Num dos meus périplos ciclísticos, passei por São Romão, uma aldeia quase deserta no vale do Sado, onde há mais gatos que gente. E foi precisamente por causa de um gato que conheci a Poliana.
Ouvi clamar “Fred!” e, ato contínuo, um gato amarelo riscado atravessou-se à minha frente. Por pouco não o atropelei. Olhei rapidamente e em frações de segundo percebi que a mulher que gritara merecia a minha atenção. Travei, voltei para trás e meti conversa a propósito do susto que fingi ter apanhado. A mulher, talvez na casa dos 30, era muito morena e o sotaque açucarado denunciava a origem brasileira. Uma linda crioula com um sorriso radiante e uma característica verdadeiramente invulgar: uma muleta axilar amparava-a no lado esquerdo e a saia curta revelava uma perna, vítima da poliomielite, que terminava num pezinho pequeno e descalço, balançando inerte de acordo com os movimentos do corpo. Após uma troca rápida de palavras, segui o meu caminho, mas… aquela morena não me saiu mais da cabeça.
É claro que voltei a São Romão mas, para grande desespero meu, não avistei a bela morena que me tinha cativado. Contudo, a minha persistência foi recompensada: noutra passagem pela mesma rua lá estava ela, sentada numa cadeira a preparar qualquer coisa para o almoço, talvez, a muleta encostada à parede, o pezinho paralisado descalço e pendurado e o outro com uma havaiana. Parei, cumprimentei-a e perguntei pelo Fred. O sorriso demonstrava que percebia que eu estava a fazer conversa fiada, mas respondeu que o gato devia andar por ali. O bicho foi novamente um bom quebra-gelo porque incentivou o diálogo enquanto ela continuava a manejar a faca. Tentei a minha sorte e perguntei onde poderia encontrar água já que tinha o bidon vazio. Surpreendentemente, ela levantou-se, colocou a muleta debaixo do braço, a tigela na outra mão e convidou-me a entrar. Não me fiz rogado, encostei a bicicleta à parede e segui-a. Ela andava com a desenvoltura de quem tinha a prática de décadas e aquela perna sem vida, balançando a cada passo, deixou-me a libido aos pulos. Se ela se apercebeu do volume debaixo do maillot de ciclismo, não o demonstrou, apontou a torneira e perguntou-me se aceitava um café. É claro que aceitei! Sentámo-nos na mesa da cozinha a beber o café e a conversa prolongou-se.
Fiquei a saber que os pais lhe deram o nome de Poliana sem imaginarem que daí a pouco tempo a poliomielite haveria de a marcar para sempre. Riu-se enquanto relatava essa coincidência não muito feliz, que disse não a afetar muito porque sempre se conheceu assim. E foi completando a história da sua vida até ao dia em que o companheiro, que a tinha convencido a emigrar para melhorarem a vida, saiu para um trabalho no Algarve e nunca mais voltou. Quem a amparou foram os poucos habitantes da aldeia que a acolheram como uma igual. Ganha a vida sendo cuidadora de um casal de velhotes, uma vida simples, mas feliz segundo disse, tanto que nem pensa em regressar ao outro lado do Atlântico. Uma chávena atrás da outra, também partilhei um pouco da minha história e perdemos a noção do tempo. Despedi-me, agradecendo o café e a conversa interessante e ganhei coragem para lhe perguntar se poderia voltar a visitá-la quando passasse por ali, o que a fez rir num misto de contentamento e acanhamento. Mas a resposta foi positiva.
No domingo seguinte, voltei “ao local do crime” e, pareceu-me, Poliana esperava-me sentada na mesma cadeira, com a perna funcional distendida sobre a muleta apoiada no assento e a perna paralisada sobre a primeira. A havaiana abandonada onde o pé a tinha deixado. O contraste entre as pernas era evidente, uma roliça e firme com um pé perfeito, a outra bem mais curta e magra com um pezinho que parecia feito à escala, mais pequeno mas igualmente perfeito o que não é vulgar nos casos de poliomielite.
