Pernambuco, 1990.
Dayse trabalhava como doméstica para uma família da classe média em Recife. Ela chegava sempre às seis e meia, quando a casa ainda dormia sob o sol que nascia e guardava dezenas de objetos caros e supérfluos. Sua patroa, uma mulher soberba e com agendas sempre cheias, deixava sobre a pia uma lista com os afazeres do dia. Sempre lia ao chegar, dobrava o papel e guardava no bolso do avental. Só depois tirava os sapatos, calçava os chinelos de pano que trouxera de casa e começava o dia.
Ela já tinha quase quarenta anos, a pele cor de canela queimada, os seios pequenos – mas ainda tão pontudos que marcavam o tecido fino da blusa como duas pequenas lanças teimosas. Usava sempre saias longas e floridas – herança de uma avó baiana que dizia que mulher sem pano rodado não tem alma; isso lhe rendeu o apelido “Cigana” entre os mais próximos. O tecido era leve, quase transparente ao sol, e ao menor movimento colava-se aos glúteos redondos e às coxas fortes, revelando uma formosura que resistia ao tempo e à falta de cuidado próprio. Por baixo, só a calcinha branca, sempre branca.
Dayse era uma mulher madura que ainda chamava a atenção dos homens, mas sua rotina exaustiva de trabalho a impedia de pensar no próprio prazer. Ela já não tinha mais seu marido ou nenhum outro caso a quem pudesse entregar seu corpo cansado, porém ainda cheio de libido. Já fazia quase três meses desde a última vez que fez sexo. Esta última, fora com o professor de educação física da escola municipal onde a filha dela estudava.
O tal professor era casado, tinha quarenta e dois anos e o corpo de quem ainda jogava futebol regularmente. Chamou Dayse para “conversar sobre o rendimento da filha”. Ela foi e acabaram na casa dele, numa tarde em que a esposa havia saído com as crianças. Ele a deitou de costas em sua cama, beijou-lhe o pescoço com pressa pois cada segundo era valioso. As mãos grandes puxaram a blusa de Dayse e desceram seu sutiã, a boca larga chupou os seios dela até os mamilos doerem de tão duros. Enfiou o pênis nela sem camisinha, gemendo baixo, dizendo que aquilo era loucura e que nunca fizera antes.
Dayse, por sua vez, cravou as unhas nas costas dele, abriu mais as pernas e pediu que fosse mais fundo. Seu tesão acumulado era tanto que gozou antes dele, mordeu o travesseiro da esposa dele para abafar seus gritos e gemidos de êxtase. Quando ele gozou, apenas se deixou cair em sobre ela, tremendo, e assim ficou por alguns segundos, até rolar para o lado, ofegante.
— Minha mulher chega às seis – disse o professor, já se levantando.
Dayse se vestiu às pressas, ajeitou o cabelo, saiu com o gosto dele ainda na boca e a certeza de que nunca mais repetiria aquilo. Não valia a pena correr tanto risco por uma trepada. Porém, desde então, seu corpo reclamava por mais. Mesmo em situações aleatórias de sua rotina, lá estava seus instintos mais primitivos e o corpo seguia suplicando.
* * *
Certo dia quando chegou na casa, a patroa tinha estreado a máquina nova. Era pequena, porém brutal. Dayse desceu com o cesto de roupas íntimas da família. Abriu a tampa redonda, jogou sutiãs de renda, cuecas de algodão e meias de seda. Programou “Delicado 30°”.
A máquina encheu de água, começou a girar devagar. Dayse encostou o quadril na quina da máquina só para dar uns dois pegas no baseado – sempre comprava com os marginalizados do bairro. Ela deu um trago e se inclinou um pouco mais, para dispensar a fumaça pelo basculante. Sentiu um toque leve, quase nada, mas a vibração subiu pelas coxas como uma força invisível e quente. Ela arrepiou. Sentiu levemente o clitóris inchar e latejar contra o tecido da calcinha.
