«Deus... finalmente... sua bunda... vou foder essa bunda perfeita...»
A antecipação e o medo eram quase insuportáveis.
— Empurre, Vicente. Com firmeza, mas constante.
Vicente posicionou sua glande - inchada, escorregadia de lubrificante - contra o ânus de Lali. O anel de músculos apertado, ainda fechado apesar da preparação.
Pressionou.
Resistência imediata. Como empurrar contra uma parede de carne que se recusava a ceder.
—Um pouco mais forte... —A voz de Lali tensa, antecipando—. Tem que... tem que quebrar a resistência inicial...
—Você tem que relaxar. Impedir que ela ofereça resistência. — aconselhou Vicente, sem saber muito bem o que estava dizendo, genuinamente preocupado com ela.
Vicente aumentou a pressão. Constante. Firme, mas não brutal.
E então aconteceu.
O momento de rompimento.
O esfíncter cedendo repentinamente. Sua glande o atravessando. Penetrando.
A sensação foi...
"Foda-se. Tão apertado. Muito apertado. Como se eu fosse quebrar meu pau.»
Mas o que veio depois dessa sensação foi o som.
Lali uivou.
Não um gemido. Um grito real. Agudo. De pura dor.
— PORRA! — Sua voz quebrando. PARA! Para um momento! PARA!
Vicente congelou instantaneamente.
Cada músculo do seu corpo bloqueando. Completamente imóvel.
Pânico, frio inundando-o.
"Foda-se. Eu o machuquei. Eu a machuquei. Eu sabia que ia acontecer. Eu sabia que não tinha a mínima ideia do que estava fazendo."
— Você está bem? — Sua voz saiu áspera de medo. Lali, querida, você está bem? Eu tiro?
"Querida? Acabei de chamá-la de querida?
Mas não havia tempo para processar isso.
— NÃO! — Lali quase gritou, a voz misturando pânico com determinação. Não tire! Não tire isso, porra!
Sua mão alcançou para trás, procurando a perna de Vicente. Agarrando-o. Como âncora.
—Só... ai, merda... só me dê um segundo... só um segundo...
Vicente podia sentir seu corpo tremendo sob o dele. Cada músculo tenso. Sua respiração saindo em suspiros curtos, trabalhosos.
Apenas sua glande dentro. Mas o esfíncter apertando ao redor com tanta força que quase doía.
"Estou machucando ela. Tenho que tirá-la. Isso foi uma má ideia."
Mas então ele ouviu outra coisa.
Um som que não era um gemido de dor.
Era Lali... chorando?
Não. Não exatamente.
Respirações profundas. Deliberadas. Como as mulheres fazem no parto. Técnica de controle da dor.
E entre essas respirações, palavras murmuradas contra o tapete.
Pensamentos de Lali vocalizados sem perceber:
—Ok... ok,... você pode fazer isso... —Falando consigo mesma—. Não é tão doloroso como pensava... não é tão ruim... não... não precisa... você só precisa respirar... porra, dói... ai, faz mal... mas não é... não é insuportável... anos esperando isso... ans, porra... Lali, não desista agora... não se renda agora... você é dura... você é forte... você pode... você pode aguentar...
As palavras entrecortadas. Misturando sotaques sem controle. Seu processo mental completamente exposto.
Vicente sentiu algo se contorcendo em seu peito.
"Ela está lutando consigo mesma. Ela quer tanto isso que está disposta a passar a dor. E eu...»
Ele moveu a mão do quadril até as costas. Acariciando. Suave. Reconfortante.
—Lali... —Sua voz baixou, tornando-se mais suave. Olhe para mim. Querida, olhe para mim.
Ela virou a cabeça. Rosto vermelho. Olhos brilhantes—lágrimas de dor ou de esforço?
— Você não precisa fazer isso. — Vicente continuou, tom gentil, mas firme. Podemos parar. Não acontece nada. Você não precisa provar nada a si mesma.
