Não havia espaço para resistência



Aqui está a continuação:

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Eu não sei explicar por que fui. Eu podia ter dito não, podia ter inventado uma desculpa qualquer. Mas quando ele mandou a mensagem dizendo “quero você aqui”, eu já sabia que ia obedecer. Não houve escolha. Só caminho. E o caminho me levou até ele outra vez.

Dessa vez foi diferente. Não teve conversa, não teve aquele tempo de adaptação. Ele abriu a porta, me puxou pelo braço e, antes que eu respirasse fundo, já estava dentro do espaço dele — e dentro do jogo dele. Ele não me perguntou nada. Ele só me usou.

É estranho escrever essa palavra, “usar”. Parece feia, pesada. Mas foi exatamente isso. Ele me virou, me posicionou, me moldou como se meu corpo fosse um objeto feito só para ele. E a parte mais perturbadora é que eu deixei. Mais do que isso: eu gostei. Era como se eu tivesse esperado por alguém que finalmente me tratasse desse jeito, sem cerimônia, sem ilusão de controle.

Meu corpo reagiu do mesmo jeito que da primeira vez. Meu pau, inútil, esquecido, sem força. E, ao invés de vergonha, eu senti um alívio profundo. Como se aquela parte de mim já não tivesse mais importância. Como se o que importava fosse apenas estar aberta para ele.

Ele me segurava forte, me movia como queria. Não perguntava se estava bom, não buscava meu prazer, porque parecia óbvio que o prazer não era meu, era dele. E, ainda assim, era exatamente isso que me dava prazer. O fato de eu não ser o centro. O fato de ser só o corpo que recebia.

A cada gesto, eu sentia que perdia mais um pedaço daquilo que sempre considerei minha “masculinidade”. E, no lugar, nascia outra coisa. Uma coisa estranha, doce, vergonhosa, mas viciante. Eu estava sendo tratada como algo menor, mais frágil, e era como se uma parte escondida dentro de mim finalmente respirasse.

Ele falou pouco, mas quando falou, foi o suficiente. “Você é minha”, ele disse, e eu não tive coragem de contestar. Naquele momento, era verdade. Eu era dele. E talvez ainda seja.

Quando terminou, não houve carinho, não houve cuidado. Ele simplesmente se afastou, como quem guarda uma ferramenta depois de usá-la. E isso, por mais duro que pareça, me deixou ainda mais marcada. Porque eu entendi: ele não precisava fingir. Eu não estava ali para ser amado, admirado ou respeitado. Eu estava ali para ser usada.

E a parte mais difícil de admitir é que eu quero mais.

Eu saí de lá exausta, dolorida, suada, mas com uma sensação que não me larga: a de ter sido possuída de verdade. Não no sentido romântico, mas no sentido mais cru. Como se meu corpo tivesse sido escrito por ele, carimbado com a marca dele.

Hoje, ao me olhar no espelho, eu ainda vejo o mesmo homem de sempre. Mas, dentro, eu sei que algo mudou. Não é que eu queira ser mulher o tempo todo. Não é isso. Mas diante dele, eu sou. Diante dele, eu aceito ser só o que ele quiser.

E o mais assustador de confessar é que eu não sinto que perdi nada. Eu sinto que ganhei.


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Comentários


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engmen Comentou em 03/10/2025

Seus relatos são de uma abrangência, profundidade, que resvala tentadoramente as íntimas motivações de muitos. Excelente é pouco!




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Ficha do conto

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Nome do conto:
Não havia espaço para resistência

Codigo do conto:
243739

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
02/10/2025

Quant.de Votos:
1

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