A máquina aumentou a velocidade, entrou no enxágue. A vibração virou um rugido abafado. Dayse apertou mais o quadril, só um pouquinho, só para confirmar. Um gemido baixinho escapou. Ela se afastou abruptamente, assustada com a própria reação. Olhou em volta: ninguém. Subiu a escada com as pernas trêmulas e uma leve impressão de que aquilo havia sido estranhamente divertido.
No dia seguinte, às três e quarenta e sete da tarde, desceu novamente com o cesto de roupas. Dessa vez, as roupas claras.
A casa estava um pandemônio. Três crianças, dois cachorros, o avô tomando café na varanda, o patrão andando de um lado para o outro com o telefone no ouvido. Dayse circulava entre eles como um peixe num aquário pequeno, sentia-se quase invisível. Para piorar, se o dia anterior fora estressante, aquele estava ainda mais.
A lavanderia era sua fuga, pois lá, abria o basculante, fumava sua erva sem ninguém notar e, agora, tinha a máquina que a esperava, brilhando como um altar. Ela abriu, jogou as camisas, o sabão, o amaciante de lavanda. Fechou. Apertou “Algodão 60°”. A máquina processou por um segundo, acendeu as luzes internas e começou a trabalhar.
Dayse já ia no terceiro trago, eis que um calor veio imediatamente, entre as coxas, como se alguém tivesse acendido uma chama ali dentro. Seu corpo reclamando o prazer outra vez. Ela olhou para o corredor. Silêncio. Em cima, as crianças gritavam por causa de algum desenho.
— Só mais uma vez, só mais um pouco daquilo... – ela falou pra si mesma, baixinho.
Em seguida, respirou fundo e encostou a testa da boceta no metal frio. O tecido da saia era fino, o da calcinha era tanto quanto. A vibração começou suave, quase um carinho. Depois cresceu. Como um trovão que subia pelas pernas procurando o seu sexo.
Sentindo aquilo, Dayse não pôde mais resistir. Ergueu a saia, desceu a calcinha branca até pegá-la pelos pés e abriu as pernas. Estava molhada. Encaixou-se na máquina, encostando os lábios da boceta na quina, exatamente onde a vibração era mais forte. Deixou escapar um gemido baixo e apertou os olhos, tornou-se uma só com aquele eletrodoméstico vibrante.
Enquanto isso, lá em cima, o mundo seguia seu curso.
O saco de pipoca girava no micro-ondas. Faltavam dois minutos e cinquenta segundos. As crianças disputavam quem ia apertar o “stop” quando apitasse. O cachorro menor latia para o próprio reflexo no vidro. O avô pedia água. A empregada temporária derrubou uma colher e xingou baixinho.
Na lavanderia, Dayse já não ouvia nada disso. Nem se quisesse.
A máquina entrou no ciclo de enxágue. A vibração era brutal, ritmada e implacável. Dayse pressionava o clitóris contra o metal quente, os quadris indo e voltando em um rebolado sensualmente cadenciado. A saia subira até a cintura, as nádegas expostas, balançando em um ritmo hipnótico. Os seios tinham escapado da blusa fina, ela roçava as pontas dos dedos nos mamilos duros, intercalando com beliscões.
Na cozinha, faltava um minuto e dezenove segundos para a pipoca estourar. Na lavanderia, Dayse mordia o braço para não gritar.
Uma das crianças desceu correndo, gritando que queria ver se a roupa da boneca já tinha secado. Dayse ouviu os passos, mas não parou. O prazer havia sido potencializado pelo efeito da maconha, era como uma onda que ameaçava engolir tudo. Ela abriu ainda mais as pernas, apoiou as mãos na máquina e jogou a cabeça para baixo, pressionando o queixo contra o pescoço. O coque quase se desfez, os cachos pretos estavam úmidos de suor.
“00:44” no micro-ondas.
