No bar, ele encostava no balcão, me olhava de longe, tragava o cigarro e sorria de canto, aquele sorriso de malandro que sabia do meu segredo. Não precisava falar nada. Só o olhar já me deixava inquieto, frio na barriga.
Outro dia, me pegou na rua. Eu voltava do mercado, sacolas na mão, e ele passou de moto devagar, olhando pra mim. Parou mais à frente, desceu, e me chamou.
— Chega aí.
Fui. O coração disparado, mas fui. Ele pegou uma das sacolas, botou no banco da moto e se inclinou perto do meu ouvido.
— Essa tua bunda tava me tirando o sono. — disse, baixo, pra ninguém ouvir. — Sonhei contigo de quatro.
Meu corpo inteiro arrepiou. Fingi rir, como quem não leva a sério.
— Tu é foda, hein…
Ele me encarou sério.
— Tu vai ser fodido. É só questão de tempo.
Depois subiu na moto e foi embora, me deixando ali parado, tremendo, com a sacola de arroz quase caindo da mão.
Dias depois, no bar de novo, ele passou por mim no corredor estreito. O corpo dele roçou no meu, de propósito. A mão veio rápida, um tapa forte na minha bunda, seco, que me fez engasgar com a própria saliva.
— Rabo de macho, porra. — sussurrou sem parar de andar.
Fiquei paralisado, o som da música e da conversa das pessoas parecendo distante. Era como se todo mundo tivesse visto, mas ninguém notou nada. Só eu, queimando por dentro.
Outra vez, ele me encostou no canto da rua, de noite. A calçada deserta, luz amarelada do poste, silêncio. Ele acendeu o cigarro, tragou fundo, e disse:
— Tu já tá me devendo boquete, sabia?
Eu tremi. O corpo reagia antes da cabeça. O pau pequeno pulsava duro, envergonhado, dentro da calça.
— Cala a boca, mano… — tentei responder, fraco.
Ele riu.
— Cala a boca nada. Tu vai abrir essa boca, e eu vou meter até o fim. Quero ver engolir sem engasgar.
Chegou mais perto. O cheiro de fumaça e suor tomou conta de mim. A mão pesada pousou na minha nuca, apertou, como no banheiro.
— É boca e bunda, parceiro. Só isso. É aí que tu vai servir.
Soltou e foi embora, me deixando sem ar.
Cada vez era assim. Ele não precisava me foder de fato. Cada toque, cada palavra, já me deixava mais fundo no buraco que eu mesmo cavei. Eu ia pra casa e me olhava no espelho: cara de hétero normativo, padrão, mas por dentro só pensava no mesmo. No dia em que ele resolvesse parar de brincar e me tomar de verdade.
E eu sabia que esse dia estava chegando.
Eu achava que dava pra escapar. Que se eu fingisse, se eu evitasse o bar uns dias, ele ia esquecer. Mas não. Parecia que o Negão me farejava. Onde eu ia, ele estava. E sempre do mesmo jeito: calado, olhar firme, sorriso de canto, como quem já me possuiu e só tá esperando a hora de cobrar.
No bar, a cena se repetia. Ele chegava, cumprimentava os caras, abraçava conhecidos, falava do jogo… mas quando me via, era diferente. Um segundo só, um olhar que me atravessava. Eu já ficava mole, suando frio, tentando não demonstrar.
Uma noite, ele passou por mim no corredor lotado, de propósito. Ombro contra ombro. O corpo sarado dele bateu no meu, e a mão veio rápida: beliscou minha bunda forte, sem ninguém perceber. Eu engasguei na hora, mas não consegui reagir. Ele seguiu reto, sem olhar pra trás, mas murmurou baixo, só pra mim:
— Rabão de macho, porra.
Outra vez, no mercadinho, ele entrou atrás de mim na fila. Eu segurava uma sacola, tentando não olhar. De repente, senti a rola dele roçar firme na minha bunda, por cima do jeans. Meu corpo travou. Ele fingia olhar as prateleiras, mas falou com a maior naturalidade:
— Já pensou tua boca cheia dela? — perguntou baixo, como quem comenta o preço do arroz.
Ninguém ouviu. Só eu. E fiquei vermelho na hora, a respiração falhando, tentando fingir que não entendi.
Teve ainda a noite da rua deserta. Eu voltava pra casa, e ele encostado na parede, cigarro aceso, me esperando. Quando cheguei perto, ele soltou a fumaça e disse:
— Já tá na hora de tu me provar que essa bunda serve mesmo.
Fiquei mudo. O coração martelava. Ele riu, chegou perto, a mão pesada pousou de novo na minha nuca, firme.
— É só isso que eu quero de ti: tua boca e teu cu. Nada mais. — disse, encostando a testa na minha, a voz baixa, quente. — Não pensa que vou brincar de carinho, não. Tu nasceu pra abrir o rabo pra rola de cavalo.
Ele largou minha nuca e foi embora. Simples assim. Eu fiquei parado na rua, tremendo, o pau pequeno duro dentro da cueca, envergonhado de mim mesmo, mas sem conseguir negar.
Cada provocação dele era um cerco. Cada palavra, cada toque, me colocava mais fundo no papel que eu sempre temi admitir. Ele não precisava me comer ainda. Só o jeito de me usar sem pressa já bastava pra me lembrar: eu não era mais dono do meu corpo. Era questão de tempo até ele decidir a hora.
E eu sabia: quando viesse, eu não teria escolha.
Quando se fala em conquistar, essa saga deveria servir como deliciosa referência. Continua magnífica!
Que delicia isso.