Entre Homens e Desejo: Capítulo 1 – O Que Não Se Diz



[Contos eróticos entre homens, onde o silêncio é mais denso que o toque]

O relógio marcava 06h17 quando Eduardo empurrou a porta da academia. Mesmo ritual. Mesmo cheiro de ferro, suor seco e desinfetante barato. Passou direto pela recepção, sem bom dia, e foi pro vestiário. Ali, o silêncio era seu território.
Jogou a mochila no banco de madeira. Tirou o moletom devagar, revelando o peito denso, coberto de pelos grisalhos. Pegou a regata preta, colada, puxou até os ombros, calçou o tênis. O corpo doía — mas era uma dor amiga, que ele conhecia há décadas. Treinar era a única coisa que ainda fazia sentido.
Na sala de musculação, Eduardo mantinha o fone no ouvido, mas sem música. Era só pra evitar conversa. Supino reto, tríceps, agachamento adaptado — com os joelhos fodidos, aprendeu a fazer com cautela. Na terceira série, sentiu. O cheiro. A presença.
Alexandre tinha chegado.
Dava pra perceber sem olhar. O arrastar firme do tênis no piso, o barulho do squeeze de água, a risada baixa com o instrutor. Mas Eduardo olhou. Rápido, pelo espelho da academia. Alexandre estava de regata branca, colada nas costas largas, o short um pouco acima da coxa grossa. Treinava peito naquele dia. Eduardo notou. E odiou ter notado.
Desde que começaram a se cruzar ali, sempre no mesmo horário, Eduardo fingia que não via. Mas via. O que incomodava não era o corpo do outro. Era o que o corpo fazia com o dele. Era a memória de um tempo antigo, quando jogavam bola no colégio e Eduardo já sentia aquele calor estranho, aquela curiosidade proibida — e logo enterrava tudo sob o peso da farda, da fúria e do silêncio.
Treino encerrado. Eduardo voltou pro vestiário. Tirou a regata, jogou na mochila. Estava sozinho. A água do chuveiro caía pesada do outro lado. Começou a se secar quando ouviu a porta abrir. Passos. Alexandre entrou.
Usava só a toalha, pendurada baixa na cintura. Ombros suados. Sorriso meio cansado. Foi até o armário ao lado. O mesmo de sempre. Os dois de frente, quase encostando. Silêncio.
Eduardo evitou olhar. Ou tentou. Mas Alexandre abaixou e a toalha caiu. Pelado. Natural. Como se nada.
Eduardo congelou por meio segundo. Olhos firmes. Sem desviar.
Alexandre ergueu o tronco, encontrou o olhar do outro — e não recuou. Não havia provocação, nem vergonha. Só presença.
“Treina pesado, hein.” A voz saiu firme, grave, com um leve riso no fim. Quase um convite. Quase um teste.
Eduardo respirou fundo. “Hábito.” Uma palavra só. Mas foi como rachar concreto.
Alexandre pegou a cueca na mochila. Ainda nu. Eduardo ainda parado. O silêncio voltou, espesso, tenso, íntimo.
Eduardo terminou de se vestir devagar. A regata grudando no corpo ainda úmido. Antes de sair, olhou de novo. Alexandre o encarava. Sério agora. Nada de piada. Só... presença.
O olhar ficou. Ficou dentro do peito. E Eduardo sabia: alguma coisa tinha começado ali.

