Rebecca estava ajoelhada no meio da sala, a camiseta já escorregando pelos ombros, os cabelos caindo em volta do rosto como uma moldura suada. A boca dela se movia lenta, profunda, acolhendo Vinícius com aquela mistura de prazer e ternura suja que só ela sabia dosar. Os olhos fechados, a respiração dele pesada, o momento carregado de uma intimidade que já parecia rotina — e mesmo assim, ritual.
Eu estava parado na porta da cozinha. Quieto. Observando. O pano de prato ainda esquecido na mão. Cansado, moído… mas ali. Porque sempre estive ali. Era o meu lugar.
No meio do boquete, Vinícius virou o rosto, me olhou por cima da cabeça dela e, ofegante, com um sorriso de canto, disse:
— Juro que é o último, irmão… só esse. Eu prometo.
E riu.
Riu como quem agradece.
Como quem sabe que a frase é uma mentira piedosa, mas dita com carinho.
Rebecca olhou pra ele, riu com a boca ainda cheia, e redobrou o ritmo — como se dissesse “faz bonito, então.”
E ele fez.
Comigo olhando.
Com ela sorrindo.
Com tudo onde tinha que estar.
E eu, mesmo moído, mesmo esvaziado…
Estava pleno.
De novo.
Vinícius arfava pesado, a cabeça inclinada pra trás, os olhos semicerrados. As mãos seguravam com firmeza o cabelo dela, mas tremiam um pouco. Os músculos do abdômen contraíam em ondas. Era o tipo de agonia que só o prazer absoluto provoca — o corpo inteiro querendo explodir, mas segurando mais um segundo. E outro. Só pra ficar.
Ele baixou os olhos, ofegante, suando na testa, e estendeu o celular pra mim, sem soltar os cabelos dela.
— Vê aí... o Uber tá chegando. Me avisa, tá?
Peguei o celular com a mão ainda suada. A tela acesa mostrava o nome: Nelson, com a mensagem clara:
"Chega em 10 minutos."
Vinícius soltou uma risada abafada, o rosto ainda tenso de prazer.
— Dez minutos... acho que dá. — disse entre um gemido e uma risada.
Rebecca não parou nem por um segundo. O olhar dela estava focado, as bochechas coradas, o som do boquete aumentando com a saliva se espalhando, escorrendo pelo canto da boca.
Ele me olhou de novo, suando, os quadris já se mexendo sozinhos na boca dela, e murmurou, rindo de novo, com a voz falhando:
— Irmão... é o último mesmo... mas que despedida, viu?
E eu?
Com o celular na mão, o nome “Nelson” piscando na tela...
Só conseguia assistir.
E contar os minutos.
Com a boca dela fazendo o tempo quase parar.
Vinícius arfava cada vez mais rápido. Os músculos das coxas vibravam, o abdômen encolhia, a mandíbula tensa como se estivesse tentando conter o inevitável. Rebecca continuava ajoelhada, firme, a boca completamente preenchida, os olhos fechados, as mãos apoiadas nas coxas dele como quem sustentava o próprio altar. Ela não parava. Sugava com ritmo, com força, com aquela maestria serena de quem já conhece o ponto exato entre o prazer e o colapso.
Eu, ainda sentado na poltrona, segurava o celular com a tela acesa. O nome do motorista seguia lá:
“Nelson – chega em 1 minuto.”
Olhei pra ele, depois pra ela, e anunciei, num sussurro quase cúmplice:
— Um minuto.
Foi o gatilho.
O corpo de Vinícius estremeceu inteiro. A cabeça dele foi pra trás, os dedos cravaram com mais força no cabelo de Rebecca, os quadris deram três estocadas curtas, desesperadas. Ele gemeu alto, rouco, como um animal vencido pelo próprio tesão.
— Vai... vai... porra, Rebeca... assim… assim mesmo…
E então gozou.
Com tudo.
Com o corpo inteiro.
As pernas tremendo.
A respiração falhando.
O peito arqueado.
Rebecca recebeu. Sem recuar, sem tremer. A boca dela se encheu, e ela deixou. Sentiu o calor, o peso, a pulsação dele latejando fundo na garganta. A cada jato, os olhos dela apertavam, o maxilar afundava mais. Era muito. Era intenso.
Ele não parava de gemer.
O corpo inteiro dele parecia descarregar uma semana de tensão, uma madrugada de posse, um orgasmo que não era só físico — era simbólico.
Ela engolia tudo, devagar, com reverência.
E ele…
Ele ficou em silêncio por um instante. Depois riu.
— Um minuto cravado... tá aí o tempo do meu adeus.
E eu, com o celular tremendo na mão, vi a notificação piscar na tela:
“Nelson chegou.”
Ele se abaixou, beijou a testa dela, e disse:
— Obrigado. Por tudo.
Ela apenas sorriu. Boca ainda molhada.
E eu entendi:
Foi o último.
Mas também o maior.
Depois da primeira vez com Vinícius, quando ele foi embora e a casa voltou ao silêncio, achei que alguma coisa entre nós dois fosse mudar.
E mudou.
Mas não como eu imaginava.
Rebecca não ficou mais distante.
Não ficou fria.
Não ficou ausente.
Ela ficou… mais minha.
Mais carinhosa.
Mais segura.
Mais intensa.
O sexo entre nós dois, que já era cúmplice, virou algo completamente novo.
Ela me procurava mais.
Falava coisas que antes só sussurrava.
Fazia questão de transar olhando nos meus olhos, como se dissesse o tempo todo:
“Eu fui. Eu voltei.
E agora eu sei exatamente o que estou te dando.”
Era isso.
Ela me dava o corpo dela depois dele.
E isso era um presente.
Rebecca virou uma mulher ainda mais viva.
Dormia menos.
Gemia mais.
Ria mais alto.
Transava com fome e calma.
Como quem já conheceu o mundo — e escolheu o próprio chão.
Ela passou a encontrar Vinícius com regularidade.
Toda semana, às vezes duas vezes.
Não escondia.
— Quinta ele vem.
— Hoje vou me depilar.
— Ele gosta daquele vestido justo… vou usar.
Falava com naturalidade.
E me olhava como quem dizia:
“Você aguenta, né?”
E eu aguentava.
Porque cada encontro deles tornava ela ainda mais minha na volta.
Na cama, entre nós dois, ela dizia coisas que nunca tinha dito.
— Sente como eu tô quente…
— Me fode agora, antes que eu vá de novo…
— Mostra que eu ainda sou tua, mesmo depois de ser dele.
E era.
Ela era minha.
E dele.
E dela mesma.
E talvez, pela primeira vez, eu era inteiro também.