Sou Uber e Fudi a Passageira com o Corno Olhando



Larissa tinha aquele jeito de falar - o tipo que ou é desprezo puro ou é convite disfarçado, dependendo de quem tá ouvindo.

"Vai pro Joá." Não pediu. Mandou. Mas tinha algo na forma como os lábios dela se moveram, como ela segurou o olhar pelo retrovisor meio segundo a mais, que Wellington capturou. Era como ler braile com os olhos - as pequenas elevações invisíveis pra maioria.

Vinte e três anos dirigindo Uber. Não era só sobre conhecer rua. Era sobre conhecer gente. As micro-expressões. O jeito que uma mulher cruza as pernas pode significar "me deixa em paz" ou "me nota". O jeito que ela fala grosso pode ser armadura ou provocação. Wellington tinha PhD de rua - aquela universidade que não dá diploma, só cicatrizes e sabedoria.

Aquela patricinha de calça branca de linho, cabelo com luzes que custavam quinhentos reais por sessão, perfume Chanel encharcando o Onix dele - ela tava jogando um jogo. Wellington sentia. Tinha aquele cheiro no ar, além do perfume. Aquele cheiro de tédio. De relacionamento morno. De mulher que parou de gozar faz tempo mas ainda finge.

"Endereço certinho?" Wellington perguntou, segurando o olhar dela no retrovisor um segundo a mais que o profissional.

"Joá, cara. Você sabe ler?" Mas aí veio - a curvatura mínima no canto da boca. Não era sorriso. Era aquela coisa que vem antes do sorriso. Promessa. Desafio. O olho dela brilhou na luz do poste que passava.

O namorado ao lado - magricelo, camisa de linho bege (sempre bege, essa galera), óculos de grife na testa - deu aquela risadinha. De cachorro que ri quando o dono ri, sem entender a piada.

Wellington pegou a Vieira Souto em direção à São Conrado. A Avenida Niemeyer à noite é outra cidade - a cidade que o Rio esconde dos turistas. Tortuosa, escura, abraçando o morro de um lado e o abismo pro mar do outro. É ali que as coisas acontecem. Assaltos. Pegação. Mortes. Renascimentos. Tudo que precisa de escuridão pra existir.

Ele dirigia devagar. Mais devagar que o necessário. Os olhos no retrovisor mais tempo que na pista. Testando. Larissa percebeu - ele viu ela perceber. E ela não reclamou ainda. Só observava de volta, o celular esquecido na mão.

Mas então ela falou, quebrando o silêncio grosso: "Caramba, que motorista lerdo." Disse pro namorado, mas alto demais, olhando pro espelho. Pro Wellington. "Pede outro carro, Felipe. Esse aqui vai demorar o século."

Felipe - óbvio que era Felipe, ou Rodrigo, ou Pedro, sempre esses nomes de colégio particular - mexeu no celular obediente. "Ah babe, não tem outro disponível agora não."

"Que saco." Larissa suspirou. Cruzou as pernas. O linho branco subiu, revelou a coxa torneada, aquela pele que nunca viu sol de verdade, só sol de praia particular. Ela olhou pra baixo. Viu o quanto tinha subido. E não puxou a calça de volta.

Wellington sentiu o pau acordar. Não era tesão comum - era aquele tesão de caçador que sente a presa fingir que não quer ser caçada.

Chegaram naquele trecho da Niemeyer que nem a prefeitura lembra que existe. Entre o Vidigal e o Joá, onde os postes estão queimados faz meses, onde um lado é pedra crua do morro e o outro é barranco direto pro mar quinze metros abaixo. Onde não tem câmera. Onde não tem testemunha além das estrelas, e estrelas não depõem.

Wellington encostou.

O Onix parou suave. Motor ainda ligado, mas as rodas paradas. O som das ondas batendo nas pedras lá embaixo subiu, preenchendo o silêncio do carro como água enchendo um copo.

"Que que houve?" Felipe, voz imediata e fina. Mas não foi "que porra é essa" - foi "que que houve", com aquela educação de quem nunca precisou gritar na vida.

Wellington desligou o motor. O silêncio ficou mais gordo. Ele tirou a chave da ignição. O barulhinho metálico foi obsceno.