---

A segunda-feira começou igual.
Chuva fraca lá fora, nuvens baixas, o relógio piscando 06h22. Eduardo entrou na academia com o rosto duro e a alma mais dura ainda.
Corpo cansado, mas o hábito empurrava. Máquina por máquina, série por série, o velho ritual que impedia a mente de pensar demais. Até ele entrar.
Alexandre. De regata azul escura, colada. Short cinza. Corpo molhado da garoa. Sorriso de canto, como quem sabe de algo que não diz.
Eduardo fingiu que não viu. Mas o sangue aqueceu. Sentiu a regata colar nas costas, o suor correr antes do tempo. Sentiu os olhos dele pelo espelho.
A tensão não vinha do que acontecia. Vinha do que podia acontecer.
De estar a dois metros de um homem que sabia demais sobre o próprio corpo — e que agora parecia disposto a explorar o do outro.
Depois do treino, os dois entraram no vestiário quase juntos. Porta fechada. Vapor leve. Só o som do chuveiro gotejando e o zíper da mochila sendo aberto.
Eduardo tirou a regata sem olhar para o lado. Sabia que ele estava ali. Sabia que também estava tirando a roupa. Podia ouvir o pano deslizando pela pele.
Alexandre falou, voz baixa:
— “Você foi militar, né?”
A pergunta entrou como bala. Eduardo hesitou um segundo. Olhou de lado.
— “PM.”
— “Sabia. Seu jeito… não tem como disfarçar.”
Silêncio.
Eduardo tirou o short. Ficou de cueca, costas viradas. Alexandre caminhou até o armário ao lado. Estava só de toalha — de novo.
Foi aí que aconteceu. A toalha caiu.
Não foi teatral. Foi simples. Rápida. Natural demais pra ser acidente. Mas longa o bastante pra Eduardo ver.
Pernas fortes. Coxas peludas. Pênis meio murcho, pesado, pendendo pra esquerda. O tipo de visão que não se esquece.
Eduardo engoliu em seco. O pau enrijeceu em silêncio, sufocado pela cueca. Alexandre percebeu. Não disse nada. Pegou a cueca com calma. Vestiu-se como se não tivesse plateia.
Mas o olhar… O olhar bateu no de Eduardo. De novo. Sem piscar.
— “Fica tranquilo. Entre homem e homem… isso acontece.” Disse com voz limpa, como quem fala do tempo.
Eduardo não respondeu. Mas não desviou. Só respirou fundo. Mais fundo do que queria.
Saiu do vestiário com o pau ainda semi-duro, o coração mais acelerado que durante o treino. Não era mais só desejo. Era provocação. Era convite.
E ele sabia: da próxima vez, talvez não resistisse.

---

Quarta-feira, 06h28.
Eduardo ajustava a barra da máquina de supino inclinado. Aço frio contra a mão calejada. Fones no ouvido, sem música. Só para manter a bolha. A academia estava quase vazia, como ele gostava.
Mas então ouviu. Não com os ouvidos — com o corpo. Passos firmes. Respiração funda. O atrito do squeeze apertado com força. Alexandre.
Eduardo nem precisou olhar. Sentiu. O cheiro do desodorante masculino barato misturado com suor fresco. O leve ofegar depois da primeira série. Ele treinava peito de novo. Coincidência ou provocação?
Alexandre se posicionou na máquina de crossover, bem à frente do espelho — exatamente no campo de visão de Eduardo. Cada puxada do cabo fazia o peitoral inflar. Os braços tremiam de força e tensão. A regata subia, revelando o abdômen peludo, baixo, com a curva da cintura apontando pra onde não devia.
Eduardo ajustou a respiração. Tentou manter o foco. Mas estava ficando difícil. Principalmente quando, entre uma série e outra, os olhos de Alexandre encontravam os seus. E não desviavam.
No fim do treino, se cruzaram no bebedouro. Ambos suados. Silêncio entre eles. Mas o ar… O ar estava mais denso.
Alexandre chegou primeiro. Bebeu direto do jato, cabeça levemente inclinada pra trás. O pescoço exposto, pulsando. Eduardo chegou em seguida. Parou ao lado, esperou. Muito perto. Mais perto do que precisava.
Ambos respiravam fundo. Não pelo cansaço — mas pelo esforço de se conter.
Alexandre se afastou do bebedouro. Mas ao passar, o braço roçou no de Eduardo. Foi um toque rápido. Pele com pele. Mas nenhum deles recuou.
Eduardo sentiu a corrente elétrica subir pelo ombro até o pescoço. Alexandre parou por meio segundo, olhando o ponto onde encostaram. Disse, sem olhar diretamente:
— “Às vezes o treino mais difícil… não é o físico.”
E saiu. Sem esperar resposta.
No vestiário, minutos depois, Eduardo ficou mais tempo que o normal. Sentado no banco, sem camisa, com a toalha no colo, encarando o próprio reflexo no espelho embaçado. Respirava fundo. Como se tentasse conter algo que já tinha escapado.
Era só um toque. Mas o corpo tinha entendido. E ele sabia: o próximo seria mais fundo. Mais longo. Mais perigoso.

