Chamo-me Tufão ( Tuga069 ). Tenho 53 anos, sou lisboeta de gema e Sportinguista ferrenho. Trabalho numa pequena empresa de prestação de serviços de segurança eletrónica em Lisboa, onde os dias se confundem com cafés fortes e deadlines apertados. Foi numa dessas segundas-feiras rotineiras que ela entrou na sala — Paula Cristina.
Vinha transferida de uma empresa no Porto. Advogada da casa, olhos verdes e uma voz que misturava autoridade com mistério. Não era só bonita. Era intensa. Como quem sabe o poder que tem, mas prefere usar a subtileza como arma.
Na primeira semana, trocámos apenas formalidades. Na segunda, já me apanhava a olhar para ela mais do que devia. Na terceira, ela sorriu de volta.
E foi numa sexta-feira, depois de um dia puxado, que tudo começou. O pessoal decidiu ir beber um copo ali perto do Barro Alto. Paula Cristina aceitou o convite, sentando-se ao meu lado no bar, como se já soubesse que aquele lugar era dela.
— Sabes, esperava Lisboa mais fria… — disse ela, brincando com o gelo no copo.
— E eu esperava o Norte mais distante. Mas tu trouxeste-o aqui ao lado.
Ela riu. E nesse riso havia qualquer coisa de perigoso. De promissor.
Saímos juntos dali. Sem planos. As ruas estavam molhadas da chuva que caiu mais cedo, refletindo as luzes da cidade num brilho húmido e quase cinematográfico. Caminhámos pela Baixa de Lisboa, entre silêncios cúmplices e toques de ombros que já não eram acidentais.
— És sempre assim tão calmo? — perguntou.
— Só quando estou a tentar não fazer asneiras — respondi, mais perto do que devia.
Ela parou. Olhou-me com aqueles olhos que pareciam saber tudo.
— E se eu quiser a asneira?
A resposta veio num beijo urgente, colado às paredes grafitadas de Lisboa, com o elétrico a passar atrás de nós como testemunha indiferente.
Acabámos em minha casa. Um T3 com vista para o Tejo, e uma bandeira do Sporting pendurada na parede da sala — que ela notou com um sorriso meio trocista.
— Ao menos tens bom gosto numas coisas — disse, já a despir a blusa devagar, sem pressas.
A noite foi feita de toque e descoberta. O meu corpo encontrava o dela com a mesma naturalidade com que reconhecemos o caminho de casa. Cada movimento parecia ensaiado por uma vontade antiga, silenciosa. Ela sabia o que fazia. E eu estava rendido.
De manhã, ela vestiu a camisa que lhe emprestei, preparou café como se já conhecesse os cantos da cozinha e beijou-me na testa antes de sair.
— Vejo-te segunda — disse. Mas os olhos dela diziam mais do que isso.
Desde então, Lisboa ficou diferente. A cidade é a mesma, mas as sombras que conheço parecem guardar o eco daquela noite. E toda vez que vejo o elétrico a descer a colina, lembro-me de que há encontros que mudam tudo — mesmo que comecem com um simples “boa tarde” numa sala de reuniões.