Meu pai, meu homem ( Parte 2)



Bom, os dias foram passando e eu tentando me acostumar com a nova rotina, a primeira diferença que senti foi com relação ao tempo. Notei que os dias começaram a ficar lentos, quase parados, seguindo o ritmo do rádio velho do meu pai. Foi convivendo com ele que percebi como preenchia o tempo dele: acordando cedo, fazendo café, sentando sempre no mesmo lugar pra ouvir música e “conversar” com a minha falecida mãe em silêncio, era uma especie de ritual que ele tinha, fazia isso sempre ao final do dia.

Passei a acordar com ele também, primeiro por curiosidade, depois por carinho. No começo, tentei acreditar que meu pai vivia bem ali, que aquela serenidade dele era maturidade. Mas quanto mais eu observava, mais percebia que aquilo era só um jeito de sobreviver.

Comecei a notar coisas pequenas, mas gritantes: o café esquecido, a louça mal lavada, o quarto com cheiro de abandono, a aparência descuidada o que fazia ele ter uma aparência mais envelhecida do que a idade dele . À noite, o rádio era a única companhia dele. Às vezes, ele falava sozinho, repetia letras de música, como se tivesse aprendido a conversar consigo mesmo pra não enlouquecer.

Um dia encontrei um caderno com anotações soltas. Uma frase me atravessou: “Quando ninguém espera mais nada de você, até o silêncio pesa diferente.” Ali caiu a ficha — meu pai não era só resignado, ele tinha desistido de ser visto.Senti o peso que um homem solitário carregava.

Tentei provocar pequenas mudanças, sugerir passeios, sair da rotina, mas ele sempre reagia com indiferença. Dizia que o novo já não cabia mais na vida dele.
Aquilo me irritava e machucava ao mesmo tempo. Quando confrontei, ele disse algo que me calou: que eu não sabia o que era ficar tanto tempo sozinho a ponto do próprio barulho incomodar. Entendi, com dor, que aquela resistência era a armadura que o mantinha de pé — e também o que mais o afastava da vida.

Chorei naquela noite. Percebi que não bastava querer salvá-lo. Eu precisava entender a dor que o fez assim. Aos poucos, fui descobrindo histórias que nunca soube: ele recusou trabalho, abriu mão da própria vida e nunca tentou amar de novo porque achava que já tinha tudo — eu. Isso me doeu mais do que eu imaginava, porque sempre o vi como forte, sem perceber o preço dessa força.

Dias depois, sentados na varanda, perguntei se ele nunca pensou em ir embora dali, recomeçar. Minha mãe se foi jovem, eles tinham praticamente a mesma, vinte e poucos anos, ele tinha muita lenha para queimar. Então ele falou das obrigações que tinha comigo, de cuidar de mim.

Então interrompi ele e perguntei:
— E agora pai? Por que não tentar algo ?

Ele me olhou de lado, parecia que eu tinha feito uma pergunta impensável. Então respondeu:

— Com a minha idade? quase cinquentão?
— E qual é o problema? além do mais eu posso ajudar o senhor.

Então ele voltou a ativar seu modo rabugento, dizendo:

— recomeçar é coisa de quem ainda acredita que há tempo.

Foi aí que vi claramente a desistência nos olhos dele. A conversa continuou e em determinado momento comento com ele sobre o fato dele nunca ter se casado de novo. Notei na hora que a minha pergunta mexeu com ele, então insistir.

— O que o senhor largou pelo caminho?

Depois de muito silêncio, ele contou que deixou para trás uma mulher que amou depois da morte da minha mãe. Não ficou com ela por medo — do julgamento, das falas, de parecer desrespeito. Disse que a amava o suficiente pra se esconder dela.

Aquilo me revoltou. Falei que ele tinha se enterrado em pé. Ele reagiu, duro, dizendo que eu vinha pouco, que não entendia a vida dele. Ou seja, jogou na minha cara que eu tinha largado ele lá sozinho. Doeu ouvir aquilo. Doeu porque era verdade.

No fim, ele disse algo que não sai da minha cabeça:

— às vezes minha filha, desistir é a única forma de continuar.

Fiquei no quarto remoendo aquilo,até que resolvi me levantar. Já era tarde da noite, já tínhamos desligado tudo e ido deitar. Eu mesma já estava vestida com minha camisola marrom de renda. A vestimenta ia até a altura dos meus joelhos deixando minhas coxas e pernas torneadas bem a vontade, sem falar que eu não vestia nada por debaixo, o calor daquela cidade era infernal e usar poucas roupas ajudava a melhorar a quentura.

Fui até o quarto dele, a porta estava fechada. Dei duas batidinhas acompanhadas de um: “Pai!! pai!! ta acordado!?”

— Rosana? Que você quer?
— Posso entrar?Queria me desculpar com o senhor.

Escutei passos, um arrastado de chinela, então a luz acender. Ele abriu a porta. Ele tava sem camisa, vestia apenas um velho short azul de tecido fino, desbotado, que ficava encolhido no corpo dele.

— Pai, me desculpa se aborreci o senhor com as minhas perguntas.
— Ta tudo bem, minha filha. Eu peguei pesado com você.Me desculpe. É que tem dores que a gente guarda tanto tempo que viram abrigo.
— ô painho, vem cá. Deixa eu te da um abraço.

Então estendi meu braços e abracei ele forte. Os braços dele ficaram em volta da minha cintura, o rosto dele virado de lado repousou nos meios peitos enquanto eu carinhava a nuca dele e beijava-lhe a cabeça.

Ficamos assim, parados de pé no quarto por alguns minutos, nem eu nem ele falávamos nada. Ele parecia um menino pedindo colo, imagino quanto tempo ele não tinha alguém para conforta-lo daquele jeito.

Naquela noite, entendi que meu pai não era só um homem sozinho — era alguém que construiu muros para não tocar no que perdeu.


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Comentários


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lozo Comentou em 17/12/2025

Linda continuação do conto, sem perder o rumo nem o ritmo, a noção do que esta sendo escrito e descrito, um delicioso folhetim. votado e aprovado

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jbcuritiba Comentou em 16/12/2025

Nossa que história interessante gostei continua




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Ficha do conto

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h2felix

Nome do conto:
Meu pai, meu homem ( Parte 2)

Codigo do conto:
249426

Categoria:
Incesto

Data da Publicação:
16/12/2025

Quant.de Votos:
11

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