Fantasias do J.C. - Sofia - Capítulo 8



O Ritual das Marcas Eternas

A completude que Sofia sentira ao deixar o Barão era um estado perigoso. Era uma satisfação tão profunda que beirava a arrogância. Ela havia enfrentado um estrangeiro em seu próprio território, submetido-se às suas exigências mais íntimas e, não apenas sobrevivido, mas triunfado. Nos primeiros momentos após deixar o Château, uma voz dentro dela sussurrava que talvez não houvesse mais fronteiras a cruzar, que talvez ela tivesse alcançado o ápice do que a submissão poderia oferecer. Esta ideia, no entanto, trazia consigo um vazio assustador. Se ela já havia conquistado o pico, o que restava além do declínio?
Seu corpo, no entanto, contava uma história diferente. Cada dor, cada marca roxa, cada memória sensorial era um lembrete de que a experiência com Klaus não fora um fim, mas um portal. A violação gelada do consolo de cristal, a posse brutal no seu cuzinho – estas não eram memórias de uma conquista final, mas sim de uma transformação fundamental. Ela percebeu, com um calafrio, que a "Donzela de Fogo" que sobrevivera ao gelo agora carregava uma centelha daquele mesmo gelo dentro de si. A submissão ao Barão não a havia quebrado; ela a havia temperado, fundindo o fogo e o gelo em um novo composto, mais forte e mais perigoso.
Esse novo eu, no entanto, era um território desconhecido. Quem era ela agora, impregnada pela essência de Klaus? As marcas em sua pele eram troféus, sim, mas também eram hieróglifos de uma mudança interna que ela ainda não compreendia totalmente. Havia um conflito silencioso entre o orgulho da conquista e um medo residual do que ela havia permitido, do que havia se tornado para agradar um estranho. O sorriso secreto que deu a Almeida no café da manhã era genuíno, mas também era um ato performático, uma tentativa de projetar uma maestria que ela ainda não sentia completamente.
Enquanto o jato cruzava os Alpes, ela olhava para as montanhas abaixo, sentindo-se como uma delas: aparentemente inabalável na superfície, mas moldada por forças titânicas e carregando as cicatrizes dessa formação em seu núcleo. O silêncio na cabine não era vazio; estava carregado da pergunta não dita: "E agora?". Ela havia queimado e sido congelada. Havia se submetido a um mestre e a um estrangeiro. O caminho à sua frente não era mais sobre sobreviver a provações, mas sobre integrar as contradições que agora habitavam seu ser. As marcas na sua pele eram apenas o rascunho. A próxima etapa, ela intuía, seria torná-las permanentes.
A volta do Château de la Nuit foi um regresso em silêncio. Dentro do jato particular do Barão, Sofia e Almeida não trocaram uma única palavra. Ela olhava pela janela, os Alpes se dissipando sob as nuvens como sonhos evanescentes. Seu corpo era um arquivo vivo daquela viagem. A dor surda e profunda no cuzinho, lembrança da posse final de Klaus, era um eco constante. A sensibilidade extra na boceta, que ainda parecia reter a memória fantasma do consolo de cristal gelado. E as marcas – os hematomas em forma de dedos em seus quadris, os arranhões vermelhos em suas costas, a mordida roxa em seu seio interno. Eram troféus, inscrições em sua pele que contavam a história de sua submissão a um estranho.
Almeida observava-a, seus olhos por trás dos óculos analisando cada microexpressão em seu rosto. Ele não precisava perguntar. A serenidade em seus olhos, a maneira como ela se movia com uma dor que era claramente prazerosa, a aceitação tranquila de seu corpo como um pergaminho para ser escrito – tudo contava a história que ele queria ouvir. Ela não estava quebrada. Estava forjada.
Foi durante a viagem de carro do aeroporto, com a cidade familiar se materializando do lado de fora, que ele finalmente falou.