Mal a cumprimentei com um “bom dia, Poliana”, ela calçou o chinelo e enquanto se levantava disse que o café estava quente. Era um convite para entrar. Pediu-me para a tratar por Poli, como toda a gente fazia, diminutivo que certamente tinha relação com a sua condição. Apontou-me o sofá e disse brincando que aquele café seria tomado com requinte.
Sentámo-nos a saborear a bebida e a conversa começou com trivialidades, mas foi-se tornando mais profunda e mais pessoal. A doença tinha-a atacado por volta dos dois anos e ela não tinha memória de si de outra forma, pelo que sempre assumiu a deficiência que é muito visual, contudo reconhece desconforto com olhares indiscretos e insistentes nos ambientes menos habituais. Eu aproveitei a deixa para dizer que é uma mulher muito bonita e não tem que se sentir diminuída por nada. Não fosse ser muito morena e teria corado porque a notei meio desconcertada com o piropo.
Dei por mim a pensar que apreciava a companhia dela e não me apetecia que a manhã acabasse… e que esse sentimento era recíproco! Trocámos os números de telemóvel (ou celular como ela diz), depois despedi-me com um beijo formal e fiquei atónito quando a Poli me perguntou se viria no domingo seguinte!
Não esperei pelo domingo, na terça-feira liguei-lhe e perguntei a que horas estaria livre no dia seguinte para a levar a jantar fora. Não aceitei uma recusa e à hora marcada lá estava eu. Poli tinha caprichado na apresentação, maquiada e com uma roupa informal, mas cuidada que incluía uns jeans com umas dobras suplementares na pernoca marota e um par de ténis Converse. Jantámos sem pressa e no regresso o rosto da Poli demonstrava como ela estava feliz. Quando parei à sua porta perguntou, meio receosa, se eu podia ficar. Era o que queria ouvir.
Quando a porta se fechou abracei-a, levantei-a, a muleta caiu com estrondo no chão e as nossas línguas enredaram-se durante longos minutos. Levava-a ao colo, ela com a perna normal a envolver-me e a outra balançando livremente. Poli encaminhou-me para o quarto, sentou-se na borda da cama e estávamos com tanta sede para ir ao pote que rapidamente ficámos como viemos ao mundo. A Poli deitou-se, com uma mão puxou a perna inanimada para cima da cama e foi por aí que comecei outro périplo, desta vez sensorial. Levantei-a e comecei a beijar a sola do pé e a chupar-lhe os dedos, depois fui percorrendo a canela e a coxa e senti uns leves estertores o que significava que a Poli não controla os movimentos mas tem sensibilidade, como aliás me confirmou mais tarde. Intencionalmente, não me detive na vulva e fui subindo até encontrar uns seios roliços, volumosos mas firmes, adornados com mamilos muito escuros, grandes e rijos. Beijei-os, chupei-os, lambi-os, trinquei-os carinhosamente e, ao mesmo tempo, fui estimulando o clítoris com os dedos deixando-o muito húmido e com uma enorme ereção. Poli arfava e com o pé funcional também me estimulava o pénis, o que me deixa sempre em êxtase. A Poli puxou-me para cima, pegou-me no pénis e aconchegou a cabeça entre os seus lábios quentes e húmidos. Depois com os braços e a perna pressionou o meu corpo para que a penetrasse. Não tive coragem (nem vontade) para procurar o preservativo e aceitei o risco sem pensar muito. Comecei lentamente e o ritmo foi naturalmente aumentando até que, quase em simultâneo, atingimos o orgasmo.
Estávamos frente a frente abraçados, a olharmo-nos sorrindo, calados, mas a fruir o amor que tínhamos feito. Algum tempo depois a Poli disse baixinho que estava saudável e a tomar o contracetivo, adivinhando a minha inquietação antes do coito. Puxei-a ainda mais para mim, ela pegou na perna adormecida e colocou-a sobre a minha. E apagámos. A última coisa que me lembro de pensar nesse momento é que se o mundo acabasse ali eu morreria feliz.
Sensacional.