Lara foi até a janela. As luzes dos prédios refletiam-se no vidro, e ela se viu dupla: a estudante comum, cansada de uma sexta-feira longa, e a outra, desconhecida, que a observava do reflexo com um olhar que não costumava ter. Um olhar faminto.
Encostou a testa no vidro frio e fechou os olhos. Era como se o corpo tivesse aprendido outra língua, feita de lembranças recentes — o toque acidental dos dedos dele, o calor que ficara nos lábios. Sentia-se desperta e ao mesmo tempo perdida.
Foi até a cama, sentou-se, e o silêncio pareceu engrossar. Cada ruído da rua — um carro distante, o riso de alguém — vinha como um lembrete do mundo que continuava lá fora, indiferente à sua inquietude. O relógio piscava 2h47.
Lara deitou-se, as mãos entre os lençóis, e deixou que a mente vagueasse. Não havia pressa, nem culpa, apenas uma onda lenta de sensações, um diálogo mudo com o próprio corpo. O desejo não era mais dele, era dela — inteiro, solitário e luminoso.
Quando finalmente o sono veio, trazia um resquício de sorriso. Lá fora, a cidade já preparava o amanhecer.
