O silêncio do quarto nunca havia sido tão alto para Sofia. Deitada na cama, seu corpo ainda ecoava com a memória do fogo e da faca, enquanto se via presa num paradoxo que a rasgava por dentro.
Por um lado, sentia um nojo visceral. Um calafrio percorria sua espinha ao lembrar do sangue secando em sua pele, da sensação de posse absoluta, da forma como seu corpo havia respondido àquela violação calculada. A Sofia de semanas atrás — a menina de uniforme escolar e sonhos convencionais — gritava dentro dela, horrorizada. O que você está fazendo? O que ele fez com você? Isso é errado, doentio, perverso.
Era seu medo falando. O medo do desconhecido, do proibido, da mulher que estava se tornando.
Mas então… então havia a outra parte. A parte que o Professor Almeida havia desenterrado e alimentado. A parte que, para seu próprio terror, não conseguia negar.
Era um sussurro mais baixo, mas infinitamente mais sedutor. Lembrava-lhe das sensações. Não apenas a dor, mas a transformação que vinha depois. Aquele momento de puro êxtase em que a mente se desligava e só o corpo existia, vivo, vibrante, real de uma maneira que nenhuma experiência comum jamais fora. Era a mesma parte dela que, secretamente, se sentia poderosa ao ver o olhar de fascinação e desejo de Almeida. Ela não era mais apenas mais uma aluna. Era… especial. Sua obra-prima, como ele dissera.
Era essa contradição que a consumia. O conflito entre a menina que fora e a mulher que ele lhe prometia ser. Entre o nojo e o desejo. Entre o medo do abismo e a vontade incontrolável de pular.
Sua boceta ainda latejava, um lembrete físico e traiçoeiro de que, não importasse o que sua mente dissesse, seu corpo já havia escolhido um lado. Já havia se rendido. E pior — ou melhor — já havia aprendido a gostar.
Ela se olhava no espelho do quarto e já não via a mesma pessoa. Seus olhos, outrora ingênuos, agora guardavam um segredo sujo e excitante. Sua pele, outrora virgem, carregava a memória de marcas que, embora invisíveis agora, queimavam em seu subconsciente.
Para onde isso a estava levando? O que mais ele iria exigir dela? A sala dos espelhos… o que quereria dizer isso?
O medo insistia em puxá-la para trás. Mas uma curiosidade mais profunda, mais sombria, a empurrava para frente. Era como estar à beira de um precipício, com vertigem e fascinação lutando dentro dela.
Naquela noite, sozinha com seus demônios e dúvidas, ela sabia que estava num ponto de ruptura. Poderia voltar atrás, tentar apagar tudo, fingir que nada acontecera. Ou poderia entregar-se completamente, aceitar o fogo e ver o que nasceria das cinzas da menina que fora.
Sua mão tremeu ao pegar o celular. A mensagem de Almeida ainda estava lá, com o horário e local do próximo encontro.
Ela fechou os olhos e respirou fundo.
E então, sem permitir que o medo vencesse, respondeu um simples "Estarei lá".
Era um sim para ele. Mas, no fundo, era um sim para si mesma. Um sim para a mulher que temia e, secretamente, ansiava por se tornar.
O contrato estava assinado. Agora, era hora de enfrentar seus próprios reflexos.
Os dias que se seguiram ao "Contrato de Carne e Sangue" foram de uma estranha normalidade. Sofia caminhava pelos corredores da escola, assistia às aulas, respondia quando chamada, mas era como se um véu de vidro a separasse do mundo. Sob o uniforme escolar, sua pele era um pergaminho vivo, ecoando as memórias sensoriais daquela tarde na sala de Almeida. A dor das marcas transformara-se num latejar surdo e constante, uma lembrança física de que nada mais seria como antes.
Almeida, em público, mantinha a postura impecável do professor distante. Mas nos breves momentos em que seus olhares se cruzavam, Sofia via o reconhecimento – a centelha de cumplicidade perversa que os unia. Ele a observava, estudando seus movimentos, a nova maneira como ela carregava o próprio corpo, mais consciente, mais presente.
As “aulas particulares” continuaram, mas mudaram de natureza. Já não eram sobre filosofia ou história. Eram laboratórios de sensação.
Num desses encontros, com a luz do crepúsculo mais uma vez banhando a sala, Almeida não a tocou. Em vez disso, sentou-se diante dela e falou.
"A dor, Sofia, não é o oposto do prazer. É o seu irmão gêmeo, seu complemento necessário. Civilizações antigas entendiam isso. Os mistérios de Elêusis, os rituais de Diana... todos usavam o sofrimento controlado como uma porta para o êxtase."