—Não... —Lali balançou a cabeça. Não vou... não vou parar... Eu esperei... porra, eu esperei quarenta malditos anos para sentir isso... não vou desistir porque... ai... porque dói um pouco...
—Lali, isso é mais do que "um pouco"...
—Eu sei! Eu sei! —Ele quase gritou. Eu sei que dói... eu sei que talvez eu tenha sido idiota por pensar que... que na minha idade... que meu corpo... sentisse...
Parou. Respiração profunda.
Quando ele falou novamente, sua voz estava mais controlada, mas carregada de emoção crua:
—Mas eu quero isso, Vicente. —Olhando diretamente para ele. Quero sentir... tudo. Quero saber como é. Não quero morrer sem... sem ter tido isso pelo menos uma vez...
Pausa.
— Só... me dê um momento. Para me ajustar. Para me adaptar. E depois... depois continua. Por favor.
Vicente acariciou suas costas. Devagar. Círculos reconfortantes.
—O tempo que você precisar. —Murmurou—. Não vou a lugar nenhum. Estou aqui. Com você.
Trinta segundos.
Vicente contou cada um. Observando seu rosto. Vendo como sua expressão mudou gradualmente.
As rugas de dor ao redor de seus olhos relaxando milímetro a milímetro.
Sua mandíbula se soltando.
Respirações ficando mais profundas. Mais controladas.
E então, milagrosamente, ele sentiu mudança.
O esfíncter - que estava apertando sua glande como um torniquete - começou a ceder.
Não muito. Mas perceptível.
Os músculos aprendendo a acomodá-lo. Aceitando.
Lali também sentiu isso porque seus olhos se arregalaram de surpresa.
—Ai... —Murmurou—. Está... acho que está... está adaptando... já não dói tanto...
—Não?
—Não. Quero dizer, sim. Ainda dói. Mas... diferente. Menos.... menos agudo. Mais... como pressão. Muita pressão mas... ai, Déu... manejável...
Ela moveu os quadris experimentalmente. Milímetro para trás.
Ele gemeu—mas desta vez o som era diferente. Menos dor. Mais... curiosidade?
—Ostras... —Sussurrou—. Eu posso... acho que posso... caralho...
Ele olhou para Vicente por cima do ombro. Seus olhos ainda brilhando, mas agora com determinação renovada.
—Está bem. —Voz firme. Estou pronta. Faça isso. Continua. Devagar ainda mas... firme... continua. Quero sentir... tudo.
—Tem certeza?
—Completamente.
Vicente respirou fundo. Profundo.
—Diga-me se mudar. Se doer mais. Se precisar que eu pare. Qualquer coisa.
—Eu vou. Promessa. Agora... por favor... mete... continue.
Vicente empurrou.
Milímetro a milímetro.
Observando seu rosto a cada movimento minúsculo.
Seu pau deslizando mais para dentro. Enterrando-se naquele calor impossível, aquela pressão que superou tudo o que ele havia sentido antes.
Mais apertado do que qualquer vagina. Mais quente. Mais intenso.
Lali gemendo a cada centímetro.
Mas agora os gemidos eram diferentes.
Mistura mais equilibrada de dor e... algo mais.
—Ai... ai, porra... —Passou. Tão ple... tão grosso... nunca havia...
—Certo ou errado? —Vicente perguntou, voz tensa de esforço e preocupação.
—Ambos... os dois... dói mas... mas... ai, ... também se sente... não sei... expressar... tão cheio... como se... como se você estivesse... envolvido.. em todos os lugares... dentro de mim...
Mais profundo.
Três quartos dentro agora.
— Resta... sobra mais? — perguntou Lali, com um fio de voz.
—Um pouco. —Vicente acariciou seu quadril. Você pode?
—Puc... sim... puc... posso... só... devagar... muito devagar...
O último quarto foi o mais lento.
Vicente empurrando com controle milimétrico. Vendo cada micro-expressão cruzar o rosto de Lali.
E finalmente...
