Ela olhou para os lados. Todo mundo suado, excitado, vibrando. As luzes do bloco piscavam como um aviso: essa noite é sua, Ravina.
— “Quer saber… foda-se o Fábio.”
Ela virou a dose de catuaba que a amiga ofereceu, lambeu os lábios, e passou a língua no dente com um sorriso afiado. A batida aumentava, o corpo dela reagia sozinho. Os três amigos começaram a cercá-la com olhares pesados, famintos, sem pudor.
Ela se virou de costas e começou a dançar. Devagar. Quadris soltos. Mãos descendo pelas próprias coxas. A saia levantava só o suficiente pra mostrar que ela estava sem nada por baixo.
Um deles chegou atrás, sem tocar, mas bem perto. Ravina sentiu o calor, o cheiro de suor com perfume caro. Ela rebolou mais ainda. Olhou por cima do ombro e disse, com a voz rouca de raiva e desejo:
— “Encosta. Mas só se souber brincar direito…”
Ele encostou. As mãos grandes desceram pela cintura dela com firmeza. O corpo dele colado no dela, o volume entre as pernas pressionando seu quadril.
— “Se você continuar assim, eu te pego aqui mesmo.”
Ela riu, virou de frente, segurou o rosto dele com uma mão e disse bem na boca:
— “Promete?”
A amiga dela já estava aos beijos com um dos outros caras encostada num poste. A rua fervia, o povo dançava, mas ali no meio da multidão, Ravina se vingava sem precisar dizer uma palavra.
Ela dançava entre os três, revezando os olhares, roçando o corpo, fazendo questão de mostrar que não precisava de Fábio pra nada. Cada vez que um deles tentava ser mais ousado, ela deixava. E devolvia. No ouvido. Na cintura. No olhar.
Num momento, ela puxou um deles pela camisa e disse:
— “Vamos sumir? Não quero mais ser boa menina hoje.”
Ele não respondeu. Só segurou sua mão e os dois desapareceram no meio da multidão, enquanto os outros riam, cúmplices.
Naquela noite, Ravina não era mais a namorada do cara que exagerou na bebida.
Ela era a enfermeira da perdição.
E tinha muito corpo pra examinar.