Continuação de Outono dos Prazeres
Na manhã seguinte, o sol entrou devagar pelas frestas da cortina. Marta despertou entre lençóis amassados, com o corpo relaxado e a mente acesa. Daniel já havia partido discretamente, como fora combinado. O silêncio deixado por ele não era ausência — era um eco vibrante do que fora vivido.
Álvaro a observava, deitado ao lado, os cabelos grisalhos desalinhados, os olhos ainda em brasa.
— Como se sente? — perguntou, sua voz rouca de um homem que também se redescobriu.
— Viva — respondeu Marta, sorrindo com os lábios e com os olhos. — Pela primeira vez em muito tempo, inteira.
Durante o café da manhã, falavam baixo, como se o prazer da noite anterior ainda estivesse ali, caminhando entre eles. Não havia constrangimento. Havia intimidade — daquela rara, que só o tempo, o amor e a coragem podem construir.
Naquela semana, Marta sentia o desejo mais presente do que nunca. Como se seu corpo tivesse sido despertado, reativado, e agora pedisse mais. E Álvaro percebia — e alimentava isso. Cada toque seu vinha com segundas intenções. Cada gesto, cada palavra, parecia preparar o terreno para um próximo ato.
Foi então que ele sugeriu:
— E se fizéssemos de novo... mas com um toque a mais? Algo mais controlado. Um ambiente nosso. E um espelho.
Marta ergueu a sobrancelha.
— Um espelho?
— Quero ver você. Toda. Ver seu rosto. O jeito como se entrega. Como reage. Quero que você se veja também. Quero que perceba quem você é quando se solta. Quero mostrar isso pra você.
Dias depois, eles montaram o cenário em um quarto de hotel escolhido com cuidado. Um grande espelho diante da cama refletia cada gesto, cada detalhe. Marta entrou no ambiente com a respiração acelerada. Estava nervosa, sim. Mas também curiosa. Excitada.
Daniel foi convidado novamente. A energia entre os três já era familiar, mas agora, mais íntima.
Álvaro não era apenas espectador. Era maestro. Tocava a pele de Marta enquanto sussurrava instruções, posicionava-a de frente para o espelho, segurava sua cintura. Seu toque dizia: "Estou com você. Estou dentro disso. Você não está sozinha."
Marta via seu reflexo — os olhos semicerrados, os lábios entreabertos, o brilho no rosto. Via a mulher que se permitia. Que não temia mais.
E enquanto tudo acontecia, o espelho não refletia apenas seus corpos entrelaçados. Refletia algo maior: o amor entre dois parceiros que escolheram evoluir juntos. Que recusaram o silêncio, o tédio, o medo. Que decidiram, com coragem, fazer do desejo uma ponte — e não uma ruptura.