Mas havia uma fome silenciosa. Era estranho perceber que meu corpo sentia falta de algo que minha mente ainda resistia em aceitar. Não era apenas sobre sexo. Era sobre ser tocada, olhada, desejada. Era sobre saber que ainda havia algo em mim vivo, pulsando, implorando por ser descoberto.
Foi num fim de semana qualquer, entre uma faxina e um café preto, que eu decidi baixar o Tinder.
Sim. O Tinder.
A mesma mulher que acreditava que aplicativos de relacionamento eram armadilhas do Diabo, agora criava um perfil com quatro fotos sorrindo e uma descrição tímida:
“Nova na cidade. Quietinha, mas curiosa.”
A maioria das conversas eram descartáveis. Homens grosseiros, diretos demais, ou simplesmente sem graça. Mas um deles me prendeu.
Bruno. 38 anos. Engenheiro. Separado há dois anos. Começamos com um “boa noite”, depois compartilhamos músicas. Ele me mandou uma playlist no Spotify chamada “Prazer calmo”. Eu ouvi.
Durante uma semana trocamos mensagens como adolescentes: cheias de palavras soltas, emojis, e aquele suspense gostoso de quem ainda não sabe se deve ou não ceder.
Mas o corpo já tinha decidido antes da cabeça.
Naquela sexta, cheguei do trabalho mais cedo. O dia tinha sido corrido, mas eu sabia exatamente o que me esperava à noite. E por mais que eu dissesse a mim mesma que era só um encontro, uma conversa, talvez um beijo... o espelho me denunciava: eu estava nervosa. Ansiosa. E empolgada.
Tirei a roupa devagar, como se cada peça fosse uma preparação silenciosa para algo maior. Entrei no banheiro, sentei na borda da privada e respirei fundo. Peguei uma tesourinha de unhas que usava de vez em quando pra aparar os fios mais rebeldes. Fui com cuidado, cortando devagarzinho os pelos da minha vagina, deixando tudo bem baixinho.
Depois entrei no chuveiro. A água quente batendo no corpo ajudava a acalmar. Com o sabonete nas mãos, fiz bastante espuma e, com calma, comecei a raspar os pelos pubianos com a lâmina descartável. Era a primeira vez que eu fazia aquilo. Cada deslize da lâmina era um silêncio quebrado dentro de mim.
E quando terminei... olhei. Passei a mão, curiosa. Gostei do que vi. Gostei do que senti.
Não era só estética. Era liberdade. Controle. Uma mulher que escolhe como quer ser vista, tocada, desejada.
Me enrolei na toalha, fui até o quarto e abri a gaveta das lingeries. Escolhi um conjunto que eu havia comprado há alguns meses e nunca usado: sutiã de renda cor vinho, sem bojo, delicado, firme. A calcinha combinava — baixa, com a mesma renda e um recorte sutil que deixava o quadril mais acentuado. Por cima, uma blusa preta de tecido leve, decote em “V”. Nada vulgar, mas insinuante. E uma saia jeans que terminava acima dos joelhos. Curta o suficiente pra sugerir, mas longa o bastante pra não entregar. Perfume atrás da orelha. Batom discreto. Cabelo solto. Ajeitei os brincos e respirei fundo de novo. O coração já batia um pouco mais rápido.
Eu estava pronta. Pela primeira vez em anos, eu estava pronta pra mim.
Nos encontramos numa sexta-feira. Um bar tranquilo, pouca luz. Ele usava uma camisa social azul, barba feita, e um perfume amadeirado que pareceu entrar pela minha pele.
Conversamos por quase duas horas. Ele me ouviu de verdade. Eu me permiti falar. Quando ele colocou a mão sobre a minha no fim da conversa, meu corpo não recuou. Pela primeira vez em anos, eu quis ser tocada.
Ele me ofereceu carona pra casa. Eu aceitei. Ficamos em silêncio quase o caminho todo, mas era um silêncio elétrico.
Ele estacionou em frente ao meu prédio e desligou o carro. Por alguns segundos, ficamos em silêncio. Não era desconforto. Era expectativa.
— Você quer que eu suba? — ele perguntou, com a voz baixa, sem pressa, como quem respeita o tempo de uma mulher, mas também deixa claro o desejo.
Eu hesitei. Não por dúvida, mas por consciência do que aquilo significava. Então apenas assenti com a cabeça e abri a porta.
Subimos pelo elevador sem trocar uma palavra. Eu sentia o cheiro do perfume dele, sentia meu coração disparado, e o frio nas mãos. Ele parecia calmo. Mas eu notei: ele também estava nervoso.
Abri a porta do apartamento. Ele entrou atrás de mim. Fechei a porta. Tranquei. Quando me virei pra encará-lo, ele já estava mais perto.