---

Sexta-feira, fim de treino.
Eduardo estava mais pesado que o normal. Não, no corpo — na cabeça. A filha tinha ligado no dia anterior, chorando por causa do ex. E ele, como sempre, não soube o que dizer. Só ficou mudo no telefone, ouvindo. Fez ele se sentir fraco. Inútil. Velho.
Treinou no automático. Não notou quem entrou, quem saiu. Só queria terminar. Mas, ao entrar no vestiário, viu. Alexandre.
Estava de costas, já de toalha, ajeitando a mochila no banco. O cheiro familiar de desodorante, o mesmo som do zíper, o mesmo calor silencioso no ar.
Eduardo passou por ele sem falar. Foi direto pro chuveiro. Ligou a água quente no máximo. Encarou a parede. Deixou escorrer.
Fechou os olhos. Sentiu o peito apertar. E então, sem querer, sem controle — uma lágrima.
Não chorava fazia anos. Nem sabia como era. Mas ali, com a água cobrindo tudo, o corpo deixou escapar. Foi quando ouviu.
Passos. Alexandre entrou no box ao lado. O som da água se misturou ao dele. Silêncio entre as duas duchas. Mas dessa vez, não durou.
— “Você tá bem, Eduardo?”
A pergunta veio seca. Direta. Sem rodeios. Sem apelido.
Eduardo não respondeu de imediato. Queria dizer que sim. Queria ignorar. Mas alguma coisa o quebrou por dentro.
— “Tem dia que… parece que não tem mais porra nenhuma esperando a gente, sabe?” A voz dele saiu rouca. Baixa. — “Você tenta seguir. Levantar. Treinar. Comer. Dormir. Mas por dentro… é tudo vazio.”
O silêncio voltou. Mas agora era cúmplice.
Do outro lado, Alexandre não se moveu. Ficou ali, sob a água. Sem dizer nada, mas presente. E essa presença doeu mais do que qualquer palavra.
Depois de alguns segundos, Alexandre falou.
— “Não sei o que você tá passando. Mas… tô aqui. Se quiser dividir, eu escuto.”
Foi só isso. Simples. Masculino. Sem drama. Mas Eduardo sentiu como se alguém tivesse encostado direto no osso.
— “Faz tempo que ninguém fala comigo desse jeito.” Disse baixo. Quase um sussurro. Quase como se estivesse confessando outra coisa.
As águas seguiram correndo. Os dois de costas um pro outro. Pelados. Vulneráveis. Respirando fundo.
E ali, naquele vapor quente e silêncio molhado, nasceu alguma coisa.
Não foi sexo. Não foi beijo. Foi pior. Foi mais perigoso.
Foi confiança.

---

Segunda-feira. Chuva pesada. Academia quase vazia.
Eduardo treinou pouco. O corpo estava lento, a mente em outro lugar. Desde a conversa no chuveiro, algo nele tinha mudado. E o pior: não conseguia colocar de volta no lugar.
Alexandre também estava lá. Mas não houve brincadeira, nem provocações. Só olhares. Longos. Quietos. Um estudando o outro, como quem tenta prever o próximo movimento.
No vestiário, a tensão era espessa. Ambos estavam sozinhos. De novo. Eduardo sentado no banco, ainda sem camisa, respirando fundo. Alexandre em pé, ao lado, vestindo a cueca.
O silêncio era denso demais pra ser casual. As respirações cruzavam. As mãos hesitavam nos gestos simples.
Eduardo pegou a regata, mas os ombros travaram. Dor muscular ou tensão. Não sabia dizer. Ficou ali, segurando a camiseta, sem conseguir vesti-la.
Alexandre viu. Se aproximou. Tomou a regata das mãos dele com calma. E disse:
— “Deixa. Eu ajudo.”
Eduardo não respondeu. Só ficou ali. Parado. O coração disparado. A cueca começando a marcar. Mas ele não impediu.
Alexandre ergueu a regata, passou pelos braços. Deslizou o pano devagar pelos ombros largos, puxando até cobrir o peito. As mãos roçaram a pele. Firme. Quente. Intencional.
Quando terminou, ficou ali. Atrás de Eduardo. As mãos ainda nos ombros. O espelho à frente refletia os dois: homem atrás de homem, em silêncio.
Os olhos de Eduardo buscaram os de Alexandre no vidro. Encontraram. Ninguém sorriu. Ninguém falou.
Mas os dois sabiam o que estava acontecendo. Aquilo não era sobre a regata.
Alexandre afastou as mãos devagar. Respirou fundo. E antes de sair, falou sem virar o rosto:
— “A gente precisa parar de fingir.”
A porta se fechou. Eduardo ficou ali. Sentado. O peito coberto. A pele ainda ardendo no ponto exato onde foi tocado.

