Eduardo mandou mensagem numa quinta-feira à noite. "Vou passar o fim de semana sozinho aqui em casa. Se quiser vir, tem cama, cerveja e sossego." Carlos leu a mensagem três vezes antes de responder. Eduardo era casado com sua tia, mas o que sentia por ele ia além do laço de família. Havia algo no jeito como Eduardo o olhava, nos abraços demorados nos encontros de família, na forma como sempre encontrava um jeito de tocá-lo, ainda que fosse só um tapa nas costas ou um aperto no ombro. Aceitou o convite. Na sexta, chegou no fim da tarde. A casa estava em silêncio, como prometido. Eduardo o recebeu com um sorriso preguiçoso, vestindo apenas uma bermuda de moletom e chinelos. O peito nu ainda firme, coberto por pelos grisalhos, chamava atenção mesmo sem querer. — Bora tomar uma antes do sol sumir? — ele disse, já pegando a chave do carro. Foram até o bar de Seu José, um velho amigo de Eduardo. Viúvo, de voz rouca e mãos grandes, Seu José era daqueles homens que pareciam carregados de histórias e silêncios. O bar era pequeno, de madeira escura, com garrafas antigas nas prateleiras e cheiro de cachaça forte no ar. As conversas começaram mornas, girando em torno de lembranças, causos da cidade e piadas de homem velho. Cerveja foi abrindo espaço entre as palavras. Eduardo falava com intimidade com Seu José — chamava-o de “velho safado” entre risos — e José rebatia com olhares que pareciam pesar um segundo a mais sobre Carlos. A noite caiu e os clientes foram indo embora aos poucos, até que restaram só os três. José trancou a porta com naturalidade, como quem já esperava por aquilo. — Agora sim... — murmurou, pegando uma garrafa de cachaça envelhecida embaixo do balcão. — A boa é só pros parceiros de verdade. O clima ficou denso. Entre um gole e outro, o silêncio se tornou presença. Os olhares mudaram de foco, vagando entre os copos, os rostos, e os corpos. Eduardo girou o copo na mão, olhando para o líquido dourado com um sorriso enviesado. Depois levantou o olhar e disse, casualmente: — Esse aqui é o Carlos, Seu José... aquele meu sobrinho obediente que comentei contigo. José ergueu as sobrancelhas, os olhos vagando pelo corpo de Carlos com interesse mal disfarçado. — Ah... então é ele? — disse, com um sorriso lento. — Agora entendi porque você falava com tanto gosto. Carlos sentiu o calor subir pelo rosto. Tentou rir, como se fosse só uma piada entre dois velhos, mas a garganta seca denunciava que não era bem assim. Eduardo se aproximou por trás, apoiando a mão firme no ombro dele. — José tá viúvo faz tempo — disse, com a voz baixa, como se compartilhasse um segredo. — Tá precisando de um carinho. De uma atenção que só gente de confiança pode dar. Carlos engoliu em seco, os olhos fixos no copo. Sentia o peso da mão de Eduardo, o calor da respiração dele perto da nuca, e o olhar de José, agora mais intenso, fixado em sua boca. — O garoto é jeitoso — continuou Eduardo, agora com o tom mais rouco. — Sempre soube escutar direitinho. Nunca me disse “não”. José riu, aquela risada grave e cheia de segundos não ditos. — Obediente, é? — disse, dando dois passos para mais perto. — E disposto também? Carlos tentou responder, mas a voz não veio. Só assentiu, quase imperceptível. Eduardo apertou de leve o ombro dele, como quem aprova a resposta. — É isso que ele precisa, José. Um pouco de atenção. Você também... tá precisando de alguém que te olhe de verdade, né? José se abaixou, serviu mais cachaça para os três, e agora seus dedos roçaram nos de Carlos ao entregar o copo. O toque foi leve, mas carregado. O silêncio que veio depois falava alto demais. Eduardo se sentou mais próximo, as pernas roçando nas de Carlos de propósito, e José permaneceu em pé, atrás do balcão, encarando os dois com aquele olhar de quem já sabia onde tudo ia dar. O clima no bar era espesso, como o ar antes da chuva. José se encostou no banco mais largo, pernas afastadas, o tecido da bermuda frouxo entre as coxas. Com um gesto lento, puxou o pano para o lado. Seu membro, pesado e descansado, escorregou para fora, junto aos testículos fartos, pendendo pela