— Você tá bem? — ele perguntou, olhando direto nos meus olhos.
— Tô — eu respondi, com um leve sorriso nervoso.
— Se quiser que eu vá embora, eu vou. Só me diz.
— Não quero que você vá embora.
E então ele se aproximou. Devagar. Me encostou na parede da sala. Uma das mãos na minha cintura. A outra subindo até o meu rosto. O primeiro beijo foi calmo. Úmido na medida. Lento, respeitoso, mas com uma intensidade que dizia: “Eu te quero, mas posso esperar você querer também.” Nossos corpos começaram a se colar. Meu quadril contra o dele. Eu senti o volume crescendo na calça dele. E o calor entre as minhas pernas pulsando como há muito tempo não fazia. Ele desceu os lábios pro meu pescoço. Minha pele arrepiou inteira.
— Quer ir pro quarto? — ele sussurrou.
— Quero.
Caminhamos de mãos dadas. Quando entramos no quarto, as luzes estavam apagadas. Apenas o abajur de luz quente iluminava o ambiente. Tirei meus sapatos. Ele tirou os dele. Nos olhamos. Sem palavras.
Ele tirou a camisa devagar, revelando um peito firme, mas não de academia — um corpo real, vivido. Se aproximou de mim e começou a desabotoar minha blusa, um botão de cada vez, como se estivesse desembrulhando um presente. Tirou minha blusa. Depois minha calça. Fiquei de lingerie na frente dele, e por um segundo, senti vergonha. Mas o olhar dele me desmontou. Não havia julgamento. Só desejo.
Ele me beijou de novo. Agora com mais intensidade. As mãos dele percorreram minha cintura, minhas costas, minhas nádegas. Tirou meu sutiã com delicadeza. Depois minha calcinha. Me deitou na cama com cuidado. Se despiu por completo.
O pênis dele era médio, grosso, bonito, e duro. E também não havia pelos, ele também tinha raspado as partes intimas dele para o encontro. Eu olhei. Ele percebeu. Sorriu.
Então, ele se inclinou para o lado e puxou a carteira que havia deixado sobre a cômoda. Tirou uma camisinha. Rasgou o envelope com os dentes, com um gesto rápido. Eu fiquei olhando. Era a primeira vez que eu via um homem colocando uma camisinha bem na minha frente. No casamento, isso nunca foi necessário. Nem conversado. Sexo era procriação, e ponto. Aquilo, pra mim, era novo. Não era só sobre segurança. Era sobre responsabilidade. Sobre liberdade. Sobre estar ali por vontade, desejo, escolha. Ele segurou o preservativo com calma, desenrolou até a base do pênis, com os olhos ainda nos meus. E eu me peguei admirando a cena, com o coração disparado. Era sexy. Era certo. Era seguro. Eu não sabia se o que me deixava mais excitada era o corpo dele... Ou o fato de que, mesmo com meu corpo implorando por sexo, minha cabeça ainda estava lúcida. Atenta. Firme.
Ele terminou de colocar a camisinha, deu uma leve ajeitada e perguntou:
— Tudo bem até aqui?
— Tudo ótimo — respondi, já sentindo o calor subir pelas minhas coxas.
Subiu em cima de mim. Se apoiou nos cotovelos. Ficou ali, me olhando nos olhos.
— Faz tempo? — ele perguntou.
— Anos — eu respondi.
— Eu vou com calma, tá?
E foi. Entrou devagar. Meu corpo estava quente, pronta. Mesmo assim, ele foi entrando aos poucos. E quando entrou por completo, eu fechei os olhos. Porque o prazer era mais do que físico. Era emocional. Era como se alguém tivesse me devolvendo algo que eu nem sabia que tinha perdido. Ele se moveu devagar. Beijava meu pescoço. Segurava minha mão. Me olhava com cuidado. Sussurrava no meu ouvido:
— Você é linda. Você é tão gostosa. Eu quero te ver gozar.
E eu fui me soltando. Comecei a gemer. A mexer meu quadril de encontro ao dele. A agarrar as costas dele com as unhas. Até que, pela primeira vez na vida… eu gozei. De verdade. Um orgasmo quente, úmido, prolongado. Senti meu corpo tremer e meu coração acelerar como se eu tivesse voltado à vida. Ele continuou até gozar também, gemendo meu nome baixo. Depois se deitou ao meu lado. Me puxou pra perto. Me abraçou.
Ficamos ali, nus, suados, respirando juntos. Pela primeira vez, depois de tantos anos, eu não sentia vergonha. Nem culpa. Nem medo. Senti que, enfim, eu era dona do meu corpo. E daquele prazer.