"Vocês vão aprender educação", Wellington disse. Voz calma. Neutra. Olhando pro retrovisor.

Foi Larissa quem respondeu primeiro. "Que porra é essa?" Mas a voz não tremeu. Não tinha aquele agudo de medo real. Era grave. Rouca. Curiosa.

Felipe puxou a maçaneta. Clack - trancada. Trava de segurança ativada. "Cara, para com isso. Foi mal, tá? A gente... quanto você quer? Eu te pago."

Dinheiro. Sempre a primeira resposta deles. Como se tudo tivesse preço em real.

Wellington não respondeu. Só abriu a porta dele e saiu pro asfalto ainda quente da noite de verão carioca. Dezembro chegando, o calor noturno grudento, aquele calor que não esfria nunca, que fica na pele como promessa ou ameaça.

Ele caminhou devagar. Três passos. Quatro. Rodeou o carro. As mãos nos bolsos da bermuda jeans. Tranquilo. Como quem tem todo o tempo do mundo e sabe disso.

Chegou na porta de Larissa. Testou a maçaneta.

Destravada.

Ela tinha o botão ao lado do cotovelo. Podia ter trancado do lado de dentro. Não trancou.

Wellington abriu a porta. Larissa estava ali, na beirada do banco, as pernas já meio pra fora, como se o corpo dela tivesse decidido antes da cabeça.

"FELIPE." Ela falou o nome do namorado. Alto. Mas não foi grito. Foi... apresentação? Tipo "olha o que vai acontecer, Felipe, olha bem".

Felipe não se mexeu. Ou não podia se mexer? Difícil dizer. Ele estava colado no canto oposto do banco, as mãos no colo, os olhos arregalados. Mas no fundo dos olhos - bem no fundo, onde a pessoa esconde até de si mesma - tinha uma fagulha. De quê? Excitação? Terror? As duas coisas ao mesmo tempo, talvez. Aquele momento quando você assiste algo horrível e não consegue desviar o olhar, e uma parte de você gosta de não conseguir desviar.

Wellington pegou Larissa pelo pulso. A pele dela era macia. Pulseira Pandora - ele sentiu os berloques, aquele metal frio. Ele puxou. Ela resistiu.

Mas não resistiu resistiu.

Resistiu do jeito que atriz resiste em novela - o corpo indo pra frente enquanto a boca diz não. A força dela era de academia, três vezes por semana, mas ela não tava usando nem metade. Ele já tinha segurado bêbado lutando de verdade. Isso aqui era teatro.

"Me solta", ela disse. Mas levantou. Os pés descalços tocando o asfalto, as Havaianas Slim ficando pra trás no carpete do carro.

Ele a puxou pro farol do Onix. A luz branca do farol baixo, forte, iluminando só eles dois como holofote de palco. O resto era breu. O morro, o mar, a Niemeyer deserta. Só eles existindo.

Larissa socou o peito dele. Uma vez, duas, três. Socos fechados. Ela fazia crossfit - ele viu a tatuagem pequena no pulso dela, aquela tarjinha "no pain no gain". Esses socos podiam doer. Ele já apanhou de travesti na Lapa que socava mais fraco. Esses socos eram cenografia.

"Você vai usar essa boca pra coisa melhor que desrespeito", Wellington disse, e segurou o queixo dela.

Ele apertou. Os dedos encontrando aquele ponto da mandíbula. E aí aconteceu: a boca dela abriu. Mas abriu antes da pressão fazer efeito. Ele sentiu - ela soltou os músculos, deixou a mandíbula ceder. Colaborou.

Com a outra mão, Wellington abriu o cinto. O barulho da fivela metálica foi obsceno na noite. Tlic-tlic-ploft. Som que todo mundo reconhece.

Larissa olhou pra baixo. Pros dedos dele mexendo no botão da bermuda. Pela zíper descendo. Ela não virou o rosto. Não fechou os olhos. Olhou.

"Não..." ela disse. Mas foi aquele "não" que não é não de verdade. Foi aquele "não" que é "me obriga, me dá desculpa, me deixa dizer depois que eu não pude evitar".

