?O Dia Seguinte no Esconderijo
?Acordei no sofá, o sol da manhã invadia a sala através das cortinas entreabertas. Estela estava aninhada ao meu lado, enrolada em um lençol que havíamos tirado da cama. O silêncio era absoluto, quebrado apenas pela respiração calma dela. Pela primeira vez em muito tempo, eu me senti completamente em paz.
?Olhei para o relógio na parede: 11h. Tinha o dia todo.
?Com cuidado, me desvencilhei do abraço dela e fui para a cozinha da Júlia. Encontrei café, pão e alguns frios. Preparei uma bandeja simples. Ao voltar, Estela já estava sentada no sofá, com um sorriso sonolento e desarrumado.
?"Bom dia, salvador de mulheres caídas," ela disse, a voz rouca.
?"Bom dia, minha perseguidora favorita. Pensei em te acordar com um carinho, mas o cheiro do café falou mais alto."
?"Você está perfeito. E este café é o melhor que já tomei," ela disse, aceitando a xícara.
?Tomamos café em um silêncio confortável, apenas nos olhando. Era um tipo de intimidade diferente da noite anterior, mais profundo, sem a urgência da paixão, mas cheio de cumplicidade.
?"O que faremos o dia todo, agora que já contamos a 'longa história'?", perguntei, terminando meu pão.
?Estela colocou a xícara na mesa de centro, e o sorriso malicioso da noite anterior voltou aos seus lábios. "Ainda há muita coisa para 'cuidar'. Meu tornozelo, por exemplo, ainda dói. Acho que você precisa fazer mais daquele tratamento especial."
?A Manhã de Cuidados
?Ela se levantou e foi para o quarto, voltando logo depois apenas com a calcinha e o sutiã da noite anterior. Deitou-se de bruços no sofá e apontou para os pés.
?"O pé esquerdo, por favor. O machucado."
?Eu me ajoelhei no chão em frente ao sofá. Comecei com uma massagem suave no tornozelo, sentindo a pele macia sob meus dedos. Subi para a panturrilha e voltei.
?"Você não está mais tremendo de dor," observei.
?"A dor foi substituída por outra coisa," ela murmurou, a voz baixa.
?Em vez de focar apenas no pé, comecei a subir devagar por sua perna, usando as mãos e a boca. Beijei a curva do joelho e fui subindo pela parte interna da coxa, parando onde a calcinha começava. Ela arfou, virando a cabeça para me olhar. Seus olhos mel estavam agora escuros de desejo.
?"Isso não é para o tornozelo," ela ofegou.
?"É para acalmar a ferida interior. A que te fez cair na rua e me procurar. Você está muito tensa, Estela," eu respondi, com a língua encontrando o tecido fino de sua calcinha.
?Ela fechou os olhos e agarrou as almofadas do sofá. Meu toque a levou a um estado de êxtase lento, onde os gemidos eram contidos e os suspiros profundos. A urgência da noite anterior havia dado lugar a uma exploração demorada e íntima. Quando o clímax a atingiu, foi silencioso, mas intenso. O corpo dela vibrou contra o sofá antes de relaxar em um gemido longo de satisfação.
?A Tarde da Conexão
?Passamos o início da tarde na varanda do apartamento, conversando sobre a vida, a mesma vida de que havíamos fugido na noite anterior. Eu falei sobre a minha rotina, ela sobre a sua filha e a sensação de estar presa em uma vida que não escolheu.
?"É por isso que a praça se tornou um refúgio para você?", perguntei.
?"Não. O refúgio é você. A praça era só a isca. Eu gosto de saber que em algum lugar daquela rotina entediante, existe um segredo, algo que só nós dois temos. É como viver uma vida dupla, onde a minha vida real é a que eu tenho com você. A outra é só um papel que eu desempenho," Estela me respondeu, olhando para o horizonte.
?Era perigoso ouvir aquilo. Eu sabia que estava me apaixonando pela aventura, pela Estela que fugia das regras e me desafiava.
?"E o seu marido?", questionei, voltando ao assunto que nos assombrava. "Ele desconfia?"
?"Não. Como eu disse, ele é um bom homem. Confiável. Ele acha que estou focada na minha 'fase fitness' com a praça e nos cuidados com o tornozelo, que ainda manco de vez em quando para ser convincente. Ele só não entende que o meu tratamento tem um nome: o seu," ela sorriu, pegando minha mão e beijando a palma.
?Estela continuou: "Ele nunca me deu a atenção que você me deu nos primeiros cinco minutos na rua. Ele nunca viu a mulher que sou, apenas a mãe e a esposa que ele 'comprou'. Você, por outro lado, me viu caída e me viu nua. Viu o que ninguém mais vê."
?Ao cair da tarde, percebi que nosso tempo estava acabando. O marido dela voltaria no domingo, e a amiga, a Júlia, poderia voltar a qualquer momento.
?"Precisamos de mais. Um plano, um lugar, algo que não dependa do tornozelo quebrado ou da Júlia," eu disse, mais para mim do que para ela.
?"Teremos. Eu dou um jeito. Mas, antes de ir, você tem mais uma missão," ela disse, me puxando para o quarto. "Você precisa me fazer esquecer que meu marido existe por mais algumas horas. Preciso de uma overdose de você para aguentar a volta à realidade."
?Nossa despedida foi no quarto, na cama da Júlia, em uma última e fervorosa entrega. Foi um ato de posse, de urgência para gravar na memória cada toque e sensação. Quando saímos do apartamento, já era noite. O carro dela parou a algumas quadras do cemitério, onde minha moto estava.
?"Não me ligue e não venha à praça por uma semana," Estela ordenou, com a voz firme. "Preciso de tempo para normalizar a minha situação e criar o nosso próximo esconderijo. Mas saiba de uma coisa: eu te vejo em cada minuto do meu dia."
?Ela beijou minha nuca com doçura e foi embora no SUV, desaparecendo na escuridão. Eu fiquei ali, sabendo que tinha mergulhado de cabeça na loucura e que não havia mais volta. Eu não queria mais voltar.
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