pernas ainda abertas, o rabo ainda escancarado e esse movimento puxou parte da porra pra fora, com um som de vácuo molhado, um estalo sujo de carne sendo sugada e liberada, e um fio espesso, branco, escorreu do cu dele até o chão, brilhando na luz azulada do vestiário.
O silêncio veio depois. Mas era o silêncio suado da guerra vencida.
O som da respiração deles era o único ruído que preenchia o vestiário agora: pesada, irregular, arfante, como se cada um tivesse corrido por dentro do próprio corpo até arrebentar.
Não se mexeram por alguns segundos.
O banco rangia de leve sob o peso do coroa que ainda tremia. A pele das costas brilhava de suor e porra. O cheiro no ar era puro cio. Esperma, saliva, couro velho e testosterona. Luciano ficou ali. Curvado. Gemendo baixo. O buraco ainda latejando, aberto, escorrendo o que recebeu.
Marcos olhou aquilo. O cu branco marcado pela sua vara, esparramado, cuspindo parte da porra. Um rastro. Uma lembrança física da dominação. E não disse nada. Só respirou fundo, limpou a testa com a parte interna do antebraço, e se sentou no banco, as costas apoiadas na parede gelada do vestiário.
— Caralho... — foi tudo que saiu.
Luciano soltou uma risada abafada, quase sem força, e virou o rosto devagar, ainda com a cara encostada no banco.
Ficaram assim. Sem fala. Sem medo. Sem pudor.
O chão embaixo deles manchado de gozo. O ar parado. O mundo lá fora continuando, mas ali dentro, só dois corpos. Um que aprendeu o próprio poder. Outro que teve o dele reativado à força de rola.