Por outro lado, a crítica acadêmica ao conceito de falo como ideologia revela o quanto o símbolo fálico se tornou um campo de disputas. Quando os psicanalistas tratam o “fálico” como categoria universal e a-histórica, ignoram o fato de que o poder simbólico do falo sempre esteve imerso em contextos culturais específicos, em tensões de gênero e relações de dominação. A palavra fálica não deve ser compreendida apenas como instrumento de gozo ou supremacia, mas também como sintoma de um desejo de controle, de fixação, de representação. A leitura de Freud, segundo essa crítica, carrega marcas do seu tempo, e ao absolutizar o falo como centro do desejo, pode obscurecer outras formas de erotismo, de sensibilidade e de encontro.
Ainda assim, há algo inegável no impacto do falo: ele é presença que se impõe, mas também linguagem que toca. O logos spermatikos, o verbo fecundante, como citado pelos estóicos e retomado por Monik, nos lembra que há uma fecundidade na fala que é tão erótica quanto a do corpo. A mulher — dizem os antigos e confirmam muitos modernos — se excita mais pelo que escuta do que pelo que vê. A palavra que toca é um falo simbólico: penetra, desperta, lubrifica a alma. Nesse sentido, há um erotismo da linguagem que prepara o terreno para o gozo físico. O falo fala — e é por isso que sua imagem silencia e ao mesmo tempo grita.
A estética também tem seu lugar nessa equação. O corpo, com seus pelos, dobras, texturas e volumes, também comunica. Os pelos pubianos, por exemplo, foram historicamente associados à maturidade sexual, ao perfume do sexo, ao convite ao gozo natural. A depilação excessiva, ao infantilizar o corpo, tira dele o seu mistério maduro. A fala trocada entre homem e mulher — como no diálogo citado — revela que há ainda um desejo por formas naturais, por corpos verdadeiros, por imagens que evoquem calor, não plástico. O que se quer, afinal, é a beleza que pulsa, não a superfície higienizada do desejo domesticado.
O poder, enfim, também dá tesão — e é por isso que tanto homens quanto mulheres o desejam. Mas o tesão, ao contrário do que muitos pensam, não é apenas momentâneo. Ele é sinal de algo que se acende quando há verdade, quando há intensidade e presença. O poder seduz porque mobiliza, ativa, desperta — ele é um falo simbólico, que ergue quem o possui e impacta quem o contempla. Por isso, entender o falo é também entender o que nos move, o que nos levanta, o que nos arrisca. E talvez seja essa a chave: o tesão não é apenas descarga — é direção. É o falo que aponta o caminho.