Fiquei perplexo com aquelas revelações, mas tinha que tomar cuidado, pois é muito comum quando duas pessoas brigam, cada uma falar absurdos sobre a outra, por isso, era bom checar melhor aquela história. Além disso, se tudo fosse verdade, Sanchez foi muito conivente com os absurdos de Baumer.
Aquela conversa me deixou agoniado por uns 3 dias, e percebendo isso, Ângela percebeu e tive que contar. Como esperado, ela também ficou chocada e levantou outro ponto que não tinha me atentado.
-Você nunca percebeu que no clube dos cuckolds, tanto os casais quantos os comedores são sempre brancos? No máximo, pessoas morena claras, mas jamais teve um negro ou uma mulata. Vai ver que é o Baumer que impõe isso.
-Puta merda! É verdade! Cheguei a pensar que seria bom transar com uma morena estilo cabocla ou uma negra, mas nunca tinha uma nos encontros.
Esperei mais uns dias e marquei um encontro com Baumer em seu escritório. Talvez, estivesse mais calmo em relação ao caso do Sanchez. Fui cheio de dedos, dizendo que queria saber os motivos que o levavam a aprovar tão rápido alguns cadastros de interessados e reter outros sem me dar resposta.
Baumer sorriu de maneira cínica, estava com as pontas dos dedos de uma mão encostadas nas pontas da outra, quase como num gesto de oração, mas só com as pontas encostadas. Ele me encarou com sarcasmo e disse:
-Guiliano, Giuliano, pelo visto você já foi ouvir as lamentações do Sanchez. A bicha doida chorou no teu ombro? Não quis sentar no teu colinho? Quem saber mamar um pouco?
-Ei, Baumer, dá um tempo, estou falando sobre outro assunto, esquece o teu sócio.
-Ex-sócio! Não tenho amigo veado!
Baumer então começou a falar como se fosse um sábio sendo vítima de uma injustiça:
Mas já que você quer mexer nesse tema dos interessados em adquirirem um dos nossos imóveis no condomínio, vamos voltar um pouco no tempo. A sua imobiliária foi escolhida por ter um nome interessante no mercado e porque você e sua equipe têm demonstrado grandes habilidades em toda parte de divulgação, atendimento e vendas, porém sejamos sinceros, antes de fechar com a gente, quanto ganhava na média, 20 mil, 30 mil e umas, 2 , 3 vezes por ano, uns 200 mil numa venda fora do comum? Um ótimo salário, se todo mundo ganhasse isso, seria uma maravilha, mas convenhamos, isso é dinheiro de pinga perto das primeiras comissões que já recebeu aqui e olha que estamos na pré-venda com valores 25% mais em conta. As nossas casas mais baratas, deixa eu ver aqui (Ele mexeu no celular procurando a aplicativo da calculadora). Olha só, estão te rendendo mais de 1 milhão e as mais tops 3 milhões. Eu fiz você pegar um elevador financeiro que te levou de um mísero 3º andar para o 20º. Aí, eu te pergunto, por que cargas d’água está se importando com quem está sendo escolhido? Sei que quer vender logo, mas tem que ver meu lado, não posso colocar qualquer tipinho no empreendimento que estou fazendo.
-Primeiro que esse dinheiro não é todo para mim, mas para a imobiliária, mas o problema aqui é que essa sua seleção está bem estranha para dizer o mínimo.
-Estranha por quê? O Sanchez te encheu a cabeça, né?
Baumer começou a caminhar pelo seu escritório demonstrando estar contrariado:
-Vou te mandar a real porque estou cagando e andando para os teus julgamentos morais. Não quero e pronto!!!! Faço questão de enfatizar que não aceitarei negros, nordestinos, alpinistas sociais sem berço e boiolas ou sapatonas! Quero um ambiente de gente bonita, culta e normal, porraaaaaaaaaaaa!!! Eu tenho o direito de transformar meu empreendimento num pedaço da Suíça ou da Alemanha dos bons tempos, num oásis de pessoas belas e geneticamente superiores! E tem mais! Esse será o primeiro de outros condomínios de um povo que tem uma raça e valores superiores. Vou espalhar esse conceito pelo Sul e Sudeste e do Brasil.
Fiquei estarrecido com o grau de canalhice de Baumer, desde o começo, ele flertava com o preconceito, mas agora tinha escancarado tudo, o cara era uma mistura de neonazista com aqueles caipiras americanos que andam ostentando a bandeira dos Confederados, que para quem não sabe, essa bandeira é ligada aos que defendiam a continuação da escravidão durante a guerra civil, e depois virou símbolo da supremacia branca.
Resolvi subir o tom, pois apesar de muita grana estar entrando, não poderia compactuar com ideais dignos de um verme:
-Olha, Baumer, se soubesse que você era um filho da puta cheio de tantos preconceitos, teria mandado enfiar a parceria de negócios no meio desse teu cu nazista, mas vamos encerrá-la agora, não quero mais contato com gente podre da tua laia.
