As semanas que se seguiram foram de uma doce agonia. A vida na chácara seguiu seu curso normal (os trabalhos no jardim, os jantares barulhentos, as noites de intimidade), mas por baixo da superfície serena havia uma expectativa palpável. Todos os olhos, discretamente, estavam voltados para Aline. Ela parecia florescer. Havia uma nova luz em seus olhos, uma serenidade em seus movimentos. O desejo que a consumira fora saciado, e agora ela carregava dentro de si um propósito, uma possibilidade.
Cerca de um mês depois, numa manhã de sábado, ela veio até mim enquanto eu regava as orquídeas na varanda.
- “Mãe,” - ela chamou, sua voz um pouco trêmula - “Minha menstruação está atrasada”
Pousei o regador lentamente, me virando para encará-la. O coração acelerou, mas não de pânico. Era um turbilhão de emoções: medo, sim, mas também uma centelha de algo que se assemelhava à antecipação.
- “Está se sentindo bem?” - perguntei, puxando-a para sentarmos juntas.
- “Estou. Só um pouco cansada, e meus seios estão sensíveis”
Naquela mesma tarde, Lúcia foi à cidade e voltou com dois testes de gravidez. O ritual da espera repetiu-se, desta vez no banheiro da suíte principal. Aline, eu, Lúcia e Juliana, todas aglomeradas, olhando para a pequena tira branca em cima da pia. As duas listras rosas apareceram de forma inequívoca, dançando diante de nossos olhos. Houve um silêncio. Então, Aline soltou um suspiro que parecia carregar o peso do mundo, e um sorriso lento, de pura e radiante felicidade, iluminou seu rosto.
- “Estou grávida” - ela sussurrou, como se não acreditasse na própria voz.
Juliana foi a primeira a abraçá-la, sorrindo e chorando ao mesmo tempo. Lúcia as envolveu em um abraço coletivo, seus olhos verdes marejados me encarando sobre os ombros delas. Havia um triunfo naquele olhar, um “eu não disse?” silencioso.
Beto foi chamado. Quando entrou no quarto e viu nossas expressões, compreendeu imediatamente. Ele parou, sua postura imponente parecendo de repente vulnerável. Seus olhos buscaram os de Aline.
- “É verdade mocinha?” - ele perguntou, sua voz rouca.
Ela acenou, o sorriso ainda estampado no rosto.
Ele cruzou o quarto em três passos largos e a envolveu em um abraço forte e silencioso. Não era o abraço de um amante, mas de um protetor, de um parceiro naquela jornada. Quando a soltou, ele olhou para cada uma de nós (para Aline, para Juliana, para Lúcia e, finalmente, para mim).
- “Esta família só cresce,” - ele disse, sua voz carregada de emoção - “E eu estou aqui para cuidar de todas”
Um relato divino com imagens inspiradoras gostei