Marina foi a primeira a despertar.
Estava deitada de lado, nua, o rosto voltado para Fernando, que dormia profundamente. Atrás dela, Rafael também repousava, o braço envolto sobre sua cintura, como se ainda a guardasse mesmo em sonho. Por um momento, ela ficou ali, imóvel, escutando o som compassado das duas respirações. Um à frente, outro atrás. Envolta, completa.
Mas com a plenitude vinha também o vazio tênue da dúvida.
Ela deslizou devagar para fora da cama, os pés tocando o chão de madeira com cuidado. Envolveu-se num lençol e caminhou até a varanda. O céu estava límpido, e a cidade ainda despertava, alheia ao turbilhão que se passava dentro dela.
Sentia-se leve. Sim. Mas também exposta. Como se o prazer tivesse retirado não apenas suas roupas, mas camadas profundas de sua própria identidade.
Poucos minutos depois, Fernando surgiu na porta da varanda. Usava apenas a cueca, os cabelos desalinhados, os olhos ainda marcados pelo sono.
— Fugindo? — brincou, com a voz rouca.
Ela sorriu e negou com a cabeça.
— Só tentando entender como se volta… depois de atravessar uma fronteira dessas.
Ele se aproximou e a abraçou por trás, colando o peito ao lençol que a cobria. Beijou seu pescoço.
— Talvez a gente não volte. Talvez a gente tenha que construir o “depois” do lado de lá.
Ela se virou para ele, o olhar intenso.
— E você está pronto pra isso?
Fernando não hesitou.
— Eu te vi viva, entregue, mais linda do que nunca. E senti algo em mim que não é só desejo. É... expansão. Acho que essa experiência nos ampliou. E eu quero continuar sentindo isso. Com você. Com ele, talvez.
Ela encostou a testa na dele, emocionada.
— E se eu estiver me apaixonando por ele?
Fernando sorriu, com um brilho tranquilo nos olhos.
— E se eu também estiver?
Marina sentiu o corpo tremer. De desejo. De medo. De uma liberdade nova, desconhecida, mas irresistível.
Rafael apareceu à porta em silêncio. Estava nu, o corpo ainda marcado por leves arranhões, mordidas, traços da noite. Os observava sem pressa.
— Vocês estão lindos aí. Posso me juntar?
Marina estendeu a mão. Ele veio. E os três se abraçaram no sol da manhã, nus, expostos e, pela primeira vez, completos de um jeito que nenhum dos dois — ou três — soubera descrever antes.
Mais tarde, na cozinha do loft, entre risos e café fresco, Marina olhou para os dois e disse:
— A gente precisa repetir isso.
Fernando sorriu, Rafael assentiu.
Mas Marina, olhando nos olhos dos dois, completou:
— E precisa ser mais do que sexo. Quero ver até onde a gente pode ir... juntos.
Os olhares que se cruzaram ali não eram mais apenas de desejo. Eram de promessa.
E promessas, quando nascem da pele, têm um poder perigoso — e delicioso — de se cumprirem.