Henrique entrou no carro por volta das 14h. Era um rapaz mulato, magro, de expressão doce e jeito de menino — camisa larga, mochila jogada no colo, e um sorriso rápido que mostrava dentes bonitos. Disse o endereço com voz baixa e o carro partiu. O trajeto era curto, e Henrique parecia não ter pressa. Lá pelos cinco minutos de conversa amena, Marcos pigarreou:
— Cara… desculpa a liberdade, mas… posso usar seu banheiro rapidinho quando a gente chegar? Não paro desde cedo e tô quase estourando aqui…
Henrique deu uma risadinha e assentiu:
— Claro… é só um quartinho, mas tem banheiro no fundo. Fica à vontade.
Chegando ao local, o rapaz o guiou até a lateral da casa. Era mesmo simples: só uma cama, um notebook antigo ligado sobre uma mesinha, e o ventilador girando com ruído. Marcos agradeceu com um sorriso e entrou no minúsculo banheiro ao lado.
Foi quando viu.
Ali, quase com naturalidade, sobre o tanque, repousava um consolo grande, grosso, de silicone escuro e base com ventosa. Não havia como não notar. Ele travou por um segundo, e uma sensação quente percorreu-lhe o peito e desceu até o ventre.
Marcos mordeu o lábio. Uma parte dele ficou imóvel, admirando o objeto. A outra, sentiu o corpo responder. Estava excitado.
Mas do outro lado da porta, Henrique também percebeu algo.
Pela fresta da bermuda jeans clara de Marcos — que ele viu quando o homem virou para entrar — escapava uma alça preta, fina, de lingerie. Não era uma cueca. Era uma calcinha feminina, cavada, com tecido brilhoso. Henrique arqueou a sobrancelha e mordeu o canto da boca, curioso.
Marcos saiu do banheiro com o rosto mais vermelho do que entrou, tentando disfarçar a reação. Mas o olhar de Henrique agora era outro — mais fixo, mais curioso… mais atrevido.
— Obrigado, viu. Já tava no limite.
Henrique inclinou a cabeça:
— Sem problemas… — ele fez uma pausa, depois sorriu torto. — Curti sua calcinha.
O silêncio caiu denso por um segundo. Marcos congelou, depois riu curto, meio sem jeito.
— Viu mesmo, né?
— Uhum — Henrique cruzou os braços, encostando-se à porta. — E você viu o que eu deixei no banheiro?
Os dois se olharam por longos segundos.
— Vi. Não tem como não ver — respondeu Marcos, a voz mais baixa, rouca.
Henrique se aproximou devagar, como quem testa um limite. Parou diante de Marcos, que tinha quase o dobro de sua idade. Mas ali, agora, a hierarquia era outra.
— Gosta de usar lingerie? — Henrique perguntou, com um toque de malícia.
Marcos engoliu seco e assentiu.
— Desde muito tempo… mas ninguém sabe.
Henrique levantou a barra da camisa larga, deixando à mostra a pele lisa da barriga, o jeans baixo revelando o elástico da cueca branca.
— Eu sei. Agora.
O clima estava carregado. Marcos estava duro. Henrique também.
O rapaz deu um passo mais, colando o corpo magro contra o do homem mais velho, sentindo a textura da renda sob a bermuda. Sua mão escorregou pela cintura de Marcos, entrando pela lateral da peça.
— Posso ver melhor?
Marcos respirou fundo, como se aquele momento fosse libertador. Sem responder com palavras, desabotoou lentamente a bermuda, deixando-a cair até os tornozelos.
A lingerie preta era cavada, justa, e moldava perfeitamente o volume que pulsava ali dentro. Henrique mordeu o lábio inferior e ajoelhou-se diante dele, os olhos brilhando de desejo.
— Você é mais safado do que imaginei… — disse Henrique, puxando com os dentes a lateral da calcinha, até sentir o cheiro quente de Marcos bem de perto.
O ar ficou espesso. O ventilador continuava a girar, mas não refrescava nada.
Ali, no quarto simples de aluguel, antes mesmo de sair para o destino final da corrida, Marcos e Henrique iniciavam outra viagem — uma bem mais intensa, provocante… e sem volta.
Mais do que com uma pausa, essa é uma ansiada viagem sem volta. Deliciosamente bem narrado, conto ótimo!