---

Quarta-feira, 06h30.
Eduardo chegou já suando — não de calor, mas de antecipação. Tinha dormido mal. O toque de Alexandre ainda queimava nos ombros. O “a gente precisa parar de fingir” martelava na cabeça. E ele sabia que hoje não conseguiria manter distância.
Na sala de musculação, Alexandre já estava lá. Regata preta, colada ao peito largo. Calça de treino justa nas coxas. Eduardo hesitou. Mas foi. Caminhou até ele, como quem aceita o que não pode mais evitar.
— “Hoje é peito?” A voz saiu mais seca do que pretendia. Mas Alexandre entendeu.
— “É.”
— “Bora então.”
Foi só isso. Mas foi tudo.
Começaram no supino reto. Eduardo deita, pega a barra. Alexandre atrás, de pé, pronto pra ajudar. As mãos dele ficam ali, flutuando sobre a barra. Quase tocando. Quase tocando Eduardo.
Na segunda série, o inevitável: Alexandre encosta. Firme. Mãos no pulso. Ombros alinhados. Corpo colado.
— “Segura mais aberto. Isso. Sente o peito.” A voz no ouvido. Baixa. Quente.
Eduardo obedece. A barra desce. Sobe. Desce de novo.
A cueca já pressiona contra o short. O sangue corre onde não devia. Mas ele finge. Continua. Porque aquele toque era desculpa. Era permitido.
Na troca, Alexandre deita. Eduardo agora de pé, sobre ele. Olha o corpo abaixo — peito suado, veias saltando, respiração pesada. Fica parado mais do que deveria.
— “Vai me deixar aqui, porra?” Alexandre sorri. Meio provocação, meio pedido.
Eduardo segura a barra. Finge normalidade. Mas quando a barra desce, a vista vai direto pro volume sob o short de Alexandre. Está lá. Claro.
Na quarta repetição, Eduardo fala baixo:
— “Você tá jogando sujo.”
— “Não. Tô jogando real.”
A série termina. Alexandre senta no banco, encara de perto.
— “Já passou da hora de parar com o medo.”
— “Medo de quê?”
Eduardo responde, mas não acredita na própria pergunta.
Alexandre não pressiona. Só sorri, levanta, pega a toalha. O ombro roça no de Eduardo na saída.
— “Amanhã. Mesmo horário. Treino de costas.”
E vai embora.
Eduardo fica. Sozinho no banco. Com o corpo aceso. A alma em conflito. E o pau rijo, pulsando por baixo da bermuda.
Sabia o que estava por vir. A dúvida agora não era se. Era quando ele deixaria acontecer.

