Fantasias do J.C. - Sofia - Capítulo 5



A Noite das Correntes Suspensas

O sentimento de pertencimento que Sebastian von Hart lhe proporcionara era como um vinho pesado – intoxicante no gole, mas deixando um resíduo amargo após o êxtase. Nos dias que se seguiram à sua transformação em "obra de arte viva", Sofia descobriu uma verdade perturbadora: ser parte de um acervo permanente significava estar eternamente à disposição do curador.
Cada manhã ao acordar, seu corpo não era mais apenas seu corpo. Era um instrumento que já havia sido tocado por mãos especializadas, cujos sons haviam sido catalogados e preservados. Havia uma estranha solidão em saber que partes de sua essência mais íntima – seus gemidos, seus suspiros, os sons guturais de sua entrega – agora existiam independentemente dela, encerrados em frascos de cristal como borboletas raras espetadas em alfinetes.
Almeida a observava com um novo tipo de interesse. Não mais o olhar do escultor para sua argila, mas do curador para sua aquisição mais preciosa. "Você transcendeu a mera carne, Sofia," ele dissera numa dessas manhãs, seus dedos traçando a linha de sua mandíbula. "Agora você é pura potencialidade. Um instrumento afinado para experiências ainda não nomeadas."
E foi então que ele começou a falar sobre "A Forja".
A descrição do lugar evocava imagens que ficavam entre o industrial e o sacro. Um templo onde máquinas substituíam as mãos humanas, onde a precisão mecânica superaria a intuição do artista. O "Pêndulo" não era apenas um dispositivo – era a materialização de um conceito filosófico: o corpo como objeto sujeito às leis impiedosas da física, a rendição não a um homem, mas à matemática crua do movimento e da gravidade.
O conflito dentro de Sofia já não se tratava mais de moralidade – esses limites haviam sido queimados há muito tempo. Agora, a batalha era entre o orgulho e o medo. O orgulho de ser considerada digna de tal instrumento, de ser a obra de arte escolhida para testar os limites da nova máquina. E o medo ancestral de ser completamente desumanizada, reduzida a um conjunto de variáveis em uma equação de dor e prazer.
Na véspera de sua visita à Forja, ela passou horas em frente ao espelho, não mais procurando a menina perdida ou celebrando a mulher encontrada, mas estudando seu corpo como um engenheiro estudaria um protótipo. Onde os ganchos se encaixariam? Como seu peso seria distribuído? Quais ângulos maximizariam o tormento? Quais movimentos converteriam agonia em êxtase?
Havia uma parte dela – a mesma que se deleitava em ver seus próprios fluidos escorrendo entre as pernas nos espelhos – que ansiava pela frieza impessoal da máquina. Com Almeida, com Eduardo, até mesmo com Sebastian, sempre havia a variável humana, o imprevisível. Mas uma máquina... uma máquina seria honesta. Sua dor seria pura, não temperada pela emoção de quem a infligia.
Quando a noite chegou, vestindo-se com um simples body preto que não ofereceria resistência aos mecanismos, Sofia sentiu uma calma estranha. O carro que a levava até o armazém desativado não parecia levar uma vítima para seu sacrifício, mas uma sacerdotisa para seu novo altar.
Ela olhou pela janela, a cidade passando como um filme mudo, e compreendeu que estava prestes a cruzar o último limiar. Na Forja, sob as luzes cruas que cortariam sua nudez como lâminas, ela não seria mais uma obra de arte – seria a própria matéria-prima sendo refundida. E o pensamento mais aterrorizante de todos era que, em algum lugar profundo dentro de si, ela não podia esperar para sentir o calor das chamas.
O lugar era conhecido apenas como “A Forja“. Um armazém industrial desativado, onde o ar ainda carregava o fantasma metálico de máquinas há muito silenciadas. Naquela noite, porém, novos mecanismos de precisão seriam testados. Na vastidão cavernosa do espaço, sob a luz crua de holofotes que cortavam a penumbra como lâminas, erguia-se uma estrutura de aço inoxidável – um carrossel de tormento e êxtase, com braços mecânicos que terminavam em ganchos, argolas e correias. Era o Pêndulo, a máquina de suspensão perfeita.
Sofia foi conduzida para o centro do espaço, seu corpo já um mapa familiar de prazeres e marcas. Almeida a havia preparado para aquilo. Naquele dia, ele a vestira com um único acessório: um colar de couro negro, com uma argola de aço que pesava gelada sobre sua clavícula.
“Hoje, Sofia,“ ele disse, sua voz ecoando no vazio do armazém, “você vai aprender o peso do seu próprio corpo e a leveza da rendição total. O Pêndulo não é sobre escape. É sobre entrega à física do prazer.“
Ela foi entregue aos Armeiros, dois homens e uma mulher vestidos com macacões negros ajustados, cujas mãos movedoras e impessoais a inspecionaram como um mecanismo a ser calibrado. Eles prenderam tornozeleiras e pulsarias de couro reforçado com fechos de aço em seus membros. Os ganchos do Pêndulo, operados por um sistema silencioso de cabos e contrapesos, engataram nas argolas.
