Santuário Profano
?"A incumbência, um mero reparo técnico na Santa Casa, serviu apenas como pretexto para o encontro. Minha posição, um modesto servidor da municipalidade, conferia-me um acesso particular a esse círculo de devoção, onde a jovem voluntária, sob o austero hábito, irradiava uma beleza que contradizia a clausura.
?Uma vez sanado o imprevisto, o tempo pareceu suspender-se. A conversa que se seguiu, a princípio banal, logo adquiriu um substrato de volúpia. Percebi o olhar dela, furtivo e persistente, que repousava com uma curiosidade quase terna sobre a evidência da minha forma, moldada pelo tecido da calça.
?O diálogo, então, resvalou para a inquirição mais íntima. Ousadia a minha, perguntar-lhe sobre o voto de castidade. Ela hesitou, a face tingida por um rubor que lhe acentuava a juventude, mas a resposta não tardou: não era a negação total da essência humana que definia sua fé, mas sim a luta por uma vocação. Um ser de carne, acima do dogma.
?Diante daquela franqueza, avancei o limite, propondo o encontro profano. A aceitação, silenciosa e firme, foi seguida por um gesto definitivo: o trinco da porta foi acionado. No instante em que ela retornou, já não era apenas a freira; era a mulher que, em um impulso inadiável, rompeu o silêncio com o fervor de um beijo. Um juramento tácito de liberdade carnal selado no limiar do dever."
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