---

Quinta-feira. 06h32.
Eduardo entrou na academia sentindo o mundo apertar no peito. Dormira com o pau duro, acordara do mesmo jeito. O cheiro de Alexandre ainda colado na memória. As mãos dele no supino, a voz no ouvido, o olhar direto — tudo ali, presente, latejando.
Queria evitar. Pensou em não ir. Mas foi. Porque o desejo já era parte da rotina.
Treinou pesado, calado. Alexandre chegou atrasado, suado da rua, como se tivesse corrido até ali. Trocaram um olhar. Longo. Eduardo sentiu o sangue correr direto pra virilha.
Treino rápido. Tenso. Quase sem fala. Só corpos dividindo espaço, roçando ombro, tocando sem querer. Quando acabou, caminharam juntos até o vestiário. Silêncio entre eles. Mas a respiração… Pesada. Cruzada. Quente.
O vestiário estava vazio. Eduardo entrou primeiro. Alexandre logo atrás. Ambos suados. Camisetas coladas. Tensão nos olhos.
Eduardo tirou a regata devagar. O peito arfava. A toalha na mão tremia de leve. Alexandre fez o mesmo. Olhos nos ombros, nas cicatrizes, no abdômen.
O clima era bruto. Elétrico. O momento estava pronto.
Alexandre deu um passo. Eduardo não recuou. Os rostos quase se tocaram.
E então…
A porta abriu.
— “Bom dia, senhores!”
Um terceiro homem entrou. Jovem. Magro. Com fone no ouvido e toalha no ombro. Passou direto entre os dois. Foi até o armário do fundo.
Alexandre recuou meio passo. Eduardo virou o rosto. Ambos sabiam: qualquer gesto agora poderia ser visto. E isso os fez endurecer — de outro jeito.
O garoto demorou menos de dois minutos. Trocou de roupa, pegou a garrafinha e saiu assobiando, sem notar nada. A porta bateu. O silêncio voltou.
Mas o clima agora era outro. Mais quente. Mais urgente.
Alexandre se aproximou de novo.
— “Se ele tivesse ficado mais um minuto, eu ia fazer uma merda.”
Eduardo encarou.
— “E se fizer?”
— “Vai fazer também?”
Os dois pararam. Frente a frente. Camisas fora. Os peitos quase encostando. Eduardo não respondeu. Só respirou. Forte.
Alexandre ergueu a mão. Passou devagar no braço do outro. Desceu até o pulso. Segurou.
Foi um toque simples. Mas ali, no silêncio pós-interrupção, foi quase um beijo.
Eduardo sussurrou:
— “Hoje não.”
— “Tá bom.”
Alexandre respondeu, mas os olhos diziam outra coisa.
Se vestiram calados. Mas cada parte do corpo parecia protestar contra o pano. A cueca marcava. A calça escondia mal.
Na saída, os olhos se cruzaram de novo. E mesmo sem se tocarem, sabiam: o próximo “quase” não ia parar no meio.

---

Sábado. Academia quase vazia.
Eduardo não costumava treinar nesse dia. Mas acordou com o pau duro e a cabeça cheia.
Precisava descarregar. Ou se distrair. Ou — talvez — encontrar ele.

E encontrou.

Alexandre já estava no vestiário, ajustando a tornozeleira do cross over.
Regata branca, grudada no peito. Short preto, sem cueca por baixo — dava pra perceber.
Eduardo passou, fingindo neutralidade. Mas o olhar denunciava tudo.
O mesmo olhar de quem já não estava mais tentando fugir.

Treinaram rápido. Juntos.
Sem conversa.
Mas os corpos já tinham criado uma linguagem própria.
Postura corrigida, mão no ombro, palma nas costas. Cada toque era desculpa. Mas nenhum era inocente.

No vestiário, a luz estava baixa. Uma das lâmpadas havia queimado.
O banco do canto parecia mais íntimo que o normal.
Os dois chegaram quase ao mesmo tempo.

Eduardo sentou primeiro. Alexandre ficou em pé, tirando a camiseta.
Silêncio. Tensão.
O som da respiração era mais alto que o da água pingando ao fundo.

Eduardo abaixou para tirar o tênis.
Quando levantou, deu de cara com o volume no short de Alexandre — mais evidente do que nunca.
Foi ali que a mão escapou.

Sem pensar.
Sem pedir.
Sem avisar.

A palma de Eduardo pousou sobre o volume.
Firme. Quente. Decidida.

Alexandre não recuou.
Só mordeu o lábio inferior.
O pau pulsou por baixo do tecido.

A mão de Eduardo apertou.
Curta, intensa. O gesto de quem segurou por anos.
O olhar entre eles era navalha: nada romântico, nada suave. Só verdade nua.

Alexandre gemeu baixo.
Um som abafado, cru.
Encostou o quadril no banco. Encostou o corpo em Eduardo.

E ali, por segundos, o mundo parou.

Mas o risco voltou.
O som de uma porta batendo no fundo da academia trouxe os dois de volta.

