No fio da lâmina (por Miss Rose)



Eu era uma mulher estável. Marcos dizia que isso era uma das coisas que mais admirava em mim. Controlada, previsível, confiável. Palavras que soam como elogio… até se tornarem grades.

Aos quarenta, eu era esposa, mãe, arquiteta — nessa ordem, nessa disciplina. Marcos era o parceiro ideal: gentil, presente, mas mergulhado num mundo de planilhas e previsões. Vivia pela segurança. Eu fingia que aquilo bastava. Até conhecer Carlos.

Ele era alguns anos mais novo. Recém-contratado no escritório. Olhos escuros demais, curiosos demais. Era bom ouvinte — o que, para uma mulher invisível em casa, era quase afrodisíaco. No começo, era só conversa no café. Depois, os almoços esticaram, os toques se alongaram. E, lentamente, sem pressa, ele foi me enxergando. Não como arquiteta, nem como mãe. Mas como mulher.

Foi numa viagem para Salvador, para apresentar um projeto da empresa. Dois dias apenas. Dividimos táxi, mesa, e risadas. No jantar do primeiro dia, ele disse, meio rindo:

— Você é perigosa. Sorri como quem guarda segredos.

Na hora, desarmei. Mas quando ele me acompanhou até o quarto e ficou parado diante da porta, esperando que eu dissesse “boa noite”... eu disse. E fechei a porta. Por fora.

Na cama, sozinha, tremi. Não de medo. De excitação. A calcinha molhada. Pensamentos proibidos.

Na noite seguinte, não fechei a porta. Ele entendeu. Me tomou com força, intensidade, por um momento pensei em Marcos, se aquilo era certo. Pensei em parar, mas antes que o pensamento viesse a tomar forma veio o primeiro orgasmo. Eu gritei. Abracei Carlos com as pernas e cravei as unhas nas costas dele. Não pensei em mais nada.

--- Não para! Não para! --- Gritava em êxtase.

Mas Carlos não era apenas sexo. Era redescoberta. Era um espelho que me mostrava viva, desejável. Era errado, mas me fazia bem. Voltamos da viagem com um pacto silencioso: aquilo existiria entre a gente, mas só quando o mundo permitisse.

Em casa, Marcos notou as mudanças. No começo, foram pequenos detalhes. Minhas roupas íntimas novas, as unhas vermelhas que eu não pintava há anos, meu olhar distante ao lavar a louça. Ele não disse nada. Mas observava.

Foi então que eu comecei o jogo. Deliberado.

Deixei o perfume que usava com Carlos no lenço do carro. Deixei meu celular desbloqueado, com uma mensagem enigmática de “C.”. Comecei a usar batons mais ousados, lingeries novas que não mostrava a ele — mas deixava à vista, depois de usar com Carlos, como por acidente.

Marcos demorou a reagir. Mas reagiu.

Começou a me olhar de novo. Com desejo, com dúvida, com ciúmes. E algo mais: com tesão. Era como se a ideia de me perder reacendesse nele uma versão antiga de si mesmo. Começou a me tocar com urgência, a me fitar com intensidade. Começou a fazer perguntas indiretas, sondagens disfarçadas de carinho. E eu respondia com meias verdades — suficientes para acender, mas não para revelar.

— Você anda diferente — ele disse uma noite. — Tem algo em você… mais viva.

— Engraçado — sorri. — Acho que você também.

Nessa noite, fizemos amor como não fazíamos há anos. Mas eu pensava em Carlos. E, estranhamente, isso tornava tudo mais quente. Como se Marcos soubesse, no fundo, e aceitasse o jogo. Como se a cada estocada dissesse: “Ainda é minha”. E cada gemido meu dissesse: “Será?”

Carlos sabia que eu era casada. Nunca pediu mais do que eu dava. Mas os encontros se tornaram mais frequentes. Mais intensos. E eu estava cada vez mais viciada. Nele. Na adrenalina. No olhar de Marcos se tornando um espelho lascado, onde ele via sua mulher escapando por entre os dedos — e ao mesmo tempo querendo agarrá-la mais forte.

Até que, numa noite em que eu voltava de um encontro com Carlos, Marcos estava me esperando na sala. Não disse uma palavra. Só olhou.

