O Ano era 1906....Primeiro Capítulo.
O ar da biblioteca era denso, carregado com o cheiro de papel envelhecido, de cera de abelha e de uma quietude que parecia pulsar. Eudora, uma historiadora de arte com um gosto peculiar por manuscritos góticos, deslizava os dedos pelo lombo de um volume de Chaucer, sentindo a textura áspera da encadernação de couro. Seus movimentos eram tão lentos e premeditados que pareciam parte de um ritual. O silêncio, então, foi quebrado por uma voz grave, aveludada como um vinho tinto, que se aproximou por entre as estantes:
?— Aprecio a forma como você acaricia os livros. É como se estivesse tentando desvendar um segredo, não é?
?Era Silas, o bibliotecário-chefe, um homem de intelecto afiado e olhos de um azul tão profundo que pareciam refletir séculos de sabedoria. Ele a observava com uma intensidade que a fez corar.
?— Todos os livros guardam segredos — ela respondeu, sem desviar o olhar. — Especialmente os que foram amados por mãos que já se foram.
?Silas se aproximou, e o espaço entre eles se tornou uma zona de tensão. A luz do sol que entrava pelas janelas góticas pintava faixas douradas no chão, iluminando as partículas de poeira que dançavam no ar. Era um balé mudo.
?— E qual o segredo que você busca? — ele perguntou, sua voz agora um sussurro.
?— A paixão. Aquela que está nas entrelinhas, nas margens dos sonetos de Petrarca. Não a paixão explícita, mas a que se revela em um olhar, em um toque dissimulado.
?Silas estendeu a mão e gentilmente tocou o volume que ela segurava. Seu polegar roçou o dela, e a eletricidade que percorreu a pele de Eudora foi mais potente que a leitura de qualquer verso.
?— A paixão está aqui, entre nós. Nestes corredores que parecem labirintos, onde cada livro é um convite a um mundo novo. O segredo não está nas páginas, mas no momento em que a respiração de alguém se encontra com a sua.
?Ele a guiou para um canto mais reservado, atrás de uma estante alta de clássicos gregos, onde a penumbra criava um refúgio. Ali, no silêncio daquele templo de conhecimento, os lábios se encontraram. Não era um beijo impetuoso, mas uma troca de carícias lentas e curiosas. A boca de Silas era como um texto antigo, cheio de histórias não contadas. Eudora explorou-o com a mesma reverência que teria por um manuscrito raro. O sabor da tinta e do tempo, do café e de um desejo há muito reprimido, tornava o momento quase sagrado.
?As mãos de Silas percorreram as costas de Eudora, movendo-se com a precisão de um calígrafo. Ele desceu pelo zíper do seu vestido, e o som delicado se misturou ao murmúrio distante da cidade. Ela, por sua vez, abotoava a camisa dele, revelando a pele quente e firme, uma tela em branco esperando por novas inscrições.
?O chão de madeira, o cheiro de história e a promessa de um futuro incerto criaram um cenário perfeito para a revelação dos seus próprios segredos. Eles não estavam apenas se tocando; estavam escrevendo um novo capítulo, um conto erótico e erudito, onde o desejo era a mais sublime das poesias.
Bom conto. Bem literário, amei.