Completamente dentro.
Suas bolas pressionando contra as nádegas de Lali. Nada ficando de fora. Enterrado até a base em seu calor apertado e impossível.
Pausa longa.
Ambos completamente imóveis.
Vicente sentindo o ânus de Lali se contraindo em torno de seu pau. Pulsando. Ajustando-se. Aprendendo a acomodá-lo.
Lali respirando pesadamente contra o tapete.
— Porra. — Murmurou finalmente. Me sinto tão cheia. Tão cheio pra caralho.
Sua mão desceu. Vicente ouviu o som úmido de seus dedos encontrando seu clitóris.
Ela começou a se masturbar.
—Ai, porra... —Gemeu—. Quando me toco... quando me toco lá... posso sentir... puc sentir... seu pau... de dentro... pressionando... porra... é tão estranho... tão intenso...
Ela moveu os quadris experimentalmente. Milímetro. Provando.
Ele gemeu—definitivamente mais prazer do que dor agora.
—Está bem. —Respiração profunda. Acho... acho que estou pronta. Mexa-se. Devagar ainda mas... mou-te... quero sentir... como é... quando você se move por dentro...
Vicente retirou seu pau. Centímetro. Devagar. Cuidado.
—Ahhhhh... —Lali exalou longamente—. Sim... així... posso sentir cada... cada centímetro... saindo... ai...
Ele empurrou de volta. Tão lento.
—MMMMMH... foda-se... entrando de novo... tão grande... tão... ai, collons, sim...
Vicente se retirou. Centímetro. Ele empurrou de volta.
Ritmo lento. Superficial.
Lali gemendo a cada movimento.
—Mais... você pode ir mais rápido...
Ele acelerou gradualmente.
Investidas mais profundas. Mais rápido.
O som de seus corpos colidindo.
Tapa. Tapa. Tapa.
Lali se masturbando freneticamente.
— Você gosta de foder minha bunda? — perguntou entre gemidos.
— Porra, sim.
—Melhor do que as vadias chiques de suas clientes?
—Muito melhor.
—Por quê?
Vicente procurou palavras enquanto fodia.
—Porque você me dá tudo. Sem jogos. Sem pretender.
—O que mais?
—Porque você confia em mim. —As palavras saindo sem filtro. Você me deixa entrar completamente. Sem reservas.
Lali gemeu mais alto.
—Sim... porra, sim... mais rápido... me foda mais forte...
Vicente obedeceu. Acelerando. Investidas mais brutais.
Seu pau se enterrando completamente a cada empurrão.
Lali gritando agora.
—Mete Me foda! Me foda o cu!
Seus dedos trabalhando seu clitóris como possuídos.
—Vou gozar... porra, vou gozar de novo...
Seu corpo ficando tenso.
—Não pare... por favor, não pare...
Vicente bateu mais forte. Mais profundo.
Lali explodiu.
—ASSSIM!
Seu ânus se contraindo violentamente ao redor do pau de Vicente.
Ordenhando-o.
Vicente sentiu seu próprio orgasmo detonar.
Inevitável. Impossível de parar.
—Lali... sente o gozo...
— Dentro. — Lali ofegou. Encha minha bunda. Marque-me como sua.
Mais três investidas e explodiu. Seu pau batendo violentamente. Enchendo a camisinha dentro dela. Um. Dois. Três. Quatro tiros. Esvaziando completamente. Gritando seu nome sem controle.
—LALI!
Ele desabou de costas. Peso total pressionando-a contra o tapete.
Ambos tremendo. Ofegando. Suados. Eles permaneceram assim. Conectados. Entrelaçados. Vicente ainda dentro. Sentindo as contrações finais de seu orgasmo. Ele finalmente se aposentou. Devagar. Cuidado.
Lali gemeu pela perda. Ele caiu completamente. De bruços no tapete.
Vicente caiu ao seu lado.