E eu parei diante dele. Cúmplice. Calada. Desejando que ele entendesse.

Ele se levantou. Me cheirou como um animal farejando o cio.

E me beijou. Com fúria. Com posse.

Naquela noite, não fizemos amor. Fodemos de forma animalesca, como dois animais em guerra.

E no meio do combate, percebi: não era mais apenas eu quem jogava. Ele também começava a gostar da dor, do ciúme, da dúvida. Começava a se excitar com a ideia de uma mulher que não era só dele — mas que sempre voltava para ele.

E isso nos viciou.

O triângulo deixava de ser segredo para se tornar corda esticada entre tensão e desejo. E no fundo, sabíamos: nunca mais seríamos os mesmos.

Nem queríamos ser.

Era como andar na beira de um abismo, sentindo o vento no rosto e o coração latejando nos ouvidos. Eu sabia que Marcos tinha plena certeza. E ele sabia que eu sabia.

O silêncio entre nós era denso, cortante como seda molhada. Havia noites em que ele me possuía como se quisesse apagar outro homem do meu corpo. E eu deixava. Porque ele não conseguia. Porque parte de mim ainda queimava por Carlos.

Então, decidi cortar o véu por completo.

Naquela noite, pus um vestido curto, vermelho. Batom cor vinho. Perfume doce, indecente. Fiquei esperando Carlos em um café que sempre nos encontramos antes de sair. Carlos apareceu como sempre, mas não fomos para um motel ou para o apartamento dele. Dei o endereço da minha casa.

— Você tem certeza? — ele perguntou, no carro, enquanto dirigia com a mão firme.

— Total.

Ele hesitou. Mas no fundo, eu via no brilho dos olhos dele: a mesma fome de transgressão que pulsava em mim.

Marcos estava em casa. Já sabia. Eu mandei uma mensagem horas antes: “Chegaremos às nove. Prepare vinho.”

Chegamos às nove em ponto.

Carlos entrou em silêncio. Meu marido estava na sala, terno aberto, taça de vinho na mão, como se tudo fosse parte de uma encenação elegante e absurda.

— Carlos, esse é meu marido, Marcos. — disse com a voz baixa, segura. — Marcos, esse é Carlos... meu amante.

Carlos travou.

Marcos sorriu. Lento. Um sorriso de predador.

— Eu sei — respondeu. E brindou com a taça. — Bem-vindo.

O ar na sala tremia de tensão. Mas nenhum dos dois recuou.

Eu me aproximei de Carlos e o beijei, sem pressa, de frente para Marcos. Queria que ele visse. Queria que ele sentisse. Meus olhos nos olhos do meu marido enquanto outra língua dançava na minha boca.

Marcos se levantou e veio até nós. Ficou atrás de mim. Sua mão tocou minha nuca, puxando meus cabelos levemente para trás.

— Você quer que eu veja, Priscila? — sussurrou em meu ouvido. — É isso que te excita?

— Quero mais que isso — respondi, arfando.

Carlos passou a mão pela lateral do meu vestido, descendo pela coxa até puxar a barra. Eu não usava calcinha. Marcos percebeu e soltou um riso rouco. Suas mãos deslizaram pela minha cintura.
Colocou os dados dentro de mim. Carlos também. Ambos disputavam espaço na minha buceta com os dedos. Nenhum recuava. Minha respiração só ficava mais ofegante.

A cena se deslocou para o sofá. Eu me deitei ali, entre os dois. Carlos me beijava os seios, faminto, enquanto Marcos, ao meu lado, observava com olhos escurecidos, os dedos enlaçados nos meus, apertando a cada gemido.

Carlos me penetrou ali mesmo, dessa vez sem camisinha, no sofá da minha sala. Todas as convenções já tinham caído, nada mais importava. Marcos segurava minha outra mão, seus lábios roçando minha orelha, dizendo coisas que nunca havia dito:

— Isso... deixa você viva assim? Ter dois homens te querendo? Ter um te fodendo enquanto o outro observa?

Eu gemia por dentro e por fora. A imagem de Marcos ali, excitado, sem controle, era quase mais intensa do que Carlos dentro de mim.