Ele mostrou-lhe gravuras em livros antigos: figuras envoltas em sombras sendo flageladas em templos, rostos transfigurados não pela agonia, mas pela revelação.
“O corpo é uma barreira. A dor, quando bem aplicada, é uma chave. Ela abre fechaduras que a mente insiste em manter trancadas.”
Sofia ouvia, sua boceta a responder às suas palavras com um calor úmido e traiçoeiro. Ele estava a preparando para algo. Ela podia sentir, como se pressentisse uma tempestade prestes a chegar.
Uma semana após o primeiro ritual, ele deu-lhe uma instrução discreta após a aula. “Encontre-me na biblioteca após o expediente. Venha como está.”
O coração de Sofia acelerou. A biblioteca, àquela hora, estaria deserta.
Quando ela chegou, Almeida a esperava perto das estantes de história antiga. Sem uma palavra, ele pressionou um ponto específico na estante – o olho de um querubim esculpido na madeira. Com um ruído suave, uma seção inteira da estante girou, revelando uma passagem estreita e mal iluminada.
“Vem,” ele ordenou, e seu tom não admitia hesitação.
O corredor era frio, as paredes de pedra nua. A luz vinha de lâmpadas azuladas embutidas no teto baixo, criando poças de claridade fantasmagórica. O ar cheirava a terra e a algo mais – ozônio, talvez, como antes de uma tempestade. O som dos seus passos era abafado por um revestimento especial nas paredes. Era um silêncio opressivo, que pesava sobre os tímpanos.
Desceram. Sofia perdeu a noção de quantas voltas deram, quantos degraus desceram. Estavam claramente num subsolo profundo, num lugar que não constava em nenhum mapa da escola.
Finalmente, pararam diante de uma porta de aço escovado, lisa e sem maçaneta. Almeida pressionou a palma da mão contra um painel digital quase invisível. Um feixe de luz verde varreu sua pele e, com um sibilo suave, a porta deslizou para dentro da parede.
O que se revelou fez com que a respiração de Sofia parasse.
A sala não tinha janelas. Era um cubo perfeito, onde cada parede, o teto e até o chão eram revestidos por espelhos de alta qualidade, sem emenda, que refletiam a imagem ao infinito. A luz vinha de fitas de LED frias embutidas nas junções, criando uma claridade fantasmagórica que não perdoava nenhum detalhe. No centro, suspenso por correntes de aço polido que se perdiam no teto espelhado, estava Sofia.
Ela estava nua, como sempre nestas sessões. Mas desta vez, a exposição era total, absoluta. Onde quer que olhasse, milhares de reflexos sua a encaravam – uma legião de ruivas de pele marcada, seios firmes, boceta depilada e olhos que já não sabiam fingir inocência. As correntes a seguravam em uma posição de estrela do mar, braços e pernas estendidos, seu corpo completamente aberto e vulnerável. Era a materialização do pesadelo e do êxtase: não havia para onde fugir de si mesma.
Professor Almeida circulava ao seu redor, um vulto escuro e elegante no labirinto de corpos. Ele vestia um roupão de seda negra e calçava sapatos de couro macio que não faziam ruído. Em suas mãos, ele carregava um flogger de couro de cabra, tiras longas e finas projetadas para causar uma dor aguda e penetrante.
“A lição de hoje, Sofia, é sobre a relação entre o olhar e a dor,“sua voz era um sussurro, mas os espelhos a multiplicavam, fazendo-a vir de todas as direções ao mesmo tempo. ”Você vai aprender que a vergonha é apenas o primeiro nível do prazer.“
Ele parou atrás dela. Nos espelhos à sua frente, ela via suas costas, a curva de suas nádegas, e o rosto dele por cima de seu ombro. Ele via tudo. Ela via tudo.
O primeiro golpe do flogger chegou sem aviso. Crack! As tiras de couro acertaram suas omoplatas com uma precisão cirúrgica. Um grito escapou de seus lábios, e instantaneamente, milhares de suas cópias na sala de espelhos também gritaram. A dor era uma linha de fogo que depois se espalhava, como veneno na corrente sanguínea. Ele não deu tempo para a dor se dissipar.
Crack! Desta vez, nas costas, mais baixo. Crack! Na parte carnuda de suas nádegas. Cada impacto era um ponto de ignição, e seus reflexos se contorciam em uníssono, um balé de sofrimento multiplicado ao infinito. Ela tentou fechar os olhos.