Ambos olhando para o teto. Respirações sincronizando gradualmente. Silêncio. Apenas o som de suas respirações. O ar condicionado desligado fazendo com que o calor se acumule. Suor esfriando na pele nua.
Vicente virou a cabeça para Lali. Ela não tinha se mexido. Ainda de bruços. Bochecha contra o tapete persa. Olhos fechados.
— Você está bem, querida? — ele perguntou. Voz rouca. Eu te machuquei?
Lali abriu um olho. Ele olhou para ele.
— Vai doer sentar por dias, querida — respondeu esboçando um sorriso frágil.
O pânico tomou conta de Vicente.
— Porra, Lali, desculpe, eu...
Ela riu. Suave mas genuíno.
—Não se desculpe. —Fechou o olho novamente, enquanto aumentava o tom de sua voz. Valeu a pena.
Pausa.
—Nunca... —sua voz suavizou— ...nunca me senti assim.
—Assim como?
—Cheia. Completa. Como se... não sei. Como se cada parte de mim tivesse finalmente sido tocada.
Abriu os dois olhos. Ele olhou diretamente para ele.
—Obrigado.
Vicente estendeu a mão. Ele acariciou suas costas. Sem pedir permissão. Ele esperou que ela o impedisse. Não o fez. Em vez disso, ela suspirou. Satisfeita.
—Isso é bom.
Seus dedos traçaram sua espinha. Devagar. Da nuca até o vale da parte inferior das costas. Pele macia sob os dedos. Suor secando. Algumas pintas espalhadas. Humana. Perfeitamente humana.
— Genaro sabe que você está aqui? — perguntou Vicente. Não sabia por quê. A pergunta simplesmente saiu.
Lali ficou levemente tensa.
—Meu Genaro está em Santos. Com seus amigos aposentados. Toda a semana.
—Ele perguntou onde você estaria?
—Não. —Risos sem humor. Nunca pergunta. Enquanto tiver sua cerveja e seu dominó, o resto do mundo pode queimar.
Pausa.
— Não nos tocamos há muito tempo... quanto eu te disse? Dez anos?
—Sim.
—Minto. —Admissão suave—. São mais. Catorze. Talvez quinze.
Vicente continuou acariciando-a. Não interrompendo.
— No começo me doeu. — Lali continuou, voz distante. Sentir que me tornei invisível para ele. Que meu corpo não valia mais a pena.
—Mas depois...
— Depois percebi que nunca tinha valido a pena. Não para ele. Eu era apenas... função. A esposa. A mãe. A que limpava a casa.
Ele se virou levemente. Olhando para ele.
—Nunca fui pessoa. Na verdade não.
—Até agora.
Não foi uma pergunta. Foi afirmação.
Lali sorriu.
—Até agora.
Ele se levantou lentamente. Dolorida. Movendo-se com cuidado. Sentou-se. Pernas cruzadas. Completamente nua. Sem vergonha.
— E você? — perguntou. Cristina suspeita?
Vicente sentou-se também. Costas contra o sofá de couro.
—Não sei. —Honestidade brutal—. Às vezes acho que ela sabe. Aceito que é impossível que ela não perceba... algo.
—Mas ela não pergunta.
—Não.
—Porque ele não quer saber.
—Exato.
Silêncio confortável.
Compartilhando segredos que não haviam verbalizado com mais ninguém.
— Você realmente a ama? — Lali perguntou. Sem acusação. Apenas curiosidade.
Vicente processou a pergunta.
—Acho que sim. À minha maneira. —Pausa—. Eu a respeito. Eu a valoriizo. Agradeço o que faz pela nossa família.
—Mas você não a deseja.
—Não. Não há... anos.
—Você já a desejou?
Vicente procurou em sua memória.
—No começo. Os primeiros anos. Mas mesmo assim... não sei. Foi mais cumprimento de expectativas. Ela era a namorada certa. De boa família. Educada. Linda.
—Perfeita.
—No papel, sim.
—E na realidade?
