“O Entregador”



“O Entregador”

Era fim de manhã quando Rosa percebeu que o gás tinha acabado bem na hora do almoço.

— Justo agora… — resmungou, olhando o relógio. Eliezer, o marido, já estava no trabalho, e ela sozinha em casa, de avental e cabelo preso, com o cheiro de alho frito no ar. sorte que o Eliezer havia deixado o cartão de crédito na bancada.

Ligou para o depósito.
— Pode mandar um botijão pra rua das Palmeiras, número 42? — pediu.
Do outro lado, a voz masculina respondeu firme:
— Chega aí em dez minutinhos, moça.

E chegou.

O barulho do caminhão, o som metálico dos botijões batendo uns nos outros. Rosa espiou pela janela e viu o entregador descer. Era novo, Não muito bonito de aparencia. tinha um corpo bem definido e braços fortes, estava de camiseta azul, tipica de empresa de gás.
Quando ele bateu no portão, ela sentiu um pequeno aperto no estômago — coisa boba, mas sentiu.

— Boa tarde, dona Rosa — disse ele, lendo o nome no papel do pedido. — Onde é pra deixar?
— Pode entrar, é na cozinha — respondeu, tentando parecer natural.
_Voce pode trocar-lo pra mim? Por favor?

Enquanto ele trocava o botijão, Rosa ficou ali, apoiada na pia, observava aquele moço. Os músculos dele se moviam sob a camiseta quando girava a chave inglesa.
— Tá quente hoje, né? — ela comentou, pra quebrar o silêncio.
— Tá sim… — respondeu, sem olhar pra ela, mas com um meio sorriso. — Pior que aqui dentro tá mais quente ainda.

A resposta veio seca, mas tinha peso. Rosa desviou o olhar, fingindo arrumar algo na bancada. O coração bateu um pouco mais rápido.

Ele terminou o serviço e se virou, limpando o suor da testa com o antebraço.
— Pronto. Pode testar o fogão agora.

Ela se aproximou, riscou o fósforo. A chama subiu.
Por um instante, os dois ficaram próximos demais — Um leve cheiro do gás ficou meio suspenso, mas logo se dissipou.
— Funciona bem — ela disse, baixinho.
—Que bom que funciona bem, rs — respondeu ele, olhando direto pra ela.

O tempo parou. Um segundo. Dois.
Rosa sentiu o rosto quente, e deu um passo pra trás, nervosa.
— Quanto ficou mesmo? — perguntou, tentando mudar o assunto e meio desconcertada.
— Deixa quieto, depois acerta.

E saiu, sem pressa, com aquele sorriso de canto.

Rosa fechou a porta, apoiou-se nela e respirou fundo.
O fogão estava aceso, mas parecia que era o ar inteiro da cozinha que tinha pegado fogo.

Rosa passou o resto daquele dia distraída. Lavava a louça, mas pensava no olhar do entregador. Dormiu mal, Ezequias percebeu e perguntou se ela estava bem, disse que sim e que só estava com um pouco de enchaqueca.
Na manhã seguinte, o som do caminhão de gás ecoou ao longe e o coração dela bateu rápido — como se o destino tivesse voltado a buzinar na rua.

Ela olhou pro fogão, depois pro botijão novinho. Nada tinha de errado.
Mas pegou o celular e ligou mesmo assim.
— Oi, aqui é da rua das Palmeiras, lembra? Acho que o gás tá com um cheiro estranho… pode mandar alguém pra conferir? — disse, tentando soar casual.

Dez minutos depois, o mesmo barulho de caminhão. O mesmo uniforme azul.
Rosa passou um batom leve — “só pra não parecer descuidada”, pensou. Prendeu o cabelo diferente, trocou de roupa, uma mais leve, dessas de ficar à vontade em casa. O espelho devolveu um reflexo que ela fingiu não analisar demais.

Quando ele apareceu no portão, ela já estava com o portão entreaberto.
— Oi, dona Rosa. Problema de novo com o gás? — perguntou, sorrindo.
— É… parece que tá vazando um pouco. Melhor dar uma olhada, né?

Ele entrou, abaixou-se perto do botijão, mexendo com calma.
O silêncio era cheio de coisa não dita. Só o barulho do metal e o som da respiração dos dois.

— Tá tudo certo aqui… — disse ele, levantando-se devagar. — Nenhum vazamento.
— Jura? Que estranho… — respondeu ela, fingindo surpresa, mas sem conseguir esconder o sorriso leve.

Os olhares se encontraram por um instante — um daqueles que dura mais do que devia.
Ele ajeitou o boné, coçou a nuca, meio sem saber pra onde olhar.
— Qualquer coisa, pode me ligar direto, voce tem uma caneta aí? Posso passar pra conferir outra hora, caso voce precise.

Rosa o acompanhou até a porta.
— Pode deixar… acho que vou precisar mesmo, enquanto dobrava a anotação cuidadosamente.

Quando ele saiu, o cheiro de gás ainda pairava no ar — ou talvez fosse outra coisa que deixava o ambiente tão carregado.

Ela encostou na janela e viu o caminhão se afastando devagar.
No reflexo do vidro, o rosto dela ainda trazia o mesmo meio sorriso de quem não tem coragem de confessar a loucura que se passa na sua cabeça! ,,,,,,,, continua.......


Faca o seu login para poder votar neste conto.


Faca o seu login para poder recomendar esse conto para seus amigos.


Faca o seu login para adicionar esse conto como seu favorito.


Twitter Facebook



Atenção! Faca o seu login para poder comentar este conto.


Contos enviados pelo mesmo autor


246221 - O vizinho - Categoria: Cuckold - Votos: 2
246155 - A Rotina que Cansa - Categoria: Traição/Corno - Votos: 3

Ficha do conto

Foto Perfil zsilva
zsilva

Nome do conto:
“O Entregador”

Codigo do conto:
246214

Categoria:
Traição/Corno

Data da Publicação:
02/11/2025

Quant.de Votos:
1

Quant.de Fotos:
0