A gravidez de Aline transformou a chácara em um santuário. A liberdade sexual que sempre praticamos adquiriu um novo significado, uma profundidade mais terrena, mais ligada à criação do que apenas ao prazer. Nossos corpos nus não eram mais apenas veículos de desejo, mas templos de vida. A barriga de Aline, que crescia redonda e firme, era o centro das nossas atenções, um altar que adorávamos com toques, beijos e canções.
Minha própria relação com Beto e Lúcia aprofundou-se. O sexo entre nós três tinha agora uma qualidade reverencial. Quando fazíamos amor, era uma celebração da fertilidade, uma honra ao milagre que estava se desenrolando sob o nosso teto. Eu ainda adorava ver Beto com Lúcia, e agora, com Juliana, que gradualmente se abriu para experimentar a mesma intimidade, sempre com o mesmo respeito e cuidado. A excitação que sentia era diferente, mais madura, mais conectada ao ciclo maior da vida.
Uma noite, todos estávamos na sala, o fogo crepitando na lareira. Aline, com quase sete meses de gravidez, estava deitada no sofá com a cabeça no colo de Lúcia, que massageava suavemente seus pés inchados. Juliana lia um livro, e eu estava recostada em Beto, sentindo a vibração de seu peito contra minhas costas.
- “Sabe, mãe,” - Aline disse, quebrando o silêncio confortável - “às vezes eu penso no meu pai. E penso que, se não fosse por ele, por aquele relacionamento que você teve, eu e a Ju não estaríamos aqui, felizes vivendo com Beto. Cada história, mesmo as que acabam, traz algo bom”
Suas palavras tocaram uma ferida antiga que já não doía, apenas lembrava. Ela tinha razão. A jornada dela, embora radicalmente diferente da minha, era a continuação da minha. Eu fui mãe solteira por necessidade, por sobrevivência. Ela estava se tornando mãe dentro de uma rede de amor e apoio que eu sequer sonhava ser possível.
- “A vida é um fio que a gente tece com os fios que herdamos e os que nós mesmos escolhemos,” - eu respondi, meu olhar percorrendo cada rosto na sala (minhas filhas, minha amante, meu amado) - “E nós tecemos uma tapeçaria linda, não tecemos?”
Lúcia sorriu para mim, seus olhos verdes brilhando com lágrimas de felicidade. Beto apertou meu ombro, seu silêncio dizendo mais que mil palavras.
Aline colocou a mão sobre sua barriga e fechou os olhos, um sorriso de paz suprema em seus lábios. Ela estava realizando seu desejo mais profundo, não apenas de ser penetrada, mas de ser o centro gerador de um novo amor, o elo mais recente em nossa corrente ininterrupta de afeto.
Olhei para Juliana, e parecendo que Aline leu meu pensamento, ela disse:
- “Ju, acho que você poderia dar um priminho ou uma priminha pro meu bebê, o que me diz?”
Juliana olhou para Beto, sorriu e disse:
- “Maninha, vou adorar ficar grávida do Beto, e sei que a mamãe vai adorar isso”
Todas sorrimos.
E eu, Maria Carolina, aos cinquenta e dois anos, mãe, amante e amiga, sentia-me completa. A menina bissexual que um dia teve de esconder seu amor agora vivia em um mundo onde todos os amores eram possíveis, onde a família não era definida por laços de sangue ou convenções, mas pela coragem de amar sem limites. E naquela chácara, cercada pela minha família peculiar e livre, eu sabia, sem sombra de dúvida, que minha melhor escolha havia sido, sempre, a de seguir o meu coração.
Chega a ser um poema
♥ AMEI todos os capítulos. Amei mesmo. Amiga, nao pare de escrever, adoro suas postagens.