—Na realidade... ela nunca me viu. Creio mesmo que não. Ela viu o arquiteto bem sucedido. Ao bom provedor. Ao pai responsável.
Ele olhou para Lali.
—Assim como Genaro com você. Ela estava vendo a função. Não a pessoa.
Lali assentiu. Entendendo completamente.
—Somos iguais, certo? —murmurou—. Duas pessoas invisíveis. Interpretando papéis coadjuvantes em uma peça da qual somos quase apenas espectadores.
—Até agora.
—Até agora.
Pausa longa.
Então Lali se levantou. Com energia que surpreendeu Vicente.
—Deveríamos limpar.
O momento de intimidade terminando antes que se tornasse muito perigoso. Antes que passassem de sexo secreto para conexão emocional real.
Ele caminhou até seu carrinho de limpeza no corredor. Completamente nua. Sem se importar. Ele voltou com lenços umedecidos. Spray de limpeza especializado. Ele se ajoelhou ao lado de Vicente.
—Fique quieto.
Ele limpou seu pau. Suave. Profissional. Removendo a camisinha usada —ainda cheia de sêmen—. Ela o envolveu em lenços umedecidos. Ele o enfiou em um saco plástico que havia trazido especificamente para isso.
— Evidências eliminadas. — Ela sorriu. Ninguém nunca saberá.
Então ela se limpou. Entre as pernas. Onde o lubrificante tinha vazado.
Vicente observou fascinado.
A transformação de amante para faxineira acontecendo diante de seus olhos. Quando ele terminou com seus corpos, ele atacou o tapete. A mancha desta vez foi menor — graças ao preservativo —. Mas havia lubrificante. Fluidos. Spray aplicado. Deixado agir. Esfregado com lenço especial. Desaparecendo como se nunca tivesse acontecido.
—Pronto. —Sentou-se sobre os calcanhares, satisfeita. Ninguém vai notar nada.
Ele se levantou. Ele começou a se vestir. Calcinhas primeiro. Em seguida, o sutiã esportivo que eu havia esquecido de colocar antes. Calça azul marinho. Polo branco. Transformando-se de volta. De amante nua e vulnerável para Lali, a faxineira.
Vicente também se vestiu. Mais devagar. Boxers. Calça. Camisa completamente desabotoada. A gravata esquecida em sua mesa.
Quando ambos estavam vestidos, eles se entreolharam. Estranheza repentina. Como se fossem duas pessoas diferentes das que estavam nuas minutos antes.
—Bem. —Lali quebrou o silêncio. Estou indo embora.
Ele empurrou seu carro em direção à porta.
Ele parou na soleira.
Ele se virou.
—Vicente...
—Sim?
Ela vacilou. Como se fosse dizer algo importante. Então foi decidido. Ele se aproximou. Rápido. Ficou na ponta dos pés. Ele o beijou. Não foi um beijo sexual. Foi... outra coisa. Suave. Quase amoroso. Grato.
Quando ele se separou, ela olhou para ele.
—Obrigado. De verdade.
E saiu antes que ele pudesse responder. O som de seu carrinho se afastando pelo corredor. Depois o elevador. Então silêncio.
Vicente ficou sozinho em seu escritório.
Cheiro de sexo ainda no ar se misturando com produtos de limpeza. Evidência física removida. Evidência emocional permanecendo.
Ele caiu em sua cadeira ergonômica. A mesma cadeira onde Lali havia se sentado há duas horas. Ordenando-o. Dominando-o.
Ele olhou para o telefone. 22:47.
Tarde demais para jantar com a família. Cristina teria alimentado as crianças horas atrás.
Mas não é tarde demais para inventar desculpas.
[22:48] Vicente: Reunião foi alongada. Cliente pesado. Chego em 30min. Não me espere acordada.
Resposta quase imediata.
[22:49] Cristina: Ok. Sobras na geladeira. Boa noite.
Ele nem sequer perguntou detalhes.
Ele nem sequer duvidou.
«Quando começamos a ser tão... corteses? Tão educadamente distantes.»
