O sol da manhã entrou pelo quarto como um intruso, despertando Lucas para um corpo que já não era totalmente seu. Cada músculo doía — as coxas, as costas, o rego —, mas era uma dor que trazia consigo o eco dos urros de Renato, do peso de seu corpo, da rola que o abrira com uma fome quase brutal. Ele se alongou devagar na cama, os lençóis ainda impregnados com o cheiro do dois — suor, sexo e aquela essência viril que era a marca do mais velho. Dentro de si, algo mudara. Não era só o corpo, mas uma quietude orgulhosa. Ele aguentara. Aguentara a rola grossa, as mãos que o imobilizaram, a voz que ordenava que ele fosse “macho”. E no fundo desse cansaço, havia uma centelha de poder — o mesmo que sentira quando Renato gozara em seu rosto, marcando-o não como vítima, mas como parte de algo maior. Renato já estava de pé quando Lucas saiu do quarto. De pé na cozinha, firme como um bloco de concreto, bebendo café como se a noite anterior não tivesse sido mais que um treino pesado. Seus olhos escuros pousaram em Lucas por um instante, e um canto da boca se moveu — quase um sorriso. — Dormiu direito, campeão? —, ele perguntou, a voz ainda rouca. — Tá andando igual frango de perna bamba. Lucas não respondeu, mas sentiu o rosto esquentar e deu um sorriso. Havia uma cumplicidade ali, um código que só os dois entendiam. Foi então que o telefone tocou. Renato atendeu com um “Fala.” curto, e sua expressão mudou — ficou fechada, profissional. Alguém precisava de uma entrega longe, e ele era o único que poderia fazer. — Parto hoje — disse, sem hesitar. Quando desligou, virou-se para Lucas. Não houve abraço, nem palavra longa. Apenas uma mão pesada na nuca do rapaz, um aperto que era ao mesmo tempo um cumprimento e uma afirmação de posse. — Fica firme — ele ordenou, baixo. — E não esquece do treino. E então se foi, deixando para trás o cheiro de café, suor e o perfume cru de seu corpo. A porta se fechou, e o apartamento de repente pareceu maior, mais vazio. Lucas ficou parado no meio da sala, ouvindo o silêncio. Havia alívio — sim, aquele corpo dolorido precisava de uma trégua. Mas também havia uma falta quente, profunda, que já latejava em seu ventre. Renato se fora, mas sua sombra permanecia em cada canto, em cada músculo dolorido, na memória de um gemido rouco e de uma rola que agora era parte de sua história. O silêncio do apartamento pesava, mas Lucas não se deixou dominar por ele. Renato dissera uma vez: “Macho não falta ao treino, nem que esteja sangrando.” E ele não faltaria. Vista a regata fina — a mesma que Renato gostava de ver justa em seu corpo — e o calção leve que marcava o volume entre suas pernas, calçou os tênis e saiu. No caminho, os olhares das pessoas na rua pareciam diferentes. Antes o magricelo invisível, agora sentia-se observado — não por pena, mas por curiosidade. Sua postura estava mais ereta, os ombros mais largos, o olhar mais firme. Cada passo era uma lembrança: o peso das mãos de Renato em sua cintura, a voz rouca ordenando “Aguenta, moleque”, o cheiro do suor dos dois misturado no ar. Seu pau endureceu levemente dentro do calção, e ele não disfarçou. Afinal, era o moleque de Renato — e isso, agora, era uma identidade. A academia estava quase vazia quando chegou. Horário estranho, luzes baixas, apenas o som distante de uma música instrumental e o rangido de uma cadeira na recepção deserta. O ar carregado de suor e ferro parecia mais denso, íntimo. E então viu Jorge. Sozinho no fundo da sala, sob a luz amarelada que caía sobre ele como um holofote, Jorge malhava com uma intensidade que parecia ritualística. Seus músculos saltavam a cada movimento, as veias desenhadas em relevo sob a pele morena. O suor escorria em fios por suas costas largas, e a respiração saía em grunhidos curtos e graves. Um animal em seu território. Jorge o viu assim que Lucas atravessou a porta. Seus olhos escuros, normalmente irônicos ou distantes, fixaram-se nele com uma curiosidade nova. Uma avaliação. Abandonou a barra com um ruído seco e aproximou-se, andando com a lentidão de quem tem consciência de seu próprio tamanho. — O brutal não veio? — perguntou, a voz um pouco mais baixa do que o habitual. — Viajou. Entrega longe. Jorge assentiu, os olhos percorrendo o corpo de Lucas como se lessem cada detalhe — a regata colada ao peito ainda magro, o calção justo na cintura, as pernas que começavam a ganhar forma. — E você veio sozinho. Coragem. — Um sorriso quase imperceptível surgiu em seus lábios. — Tá evoluindo, moleque. Dá pra ver. Lucas sentiu um calafrio — não de medo, mas de excitação. Aquele elogio vinha carregado de intenção. — Vou treinar perna hoje— disse Lucas, tentando soar seguro. — Não. — A resposta de Jorge foi imediata, autoritária. — Hoje você vai fazer costas. E eu vou comandar. — Sem esperar por resposta, Jorge colocou a mão nas