lateral da bermuda, descansando sobre a coxa. Carlos engoliu em seco. O velho nem tentou disfarçar. Pelo contrário — esticou-se com um suspiro satisfeito, como quem se alivia depois de um longo dia. Eduardo notou o olhar fixo de Carlos. Sorriu com aquele canto de boca malicioso que o rapaz conhecia bem. — Vai lá, garoto — disse com voz baixa, mas firme. — Faz um carinho nele. José tá precisando. Carlos virou o rosto, os olhos encontrando os de Eduardo, buscando alguma hesitação, mas só encontrou aprovação. Obedeceu. Aproximou-se devagar, sentando-se ao lado de José. A mão hesitante pousou sobre a coxa do homem, quente, firme, e deslizou até alcançar o membro. Sentiu o peso, a textura, a pele solta e quente. Os dedos envolveram o pênis do velho, ainda flácido, e começaram a acariciar com cuidado, como quem explora um objeto sagrado. José soltou um som gutural, baixo, quase um ronronar. — Menino tem mão boa — murmurou, sem tirar os olhos do copo. Eduardo riu e ergueu o copo num brinde informal. — Eu disse que ele era obediente. Enquanto Carlos manipulava lentamente o membro de José, os dois homens voltaram à conversa. Falavam de bobagens: da última partida do time da cidade, de um vizinho que caiu da escada, da pinga que já estava no fim. — Você devia vir mais vezes, Carlos — comentou José, sem olhar diretamente para ele. — Faz bem pra gente mais velha... Carlos sentia o membro endurecendo pouco a pouco sob seus dedos, sentia os testículos pesando ainda mais em sua palma, e mesmo com o rosto ruborizado, mantinha o toque, como se aquilo fosse tão comum quanto abrir uma cerveja. Eduardo observava com prazer disfarçado, passando a mão sobre a própria perna, por dentro da bermuda, como se só coçasse — mas Carlos sabia: era provocação. Carlos passou a ponta dos dedos pela glande agora semidura, sentindo a pele enrugada e quente se distender sob seu toque. José abriu um pouco mais as pernas, acomodando o corpo no banco de madeira como quem se entrega à massagem de um velho conhecido. — Vai no ritmo, garoto... — murmurou, os olhos semicerrados, saboreando cada segundo. Eduardo não dizia nada. Continuava encostado na cadeira, a cerveja na mão, os olhos fixos em Carlos com um sorriso discreto. O silêncio dele dizia tudo. Era aprovação, era desejo calado, era poder. Carlos se inclinou um pouco mais, sentindo o cheiro forte do homem, uma mistura de cachaça, suor e sabão velho. Aproximou os lábios devagar, hesitante. Eduardo inclinou o copo na direção dele, como quem faz um brinde silencioso, e deu um gole, antes de sussurrar: — Mostra que sabe cuidar, garoto. Deixa o velho sentir que ainda tem valor. Com a mão firme segurando a base, Carlos passou a língua devagar pela glande, provando a pele. José soltou um gemido abafado, quase rindo. — Ah... é disso que eu tava falando... O velho levou uma das mãos à cabeça de Carlos, sem forçar, só guiando, com carinho bruto. Carlos foi se afundando aos poucos, sentindo o membro crescer em sua boca, engrossar entre os lábios, até preencher com peso e volume. Eduardo assistia tudo calado, o copo agora esquecido na mesa, a bermuda levemente erguida sobre a ereção contida. O prazer dele era o controle. O comando obedecido. Ver Carlos de joelhos, a boca cheia, os olhos subindo de vez em quando em busca de orientação, era o que o mantinha em chamas por dentro. José respirava pesado, os dedos firmes no cabelo de Carlos, que se movia num ritmo calmo, obediente, sem urgência — como se aquele momento pudesse durar para sempre. Só os três, o bar fechado, a garrafa quase vazia, e os sons molhados e baixos preenchendo o espaço. Carlos sentia-se entregue. Sentia o olhar de Eduardo queimando suas costas, como se dissesse: "Muito bem, garoto." A boca de Carlos deslizava com mais confiança agora, os lábios molhados, a língua rodeando o membro grosso de Seu José como se já soubesse exatamente o que fazer. O velho respirava forte, cada vez mais entrecortado, o quadril começando a se mover devagar, empurrando de leve contra o rosto do rapaz. Eduardo, quieto até então, se inclinou para trás na cadeira, abrindo