Era sexta-feira. Sexta-feira era o dia de Beto. Beto não era apenas meu namorado; era a personificação de um desejo que eu julgara extinto após o fim do meu casamento. Um homem de mãos calejadas pelo trabalho, mas de um toque suave que fazia minha pele arrepiar. Seus olhos castanhos escuros guardavam uma profundidade que me afogava de vontade, e seu sorriso, seu sorriso era minha ruína e meu porto seguro.
Ele chegou com o cheiro do dia ainda impregnado em sua camisa, um aroma de vento, suor leve e algo que era só dele. Sempre foi assim, poucas palavras. Um olhar que durava um segundo a mais, um beijo lento e profundo que sabia a promessa na porta da cozinha, e suas mãos já percorriam meu corpo como se estivessem decifrando um mapa que já conheciam de memória, mas que sempre tinha um novo segredo para revelar.
- “Marta...” - sussurrou meu nome contra meus lábios, e era como se ele dissesse ‘eu te desejo’, ‘eu te adoro’, ‘és minha’.
Deixei-me ser conduzida, ou melhor, arrastada por aquele turbilhão. Nossas roupas foram um obstáculo insignificante, descartadas em um rastro que ia da sala até o corredor do meu quarto. A porta se fechou com um clique baixo, isolando-nos do mundo. Aquela era a nossa catedral, o altar, a minha cama de dossel (onde tantas vezes ele me fez gemer, suplicar e chorar de prazer). Ele me colocou na beira da cama, ajoelhando-se no chão entre minhas pernas. Seus olhos nunca deixaram os meus enquanto seus lábios percorriam uma trilha de fogo do meu joelho até a parte interna da minha coxa. Eu me debatia, já um farrapo de sensações, minhas mãos enterradas em seus cabelos escuros e grossos.
- “Beto… por favor…” - supliquei, com minha voz em um gemido rouco.
Ele sorriu, aquele sorriso maroto que me tirava o ar, e finalmente seu rosto se aninhou no meu centro. A língua dele era uma obra de arte. Lenta, deliberada, experiente. Ela não explorava; ela adorava. Cada voltinha, cada pressão, cada sugada era um verso de um poema erótico escrito só para mim.
Meus quadris arqueavam involuntariamente, buscando mais desse êxtase. Meus dedos se apertavam em seus cabelos, segurando-o lá, onde eu mais precisava. O mundo se reduziu àquela língua, àquela boca, aqueles dedos que agora encontravam meu ponto mais sensível e massageavam com uma perícia que me tirava do sério. Gemia alto, sem pudor. Os sons que saíam da minha garganta eram primitivos, de uma animalidade que só Beto conseguia extrair de mim. Ele sabia exatamente o que fazer, exatamente como fazer, e exatamente quando acelerar o ritmo para me levar à beira do abismo.
- “Goze meu amor...” ele ordenou, sua voz um rosnado contra minha pele molhada - “Goze para mim”
E eu gozei. Um orgasmo intenso, profundo, que pareceu arrancar minha alma pelo meu sexo. Meu corpo convulsionou, meus gritos ecoaram pelo quarto, e eu caí de volta na cama, tremendo, completamente aniquilada pelo prazer.
Antes que eu pudesse recuperar o fôlego, ele estava sobre mim, seu corpo definido e quente pressionando o meu. Seu pau, duro e impaciente, roçava minha entrada. Ele me beijou, e eu pude sentir na sua boca o meu próprio sabor, o que me excitou ainda mais.
- “Dentro...” - foi a única palavra que consegui articular, envolvendo minhas pernas em sua cintura.
Ele entrou num único movimento, profundo e certeiro, que me fez gritar novamente. Era um preenchimento perfeito, como se fôssemos duas peças de um quebra-cabeça carnal. Ele começou a se mover, e eu me movi com ele, num ritmo ancestral. Cada embate suas coxas contra minhas nádegas era um estampido de prazer. Cada gemido seu, um combustível para o meu próprio fogo. O quarto estava cheio de nós. O som úmido dos nossos corpos se encontrando, nossos gemidos sincronizados, o rangido leve da cama. Eu estava perdida nele, no seu cheiro, no seu suor, no seu corpo que me dominava e me adorava com igual intensidade. Era uma dança crua e bela, e eu nunca me senti mais viva.
Estávamos nesse êxtase, próximos do clímax, quando um movimento na porta entreaberta chamou minha atenção, pois achei termos fechado. Meus olhos, que estavam fechados de prazer, se abriram lentamente.
Era Waleska. Minha filha. Minha linda menina de quase dezoito anos. Ela estava parada ali, iluminada apenas pela luz fraca do corredor e pelo último suspiro do entardecer na janela. Vestia apenas um baby-doll de seda preta, tão transparente que mal escondia seus seios lindos e arrebitados e o triângulo pouco escuro e bem cuidado entre suas pernas. Seu rosto estava rubro, seus lábios entreabertos, e seus olhos, tão parecidos com os meus, estavam vidrados em nós, em mim, em Beto, no ponto onde nossos corpos se uniam.
Beto, percebendo minha distração, diminuiu o ritmo e seguiu meu olhar. Ele parou, sua respiração ofegante, mas não se moveu, não tentou se cobrir. Havia uma reverência estranha naquele silêncio que se instalou.
Waleska deu um passo para dentro do quarto. Seus olhos estavam brilhando, não de lágrimas, mas de excitação pura, de uma curiosidade avassaladora. Ela olhou para mim, e depois para Beto, e depois de volta para mim.
- “Mãe…” - sua voz saiu como um sussurro trêmulo, mas carregado de uma coragem que eu nunca tinha ouvido nela antes - “Mãe… por favor”
Eu, ainda ofegante, com Beto dentro de mim, consegui falar.
- “O que foi querida?”
Ela engoliu a seco, e então as palavras saíram em um fluxo, como se tivesse ensaiado a vida toda para aquele momento.
- “Eu… eu ouvi... Eu sempre ouço. E eu não aguento mais só ouvir. Por favor… por favor mãe. Deixa o Beto ser o primeiro homem. Deixa ele me fazer mulher”
O ar saiu dos meus pulmões. Beto ficou imóvel. O mundo parou. E no silêncio que se seguiu, só se ouvia o som dos nossos corações batendo em uníssono, um trio prestes a se tornar um.
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