Eduardo puxou a mão de volta como se tivesse encostado em brasa.
Alexandre respirava fundo, com os olhos cravados nele.

— “Você queria isso.”
Eduardo sussurrou.
— “Desde o primeiro olhar.”

Alexandre assentiu.
— “E você segurou até agora.”

Eduardo encarou.
— “É. Mas agora fodeu.”

Alexandre deu um meio sorriso, com os olhos marejando não de emoção — de adrenalina.
— “A gente vai ter que terminar o que começou.”

Ambos se vestiram em silêncio. Mas o corpo…
O corpo ainda estava lá.
Aquele toque tinha marcado o caminho.

O que antes era tensão virou promessa.
E nenhuma roupa apertada esconderia o que estava por vir.

---

Segunda-feira.
Eduardo chegou antes da academia abrir. Ficou no carro, motor desligado, olhando o vidro embaçado pela própria respiração. O corpo latejava desde sábado. A mão que escapou não saía da cabeça. Nem o olhar de Alexandre. Nem o volume sob o short.
Quando a academia abriu, entrou calado. Alexandre já estava lá. Esperando. Sem treino naquele dia. Sem regata. Só uma camiseta simples, colada ao corpo. E nos olhos, aquela verdade que já não se escondia.
— “Hoje?”
Eduardo perguntou, direto.
— “Se a gente fizer isso... não tem mais volta.”
Alexandre responde com o olhar, firme.
— “A gente já foi longe demais pra voltar.”
— “Hoje.”
Foi a resposta.
Treinaram rápido, por puro hábito. O foco não era o ferro, era o fogo.
No vestiário, a tensão era insuportável. Ambos sabiam. E por isso, não disseram nada.
Quando a porta se fechou, foi Alexandre quem virou a tranca. Primeira vez. Eduardo encarou. O peito arfando.
— “Ninguém entra.” Alexandre disse. Eduardo assentiu.
Sem mais palavras, Alexandre o empurrou contra a parede. O beijo veio bruto, seco, de língua dura e barba raspando pele. Não foi beijo de cinema. Foi ataque. Fome. Eduardo gemeu com raiva, segurou o outro pela nuca, mordeu o lábio. Os corpos se esfregaram com força, dois paus duros lutando por espaço entre cueca e short.
As camisetas subiram. As bocas desceram. Eduardo ajoelhou. Sem pensar. Sem medo. Puxou o elástico do short. O pau de Alexandre saltou, grosso, quente, suado.
Encarou. Sentiu o gosto antes mesmo de tocar. Lambeu devagar, como quem explora território novo. Depois chupou fundo. Alexandre segurou firme nos cabelos curtos dele.
— “Porra...”
Eduardo gemia baixo, com a boca cheia. Chupava com raiva, com vergonha, com prazer. Chupava como quem se vinga da própria repressão.
Alexandre segurou o gozo. Queria mais. Queria ver.
Fez Eduardo levantar. Virou ele contra a parede. Desceu a cueca. O cu cabeludo, suado, contraído.
Passou a mão, devagar. Eduardo não impediu. Pelo contrário: empinou um pouco. Só um pouco. Mas foi o bastante.
Alexandre cuspiu na mão. Passou no pau. Encostou.
— “Vai?”
Eduardo só respondeu com o corpo, jogando o quadril pra trás.
O encaixe foi seco, rasgando resistência. Eduardo mordeu o antebraço pra não gritar. Alexandre metia com força, com raiva, com o som das bolas batendo contra a carne molhada. O azulejo frio contra o peito. O pau quente rasgando por dentro. O som da pele contra pele, respiração contra azulejo.
Foi rápido. Foi suado. Foi real. Alexandre gozou dentro. Forte. Eduardo gozou sem se tocar. Espremeu o sêmen contra a parede com um gemido surdo.
Os dois ficaram ali. Parados. Suados. Ofegantes. Sem coragem de falar.
Depois de um tempo, Alexandre encostou a testa nas costas de Eduardo. Não disse nada. Só ficou. E pela primeira vez, não havia tensão. Havia silêncio. Mas um silêncio novo.
De quem fez o que precisava. De quem se viu nu — de verdade — diante do outro.

