Capítulo 3: Murmúrios e Segredos Os dias que se seguiram ao banho comunitário arrastaram-se numa cadência diferente para Marta, cada hora uma lentidão excitante que a consumia. A monotonia exterior permanecia, pontuada pelo sino e pelos rituais monótonos, mas dentro dela, algo havia despertado e rugia baixinho. O eco dos corpos nus, a visão daquele clitóris proeminente e vibrante de Irmã Felícia que se gravou na sua mente, a sensualidade contida e insinuante de Letícia que prometia um universo de descobertas... tudo se infiltrava nos seus pensamentos, transformando o silêncio opressor do convento num zumbido constante de excitação e curiosidade, uma febre que a fazia ansiar pelo próximo vislumbre, pelo próximo toque, pela próxima revelação da carne. Agora, Marta não via apenas freiras e noviças; via mulheres. Mulheres de carne e osso, com corpos que respiravam e, ela intuía, desejavam. Durante as longas horas de oração na capela fria, os seus olhos vagavam. As mãos unidas em prece pareciam menos devotas e mais ansiosas por toque. As cabeças cobertas pelo véu, inclinadas em submissão, escondiam mentes fervilhantes de pensamentos que, Marta começava a desconfiar, eram tudo menos piedosos. A integração de Marta começou de forma sutil, quase furtiva. Pequenas conversas, inicialmente sobre a rotina do convento, rapidamente desviavam para temas mais pessoais. Durante as tarefas no refeitório, enquanto poliam os talheres ou varriam o chão, vozes baixas trocavam confidências. Marta percebeu que, por trás da fachada de devoção, as irmãs eram como ela: humanas, com anseios e fragilidades. Uma tarde, enquanto recolhiam ervas no jardim, Marta encontrou-se lado a lado com Letícia. O sol da Andaluzia aquecia as suas costas, e o cheiro da lavanda e do alecrim pairava no ar. A distância entre elas no banco de terra era ínfima. — Achaste difícil o serviço hoje, Marta? — perguntou Letícia, com a sua voz suave, mas com um tom que insinuava mais do que as palavras diziam. Os seus dedos, finos e ágeis, colhiam as folhas com destreza. Marta sentiu um rubor subir-lhe às faces. — Um pouco, Irmã Letícia. As minhas mãos não estão acostumadas. Letícia parou, as mãos cheias de ervas, e virou-se para Marta. Os seus olhos castanhos, antes apenas curiosos, agora brilhavam com uma cumplicidade que fez o coração de Marta disparar. — Virás com o tempo. Como tudo o mais aqui dentro. É uma questão de habituar o corpo… e a alma. Havia uma pausa, uma ênfase velada na palavra “corpo”, que Marta não deixou passar. Um sorriso, quase impercetível, curvou os lábios de Letícia. — No convento, aprendemos a usar as mãos para rezar, mas também para muitas outras coisas, não é? Marta sentiu um calor no baixo-ventre. A frase de Letícia, tão ambígua e sugestiva, abriu uma fenda na sua mente. O que mais poderiam as mãos aprender a fazer ali, além das orações e do trabalho braçal? No dia seguinte, durante a tarefa de remendar as vestes, Marta sentou-se perto de Teresa. A freira de olhos intensos trabalhava com uma concentração feroz, seus dedos fortes e ágeis. — Não é fácil silenciar a carne, Marta — disse Teresa de repente, sem levantar os olhos do tecido. — Por mais que a Madre pregue o jejum e a abstinência, o corpo tem a sua própria voz. Marta engoliu em seco. — A Irmã… sente isso também? Teresa finalmente levantou os olhos, e o seu olhar penetrante fixou-se em Marta. Havia uma chama ali, uma intensidade que quase a fez recuar. — Sentir? Marta, sou mulher. E fui criada num mundo onde os homens e os prazeres não eram apenas fantasmas. O convento é uma tentativa de aprisionar o que é indomável. Mas a carne… a carne tem memória. Marta baixou os olhos, mas não pôde evitar o formigamento que percorreu o seu corpo. A "memória da carne". Que memórias seriam essas? Que experiência Teresa havia vivido antes de vir para o convento? A curiosidade de Marta, antes um sussurro, agora era um clamor. Os gestos de carinho, antes impensáveis, começaram a surgir, pequenos mas eletrizantes. Durante as refeições, sob o véu da mesa de madeira, os pés descalços de Letícia roçavam os de Marta com uma suavidade proposital, uma dança secreta que enviava ondas de calor pelo corpo da noviça, fazendo o seu ventre formigar. Nos corredores húmidos e escuros, os cotovelos de Teresa esbarravam nos seus seios com uma pressão demorada, um toque ardente que não era acidental, mas uma carícia disfarçada que prometia mais. E no dormitório, à noite, quando as últimas lamparinas se apagavam e o silêncio era tão denso que se podia tocar, Marta ouvia sussurros roucos e risos abafados, quase gemidos contidos, vindos das camas vizinhas. Por vezes, o som ritmado de camas rangendo suavemente enchia o ar, num ritmo que antes ela teria atribuído ao vento ou à madeira velha, mas que agora, com sua nova e perturbadora perceção, ela sabia, com uma certeza vertiginosa, ser o eco de corpos femininos se movendo em êxtase proibido. Uma noite, com a mente em brasa e o corpo desejoso, Marta abandonou a cama de palha. Sem fazer barulho, arrastou-se até a pequena janela gradeada da sua cela, espiando o pátio sob o manto sedutor da lua. A penumbra prateada transformava as formas, emprestando um ar de mistério e cumplicidade a tudo. De repente, ouviu passos furtivos, suaves como sussurros proibidos. Duas silhuetas femininas moveram-se pelas sombras, como espectros de desejo, encontrando-se perto da fonte seca, onde a