mais as pernas. Com um gesto lento, puxou a bermuda para baixo, libertando o próprio membro — duro, pulsando. Passou a mão com calma, os olhos fixos na cena, a respiração dele começando a acelerar. — Isso, garoto... assim que se cuida de um homem de verdade — murmurou, quase pra si mesmo. Carlos nem respondeu. Continuou com a boca cheia, sugando com firmeza, sentindo os gemidos de José ficarem mais altos, mais curtos. O velho agarrou com força a nuca do rapaz, não para forçar, mas como quem segura algo precioso no instante final. — Vou gozar... — avisou com a voz rouca, os olhos fechados, a cabeça tombando para trás. Carlos apertou os lábios, engolindo todo o membro até a base. E então sentiu: os espasmos quentes contra sua língua, os jatos grossos enchendo sua boca, o corpo do velho tremendo contra o dele. José soltou um gemido profundo, quase dolorido, e relaxou inteiro na cadeira, respirando como se tivesse acabado de correr uma maratona. Eduardo, ao ver a cena — Carlos ajoelhado, lambendo os restos com devoção, o velho aliviado, suado, entregue — não aguentou. Acelerou os movimentos, o som úmido de sua masturbação se misturando ao silêncio denso do bar. Os olhos cravados na boca de Carlos. — Isso... — sussurrou. — Isso mesmo... porra... E então gozou também. Forte. Os jatos respingando sobre a barriga e a camisa puxada, os músculos tensos, o rosto contorcido em prazer. Por um momento, tudo ficou em silêncio. Só o som das respirações pesadas, dos corpos relaxando, do vento lá fora passando pelas frestas da madeira velha. Carlos passou a língua pelos lábios, ainda de joelhos, olhando de relance para Eduardo, que agora sorria satisfeito, ainda com o pau na mão, relaxado. Seu José riu baixo, coçando a barriga. — Esse menino é um achado, Eduardo. Eduardo respondeu com aquele mesmo sorriso de sempre: — Eu sei. Carlos se levantou devagar, as pernas ainda um pouco bambas. Pegou um pano atrás do balcão e limpou os lábios com cuidado, sem dizer nada. Seu José ajeitava a bermuda com lentidão, o rosto suado, os olhos semicerrados como se ainda estivesse saboreando tudo. Eduardo vestia a bermuda de volta, com calma, ainda sorrindo como quem tinha visto algo belo demais pra se esquecer. O silêncio ali não era constrangido. Era confortável. Denso. Cheio de sentidos que não precisavam ser ditos. José se levantou e pegou mais uma garrafa de cachaça do fundo do armário. — Agora sim... a bebida vai descer leve — disse, servindo os copos como se nada tivesse acontecido. Carlos sentou-se entre os dois, com um meio sorriso nos lábios e o olhar ainda aquecido. Tomaram mais um gole em silêncio. Do lado de fora, o céu já era só um pano escuro salpicado de estrelas. O cheiro de madeira, esperma e álcool se misturava no ar, mas parecia fazer parte daquele ambiente desde sempre. Eduardo encostou o ombro no de Carlos e falou, baixo: — Orgulho de você, garoto. Sempre soube que tinha jeito. Carlos apenas assentiu, sentindo o calor daquela frase atravessar mais do que a pele. — Quando quiser trazer ele de novo, traz — disse Seu José, rindo. — Esse aí sabe tratar homem de verdade. Terminaram os últimos goles em silêncio. Eduardo se levantou primeiro. — Bora, Carlos. Amanhã tem café com pão de queijo e rede no alpendre. José acompanhou os dois até a porta dos fundos, abriu devagar, e deu um tapa leve na nuca de Carlos ao se despedir: — Cuida bem desse moleque, Eduardo. Já tô com saudade. — Ele volta — respondeu o outro, piscando. Saíram andando pela rua de terra. O ar da noite estava fresco, e as cigarras cantavam ao longe. Carlos andava ao lado de Eduardo, com o corpo leve, mas a cabeça cheia. Sabia que, ali, entre aqueles dois homens maduros, havia sido mais do que desejado. Tinha sido aceito. Usado. E ainda assim, cuidado. Já dentro de casa, Eduardo apagou as luzes e jogou-se no sofá. — Dorme aqui hoje. Ou, se quiser, dorme comigo. A cama é grande... e a noite ainda tá só começando. Carlos sorriu. Tirou a camiseta, largou a mochila num canto e foi até ele sem dizer uma palavra.
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