---

Eduardo não foi à academia na terça.
Nem na quarta.
Ficou em casa, TV ligada, volume no mudo. A filha ligou — ele não atendeu. Começou a limpar a cozinha às 3 da manhã. Como se esfregar o chão fosse apagar o que aconteceu.
Mas o corpo lembrava. Cada vez que se mexia, o rastro de Alexandre estava lá. No cu dolorido. No pescoço onde ficou a mordida. No cheiro imaginário do suor misturado.
Era mais do que sexo. Era realidade invadindo o mundo onde ele fingia controle.
Na quinta, voltou. Cedo. Calado. Como antes. Mas nada era como antes.
Entrou, passou direto pela recepção. Foi pro vestiário, deixou a mochila no mesmo canto de sempre. Quando levantou o rosto, lá estava ele.
Alexandre. Sentado no banco. Esperando.
Sem sorriso. Sem provocação. Só presença.
— “Dois dias.” Disse — “Achei que não vinha mais.”
Eduardo ficou em pé. Os dois se olhando. O clima não era sexual. Era pesado, como se o ar tivesse engrossado.
— “Não sei o que fazer com isso.”
A voz saiu baixa, sincera.
Alexandre assentiu.
— “Eu também não. Mas sei que… não foi só gozo.”
Silêncio.
Eduardo sentou. As costas contra o armário. Olhou pro próprio braço. Apontou uma cicatriz antiga, perto do cotovelo.
— “Facão. Uma ocorrência no Capão Redondo, 2004. Dois moleques. Um veio pra cima. Não pensei. Cortei ele. Depois fui ver que tinha sido defesa legítima.”
Respirou fundo.
— “Mas essa porra aqui… tá comigo até hoje.”
Alexandre olhou. Não disse nada. Só entendeu.
Eduardo virou o rosto pra ele.
— “O que a gente fez… foi facão também. Me cortou. Me dividiu.” Pausa — “E agora tô andando por aí com essa merda aberta aqui dentro.”
Alexandre aproximou devagar. Sentou do lado. Encostou o joelho no de Eduardo.
— “Cicatriz também é sinal de que você sobreviveu.”
Foram minutos assim. Sem mais palavras. Só dois homens sentados. Com o sexo já feito. Com a verdade já dita. E com a dor começando a virar alguma outra coisa.
Algo que talvez tivesse nome. Ou não. Mas que agora existia.

---

Foi Alexandre quem mandou a mensagem. Curta. Seca. “Hoje. À noite. Aqui.” E o endereço do apartamento.
Eduardo demorou três horas pra responder. Mas foi.
Bateu na porta com a camiseta colada no peito. Mãos suadas. Pau meio duro. Coração pesado como um fuzil antigo.
Alexandre abriu com cara séria. Sem camisa. Short largo. Corpo à meia-luz. Sem trilha sonora. Sem velas. Sem ensaio.
Só carne.
Só homem.
— “Você demorou.”
— “Você sabia que eu viria.”
Entrou. A porta se fechou. E os dois ficaram ali, de pé, se olhando.
Era diferente de tudo. Ali, não era vestiário. Não era desculpa. Era real.
Alexandre foi primeiro. Segurou Eduardo pela nuca, puxou pra perto. O beijo veio tenso, desesperado, cheio de dentes. Eduardo respondeu com força. Apertou o outro contra a parede.
As mãos desceram, famintas. Tiraram roupas como se fossem fardas inúteis. Camisas voaram. Shorts caíram. Cuecas puxadas até o joelho.
Dois corpos adultos, suados, maduros. Barrigas que se encostam. Peitos peludos roçando. Mãos calejadas apertando coxas, bunda, nuca.
Eduardo empurrou Alexandre até o sofá. Sentou sobre ele. Pegou o pau do outro e esfregou no seu. O som da pele, o grunhido baixo, o suor já escorrendo entre os mamilos.
— “Quero te ver gozar olhando pra mim.” Eduardo sussurrou, a voz rouca de vontade.
E Alexandre viu. Eduardo ajoelhou de novo, como no vestiário. Mas agora sem medo. Sem culpa.
Chupou devagar no começo. Depois fundo. Depois com fome. O pau enfiava até a garganta. As mãos seguravam forte nas coxas grossas de Alexandre.
Ele gemia. Sem filtro. Gemido de macho que se deixa levar.
Eduardo se levantou. O pau duro pingando. Subiu no colo do outro. Passou a cabeça do pau entre as pernas abertas. Encostou no cu de Alexandre. Eles se olharam.
— “Vai querer fugir agora?”
Alexandre abriu as pernas mais ainda.
— “Entra. De frente.”
E entrou. Devagar. Com os olhos cravados nos dele. Sem virar de costas. Sem esconder a cara. Sem fingir.
Os dois gemeram juntos. O encaixe era cru, denso, apertado. Eduardo se cravou nas coxas dele, metendo como se o mundo fosse acabar ali. Cada estocada fazia o sofá ranger. Alexandre gemia alto, segurando nos ombros como se o puxasse pra dentro do próprio corpo. Os dois suavam como touros — fôlego curto, pele quente, virilidade em combustão. Alexandre suava. Gozava só com a fricção, com o cheiro, com o olhar.
Eduardo gozou logo depois. Jato quente entre os peitos. Sem culpa. Sem vergonha.
Só entrega.
Depois ficaram ali. Abraçados. Nu contra nu. O coração batendo no mesmo ritmo.
E pela primeira vez… Eduardo encostou a cabeça no peito de outro homem.
E ficou. Com o ouvido encostado no peito dele, ouviu um som que fazia tempo que não reconhecia: paz.