O cachorro maior latiu para o carteiro que chegava. O patrão gritou pelo jornal. A patroa, em uma chamada de vídeo, pediu silêncio do seu escritório particular. Uma das crianças derrubou um copo de refrigerante. O alarme do portão eletrônico tocou três vezes. A casa estava um caos e ninguém, ninguém mesmo, imaginava o Dayse fazia na lavanderia.
O orgasmo se aproximava como um trem sem freio. As coxas de Dayse tremiam, os músculos da barriga se contraíam em espasmos. Ela deslizou uma mão entre as pernas, abriu os lábios inchados da boceta, expôs o clitóris diretamente na vibração. Prendeu um grito. Os olhos reviraram.
“00:09” no micro-ondas.
A máquina entrou na centrifugação final. Mil e seiscentas rotações. Um rugido que parecia o fim do mundo. Dayse entrou em júbilo. Gozou com força e com alívio, faminta daquilo. Seu mel escorreu pelas coxas e pingou no chão, misturando-se às gotas de amaciante. Ela tremia inteira, as pernas cedendo, o corpo desabando contra a máquina que ainda girava e vibrava abaixo dela.
No exato segundo em que o micro-ondas apitou três bips longos, Dayse soltou o último gemido, abafado, mordendo a própria calcinha. A pipoca estava pronta. As crianças gritaram de alegria. Passos para a cozinha. Ninguém desceu.
Dayse ficou ali, ofegante, a calcinha entre os dentes. Até que a máquina desacelerou e parou. “00:00” em verde. Agora o único som na lavanderia era o da respiração pesada de dela. Tentou se recompor, ajeitou a saia e limpou o chão às pressas. No desespero, limpou as pernas com a sua calcinha. Quando finalmente abriu a máquina, o cheiro de lavanda invadiu o ambiente. Pegou as roupas úmidas e subiu a escada como se nada tivesse acontecido.
Na cozinha, as crianças devoravam a pipoca.
— Dayse, a roupa branca já está no varal? – a patroa perguntou, sem tirar os olhos do laptop.
— Já, senhora. Acabei de estender.
Ela sorriu, aquele sorriso pequeno e secreto. No bolso do avental, a calcinha branca estava úmida, ainda quente e com o cheiro denso de sexo. Guardou o segredo ali, junto com a lista de afazeres do dia.
Nos dias que se seguiram, sempre que a casa mergulhava no seu caos habitual – crianças gritando, cachorros latindo, micro-ondas apitando, telefone tocando –, Dayse descia à lavanderia com qualquer pretexto para aliviar o estresse da rotina. Algumas toalhas esquecidas, meias perdidas, uma leva de camisas que precisavam de novo enxágue.
Aquela máquina jamais fora tão usada por alguém quanto por Dayse. Ela programava o ciclo mais longo, encostava o corpo na máquina, fechava os olhos e deixava que o trovão mecânico a atingisse.
Dayse gozava em silêncio, enquanto lá em cima o mundo seguia sem notar que, no subsolo daquela casa de classe média, uma mulher simples e invisível descobrira o seu pequeno paraíso particular.
Ninguém nunca desconfiou da sua diversão alternativa.
*** FIM!!! ***
![Foto 1 do Conto erotico: Diversão Alternativa [Conto 1 - Electrodoméstica]](/imgcto/d247/ph1cto247659.jpg)
![Foto 2 do Conto erotico: Diversão Alternativa [Conto 1 - Electrodoméstica]](/imgcto/d247/ph2cto247659.jpg)
![Foto 3 do Conto erotico: Diversão Alternativa [Conto 1 - Electrodoméstica]](/imgcto/d247/ph3cto247659.jpg)
![Foto 4 do Conto erotico: Diversão Alternativa [Conto 1 - Electrodoméstica]](/imgcto/d247/ph4cto247659.jpg)
Caramba... bem gostoso de ler uma narrativa assim. Vc conseguiu inserir um erotismo latente em uma situação incomum. Excitante!!!!