“Abra os olhos,“a ordem sussurrada era inquestionável. ”Veja o que você é. Uma mulher que sente dor. Uma mulher que sangra. Uma mulher que gosta.“
Ele estava certo. Enquanto a dor queimava, sua boceta respondia com uma umidade traidora. Ela podia ver, nos espelhos à sua frente, o brilho de seus próprios fluidos escorrendo pela parte interna de suas coxas. A evidência de seu prazer era incontestável, refletida em um milhão de ângulos.
Ele parou de chicotear e se aproximou. Sua mão, fria da noite lá fora, tocou as marcas vermelhas em suas costas. Ela estremeceu.
“Olhe para o seu reflexo principal,“ ele ordenou, apontando para a imagem diretamente à sua frente. “Veja seus olhos. Eles estão embaçados pelo prazer. Sua boca está entreaberta, implorando. Esta é a sua verdadeira face, Sofia. A face da submissão que anseia.“
Ele então pegou um vibrador de borracha negra, longo e grosso, e um frasco de lubrificante. Ele o lubrificou generosamente diante de seus olhos, nos espelhos.
“Você não vai olhar para mim,“ele sussurrou em seu ouvido, sua respiração quente contrastando com a mão fria. ”Você vai olhar para o espelho. Você vai ver a si mesma sendo possuída.“
Ele posicionou a ponta do vibrador na entrada de sua boceta. Ela estava tão molhada que deslizou para dentro com uma facilidade obscena. Um gemido longo e profundo escapou de sua garganta enquanto o objeto a preenchia. Ele não a penetrava com força, mas com uma lentidão deliberada, permitindo que ela visse cada centímetro do objeto negro desaparecer dentro de seu corpo rosado e exposto. A visão era de uma vulgaridade tão profunda que ela sentiu um novo jorro de excitação.
Ele ligou o vibrador.
O zumbido baixo pareceu ecoar na sala inteira. A vibração interna era intensa e constante, martelando seu ponto mais sensível sem piedade. Seus músculos abdominais se contraíram. Ela tentou fechar as pernas, mas as correntes as mantinham abertas, expondo completamente sua vulnerabilidade pulsante para qualquer um que olhasse – que, neste caso, era apenas ela mesma, infinitas vezes.
“Aguente,”ele sussurrou.
Ele voltou a usar o flogger. Crack! Crack! Crack! As chibatadas agora acertavam suas coxas internas, sua barriga, a lateral de seus seios. A dor aguda, combinada com a vibração implacável dentro de sua boceta, criava um curto-circuito em seu sistema nervoso. Ela já não sabia se estava gritando de dor ou de prazer. Provavelmente de ambos. Seus reflexos mostravam uma mulher em transe, os olhos revirados, a boca babando, o corpo suado e marcado se debatendo contra as correntes.
O orgasmo a atingiu como um raio. Foi violento e involuntário. Seu corpo arqueou para trás, as correntes rangendo, e um grito gutural, primitivo, rasgou o ar. Sua boceta pulsou violentamente em volta do vibrador, e ela viu, nos espelhos, seu rosto se contorcer em uma máscara de puro êxtase animal. Foi a coisa mais íntima e mais pública que ela já experimentara.
Assim que as contrações começaram a diminuir, ele desligou o vibrador e o puxou para fora. A sensação de vazio foi tão abrupta quanto a penetração. Ela ofegava, pendurada, um peso morto nas correntes.
Ele se aproximou dela pela frente, seu rosto sério. Nos espelhos, era um exército de Almeidas encarando um exército de Sofias devastadas.
“Agora,“ele disse, sua voz ainda um sussurro, mas carregada de uma intensidade feroz. ”Agora que você se viu quebrar, você está pronta para a verdadeira provação.“
Ele despiu o roupão. Seu pau estava duro como pedra. Ele não a penetrou imediatamente. Ele a levantou ligeiramente pelas correntes, realinhando seu corpo, e então, com um único e poderoso movimento, entrou em seu cuzinho.
O grito que saiu dela não foi de dor, mas de triunfo. A dor estava lá, sim, uma ardência cortante, mas era uma dor que ela agora reconhecia como sua, uma dor que a preenchia e a definia. Ele a fodeu ali, no centro daquele universo de espelhos, com uma fúria contida, e ela encarou seu próprio reflexo nos olhos enquanto isso acontecia. Ela viu a mulher que se tornara: uma obra de arte viva, pintada com vergões, preenchida com dor e prazer, e infinitamente, brutalmente linda em sua rendição.
Quando ele gozou dentro dela, com um gemido abafado em seu pescoço, ela não fechou os olhos. Ela os manteve abertos, assistindo. A sala de espelhos sussurrava seus segredos, e ela, finalmente, entendia a língua.