Wellington tirou o pau pra fora. Já duro. 21 centímetros que ela mediu com os olhos em meio segundo. O pau de homem que trabalha dez horas em pé, que não tem dinheiro pra urologista, que mija em banheiro de posto. Pau honesto, sem frescura.

Ele enfiou.

A boca dela aceitou. Engasgou? Sim. Os olhos lacrimejaram? Sim. Mas a língua trabalhou. Ele sentiu - ela não deixou a língua morta. Ela moveu. Pressionou. Chupou.

Wellington segurou a cabeça dela com as duas mãos. Os dedos emaranhando nas madeixas loiras com luzes. Aquele cabelo que custou uma semana do salário dele. Agora era cabo. Rédea.

Ele empurrou fundo. A garganta resistiu, mas cedeu. Larissa colocou as mãos no quadril dele. Pra empurrar pra longe? Pra puxar pra perto? Dependendo do ângulo que você olhava, servia pros dois. As unhas dela arranharam a pele dele por cima da bermuda. Arranhou de leve. De propósito leve.

"Olha pro seu namorado", Wellington rosnou, e virou o rosto dela sem tirar o pau da boca.

Felipe tava lá. No banco traseiro. As mãos ainda no colo. Não se mexendo. Apenas... assistindo. A boca dele meio aberta. Os olhos vidrados. A calça jeans dele - tinha um volume? Na penumbra do carro, difícil dizer. Mas parecia. Parecia que alguma coisa tinha acordado ali também.

Larissa gemeu em volta do pau. Foi gemido de dor? De humilhação? Ou foi aquele gemido que mulher dá quando finalmente alguém a fode do jeito que ela tem vergonha de pedir na terapia?

Wellington socou o fundo da garganta. Três, quatro, cinco vezes. O ritmo não era de carinho. Era de porrada. De favela. De "você pediu sem pedir, agora aguenta".

A saliva escorria pelo queixo dela. Rímel preto escorrendo com a lágrima. Tudo escorrendo, todas as camadas de Zona Sul derretendo. Embaixo da patricinha tinha uma fêmea. Embaixo do verniz tinha a verdade.

Ele gozou fundo. Até a base. O nariz dela achatado na barriga dele. E descarregou - jorros quentes direto pra garganta, pro estômago, pro fundo onde não dá pra cuspir.

Larissa engoliu. Engasgou, tossiu, mas engoliu o que coube. O reflexo de vômito tentou subir, mas ela forçou pra baixo. Ele sentiu a garganta dela trabalhando.

Quando Wellington saiu, veio junto um fio de porra e saliva conectando a boca dela ao pau dele. Ela caiu de joelhos no asfalto. Tossiu, cuspiu, vomitou um pouco - mas antes de desabar completamente, ela fez uma coisa.

Olhou pra cima. Pro Wellington. E lambeu o canto da boca.

Foi reflexo involuntário? Foi ato consciente? Ninguém nunca vai saber. Nem ela.

"Entra no carro", Wellington disse, guardando o pau, fechando a bermuda.

Larissa levantou. As pernas bambas, mas levantou. Cambaleou até a porta traseira. Entrou. Sentou ao lado de Felipe.

Felipe não olhou pra ela. Não perguntou "você tá bem?". Não tocou. As mãos ainda estavam no colo, certinhas, como quem acabou de assistir um filme polêmico e não sabe que crítica dar.

Wellington voltou pro volante. Ligou o carro. O motor voltou, fiel como cachorro. Ele pegou a Niemeyer de novo, continuando em direção ao Joá.

O GPS dizia: "Em 1.2 quilômetros, mantenha-se à esquerda."

O silêncio dentro do carro era diferente agora. Pesado. Grávido. Larissa respirava pela boca, o nariz entupido de choro ou tesão ou trauma. Felipe respirava rápido demais - aquela respiração de quem quase gozou mas não gozou, e agora não sabe o que fazer com a ereção morrendo na cueca.

"Você vai me denunciar?", Wellington perguntou, olhos na pista, voz casual.

Silêncio.

"Não", Larissa respondeu. Rouca. A voz dela arrebentada. "Não vou."

"Por quê?"

Mais silêncio. Cinco segundos. Dez.