Ele guardou o telefone.
Ele se levantou. Ele pegou sua gravata. Sua jaqueta. Sua pasta vazia. Apagou as luzes do escritório. Trancou. Ele desceu de elevador. Ele caminhou pelo estacionamento silencioso até seu Audi. Sentou-se. Motor ligado.
E desta vez, a culpa veio. Não por foder Lali. Isso... isso parecia certo de uma forma que eu não conseguia explicar. Mas pela facilidade com que ele mentiu. Pelo que bem ele havia construído sua vida dupla. Pelo pouco que ele se importava em destruir seu casamento, desde que pudesse manter as aparências.
"Que tipo de homem eu sou?"
Não tinha resposta. Ele dirigiu até em casa.
Sexta-feira, 23:18
Apenas algumas luzes quebravam a escuridão do chalé quando Vicente estacionou. Apenas a luz da varanda acesa. Ritual que Cristina mantinha religiosamente.
Entrou silenciosamente. Sapatos na entrada. Casa silenciosa, exceto pelo zumbido do ar condicionado.
Ele subiu as escadas. Evitando o degrau que range - terceiro de cima, lado direito.
Corredor do segundo andar. Quarto dos gêmeos: ronco sincronizado. Marcos provavelmente pendurado de bruços em seu beliche como sempre.
Quarto de Lucia: escuro. Finalmente dormindo depois de estudar.
Mas quando Vicente passou, a porta se abriu. Lucia de pijama. Cabelo solto. Olhos sonolentos, mas alertas.
—Papai.
Vicente se assustou.
"Foda-se. Duas vezes em uma semana.»
—Oi, querida. Não consegue dormir?
— Acordei quando ouvi o carro.
Ele esfregou os olhos. Bocejou.
Então ele franziu a testa.
— De novo aquele cheiro estranho.
O pânico frio atravessou Vicente.
"Não. Não pode ser. Eu tomei banho. Troquei de roupa antes de sair. Usei desodorante. Não pode cheirar nada.»
— Que cheiro? — Ele tentou parecer casual.
Lucia se aproximou. Ele aspirou o ar ao seu redor.
—Não sei. Como um... sabonete barato. E algo doce.
"Sabão barato. Os produtos de limpeza da Lali. Porra."
— Fiquei no prédio de escritórios até tarde. — Mentira fluida. Provavelmente o sabonete do banheiro. Você sabe como é. Os proprietários compram o mais barato.
Lúcia olhou para ele. Avaliando.
Catorze anos, mas muito inteligente para sua idade.
—Tem certeza?
—Completamente.
Pausa.
Então Lúcia encolheu os ombros.
—Está bem. Se você diz.
Mas havia algo em sua voz. Um tom que Vicente não conseguiu identificar.
Dúvida? Você suspeita?
— Volte para a cama, querida. É tarde.
— Você também, papai. — Ele bocejou novamente. Você pode ver... não sei. Cansado. Mas diferente.
—Diferente como?
Lúcia o estudou por um momento.
—Não sei. Como... mais relaxado. Menos estressado.
Ele lhe deu um beijo na bochecha.
—Boa noite.
Ele voltou para seu quarto. Porta fechando.
Vicente ficou no corredor.
«Mais relaxado. Depois de foder Lali no meu escritório. Depois de comer sua bunda. Depois de tudo isso... estou mais relaxado.»
Era verdade.
E essa verdade o assustava mais do que qualquer suspeita.
Ele entrou no quarto principal.
Cristina estava dormindo. Lado direito. Respiração profunda do sono induzido quimicamente.
Vicente se despiu no banheiro em suíte. Todas as roupas para a cesta. Enterrada sob outras roupas.
Ele tomou banho novamente. Água quente. Sabão. Shampoo. Apagando evidências físicas que sua filha adolescente quase havia detectado.
"Tenho que ser mais cuidadoso. Porra. Se Lúcia começar a suspeitar...»