“O Ritual das Marcas Eternas,“ ele disse, sua voz suave cortando o ruído do motor. “É o próximo passo. A consagração.“
Sofia virou-se para ele, seu interesse imediato e aguçado. “Marcas? Como as do Barão?“
Almeida negou com a cabeça, um sorriso quase imperceptível nos lábios. “Não, Sofia. Hematomas cicatrizam. Arranhões somem. As marcas de Klaus eram… efêmeras. Belas, mas temporárias. O ritual do qual falo é sobre algo permanente. Sobre transformar a sua pele na capa do livro da sua própria história.“
Ele explicou enquanto o carro deslizava pelas ruas noturnas. O ritual seria realizado por uma artista, uma mulher conhecida apenas como Lilith. Especializada em body modification de alto nível, ela não era uma tatuadora comum. Era uma arquiteta de carne e tinta, uma sacerdotisa do sacrifício estético. O estúdio dela, A Agulha e o Espírito, era um santuário onde a dor era o medium e a beleza, a recompensa.
“É uma cerimônia de transição, Sofia,“ Almeida continuou, sua mão pousando sobre seu joelho. “Até agora, você foi uma tela. Uma estudante. Uma obra em progresso. As marcas eternas serão a sua assinatura. A prova de que você se apropriou de toda essa jornada, de que a internalizou e a transformou em parte fundamental de quem você é. Será a sua coroação.“
A ideia ecoou profundamente dentro de Sofia. A perenidade daquilo. Tornar as lições de prazer e dor, de submissão e poder, em algo indelével. Não era sobre Almeida, ou Klaus, ou qualquer outro. Era sobre ela. Era a afirmação final de que aquela não era uma fase, mas a sua nova e verdadeira natureza.
A ansiedade pelos dias que antecederam o ritual era um tipo diferente de tormento. Era mental, espiritual. Ela examinava seu corpo no espelho, imaginando os desenhos sob sua pele pálida. Onde eles iriam? O que representariam? Ela banhava-se com óleos, mantendo a pele macia e preparada. Sua boceta e seu cuzinho, acostumados à violência e ao prazer, agora sentiam-se quase negligenciados pela antecipação de um tipo diferente de penetração – a da agulha.
A noite do ritual chegou. O estúdio de Lilith ficava no último andar de um prédio antigo, com vistas panorâmicas da cidade iluminada. O espaço era clinicamente limpo, iluminado por luzes LED neutras. Instrumentos cirúrgicos repousavam sobre bandejas de aço. Havia uma aura de quieta reverência no ar.
Lilith era uma mulher de cabelos prateados cortados rente e olhos cinza que pareciam ver através da pele, diretamente para a alma. Vestia um jaleco branco imaculado.
“Sofia,“ ela cumprimentou, sua voz era suave, mas sem calor. “O professor me contou muito sobre você. Sua jornada. Suas… provas.“ Seus olhos escanearam seu corpo, não com desejo, mas com a avaliação crítica de um artista. “Está pronta para tornar a sua pele em um testemunho eterno?“
Sofia respirou fundo e assentiu. “Estou.“
Ela deitou-se de bruços na mesa, que lembrava uma maca de massagem, mas era aquecida e acolchoada com couro branco. Almeida ficou a um canto, observando, seu rosto uma máscara de orgulho expectante.
Lilith começou pelas costas. O zumbido da máquina de tatuar encheu a sala, um som que se tornaria a trilha sonora das próximas horas. A primeira picada da agulha foi um ferrão agudo, uma dor pontiaguda e concentrada que fez Sofia estremecer. Mas era uma dor familiar, irmã daquela que ela já conhecia e amava. Ela respirou fundo e aceitou-a.
Lilith trabalhava com uma precisão hipnótica. O desenho que emergia era complexo e simbólico. Na base da sua coluna, logo acima do cóccix, ela tatuou uma espiral intricada, da qual saíam padrões que lembravam chamas estilizadas – uma representação da sua essência ígnea, a Donzela de Fogo. As chamas subiam pelas suas costas, entrelaçando-se com formas geométricas que representavam as lições de Almeida, e se estendiam para os lados, envolvendo suas costelas.