O primeiro tirão foi suave, mas inesperado. Seus pés deixaram o chão frio de concreto. Um suspiro ofegante escapou de seus lábios enquanto era erguida, balançando levemente, seu corpo tornando-se um pêndulo humano. A sensação de impotência foi imediata e intoxicante. Ela estava suspensa a quase dois metros do chão, completamente à mercê da máquina e dos que a comandavam.
Almeida aproximou-se, observando-a como um cientista observa um experimento crucial.
“A gravidade é uma força implacável, Sofia. Ela vai distender seus músculos, alongar suas juntas. E no espaço criado por essa tensão... instalaremos o prazer.“
Um comando foi dado. Os cabos se moveram, e suas pernas foram puxadas suavemente para os lados, abrindo-a em um “Y“perfeito e expondo completamente sua boceta e seu cuzinho à luz e aos olhares. A vergonha morrera há muitas lições. O que restava era uma exposição crua e orgulhosa.
Sebastian, o Colecionador, estava presente, sua figura esguia à sombra. Um fonógrafo portátil repousava sobre uma caixa de ferramentas, sua corneta apontada para ela como uma arma. Ele não coletaria apenas gemidos hoje, mas o som do ar sibilando em seus pulmões, o rangido dos cabos de aço, o impacto de pele contra pele no silêncio do armazém.
A sessão começou com a precisão de um ritual. Almeida pegou um flogger de tiras de couro suave. O primeiro golpe acertou as costas de suas coxas, e o impacto fez seu corpo balançar no ar. O segundo, nas nádegas, mais forte. Cada chicotada era um impulso que a fazia girar lentamente, uma bailarina macabra em um eixo invisível. A dor era aguda, mas o balanço a transformava em uma sensação rítmica e hipnótica.
Enquanto isso, a Armeira, uma mulher de mãos firmes e olhos calmos, aproximou-se com uma vara de vidro contendo um líquido âmbar e quente. Sem cerimônia, ela lubrificou o cuzinho de Sofia e inseriu uma sonda de prazer – um dispositivo de aço escovado com pequenos nódulos que giravam lentamente. A sensação de ser preenchida e estimulada por dentro, enquanto seu corpo estava completamente exposto e vulnerável por fora, foi quase demais para suportar.
“O contraste é a chave,“a voz de Almeida ecoou, enquanto ele trocava o flogger por um pincel de pelos de texugo, mergulhado em óleo essencial de menta. Ele pintou seus mamilos, sua barriga, os lábios de sua boceta. O frescor inicial era um choque, seguido por uma sensação de calor que queimava como fogo gelado. Seus gritos eram agora uma mistura de agonia e deslumbramento.
O Pêndulo a girava continuamente, apresentando cada parte de seu corpo aos seus mestres, como uma oferenda rotativa. Almeida, então, ordenou uma pausa. Ele se posicionou diante dela, seu pau ereto e imponente.
“O equilíbrio,“ele anunciou, “é a lição final.“
Ele a puxou para si pelo colar, e ela balançou em sua direção. Ele a penetrou enquanto ela estava em movimento, sua boceta encontrando seu pau no ponto exato do arco pendular. O impacto foi brutal e delicioso. Ele a fodeu no ritmo do balanço, cada investida sincronizada com o movimento da máquina. Era como ser possuída pela própria física, cada estocada uma consequência inevitável de forças cósmicas.
Sebastian capturou cada som: o rangido dos cabos sob o estresse, os gemidos sincronizados de Sofia, o som úmido e rítmico da carne se encontrando. Era uma sinfonia mecânica e orgânica.
O clímax foi construído não por um, mas por todos os estímulos. A sonda giratória em seu cuzinho, o óleo de menta a queimar em sua pele, as marcas latejantes do flogger, e o pau de Almeida a preenchendo com uma regularidade metronômica. Quando o orgasmo a atingiu, foi com a força de um terremoto. Seu corpo, já em tensão pela suspensão, arqueou-se contra as correntes, um grito contínuo e dilacerante saindo de sua garganta, ecoando no vasto espaço do armazém como o canto de uma alma liberta de sua âncora terrestre.
Os cabos a baixaram lentamente. Seus membros tremiam incontrolavelmente, seus músculos queimavam. Ela desabou no colo de Almeida, que a esperava no chão. Ele a envolveu em um cobertor, acariciando seus cabelos ensopados de suor.
“Agora você entende,“ele sussurrou, enquanto Sebastian recolhia seu equipamento com a reverência de quem guardava um artefato sagrado. “O corpo suspenso não luta contra a gravidade. Ele a aceita. E naquela aceitação, encontra uma liberdade que o chão nunca pode dar.“
Sofia não respondeu. Ela apenas respirou, cada fibra de seu ser cantando uma canção de tensão e alívio. Ela havia se tornado o pêndulo, a oscilação, o movimento puro. E naquele balanço entre a dor e o prazer, ela havia encontrado, finalmente, seu próprio eixo.


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skarlate Comentou em 05/11/2025

Sublime




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Ficha do conto

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Nome do conto:
Fantasias do J.C. - Sofia - Capítulo 5

Codigo do conto:
246467

Categoria:
Sadomasoquismo

Data da Publicação:
05/11/2025

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