Até que, num impulso, puxei o marido para mais perto. Minhas mãos o libertaram do cinto. E ali estávamos, três corpos, três vontades, três chamas que se encontravam no mesmo ponto de combustão.

O que começou como traição virou ritual.

Carlos, mais ousado, alternava os ritmos. Marcos, agora parte da dança, me tomava por trás enquanto Carlos me beijava. Gemidos se misturavam, mãos se confundiam, o suor criava uma nova química entre nós.

Eu era o centro. A fêmea desejada. O caos e o sagrado.

E quando o clímax veio — múltiplo, selvagem, insano — chorei. Não de dor. Nem de culpa. Mas de plenitude.

Depois, ainda deitada, toda lambuzada de porra entre eles, os corpos entrelaçados, os corações batendo como tambores de guerra, eu sussurrei:

— Acho que o jogo mudou.

Marcos me olhou. Carlos sorriu.

— Não é mais jogo — disse meu marido, acariciando meu rosto. — Agora é escolha.

E naquela noite, pela primeira vez, eu escolhi todos os lados.

Carlos permaneceu na nossa vida por mais algumas semanas.

Nunca pedimos que ele ficasse. Também nunca dissemos que deveria partir. Ele apenas... ficou. Como se todos soubéssemos que aquilo tinha um prazo, mas ainda queríamos nos embriagar da experiência até a última gota.

Os encontros continuaram. Às vezes à noite. Às vezes no fim de semana. Em um sábado cinzento, viajamos juntos para um chalé isolado, onde o mundo parecia ter sumido. Três corpos numa lareira acesa, vinho, peles expostas. E um calor que vinha de dentro, mais do que do fogo.

Ali, Carlos e Marcos se beijaram pela primeira vez. Nenhum de nós esperava. Mas quando aconteceu, não foi estranho. Não foi sobre orientação ou rótulos. Foi sobre desejo. Sobre laço. Sobre entrega.

Eu assisti. E me envolvi. Aquilo não era mais traição. Era comunhão.

Mas sabíamos.

Carlos era como o cometa que cruza o céu da noite e depois desaparece — não porque não nos ama, mas porque pertence ao movimento. Ele nos pertenceu por um tempo. E nos transformou para sempre.

Na manhã de sua partida, ele acordou mais cedo, deixou café pronto, me beijou intensamente. Depois olhou para Marcos com respeito e um sorriso.

— Cuide dela.

Marcos assentiu. Estavam ligados por algo mais do que ciúme ou rivalidade: havia um pacto não verbal, uma irmandade selada em pele e prazer.

Nos meses seguintes, nosso casamento floresceu de uma maneira nova. Marcos já não era o homem inseguro e tenso. Eu já não era a mulher dividida. Estávamos completos — não porque precisávamos de um terceiro, mas porque havíamos nos despido das máscaras.

Nossas noites se tornaram menos sobre posse e mais sobre presença. Às vezes, falávamos de Carlos — com saudade, mas sem dor. Ele era agora um capítulo quente e eterno de nossa história.

Começamos a explorar o mundo dos relacionamentos abertos com maturidade. Um casal que não mente. Que deseja junto. Que compartilha fantasias e às vezes as vive.

Eu me tornei livre. E Marcos se tornou cúmplice.

Nosso casamento nunca mais foi o mesmo. Graças a isso, ele sobreviveu.

Hoje, quando me olho no espelho, vejo uma mulher de 40 e poucos anos com olhos famintos e alma leve. E quando vejo Marcos, vejo um homem que aprendeu que amar também é deixar espaço para o fogo dançar — mesmo que às vezes queime um pouco.

A gente dança melhor agora. No fio da lâmina.

E seguimos.

Foto 1 do Conto erotico: No fio da lâmina (por Miss Rose)


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Comentários


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morenotzaum Comentou em 09/05/2025

Adorei seu conto, muito excitante

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loirinha-safadinha Comentou em 09/05/2025

Delícia de conto. Muito tesão!




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Ficha do conto

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Nome do conto:
No fio da lâmina (por Miss Rose)

Codigo do conto:
235233

Categoria:
Traição/Corno

Data da Publicação:
09/05/2025

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