"Porque eu não quero", ela disse. E não explicou o que o "não quero" significava. Não quero denunciar? Não quero que acabe? Não quero admitir que gostei?

Felipe não falou nada. Apenas existia ali, boneco de pano com carteira de motorista.

Chegaram no Joá. Rua arborizada, casas de três andares, muros altos, portões automáticos. O GPS indicou a casa deles - número 742, sobrado branco com plantas ornamentais que alguém é pago pra regar.

Wellington parou em frente. Destravou as portas.

Tlic.

Felipe saiu primeiro. Rápido. Quase correndo. Subiu a escadinha do jardim, enfiou a chave na fechadura com mãos trêmulas.

Larissa saiu depois. Devagar. Descalça - as Havaianas tinham ficado no carro, esquecidas. Ela parou na calçada. Virou.

Wellington também olhou. Pelo retrovisor. Três segundos. Quatro.

Ela não sorriu. Ele não sorriu. Mas algo passou entre eles - reconhecimento de cumplicidade, ou marca de trauma, impossível decodificar.

Então ela virou e subiu a escada. Felipe já tinha entrado, deixando a porta aberta. Luz amarela do hall vazando pra rua. Ela entrou. A porta fechou.

Wellington pegou o celular. Foi finalizar a corrida no app.

Mas já tinha sido finalizada.

Larissa tinha finalizado do lado dela. Enquanto ele dirigia, ela tinha aberto o app - com dedos trêmulos ou com dedos firmes, quem sabe - e finalizado.

Cinco estrelas.

E gorjeta. Cinquenta reais.

Wellington ficou olhando a tela. Cinquenta reais. Você não dá cinquenta reais de gorjeta pro cara que te estuprou. Você dá cinquenta reais de gorjeta pro cara que te deu o que você queria e não sabia pedir.

Ou você dá cinquenta reais pra comprar o silêncio dele?

Ou você dá cinquenta reais porque não consegue processar o que aconteceu e dinheiro é a única linguagem que você conhece?

Wellington nunca ia saber.

Ele pegou um Free do maço no porta-copos. Acendeu. A fumaça encheu o Onix, expulsando o resto do perfume caro.

Abriu o app. Três corridas esperando. Escolheu uma: Copacabana pra Baixo Gávea. Duas passageiras. Mulheres.

Botou Bezerra da Silva no rádio baixinho. "Meu Bom Juiz".

Dirigiu de volta pra Zona Sul.

O Rio de Janeiro continuava sua noite - cidade que nunca dorme, cidade que nunca julga, cidade que guarda segredos embaixo do asfalto como corpo embaixo de laje.

E algumas bocas não esquecem.

E algumas gorjetas não explicam nada.

E algumas estrelas no app significam mais que avaliação.

Significam consentimento retroativo?

Significam trauma processado como transação?

Significam tesão finalmente saciado?

Wellington tragou o Free. Não tinha resposta.

E talvez essa fosse a resposta.


Faca o seu login para poder votar neste conto.


Faca o seu login para poder recomendar esse conto para seus amigos.


Faca o seu login para adicionar esse conto como seu favorito.


Twitter Facebook



Atenção! Faca o seu login para poder comentar este conto.


Contos enviados pelo mesmo autor


249414 - Como Virei a Vadia da Turma - Categoria: Heterosexual - Votos: 6
249326 - Mãe Voluntária é Gangbangueada - Parte 1 - Categoria: Grupal e Orgias - Votos: 5
249247 - Virei a putinha dos negros da minha faculdade - Pt. 1 - Categoria: Grupal e Orgias - Votos: 5
248985 - Meu marido pediu para três negros passarem protetor em mim! - Categoria: Cuckold - Votos: 6
248980 - A Igreja Mundial do Reino de Deus - Categoria: Heterosexual - Votos: 2
248978 - Comi a mulher do meu amigo no churrasco - Categoria: Traição/Corno - Votos: 6

Ficha do conto

Foto Perfil Conto Erotico contradio-

Nome do conto:
Sou Uber e Fudi a Passageira com o Corno Olhando

Codigo do conto:
249372

Categoria:
Traição/Corno

Data da Publicação:
16/12/2025

Quant.de Votos:
0

Quant.de Fotos:
0