A dor era constante, um zumbido latejante que se infiltrava em seus ossos. Havia momentos de agonia pura, especialmente perto da coluna vertebral e nas áreas mais ossudas. Sofia mordia o travesseiro de couro, suas mãos se agarrando às bordas da mesa. Sua boceta, paradoxalmente, começou a umedecer. A dor, o som da máquina, a imobilidade, a sensação de estar sendo permanentemente marcada – era um cocktail erótico perverso. Ela sentiu o desejo crescer dentro dela, um calor que contrastava com a dor fria e pontiaguda das agulhas.
Após horas, Lilith pediu que ela se virasse. A frente seria o verdadeiro desafio. Nos ossos púbicos, logo acima da sua boceta, Lilith tatuou um olho estilizado dentro de um triângulo – o olho que tudo vê, o símbolo do conhecimento e da exposição total. A agulha trabalhando tão perto de seus lábios externos, daquele nervo central de seu prazer, era uma tortura sublime. Cada vibração da máquina ecoava diretamente em seu clitóris. Sofia gemeu, seus quadris se contorcendo involuntariamente. Ela estava à beira do orgasmo, impulsionada apenas pela dor e pelo contexto.
Lilith ignorou suas reações, focada em seu trabalho. Ela então trabalhou na parte interna de suas coxas, áreas de uma sensibilidade brutal. A dor era tão intensa que Sofia chorou, lágrimas silenciosas escorrendo pelo seu rosto. Almeida aproximou-se e, com um gesto surpreendentemente terno, enxugou suas lágrimas.
“A beleza exige sacrifício, Sofia,“ ele sussurrou. “E você é linda.“
A última marca foi a mais significativa. Logo abaixo do umbigo, no centro de seu ventre, Lilith tatuou uma única palavra em um alfabeto elegante e arcaico: Ananke.
“É grego,“ Almeida explicou, sua voz próxima ao seu ouvido. “Significa ‘necessidade’, ‘fatalidade’, ‘o inevitável’. Representa a força cósmica da compulsão, o destino do qual não se pode escapar. É o que você abraçou.“
Quando a última agulha finalmente silenciou, Sofia estava exausta, tremendo, coberta de suor, sangue e uma fina camada de pomada. Lilith ajudou-a a levantar e a levou até um espelho de corpo inteiro.
Sofia olhou para seu reflexo e prendeu a respiração. Suas costas eram uma tapeçaria de fogo e ordem. O olho acima de sua boceta parecia observar tudo, um lembrete permanente de sua vulnerabilidade e poder. E a palavra Ananke em seu ventre – era a verdade final. Tudo isso, toda a jornada, não foi um acidente. Foi uma necessidade. Foi o seu destino.
A dor latejante em sua pele era uma canção de posse. Ela não pertencia a Almeida, ou a Klaus. Ela pertencia a si mesma, e as marcas eram a escritura de propriedade.
Naquela noite, de volta ao apartamento de Almeida, ele a fez deitar de bruços na cama, suas costas recém-tatuadas expostas. Ele não a tocou sexualmente. Em vez disso, ele passou horas aplicando pomada nas feridas, suas mãos incrivelmente gentis percorrendo as novas marcas.
“Agora,“ ele sussurrou, enquanto ela adormecia sob seu toque, “agora você é eterna. Agora você é verdadeiramente minha, porque primeiro se tornou verdadeiramente sua.“
E Sofia adormeceu com um sorriso, sua pele cantando uma nova e eterna canção, uma melodia de dor, prazer e inevitabilidade que ela carregaria para sempre.


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Ficha do conto

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Nome do conto:
Fantasias do J.C. - Sofia - Capítulo 8

Codigo do conto:
246901

Categoria:
Sadomasoquismo

Data da Publicação:
11/11/2025

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