Sentados no tapete, frente a frente, conversavam baixo. Às vezes riam, às vezes se olhavam longamente, sem pressa. Já tinham falado de tudo: dos planos, das lembranças, de como era estranho o desejo crescer mesmo quando se quer segurá-lo. Havia entre eles um acordo de não irem até o fim, de não cruzarem a fronteira do sexo em si. O combinado foi buscar o prazer de outro modo, sem pressa, só com o que as mãos e os olhos pudessem dizer.
Quando Jorge passou a mão no rosto dela, Rita fechou os olhos. O toque era leve, quase tímido. Ele se inclinou, sentiu o cheiro do cabelo dela, misto de shampoo e calor. Rita pousou as mãos sobre o peito dele, o corpo respondendo sem resistência. A respiração mudou de ritmo, e o ar entre eles pareceu vibrar.
O desejo veio simples, natural, como um vento que se levanta devagar. As roupas caíram aos poucos, não como um ato de urgência, mas como um gesto inevitável. Ficaram nus, um diante do outro, com o corpo e o olhar dizendo o que as palavras já não podiam sustentar.
Houve um momento em que o silêncio foi tudo. A chuva, lá fora, se tornou o único som. Jorge a observava com ternura e desejo misturados, como se quisesse guardar aquele instante inteiro na memória. Rita sorria, os olhos semicerrados, o corpo entregue à própria sensação.
Eles se tocaram com calma, explorando o limite entre o controle e o impulso. Era um jogo de presença — ela observava o movimento dele, olhando fixamente o líquido da vida a desperdiçar nos ares. Ele acompanhava o dela, e o tempo parecia suspenso. O prazer era uma conversa muda, feita de gestos, de pele e respiração.
Depois, vieram os beijos lentos, o descanso. Jorge adormeceu com o corpo ainda quente, o rosto tranquilo, como se o mundo tivesse ficado leve. Rita permaneceu acordada. Observou-o por um tempo, o peito subindo e descendo devagar. Sorriu sozinha, sentindo o corpo ainda desperto, a pele viva.
A madrugada seguiu assim — ela, em silêncio, deixando-se embalar pelo som da chuva, pela lembrança recente, pela paz que vinha depois do desejo. Quando o dia começou a clarear, Rita finalmente se deitou de lado, encostou-se a ele e fechou os olhos. A casa, novamente, ficou em silêncio.

Conto bem gostoso de ler, delicioso, sempre bem escrito. votado e aprovado