?O barulho metálico do trinco ecoou no pequeno compartimento como um trovão em um dia de sol. Não havia mais volta. O pequeno cubículo da manutenção, a pretexto da obrigação cívica, transformara-se no primeiro santuário da transgressão. A luz filtrada da janela alta, antes austera, agora banhava o ambiente com uma tonalidade dourada e cúmplice, destacando o contorno de suas silhuetas.
?O beijo, selado com a urgência de quem tem pouco tempo e muito a confessar, não era de hesitação, mas de libertação. Suas mãos, antes respeitosas, agora se tornaram exploradoras. Senti o tecido grosso do seu hábito esmagado entre nós, uma barreira que ansiava por ser removida. O cheiro de incenso, de cera de vela e de um perfume de sabonete simples e puro, envolvia-me, criando uma vertigem que misturava sacrilégio e adoração.
?Ela se afastou ligeiramente, o peito arfando sob a rigidez do traje. Os olhos, antes furtivos, ardiam com uma determinação inédita. Vi a ponta da sua língua roçar o lábio inferior, um gesto tão mundano quanto devastador.
?"Eu... eu não sei o que estou fazendo," ela sussurrou, a voz apenas um fio, mas o corpo se inclinou novamente para o meu. Não era um pedido de socorro, mas uma confissão de desejo.
?"Você está aceitando a si mesma," respondi, minha voz rouca, estendendo a mão para tocar seu rosto. A pele, por baixo da toca branca, era de uma maciez surpreendente. Senti-a tremer ao meu toque, mas não se afastou.
?O hábito, que deveria ser a armadura de sua castidade, tornou-se, naquele momento, a representação mais explícita da sua renúncia. Não pude resistir. Lentamente, desci o olhar para a cruz simples de madeira que repousava sobre seu peito e, com um movimento quase reverente, comecei a desatar o nó que segurava o cinto de tecido grosso em sua cintura.
?A cada centímetro que o laço se soltava, sentia a tensão no ar aumentar, como se estivéssemos desfazendo um juramento milenar. Ela fechou os olhos, o rubor de antes transformado em um carmesim profundo, a respiração acelerada. O cinto caiu no chão com um leve som surdo, e o hábito, agora sem contenção, começou a se soltar, revelando o tecido mais fino e a forma feminina por baixo.
?Naquele limiar, entre o dever e o prazer, o silêncio do hospital lá fora era o cúmplice de um milagre profano que estava prestes a se consumar. O Santuário Profano estava, enfim, aberto.
?O que acontece agora que o hábito está solto e o silêncio é o único testemunho?.......