Meu segredo

Meu segredo
A academia tinha aquele cheiro de ferro fundido e suor, aquele calor abafado que fazia o corpo pulsar de desejo por desafio e superação. Eu estava ali com um objetivo simples: ganhar força para ajudar no estágio de enfermagem e, confesso, chamar atenção de homens que me despertavam interesse há tempos. Homens mais velhos, peludos, com aquele corpo trabalhado que por algum motivo sempre me fascinou.
Foi na última terça-feira, quando eu ajustava o peso no supino, que ele surgiu. Moacir. Diferente de qualquer um que eu já tinha reparado. Quarenta anos, pele bronzeada pelo sol, músculos firmes que denunciavam trabalho duro. Tinha um jeito tranquilo de observar sem pressa, como se conhecesse cada fibra do próprio corpo. Ele não era aquele tipo que tenta impressionar com gritos ou exibicionismo. Era simples, verdadeiro, e seu olhar carregava uma mistura de experiência e ternura.
— Precisa de ajuda? — ouvi a voz grave e mascula dele de repente, um convite silencioso que fez meu peito apertar pela surpresa.
— Ah, eu... — gaguejei, meio sem jeito, mas ele sorriu, mostrando uma linha de dentes brancos um pouco marcados pelo tempo, e isso me acalmou.
Ele me ajudou a encaixar os pesos, seus dedos fortes roçando os meus por um breve instante que deixou eletricidade no ar. O calor do seu corpo perto do meu, seu perfume misturado com suor, a respiração lenta e controlada, tudo me deixava cada vez mais excitado e era impossível esconder todo meu interesse e entusiasmo naquele calção de tecido leve, mas Moacir disfarçou bem.
Alguns dias depois após várias interações ocasionais e assistências no treino, Moacir me chamou para correr em um parque perto dali. Mesmo cansado querendo ir para casa depois do trabalho e treino não consegui recusar. Enquanto caminhávamos, ele contou pedaços da vida: trabalhava na fábrica como auxiliar de serviços gerais, brigava com o salário curto e suas artimanhas de economia apertada, falou da ex, Miranda, que não aceitava o fim do casamento e insistia em usar a filha, Mirela, para tentar reatar.
Quando falei de mim, estudante de enfermagem, filho único, abri só um pouco do que sentia. Nunca contei a ninguém sobre minha inclinação por homens mais velhos, nem sobre como meu desejo por eles. Moacir aceitou tudo com um sorriso, como se aquilo fosse algo mais natural do mundo o que me deixou confortável.
Na semana seguinte, no vestiário da academia, nos encontramos de novo, “sem querer”. Na real eu tinha visto ele indo para o vestiário e estranhei sua demora em sair. Moacir não costumava se banhar após o treino, mas neste dia ao entrar no vestiário o vi ali nú, com a água caindo e escorrendo por aquele belo e esculpido corpo que era por ele ensaboado. A pele dele quente, o cheiro amadeirado misturado com suor, seu jeito, não resisti e me aproximei devagar. Quando nossos olhares se cruzaram, não exitei e toquei o seu rosto com delicadeza. Ele segurou minha mão, e ali naquela penumbra, nossos lábios se encontraram num beijo que guardava todos os desejos reprimidos dos nossos dias solitários.
Os lábios daquele homem virilha chupando meu pescoço, seu pau duro tocando minha virilha, minhas mãos percorrendo aquele corpo musculoso, molhado era um sonho, não era real, mas não estávamos “seguros”. A porta do vestiário se abriu como um raio nos separamos e disfarçamos enquanto outro frequentador da academia se aliviava no mictório.
Com sorriso no rosto de quem quase foi pego por suas travessuras terminamos nosso banho e seguimos juntos. Moacir iria se encontrar com sua filha e distraído com sua companhia fui junto.
Mirela, filha de Moacir, viu de longe um beijo que roubei de seu pai. Ela não disse nada, apenas sorriu de leve para mim quando seu pai, Moacir me apresentou a ela como “um amigo da academia”, e eu guardei silêncio, agradecendo secretamente pela discrição dela, embora suspeitasse que ela sabia muito mais do que aquele sorriso dizia.
Mas a vida sempre cobra um preço. Poucos dias depois, na casa em que moro com minha mãe, Rute me fez um sermão com ar preocupado:
— Filho, você é tão jovem... vive para o trabalho, mas precisa sair, se divertir , encontrar uma namorada boa para te fazer feliz, alguém para no futuro me dar netos para correr por aqui.
Eu sorri e acariciei seu rosto e lhe dei um beijo na testa.
— Mãe, eu sei cuidar de mim. Só preciso de um pouco mais de tempo para encontrar meu caminho.
Ela suspirou, aceitando o silêncio.
Enquanto eu guardava o segredo do meu coração, sentia que ali começava algo impossível de esconder e precioso demais para qualquer julgamento.

Autor: Mrpr2