Baumer me olhou incrédulo, certamente, poucas vezes na vida fora confrontado, e agora via alguém bem inferior ao poder dele, o xingando e pouco se fodendo para manter os negócios com sua imponente empresa. Após um tempo em silêncio, bradou:
-Aí que você se engana, sujeitinho de 2ª, em nosso contrato está estipulado um generoso valor para as comissões que sua imobiliária receberá ao negociar nossos imóveis, porém, uma das cláusulas estipula uma multa milionária caso um dos lados queria desfazer a o negócio sem um motivo pré-estabelecido, portanto, se não continuar trabalhando para a MINHA construtora, terá que vender até as cuecas para pagar a multa. E antes que pense em me denunciar por racismo ou qualquer outra bobagem contra os demais sub-humanos, deixa eu te dizer que será a minha contra a tua palavra, exceto se tiver gravado o que falamos até agora, mas aposto meu jatinho particular como você não pensou em me gravar e a partir de agora, jamais voltarei a repetir as coisas que disse, ou seja, sua denúncia carecerá de provas. Racista eu? Imagina!
Baumer tinha razão, nem pensei em gravar nossa conversa e sem provas não adiantava denunciá-lo, senti o golpe e percebendo isso, ele tratou de me provocar ainda mais:
-Agora, vá embora e trate de seguir trabalhando direito, porque se relaxar, aí eu é que terei motivo para romper o contrato e te processar. Ah! E mais um detalhe, esqueça do clube dos cuckolds, você não está a altura dele, a gostosa da tua mulher pode vir se quiser, mas você agora terá que ir curtir numa dessas casas de swing imundas, pega lá uma trubufu sebosa, dessas que adoram dançar num forró risca faca e se divirta.
Perdi a paciência com Baumer e parti para cima dele. Ele estava em pé de costas para a sua mesa e só teve tempo de arregalar os olhos quando saltei sobre o mesmo, deslizamos por cima da mesa e caímos do outro lado, onde lhe acertei 3 murros bem fortes em sua cara. O filho da puta não era um bunda mole e conseguiu fazer com que eu saísse de cima dele, ao me desferir uma forte joelhada, que por sorte, não acertou meu saco, mas no popularmente chamado “pé da barriga” e doeu para caralho, passamos a rolar atracados e trocando xingamentos. Um dos socos que lhe dei, abriu seu supercílio e outro, seu lábio inferior, fazendo com que muito sangue escorresse por seu rosto e até respingasse em mim, seus olhos esbugalhados, os dentes arregalados e a face cheia de sangue tentando me esganar enquanto eu fazia o mesmo com ele, me lembraram um filme de terror.
A secretária ouviu nossos gritos e ao entrar na sala e nos ver brigando, começou a gritar pelos seguranças. Dois deles nos separaram, mas o neonazista me deu um chute forte na altura da coxa direita emendando com a nádega. Revidei também com outro chute em sua perna esquerda. Finalmente, fomos apartados e ele berrou que eu pagaria caro.
Fui embora com uma forte dor abdominal, mas Baumer tinha ficado bem mais estragado. Soube depois que ele teve que tomar 3 pontos no supercílio e ficou com o lábio inferior bizarramente inchado.
Ao chegar em casa, contei o que havia ocorrido a Ângela, ela tinha uma viagem marcada justamente naquela noite com Paula para a casa de uns parentes em Santa Catarina, mas ficou preocupada e chegou a dizer que eu deveria me hospedar em um hotel, pois Baumer poderia querer uma vingança. Achei que era exagero, mas como minha esposa ameaçou até cancelar a viagem com a filha, decidi ir para um apartamento mobiliado que estava sendo vendido pela minha imobiliária. Peguei algumas coisas pessoais e fui até a poeira abaixar. Certamente, o pilantra tentaria me processar, mas isso não tinha nada a ver com nosso contrato de negócios.
No outro dia, já no final da manhã de um sábado, recebo um telefonema de Andréia querendo conversar comigo.
-Olha, Andréia, apesar de sermos bem próximos por tudo o que bem...Rolou já...Mas isso está bem estranho, ontem eu tive que dar umas porradas na cara do teu marido e agora você vem com essa de que precisa falar urgente comigo. Querem armar alguma, certeza.
Andréia falava baixo como se não quisesse ser ouvida:
-É sobre a briga de vocês que quero falar, mas tem que ser pessoalmente, o Baumer nem sonha que estou te ligando, mas se estiver com receio de ser uma armação, marque num local público ou na sua casa, sei que a Ângela viajou, ela havia me dito esta semana.
-Tá mas o que quer me falar? Se for sobre fazer as pazes com o Baumer, não perca tempo.
-Quero te contar coisas ainda mais sórdidas dele. Você começou uma guerra com um louco maquiavélico e é bom ter mais armas do seu lado.
Refleti por alguns segundos e passei o endereço de um bar que ficava perto do prédio que eu estava ficando desde o dia anterior. Andréia viria com surpresas cavalares. Mais confusão no horizonte.
...falar nada não!
Vixe do nada deu uma reviravolta e tudo parece que vai piorar