costas de Lucas — a palma larga, quente e áspera — e o guiou em direção ao pulley. Seu toque era diferente do de Renato: menos possessivo, mais experimental, como se estivesse testando a resistência daquele corpo que agora considerava seu — pelo menos por uma hora. — Pega no peso que você aguenta — ordenou. — E não enrole. Aqui não é lugar de moleque com medo. Lucas obedeceu. E sob o comando de Jorge, repetiu a lógica que Renato implantara em sua vida: a dor como prova, o suor como ritual, o corpo como território a ser conquistado. Só que agora, os olhos que o vigiavam eram outros — e o desse que sentia neles era diferente, mas igualmente perigoso. Jorge não perdia um movimento. Cada exercício era acompanhado por suas mãos grandes e calejadas, que se fechavam no corpo de Lucas com uma autoridade natural. Quando Lucas puxava a barra no pulley, os dedos de Jorge pressionavam suas costas, alinhando a postura. — Para trás as escápulas, moleque. Senta o peito. — A voz era grave, sem a aspereza de Renato, mas igualmente dominante. Em seguida, foram para o agachamento. Jorge posicionou Lucas de costas para o espelho, ficando atrás dele. — Desce até formar noventa graus. E não arredonda as costas. — Suas mãos desceram até a cintura de Lucas, ajustando a postura com firmeza. Lucas sentiu o calor do corpo de Jorge colado às suas costas — um bloco maciço de músculos, suor e presença. A respiração quente do homem atingia sua nuca, e sua voz soava baixa, próxima do ouvido, como um segredo sórdido. — Mais fundo — ordenou Jorge, e Lucas desceu, tremendo. O calção fino, molhado de suor, colou-se às suas coxas e marcou cada linha de seu corpo — inclusive o volume que crescia entre as pernas, involuntário, exposto. Jorge não comentou, mas Lucas viu no reflexo do espelho seu olhar escuro, fixo no quadril dele, pesado e calculista. No último movimento, Jorge inclinou-se ligeiramente para a frente, como se para verificar a forma. Seu quadril tocou as nádegas de Lucas — um contato breve, quase casual, mas próximo demais para ser inocente. Lucas prendeu a respiração. Havia uma intenção ali, uma pergunta não dita, um convite abafado em suor e silêncio. Jorge recuou, mas seus olhos não se afastaram do reflexo de Lucas no espelho. Ele via tudo: o rubor no rosto do rapaz, a respiração ofegante, o tremor nas pernas — e, sem dúvida, a excitação que Lucas não conseguia mais esconder. — Boa — disse Jorge, baixo, um canto da boca levantando levemente. — Você aguenta bem, pra quem tá começando. — E naquela pausa, naquele olhar que parecia atravessar Lucas, o clima mudou. Algo havia sido revelado. Algo que Renato, à distância, não podia controlar. O treino terminou, mas a tensão permaneceu, grudada na pele como o suor que não secava. Lucas enrolou a toalha no pescoço, evitando o olhar de Jorge enquanto recolhia sua garrafa e chaveiro. Seu corpo estava pesado, não só pela carga, mas pela presença daquele homem que agora ocupava um espaço novo — e perigoso — em seus pensamentos. — Volta amanhã no mesmo horário — disse Jorge, enxugando o rosto com a camisa que acabara de tirar. — Mesmo que o Brutal não esteja. Ele não pediu. Afirmou. Lucas assentiu, sem encontrar palavras. Enquanto se virava para sair, a voz grave de Jorge ecoou novamente no espaço quase vazio: — E bate o cadeado lá fora. Vou ficar treinando mais um pouco. Sozinho. Quando Lucas olhou para trás, Jorge já estava se despindo. Baixou o calção e ficou apenas de cueca — branca, justa, marcando cada músculo das coxas e um volume espesso entre as pernas. Seu corpo era uma escultura de força: abdômen definido, peitoral largo, veias saltadas nos braços. E aquele olhar fixo em Lucas, como um desafio mudo. Lucas desviou os olhos rapidamente, murmurou um “Tá bom” apressado e saiu, sentindo o coração bater forte no peito. Na rua, a brisa quente não conseguiu apagar a sensação que o dominava. O cheiro de Jorge ainda estava nele — um aroma pesado de suor masculino, misturado com o gel e o ferro da academia. Lucas levou a mão ao rosto e respirou fundo, confuso. A imagem do homem de cueca, imenso e confiante, queimava em sua mente. Enquanto caminhava de volta para casa, sentiu-se dividido. De um lado, a saudade de Renato — sua voz, suas mãos, sua posse rude, mas familiar. Do outro, aquela atração nova por Jorge, mais silenciosa, mais calculada… e de algum modo, mais assustadora. Ao entrar no apartamento, o vazio o atingiu como um golpe. O silêncio era quase físico. Nem mesmo a TV ou o ronco distante de Renato. Apenas o ar quente e parado, e a vontade súbita de ligar para o caminhoneiro e contar tudo. Mas o medo falou mais alto. Medo da reação de Renato. Medo do que poderia acontecer se ele soubesse. E, no fundo, medo de si mesmo — do que estava começando a desejar.
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