Fantasias do J.C. - Sofia - Capítulo 4



O Colecionador de Gemidos

A liberdade que Sofia encontrara no Clube das Almas Sombrias era de um tipo perverso. Não era a liberdade dos campos abertos e da luz do sol, mas a liberdade das profundezas oceânicas - silenciosa, impressionante, e repleta de sombras que se moviam. Nos dias que se seguiram à sua iniciação, ela descobriu que ser "finalmente livre" da menina que fora significava estar eternamente presa à mulher que se tornara.
Seu corpo já não era mais seu. Ou melhor, era apenas seu na medida em que um instrumento musical pertence ao músico que o domina. Almeida continuava a ser o maestro, mas agora ela entendia a partitura. As sessões no Clube não eram mais sobre quebrá-la, mas sobre refinar suas quebras, polir suas fissuras até que elas brilhassem como ouro kintsugi.
Ela se olhava no espelho e a "nova criatura" que lhe devolvia o olhar era ao mesmo tempo fascinante e aterradora. Havia um poder inegável em ser capaz de suportar - não, de prazer - coisas que fariam outras pessoas desmoronarem. Mas com esse poder vinha um isolamento profundo. Ela estava agora do outro lado de um abismo invisível, separada para sempre da normalidade. Suas amigas da escola, suas preocupações triviais, sua vida anterior... tudo parecia pertencer a um planeta distante.
O conflito interno agora não era mais sobre certo ou errado, mas sobre identidade. Quem era ela quando não estava sendo a obra-prima de Almeida? Quem era Sofia quando não estava suspensa em correntes, ou sendo apresentada como uma conquista para homens como Eduardo? Havia um vazio na rotina comum que apenas o fogo do ritual parece preencher.
Foi nesse estado de existência dividida que Almeida lhe falou sobre Sebastian von Hart. "Ele é um arquivista do efêmero," explicou o professor, seus olhos brilhando com aquela centelha de posse intelectual que ela aprendera a reconhecer. "Enquanto nós trabalhamos com a carne, ele trabalha com o eco. Enquanto nós marcamos corpos, ele preserva sons."
A ideia a perturbou profundamente. Suas experiências, seus gemidos, suas dores transformadas em prazer - tudo reduzido a artefatos em uma coleção? Havia algo profundamente violador na perspectiva, mesmo para alguém que já havia sido violada de tantas maneiras.
Na noite anterior à visita ao Colecionador, ela passou horas olhando para suas próprias mãos no escuro, imaginando-as como objetos descolados do resto de seu corpo. Se Sebastian colecionava gemidos, o que impediria que um dia ele quisesse colecionar a fonte desses gemidos? Onde terminava a arte e começava a escravidão?
Mas mesmo esse medo era temperado por aquela parte dela que já não conseguia viver sem a intensidade. A perspectiva de ser imortalizada, mesmo que apenas como uma série de sons capturados... havia uma sedução perversa nisso. Era uma forma de transcendência, ainda que distorcida.
Quando amanheceu no dia marcado para encontrar o Colecionador, Sofia se vestiu com um vestido simples de seda preta - uma tela em branco para as experiências que se seguiriam. Ela sabia que não estava apenas cruzando a cidade para visitar uma casa à beira do penhasco. Estava cruzando outra fronteira dentro de si mesma, concordando em tornar-se não apenas uma participante, mas um artefato.
O vento salgado que sussurrava segredos do oceano parecia ecoar os sussurros dentro dela - um coro de medo, antecipação e uma resignação profunda de que seu caminho já estava traçado, e que ele levava cada vez mais para longe da luz, e mais fundo no museu de sensações extintas que ela mesma estava se tornando.
A casa do Colecionador ficava à beira de um penhasco, onde o vento sussurrava segredos salgados do oceano. Não era uma casa, mas sim um museu de sensações extintas. Sebastian von Hart, o Colecionador, não acumulava quadros ou esculturas. Suas galerias eram povoadas por sons – gemidos capturados em frascos de cristal, suspiros preservados em âmbar, gritos extáticos suspensos em soluços de vidro soprado.
Sofia foi levada até ele como a peça central de uma nova exposição. “Sinfonia em Carne Viva”, Almeida a apresentou, sua mão possessiva na nuca dela. Sebastian era um homem de gestos avaros, olhos que pareciam pesar o valor sentimental de cada tremor de lábio. Ele usava luvas de algodão branco, mesmo quando não tocava em nada.
“Cada gemido tem uma assinatura, Almeida,“Sebastian explicou, seu olhar percorrendo Sofia como um espectrógrafo. ”O da surpresa é agudo, vítreo. O do prazer é profundo, melífluo. O da dor… ah, o da dor é o mais complexo. Uma sinfonia de quebra e rendição.“
Sofia estava vestida apenas com um robe de veludo vermelho que lhe foi retirado ao entrar no estúdio de captura. A sala era circular, acusticamente tratada, com paredes que absorviam todo som parasita. No centro, uma plataforma de aço polido, fria sob seus pés descalços. Sebastian a posicionou sob um arranjo de dispositivos – diapasões de tamanhos variados, cordas de harpa, e um grande fonógrafo com uma corneta de cobre que se abria como uma flor metálica prestes a devorá-la.
“O instrumento deve ser afinado,”Sebastian sussurrou, ajustando as luvas.
