Cerca de um mês depois, estávamos novamente na casa da minha tia, mas dessa vez era um feriado prolongado. Meus tios decidiram fazer um churrasco no quintal, e a casa estava cheia de parentes e amigos. Lívia e eu passamos o dia ajudando — eu na churrasqueira com meu tio, ela na cozinha com minha tia —, mas sempre que nossos caminhos se cruzavam, eu sentia aquele peso no peito. No fim da tarde, quando o sol já estava se pondo e a maioria dos convidados tinha ido embora, Lívia me chamou para ajudar a guardar algumas cadeiras na garagem. Era a primeira vez que ficávamos sozinhos desde aquela noite.
A garagem estava meio bagunçada, cheia de caixas e móveis antigos, e o silêncio entre nós era quase palpável enquanto empilhávamos as cadeiras. Finalmente, ela quebrou o gelo, virando-se para mim com um sorriso meio tímido, meio provocador.
— Então, priminho, tá me evitando desde aquela noite, é? — perguntou, cruzando os braços e apoiando o peso em uma perna, o que fez o short jeans que ela usava destacar ainda mais suas curvas.
Eu senti o rosto queimar e gaguejei: — Não, não é isso... só... sei lá, Lívia, aquilo foi meio louco, né?
Ela riu, um som leve que aliviou um pouco a tensão. — Louco, né? Você ficou todo sem graça, tentando esconder aquele... problema. — Ela apontou vagamente para minha cintura, os olhos brilhando com malícia. — Mas, ó, eu não mordi, relaxa.
Eu ri, meio nervoso, esfregando a nuca. — Pois é, mas, tipo... o que foi aquilo? Quer dizer, você deitou do meu lado, a gente... sei lá, ficou de conchinha, e depois de manhã... — Parei, sem saber como continuar, as lembranças dela me apalpando e dando aquela risadinha voltando com tudo.
Lívia deu um passo mais perto, o tom agora mais sério, mas ainda com um toque de leveza. — Tá, vou ser honesta. Eu não planejei nada, juro. Só vi você lá na sala, todo desconfortável, e pensei: ‘Por que não?’. A gente sempre foi tão próximos, e... sei lá, você já reparou que eu não sou mais aquela magrelinha de antes, né? — Ela deu uma voltinha, como se estivesse brincando, mas o gesto era claramente provocador. — E, confesso, eu tava curiosa pra ver como você ia reagir.
Eu engoli em seco, tentando processar. — Curiosa? Tipo, você queria... me provocar de propósito?
— Um pouco — admitiu ela, mordendo o lábio. — Mas não foi só isso. Quando eu deitei do seu lado, e você colocou o braço em mim... foi gostoso, sabe? Não vou mentir, me senti bem. E de manhã, quando eu... bom, quando eu percebi que você tava, digamos, animado... — Ela riu, cobrindo o rosto com as mãos por um segundo. — Eu achei engraçado, mas também... sei lá, gostei de saber que causei isso.
Minha cabeça estava girando. — Lívia, isso é... complicado, né? A gente é primo, a família tá aí do lado. Se alguém desconfiar...
Ela assentiu, o rosto mais sério agora. — Eu sei, eu sei. Por isso nunca forcei nada depois. Mas, ó, não vou fingir que não penso nisso. Você já reparou como a gente se entende? A gente conversa sobre tudo, confia um no outro. E, sei lá, aquela noite me fez te enxergar de um jeito diferente. Você não é mais só o ‘priminho’ que jogava videogame comigo.
Eu suspirei, tentando organizar meus pensamentos. — Eu também te vi diferente. Quer dizer, você tá... nossa, Lívia, você tá incrível. E aquela noite mexeu comigo pra caramba. Mas eu fico com medo de estragar o que a gente tem, ou de alguém descobrir e virar um caos.
Ela se aproximou mais, o espaço entre nós agora quase inexistente. — Entendo. E eu também não quero bagunçar tudo. Mas... e se a gente só conversasse mais sobre isso? Tipo, sem pressão. Só pra entender o que tá rolando. Porque, ó, eu sei que você tá pensando em mim. — Ela levantou uma sobr eyebrow, o tom voltando a ser provocador. — Não minta, eu vi como você me olhava na praia semana passada.
Eu ri, rendido. — Tá, você venceu. Eu penso, sim. Muito. Mas, tipo, o que a gente faz com isso? Não dá pra simplesmente...
— Não precisa ser simplesmente nada — interrompeu ela, a voz suave. — A gente pode ir devagar, só sentir o clima. Tipo, se rolar de ficar perto de novo, a gente vê no que dá. Mas sempre na nossa, com cuidado. Ninguém precisa saber.
Meu coração batia tão forte que eu jurava que ela podia ouvir. A ideia de “ir devagar” com Lívia era ao mesmo tempo tentadora e aterrorizante. — Tá, mas... e se eu não resistir? — perguntei, meio brincando, meio sério.
Ela riu, dando um tapinha leve no meu peito. — Aí a gente vê como você se comporta, priminho. Mas, sério, eu confio em você. E sei que você confia em mim. Então, que tal? A gente conversa, se abre, e deixa as coisas fluírem?
Antes que eu pudesse responder, ouvimos a voz da minha tia chamando da cozinha. Lívia piscou pra mim, como se selasse um pacto secreto, e voltou para a casa com um rebolado que eu sabia que era de propósito. Eu fiquei ali, na garagem, tentando processar tudo. A conversa tinha sido um passo adiante, mas também um mergulho em águas desconhecidas. Eu sabia que, com Lívia, nada seria simples — mas, pela primeira vez, eu estava disposto a descobrir o que viria depois, mesmo que fosse um pé de cada vez.