Mas outra parte dele — a parte que tinha acabado de descobrir prazeres que nunca havia imaginado — sussurrava algo diferente.
"Ou você poderia parar. Termine isso antes que exploda."
Ela se olhou no espelho do banheiro.
Vapor embaçando o vidro. Seu reflexo se desfocando.
"Você pode parar? Sério?
Não.
A verdade simples e brutal. Não podia. Não queria. Porque Lali lhe deu algo que nenhuma outra mulher havia dado. Permissão para se render. Para ser vulnerável. Para não ter que controlar tudo, planejar tudo, ser responsável por tudo. Para apenas... sentir. E isso era muito valioso para desistir.
Secou. Ele vestiu o pijama. Saiu do banheiro. Ele se enfiou na cama. Lado esquerdo. Um metro de distância entre ele e Cristina. O suficiente para que eles nunca se tocassem acidentalmente.
Seu telefone vibrou na mesa de cabeceira.
Mensagem.
[23:41] Carmen - Cliente Reforma: Espero que tenha chegado bem. E que você possa dormir. Embora eu duvide que você possa. Eu também não. Ainda sinto você por dentro. É... diferente. Bem diferente. - E
Vicente olhou para a tela.
Olhou para Cristina dormindo.
De volta à tela.
[23:42] Vicente: Cheguei bem. E você tem razão. Não consigo dormir. Continuo pensando em tudo. Em você. No que fizemos.
[23:43] Carmen - Cliente Reforma: Você se arrepende?
Pergunta direta. Merecia uma resposta honesta.
[23:44] Vicente: Não. Nem um pouco. Você?
[23:45] Carmen - Cliente Reforma: Também não. Embora devesse. Mas não posso me arrepender de algo que me fez sentir tão... completa.
[23:46] Vicente: Mesma sexta-feira na próxima semana?
Reticências. Ela escrevendo. Apagando. Escrevendo novamente.
[23:48] Carmen - Cliente Reforma: Sim. Mas Vicente... isso está se tornando mais do que apenas sexo. Você sabe, certo?
O coração de Vicente parou.
«Sim. Eu sei. Porra. Claro que sei.»
Mas admitir isso significava cruzar outra linha.
De aventura sexual para... o quê? Relacionamento? Caso emocional?
[23:50] Vicente: Eu sei. Isso te assusta?
[23:51] Carmen - Cliente Reforma: Sim. Mas não o suficiente para parar. Para você?
[23:52] Vicente: Também.
[23:53] Carmen - Cliente Reforma: Então continuamos. Até que não possamos. Ou até que alguém descubra. O que acontecer primeiro.
[23:54] Vicente: Até que não possamos.
[23:55] Carmen - Cliente Reforma: Durma bem, Vicente. Se você puder. Sonhe comigo. Eu vou sonhar com você. Boa noite.
Vicente guardou o telefone. Apagou o histórico de mensagens.
Deitou. Ele olhou para o teto. As sombras projetadas pela luz da rua dançando sobre o gesso branco. E pensou em Lali. Em sua voz rouca gemendo seu nome. Em seus olhos olhando para ele com conhecimento e total aceitação. Na forma como seu corpo — imperfeito, marcado pela idade, completamente honesto — o excitava mais do que qualquer perfeição plástica. Em como era se render a ela. Na paz que encontrava na obediência.
"Isso não pode acabar bem. Você sabe, certo? Alguém vai descobrir. Cristina. Genaro. Alguém no trabalho. E tudo vai explodir.»
Eu sabia.
«Mas até lá...»
Até lá, eu teria isso. Este segredo. Esta conexão. Essa versão de si mesmo que ele nunca soube que existia.
Fechou os olhos. O sono levou horas. Quando ele finalmente chegou, ele sonhou com tapetes persas e vozes roucas sussurrando "bom menino" no escuro. E pela primeira vez em anos, ele dormiu profundamente. Sem pesadelos. Sem culpa. Só paz.
By Lucas García