A afinação começou com as mãos de Almeida. Ele a beijou, e seu gemido abafado – um som de antecipação úmida – foi capturado pela corneta e armazenado em um cilindro de cera. Sebastian anotou algo em um caderno de capa de couro: “Gemido #1: Saudade. Tom Lá menor.”
Em seguida, Sebastian aproximou-se com o primeiro diapasão. Ele o fez vibrar com um dedo enluvado e, antes que o zumbido se extinguisse, pressionou a base fria do metal contra o clitóris de Sofia.
Ela gritou. O som – uma agulha de gelo perfurando o núcleo de seu prazer – foi sugado pela corneta. “Gemido #2: Dor-Prazer Aguda. Tom Dó sustenido.“
Almeida então a posicionou de quatro na plataforma fria. Ele entrou nela por trás, seu pau invadindo sua boceta já sensível com a força crua de um selo sendo cunhado em metal macio. O som que saiu de Sofia foi rouco, gutural, um gemido de preenchimento total. Sebastian sorriu, satisfeito. “Gemido #3: Posse. Tom Sol maior. Raro.“
A sessão tornou-se uma orquestração de tormento e êxtase. Sebastian usou um arco de violino nas cordas sensíveis de seus lábios internos, extraindo um vibrato de puro choque sensitivo. Almeida fodeu sua boca, e o som abafado de engasgo e submissão foi catalogado como “Gemido #14: Asfixia Consensual. Microtom.”
Ele prendeu seus mamilos com pinças de pressão regulável, e cada ajuste produzia um queixo de dor que se transformava em um suspiro de resignação quando a dor se fundia com o prazer. “A transição é a nota mais valiosa,“murmurou Sebastian, capturando o momento exato em que um “ai!“ se transformava em “ah…“.
O ápice da coleção veio quando Sebastian revelou sua peça mais preciosa: o “Espectrógrafo de Ânimo”. Um dispositivo de cristal e prata que, quando pressionado contra a garganta de Sofia, não apenas capturava o som, mas também sua ressonância emocional, projetando-a como cores em um fino jato de vapor.
Almeida, então, fez o que prometera desde o início. Ordenou que ela se ajoelhasse e, com uma chave mestra que tirou do bolso, abriu uma pequena gaveta embutida na plataforma. De dentro, ele retirou um consolo de âmbar, translúcido e pesado, com veios dourados presos no interior. “O passado preservado,“ele sussurrou. “Para tocar o futuro.“
Sebastian prendeu a respiração. “O Âmbar de Âmbar… você o conseguiu.“
Enquanto Almeida lubrificava a peça com um óleo quente de sândalo, Sebastian posicionou o Espectrógrafo contra a garganta de Sofia. A peça de âmbar, mais quente que o metal, mais orgânica que o vidro, foi inserida em seu cuzinho com uma lentidão cerimonial.
O gemido que saiu de Sofia não tinha equivalente. Foi um som ancestral, um suspiro que carregava o eco de milhares de anos de prazer e dor reprimidos. O Espectrógrafo explodiu em cores que ninguém na sala jamais vira – um dourado profundo manchado de vermelho-sangue e prata-líquida. O som não era apenas capturado; era vivo, pulsando dentro do cilindro de cristal do aparelho.
“O Gemido Primordial,“Sebastian respondeu, sua voz um fio de reverência. ”A nota fundamental de toda a experiência humana.“
Almeida não precisou penetrá-la novamente. A simples presença do âmbar dentro dela, sua calorosa invasão, sua pressão contra pontos internos não mapeados, foi suficiente. O orgasmo de Sofia foi silencioso, mas devastador – uma série de tremores convulsivos que percorreram seu corpo, seu rosto uma máscara de espanto puro, suas pupilas dilatadas refletindo as cores impossíveis do Espectrógrafo.
Sebastian guardou o cilindro de cristal em um estojo forrado de veludo. “A coleção está completa,“ele anunciou. “O som da alma humana, despida de tudo, exceto de sua verdade sensorial.“
Na viagem de volta, Sofia permaneceu em silêncio, o corpo ainda ecoando com a memória do âmbar. Almeida dirigia, um sorriso discreto nos lábios.
“Ele coleciona gemidos,“Sofia disse finalmente, sua voz rouca da sessão. ”E o senhor, professor? O que coleciona?“
Almeida lançou um olhar para ela, seus olhos brilhando atrás dos óculos na penumbra do carro.
“Eu, minha cara Sofia,“ele disse suavemente,” coleciono almas. E a sua é a peça mais rara da minha coleção.“
Ela encostou a cabeça no vidro frio, olhando a noite passar. Ela não era mais uma estudante, nem uma iniciada. Ela era uma obra de arte viva, uma sinfonia de carne e osso, e cada gemido seu era agora parte de um acervo permanente. A ideia, em vez de a aterrorizar, a preencheu com um estranho e profundo senso de pertencimento.

Foto 1 do Conto erotico: Fantasias do J.C. - Sofia - Capítulo 4

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Comentários


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zooesofilia Comentou em 04/11/2025

Se cursar faculdade for tão tri desse jeito, então tô marcando bobeira. Eu já tava pensando em cursar, só pela maconha, festas e bebedeira, mas se o ambiente universitário é tão cheio de sensualidade assim, com professores depravados, então, partiu Enem. Lambeijos molhados pra ti e pra todos os coroas do site.




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Ficha do conto

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Nome do conto:
Fantasias do J.C. - Sofia - Capítulo 4

Codigo do conto:
246291

Categoria:
Sadomasoquismo

Data da Publicação:
03/11/2025

Quant.de Votos:
2

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