água um dia jorrara. Eram Letícia e Teresa. Marta observou, com o coração martelando contra as costelas, uma batida selvagem no silêncio da noite. Elas conversavam em voz baixa, e Marta não conseguia distinguir as palavras, mas os gestos, ah, os gestos eram eloquentes, uma linguagem secreta de corpos que ansiavam. Letícia, com um ardor que desafiava a frieza do claustro, levou a mão ao rosto de Teresa, uma carícia que era pura ternura e promessa. Em seguida, os corpos aproximaram-se, não com a modéstia imposta pela fé, mas com a urgência de duas chamas buscando uma à outra. Marta presenciou um beijo, longo e profundo, um mergulho sem fôlego de lábios e línguas, trocado ali, sob a luz prateada e cúmplice da lua, um espetáculo que queimava a sua alma virgem, acendendo um fogo que ela jamais imaginaria existir. Marta recuou da janela, o corpo inteiro em chamas, uma fogueira selvagem acesa em seu ventre. O interior das suas coxas tremia incontrolavelmente, uma vibração nova e poderosa. Pela primeira vez na sua vida, sentiu a humidade quente e espessa entre suas pernas, um líquido escorrendo lentamente e de forma perturbadora por suas coxas. Aquela cena, tão intimamente roubada e tão proibida, não apenas confirmava suas suspeitas, mas as explodia em mil pedaços: o convento não era apenas um lugar de oração e penitência, mas um palco escaldante para desejos secretos e paixões desenfreadas que desafiavam, com cada pulsação, a santidade dos votos. No dia seguinte, a rotina de trabalho levou Marta e Letícia para a lavandaria, onde o vapor da água quente e o cheiro de sabão criavam uma atmosfera de intimidade abafada. Elas lavavam as roupas de cama, esfregando os tecidos na tábua, os braços molhados e as mangas arregaçadas. — Não conseguiste dormir bem ontem, Marta? — perguntou Letícia, com voz baixa e cheia de um tom que a fez pensar que Letícia soubesse o que ela havia visto. Marta corou novamente. — O calor… e os pensamentos, Irmã. Letícia inclinou a cabeça, com os olhos fixos na espuma que subia das mãos de Marta. — Ah, os pensamentos… eles são os maiores pecadores, não são? Mais do que qualquer ato. Porque nascem aqui dentro — ela tocou o peito — e se alimentam do que vemos, do que sentimos. Os seus olhos levantaram-se para Marta, um brilho travesso neles. — Viste algo que te tirou o sono, não foi? Marta sentiu um arrepio. — Eu… eu vi as estrelas, Irmã. E a lua. Letícia soltou uma risada baixa, quase um suspiro sensual. — A lua… ela é uma tentadora, não é? Revela o que o dia esconde. É quando os segredos do claustro se tornam mais claros. Os seus dedos, molhados e saponáceos, roçaram a mão de Marta na água. O toque foi leve, mas carregado de uma eletricidade que fez Marta prender a respiração. — Muitas de nós temos segredos, Marta — Letícia continuou, com a sua voz num murmúrio, quase um convite. — Segredos que guardamos com carinho, para nos mantermos sãs neste lugar de privações. O corpo, Marta… o corpo precisa de ser cuidado. E não é só com comida e água. Marta sentiu um desejo incontrolável de perguntar, de saber mais. — O que queres dizer, Irmã Letícia? Letícia sorriu, um sorriso cheio de promessas ocultas. — Quero dizer que a carne tem as suas próprias orações. E por vezes, essas orações são mais poderosas do que as que recitamos para o céu. — Ela inclinou-se ligeiramente para Marta, a proximidade fazendo com que Marta sentisse o calor do seu corpo. — Tu és virgem, não és, Marta? Os teus olhos… os teus olhos revelam uma fome que o convento ainda não ensinou a disfarçar. A confissão de Letícia, tão direta, tão nua de subterfúgios, atingiu Marta em cheio. Sentiu-se exposta, mas não envergonhada. Apenas... excitada. A tensão entre a fé e a crescente curiosidade pelo corpo e pelo prazer era palpável. O convento, antes um refúgio da tentação, tornava-se agora um caldeirão de desejos reprimidos, um campo fértil para descobertas. Mais tarde, enquanto costuravam na sala comum, Marta ouviu um grupo de noviças sussurrando. — Dizem que Irmã Leonor... ela era uma beleza antes de entrar para a Ordem — uma delas murmurou. — Sim, e que o seu marido, antes de morrer, era um homem muito… exigente — outra adicionou, com uma risadinha abafada. — Certamente ela sabe do que a carne é capaz. Marta prestou atenção, absorvendo cada pedacinho daqueles mexericos dissimulados. Aquela Irmã Leonor, uma figura austera e respeitada, escondia um passado de sensualidade? A ideia era fascinante. A curiosidade de Marta não se limitava mais aos corpos que via no banho, mas à vida que pulsava sob os hábitos. O que levava essas mulheres a se submeterem a tal reclusão? E o que elas faziam para lidar com os anseios que, Teresa havia dito, a carne guardava? O silêncio do convento, antes opressor, agora parecia ter uma voz própria, sussurrando segredos nas sombras. As paredes de pedra, que deveriam proteger da tentação, pareciam, ao contrário, aprisionar uma sensualidade latente que buscava uma forma de expressão. Marta sentia o pulsar do seu próprio corpo, uma resposta aos murmúrios e segredos que a rodeavam. A cada dia, a linha entre a devoção e o desejo tornava-se mais tênue, e Marta sabia que estava prestes a cruzar uma fronteira da qual não haveria retorno. O claustro das Rosas, ela percebia, guardava muito mais do que apenas orações. Guardava a carne. E a carne tinha muito a ensinar. (Continua)
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