---

Fazia duas semanas.
Desde o dia no apartamento. Desde o sexo de frente. Desde que Eduardo não conseguiu mais olhar o mundo do mesmo jeito.
Treinava menos. Falava menos ainda. Mas o corpo… o corpo parecia mais leve.
Encontrava Alexandre na academia, às vezes. Um aceno de cabeça. Um silêncio respeitoso. Nem sempre se falavam. Mas se viam. Se reconheciam.
A vida seguiu. Eduardo visitou a filha. Consertou a pia de casa. Comprou carne no açougue.
Alexandre levou o filho pra cortar o cabelo. Brigou com a esposa. Pensou em sair de casa. Mas não saiu.
Nada se resolveu. Mas tudo tinha mudado.
Numa quarta qualquer, se encontraram no estacionamento. Ambos saindo do treino. Camisa colada no peito. Toalha no ombro.
Alexandre encostou no carro.
— “Vai fugir de novo?”
Eduardo respondeu seco:
— “Já fugi tempo demais.”
Ficaram em pé. De frente. No fim da tarde. O sol batendo no rosto suado dos dois. Dois homens de mais de quarenta, com dor nas costas, marcas no corpo, feridas antigas. Mas inteiros.
Eduardo falou. Sem olhar direto.
— “Não sei o que isso é. Nem sei se quero dar nome.” Pausa — “Mas sei que você me acordou.”
Alexandre assentiu.
— “A gente não precisa explicar. Só não dá mais pra apagar.”
Ficaram ali.
Sem beijo.
Sem toque.
Mas perto.
Muito perto.
E naquele silêncio novo, sem tensão, sem fuga, sem máscara, havia o que nunca houve antes: Presença.


Faca o seu login para poder votar neste conto.


Faca o seu login para poder recomendar esse conto para seus amigos.


Faca o seu login para adicionar esse conto como seu favorito.


Twitter Facebook



Atenção! Faca o seu login para poder comentar este conto.


Contos enviados pelo mesmo autor


235771 - Confraria dos Maduros: O Filho da Vizinha - Categoria: Gays - Votos: 7
235768 - Aquecimento Final - Categoria: Gays - Votos: 1
235386 - Fumaça, Cerveja e Frestas - Categoria: Gays - Votos: 4
235367 - O Pau que Tenho - Categoria: Gays - Votos: 7
235335 - Multa Corporal - Categoria: Gays - Votos: 5

Ficha do conto

Foto Perfil barbarello
barbarello

Nome do conto:
Entre Homens e Desejo: Capítulo 1 – O Que Não Se Diz

Codigo do conto:
235765

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
16/05/2025

Quant.de Votos:
0

Quant.de Fotos:
0